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História À Frente do Seu Tempo - Capítulo Único



Notas do Autor


Olá meus amores, vocês estão bem? Aqui quem fala é a mimi, escritora do Gucci e esse é o primeiro collab que participo pelo projeto e estou extremamente feliz com isso. Foi um prazer enorme escrever com a @harmonix e eu espero que vocês gostem da nossa estória tanto quanto eu gostei de escreve-la.

Capítulo 1 - Capítulo Único


Já virou algo comum do ser humano desejar uma vida que nunca se vai ter. Não seria a primeira vez que alguém implora aos deuses para que no dia seguinte seja uma pessoa diferente. Talvez alguém com mais dinheiro, mais beleza ou mais felicidade. A verdade é que ninguém realmente está habituado ao sofrimento que o mundo nos proporciona e, muito provavelmente, isso nunca irá acontecer. 

 

Desde o início dos tempos, era assim que funcionava. 

 

Mas e se não fosse bem assim? E se existisse um lugar onde o sofrimento não é algo comum, onde todos são felizes e respeitados, vivendo em harmonia? Ninguém em sã consciência realmente acredita na existência de um paraíso. Pessoas religiosas acreditam na existência de um inferno e de um céu, mas isso é depois da morte. No entanto, Jeon Jungkook não era propriamente alguém com uma consciência sã. Ele acreditava que existia um mundo para além daquele que conhecemos. Na cabeça dele, o universo é muito mais do que aquilo que os nossos olhos vêem ou o que os cientistas estudam. 

 

Em teoria, o multiverso pode existir. Assim como tudo, é também possível existir dezenas de réplicas do nosso mundo, mas com funções diferentes. Jungkook gostava de se imaginar com outra vida, com outras opiniões e pensamentos ou até mesmo talentos. Essa é razão para tanta crença numa teoria que nunca foi provada e que, com toda a certeza, nunca irá ser. 

 

Se o garoto não pode ser feliz na nossa realidade, então ele com certeza conseguiria em uma outra qualquer. E foi com esse pensamento que Jungkook passou a pesquisar mais sobre o assunto. Passou meses lendo livros em bibliotecas ou fazendo pesquisas na internet, nunca chegando a nenhuma conclusão. 

 

Ele definitivamente não era o único a acreditar nessa teoria, mas todos os outros haviam falhado tanto quanto ele na busca por provas, e provas são necessárias. Até hoje, pessoas insistem em acreditar na teoria de que a terra é plana, no entanto, nunca foram mostradas evidências boas o suficiente para suportar essa ideia. Ninguém acredita em teorias até que exista algo para prová-las, e só nesse momento elas deixarão de ser apenas teorias. 

 

Jungkook mostrava a sua crença publicamente, o que passou a ser um motivo de piada para várias pessoas. Não tinha muitos amigos e a sua família o acha louco devido a sua fixação com a teoria de um multiverso. Morava com o seu melhor amigo, Hoseok, e o mesmo era a única pessoa com quem o garoto podia realmente contar. Não por acreditar, porque de fato, nem mesmo Hoseok acredita em Jungkook. Mas a grande diferença entre ele e todas as outras pessoas que deixaram o Jeon, é que ele realmente amava Jungkook e tinha paciência com ele. 

 

Por vezes discutiam, sendo o motivo da discussão quase sempre o fato de Jungkook nunca desistir da ideia maluca de acreditar em algo 99% impossível de existir. No entanto, o garoto acreditava naquele 1%, e tendo em conta que Hoseok sabia das razões para tudo isso, ele tinha mais calma. 

 

Mesmo respeitando muito Jungkook e as suas escolhas, Hoseok tentava trazer o seu amigo para a verdadeira realidade. Ele sabia que tudo era devido à triste infelicidade de Jungkook e acreditava que tudo o que havia acontecido na vida dele já o tinha afetado de uma maneira inexplicável. Tentava aconselhar o garoto a procurar ajuda psicológica, mas o mesmo negava precisar dela. E Hoseok não estava em posição para o julgar, ninguém está. 

 

A verdade é que Jeon Jungkook é mais um jovem depressivo no mundo que necessita de ajuda, mas se nega a aceitar tal fato e então encontra o seu refúgio em novas teorias e imaginações. Vê-se várias e várias vezes namorando, sentindo orgulho da pessoa que é e finalmente superando a funda depressão em que caiu, mas não passam de imagens na sua cabeça que nunca se realizarão. 

 

E assim como Jungkook, havia Kim Taehyung.

 

Um jovem igualmente quebrado, mas não por sofrimento. Na verdade, o caso dele era um tanto fora do normal. Taehyung odiava a sua vida, mas não sofrer. Ele odiava a vida porque lhe faltava vida. E então ali estava, a prova que Jungkook tanto precisava para provar a existência de um multiverso. A existência de um mundo tão parecido com o dele, mas, ao mesmo tempo, com coisas tão diferentes. 

 

Enquanto chovia na realidade de Jungkook, o sol brilhava na de Taehyung. Enquanto pessoas se odiavam de um lado, no outro tudo era perfeito e harmonioso. No entanto, havia algo em que os dois eram comuns. Enquanto Jungkook chorava, Taehyung chorava também.

 

Taehyung não sofria por tristeza porque no paraíso a tristeza não existe, mas foi a falta dela que o quebrou em pedaços que apenas a sua alma gêmea poderia voltar a juntar. 

 

E essa pessoa era Jungkook.

 

 • • •

 

Taehyung tentava se concentrar nas palavras que lia. Havia acordado cedo para, mais uma vez, dedicar a sua manhã na biblioteca do castelo, enquanto lê todos os livros com possíveis pistas sobre a maldita lenda que ele insistia em acreditar. 

 

O garoto já havia sido chamado de absolutamente tudo por causa da sua crença na lenda, no entanto, nunca deixou de acreditar vigorosamente nela. Nenhuma ofensa seria capaz de mudar o pensamento de Taehyung. Era um garoto forte e determinado, que não deixaria ninguém mudar a sua opinião sobre o mundo. 

 

Para ele, tudo estava errado. Do início da existência dele até ao fim — que ele nem ao menos conhece ainda, mas já sabe que irá eventualmente acontecer. Bem pequeno, ele aprendera a aproveitar tudo o que lhe é proporcionado e nunca haveria razão para não gostar de viver no Paraíso.

 

Na cabeça dele isso não passa de uma estratégia para esconder a verdade, que é muito mais dura e cruel. Ao crescer, ele percebeu que tudo era bom demais para ser real. De início, o Kim até pensou que poderia ser tudo uma ilusão, um teste, ou até mesmo algum pesadelo. Mas com o tempo ele percebeu que não era nada disso. Tudo o que ele vive é real, não é nenhuma ilusão ou prova. No entanto, com certeza é um pesadelo. 

 

Taehyung nunca se contentou com o que tinha e ficava muito feliz por isso. Diferente de todos os outros ali, ele questionava os acontecimentos. Por que todos são felizes? Às vezes ele até se amaldiçoava por questionar certas coisas. Afinal, quem não quer ser feliz? Mas ele é diferente. Ninguém questiona a falta de infelicidade na vida dos outros porque todos estão concentrados demais na sua própria felicidade. 

 

O garoto vivia no paraíso, no entanto nunca havia sido feliz. Isso o fez perceber que não existe um mundo onde todos possam ser completamente felizes. Nem ali e nem em lado nenhum. 

 

Segundo a lenda que Taehyung tanto acreditava, o universo havia sido dividido em duas partes: a Realidade e o Paraíso. Na realidade havia o verdadeiro sofrimento, as lágrimas e a infelicidade. Já no Paraíso, havia tudo o que faltava na Realidade. Mas é aí que todos se enganam. No Paraíso há tanto sofrimento quanto da Realidade, as pessoas apenas fecham os olhos para isso. 

 

Kim Taehyung seria o homem que provaria a existência de dois mundos, nem que fosse a última coisa que fizesse.

 

— Estaria surpresa se você não estivesse aqui — o garoto tem o seu raciocínio interrompido ao ouvir a voz feminina.

 

— Bom-dia para você também, Jisoo. 

 

— Bom-dia, pequeno irmão. — Sorriu levemente para ele e passou a sua mão pelos cabelos escuros do mesmo. — Ainda perdendo tempo com essa teoria?

 

Taehyung respirou fundo, chateado, e respondeu: — Não estou perdendo tempo!

 

— Já chegou em alguma conclusão? — Jisoo pergunta, já sabendo a resposta. O silêncio do moreno sempre lhe denunciava. — Foi o que eu pensei. Sendo assim, você está perdendo tempo.

 

— Custa muito simplesmente acreditar em mim? Nem que seja apenas um pouquinho de nada? — diz, cabisbaixo. — Não é como se fosse completamente impossível, você sabe.

 

— É completamente impossível — a mais velha diz com toda a certeza do mundo. — Isso não faz sentido nenhum. Por que você não pode apenas aproveitar tudo o que lhe é proporcionado sem questionar? Seria mais feliz.

 

Por um momento, Taehyung para no tempo e pensa. Seria realmente isso? Seriam apenas coisas da sua cabeça, nascidas de demasiados questionamentos? Mas ele sabia que não. A sua posição mantém-se intacta. 

 

— E você não questiona? Você vive num paraíso onde tudo é perfeito e não se questiona nem um pouco sobre a razão? — pergunta, confuso. É realmente muito estranho para ele saber que é o único a desconfiar de tudo.

 

Jisoo mantém-se calada depois da pergunta do irmão. Era orgulhosa demais para admitir que já havia, sim, questionado bastante as coisas. A jovem já tinha passado por experiências más, apesar de viver no Paraíso, e por um tempo duvidou da paz daquele lugar, chegando até mesmo a pensar sobre a teoria de Taehyung. 

 

No entanto, nega. O irmão revira os olhos, já sabendo que não poderá contar com a ajuda de Jisoo para absolutamente nada. Tudo o que a sua família faz é o colocar para baixo e duvidar das suas crenças e nem mesmo Jisoo — que é a sua irmã favorita — era uma exceção. 

 

— Tudo bem, não acredite. — Deu de ombros. — De qualquer forma, eu encontrei algo que pode provar. 

 

Jisoo arregala os olhos por um momento, chocada, mas logo volta ao normal, tentando parecer o mais desinteressada possível. — Estou curiosa para saber como você vai provar algo cientificamente impossível. 

 

 — Depois de vários anos de pesquisa, eu tenho uma data. — O moreno olha para a mais baixa, sorrindo. — Você nunca soube a lenda completa, certo? Claro que não, você nunca acredita em mim. Eu sei que está interessada em saber, é desnecessário ser orgulhosa neste momento. Apenas admita que tem curiosidade e que parte de você quer que esta lenda não seja apenas urbana.

 

— Tudo bem! — Levanta as mãos em rendimento. — Fale sobre a maldita lenda. 

 

— A lenda tem contato direto com a mitologia grega — começa. — Segundo os livros, houve tempos em que nós éramos apenas um. Não havia dois mundos, apenas um, onde tanto a felicidade quanto a tristeza se faziam presentes. Com o tempo, uma guerra começou. As causas ainda são desconhecidas, mas muitos livros dizem ter começado devido ao relacionamento de Afrodite com um humano. Seguindo essa teoria, Zeus não aceitou o romance e muito menos todos os outros deuses, o que resultou em uma guerra. O pai dos deuses decidiu por fim dividir o mundo em duas partes: a Realidade, um lugar realista e para os humanos; e o Paraíso, um lugar perfeito e destinado ao deuses — concluiu.

 

— Isso por acaso significa que somos deuses? — Jisoo questiona, confusa.

 

— Somos descendentes — corrigiu. — Mas ainda não acabei. Supostamente existe um portal. — A irmã olha para ele. — Você sabe, para o outro mundo. Dizem que a cada cem anos, o portal abre-se nos extremos da floresta de Torkass. Segundo os meus cálculos, esse dia é hoje

 

— Vamos supor que eu acredito em tudo isso e que realmente um portal vai abrir-se hoje nos extremos da floresta. O que você pensa em fazer, então? Correr cada extremo até encontrar o portal, é isso? — a morena questiona, com tom divertido, claramente rindo da situação em que o irmão se encontrava.

 

— É. — Deu de ombros. — É exatamente isso que vou fazer. 

 

Jisoo olha incrédula para Taehyung, sem sequer saber o que responder. Ela poderia até já ter se questionado sobre diversas coisas, mas depois de ouvir Taehyung falar sobre a lenda, todas as suas dúvidas pareciam ter sido esclarecidas. Era loucura. Não existia lenda nenhuma, era tudo feito da imaginação e insegurança do seu irmão, e ninguém a faria pensar de outra forma.

 

— Sinto muito em estragar os seus planos então, mas você tem algo para fazer hoje. — Jisoo caminha em direção à saída da biblioteca — O nosso pai tem uns negócios para resolver e mandou avisar que você será o mensageiro desta vez. 

 

Taehyung arregalou os olhos e por breves momentos sentiu como se o seu mundo estivesse caindo ao seus pés, mesmo o assunto não sendo algo tão grave para que fosse necessário tanto drama. Ele apenas queria e necessitava de ver com os próprios olhos e provar a sua teoria. 

 

— Hoje? Logo hoje? — o garoto quase gritava, o que fez Jisoo ignorar e continuar o seu caminho para a saída novamente. — Não posso.

 

— Porque vai procurar um portal na floresta? — A garota riu. — Não há mais ninguém disponível e o pai precisa de você, apenas vá e não o decepcione ainda mais. 

 

Sem mais nenhuma palavra, saiu, deixando um Taehyung triste, decepcionado e frustrado para trás. 

 

Sabia desde sempre que era uma decepção para a sua família, no entanto, era sempre horrível ouvir isso da boca das pessoas que tanto ama. Apesar de tudo, ainda é a sua família e não tem ninguém que ele mais amava. Jisoo poderia ser dura a maior parte das vezes, mas o garoto acreditava que ela apenas faz isso para o bem dele. 

 

A verdade é que ele sabe o quanto pode parecer estranho maior parte do tempo. Ninguém em sã consciência acreditaria numa coisa tão inacreditável, não é? E então ele cresceu sendo chamado de doido, visto como a ovelha negra da família. 

 

O seu pai mal falava com ele e quando precisava de alguma coisa mandava outra pessoa dizer. A sua mãe passava demasiado tempo trabalhando e pensando em outras coisas, raramente dava atenção ao filho. O seu irmão mais novo ainda é jovem demais para entender o que acontece na família, mas Taehyung sabe que seria uma questão de tempo até ele o odiar também. 

 

— Bem, parece que não tenho escolha, não é? — diz baixinho para si mesmo, enquanto caminha em direção à saída. Havia ficado algum tempo olhando para a única janela da biblioteca depois de Jisoo o deixar sozinho. Não soube ao certo quanto tempo ficou olhando para a paisagem lá fora mas sabe que pensou o suficiente para chegar a uma conclusão. 

 

Talvez fosse melhor assim. Ele iria ser o mensageiro do seu pai e abdicar do seu objetivo. Não estaria vivo nos próximos 100 anos para presenciar o evento, mas também nada o garantia de que realmente existia. Às vezes tudo depende da nossa crença em algo, mas às vezes não é possível acreditar demais. 

 

Kim Taehyung acreditava na lenda até de olhos fechados, porém o amor pela sua família era maior. Estava cansado de ser apenas uma decepção para eles. 

 

E com isso o príncipe saiu do castelo, montado no seu cavalo, pronto para uma viagem longa e cansativa. 

 

Enquanto cavalgava, pensava em tudo ao mesmo tempo. Questionava-se sobre a sua decisão e se ainda tinha tempo de voltar atrás nela e simplesmente procurar o maldito portal na floresta. Ele já estava na floresta, não faria diferença nenhuma. Se ele o encontrasse, poderia provar a sua existência. Se ele não encontrasse, teria de voltar para casa e ainda ouvir os berros do seu pai por não ter cumprido a tarefa que lhe foi dada. 

 

E pensar nisso o fez questionar-se ainda mais. O que ele faria se encontrasse o portal? Era uma boa pergunta, e Taehyung não soube respondê-la. Por vezes ele imagina-se no outro mundo, com uma vida completamente diferente. Em meio ao caos que é dentro da sua própria casa, às vezes o seu cérebro apenas cria cenários onde ele é feliz longe da sua família. Ao mesmo tempo, ele acredita que nunca seria capaz de deixar a mesma, mesmo sendo para o seu próprio bem. 

 

Então, o que ele faria ao encontrar o portal — se ele realmente existir? 

 

— Eu iria para o outro lado. 

 

Foi automático. Taehyung não sabia ao certo como chegou em tal conclusão ou de como as palavras saíram da sua boca tão de repente, mas ele sabia que era a verdade. Sentia como estivesse sendo puxado para um novo mundo, e ele não negaria algo assim. E com esse pensamento em mente, ele continuou o seu caminho, mas agora em direção ao extremo da floresta. Talvez fosse se arrepender mais tarde, não tinha a certeza. Mas uma coisa é certa; ele se arrependeria se não tentasse. 

 

E ele não era o único a pensar assim. Do outro lado, Jeon Jungkook tentava não se arrepender por suas ações.

 

O garoto ainda segurava o pequeno mapa que agora era ilegível, tinha os olhos marejados e passou a tremer de frio assim que um vento gelado veio contra si. Onde estava com a cabeça quando decidiu que iria acreditar naquele blog? Eram claramente falsas as informações contidas ali e agora estava encharcado, tremendo e poderia adquirir um resfriado dos grandes. 

 

Já previa Hoseok xingando-lhe até não aguentar mais, a cabeça girou e os olhos pesaram. 

 

Merda de vida. Foi a única coisa que conseguiu pensar antes de sair do pequeno riacho que tinha ido parar. 

 

Fazia cerca de dois dias que Jungkook descobriu sobre o portal para o multiverso que se abria apenas a cada cem anos e para a sua sorte, ou não, o blog onde tinha lido tal informação dizia que este portal se abriria justo naquele dia, passando umas coordenadas estranhas e que quase fizeram o Jeon desistir de encontrar esse lugar. Mas para a sua infelicidade, foi parar dentro de um riacho em um parque florestal afastado da cidade.

 

Queria se manter otimista como sempre fora, mesmo se considerando bastante realista. No entanto, naquele momento, Jungkook só queria se xingar e chorar, mesmo sabendo que não faria isso por orgulho e saber que não adiantaria de nada. Para que chorar? Tinha coisas mais importantes para fazer naquele momento. E uma delas era entender e querer acreditar que só estava naquela situação por dois motivos: ou ele calculou a rota errada ou estava no lugar certo e precisava esperar um horário em específico. 

 

Afinal, no blog não informava em momento algum a exata hora em que a passagem se abriria e isso deixou o garoto um pouco mais animado, sentando-se em um tronco de uma árvore caída e tentando inutilmente se secar. 

 

Tirou a jaqueta jeans e bagunçou os cabelos longos e escuros, tentando tirar o excesso de água. Retirou até mesmo os tênis e as meias, sentindo-se um pouco melhor pela sensação do ventinho gelado.

 

Passou-se longos minutos até que um barulho estranho e uma claridade incomoda começou a surgir próximo de onde o Jeon estava, que curioso como era, passou a caminhar para lá, torcendo com todas as suas forças para que fosse o tal portal, já idealizando diversas dimensões e como poderia ser do outro lado.

 

Quando estava relativamente próximo de onde vinha tudo aquilo, Jungkook conseguiu observar com mais calma, notando que a luz se intensificava cada vez mais, sendo uma bela mistura de tons azuis e roxo claro. O portal tornava-se maior a cada segundo, pendendo no ar e criando uma sensação de que tudo seria puxado para dentro dele, deixando o Jeon levemente assustado e encantado. 

 

Finalmente conseguira o que tanto desejou, sentia-se quase completo, quase feliz. E antes que pudesse decidir o que faria, uma figura esbelta caiu de dentro do buraco cósmico, deixando o moreno assustado e sem reação alguma. Aquilo não poderia ser real, ninguém acreditaria em si quando contasse. Nem mesmo Hoseok acreditaria.

 

O Jeon estava assustado, ansioso, feliz. Na verdade, estava mesmo era uma confusão pura de sentimentos, não compreendia quase nada do que estava passando dentro de si. Sua mente trabalhando a mil, capturando tudo aquilo como se fosse uma câmera fotográfica, não admitiria deixar nada passar despercebido. 

 

O homem ainda se encontrava deitado na terra, parecia desacordado e trajava roupas diferentes demais, algo muito mais antigo do que sua mente poderia reconhecer. O garoto precisava fazer algo antes que fosse tarde demais e quando menos notou, aproximava-se do desconhecido, temendo se machucar se ficasse próximo demais. Sentia a energia cósmica cada vez mais forte, tentando espiar por dentro do portal, não conseguindo distinguir nada do que seus pequenos olhos capturaram. 

 

Desviou sua atenção para o homem, tocando-lhe de leve, temendo ser atacado ou algo do gênero. Ele respirava e isso era um alívio, ao menos morto não estava.

 

No entanto, da mesma forma que se abriu, o portal se fechou, causando um som quase ensurdecedor e uma pressão forte demais para o corpo franzino do moreno, levando-o ao chão e tirando-lhe a consciência aos poucos.  

 

• • •

 

Taehyung acordou atordoado demais; seus olhos doíam assim como sua cabeça e seu corpo. Sentia também a terra abaixo de si, sujando sua bochecha direita e as palmas de suas mãos. Abriu os olhos vagamente para logo em seguida fechar, porque o sol estava forte demais e aquilo o incomodou bastante. 

 

— Qual é o seu nome? 

 

Uma voz totalmente desconhecida e carregada de sotaque lhe atingiu em cheio, fazendo o Kim abrir os olhos rapidamente e dessa vez ignorar de vez os raios solares. Quem era aquele garoto lhe encarando de perto, sentado ao seu lado? 

 

Ele usava roupas estranhas e escuras, seus cabelos estavam jogados para trás, mas foram os seus olhos que lhe chamaram mais a atenção. 

 

— Quem é você?

 

O Kim jogou a pergunta, levantando-se rapidamente ao que se afastou um pouco do desconhecido. O garoto respirou fundo e começou a brincar com a terra a sua frente, pensando. — Sou Jeon Jungkook, e você?

 

Jogou a pergunta para o outro, direcionando seu olhar para o mensageiro.

 

— Kim Taehyung. 

 

O silêncio entre eles se instalou, podendo agora ouvir o canto dos pássaros e o vento vindo forte na direção deles. O cheiro de ar puro era bom demais para ser real, uma das muitas coisas que a cidade caótica que Jungkook vivia tirou das pessoas. 

 

— Onde eu estou? — o estranho para o Jeon questionou, olhando ao redor e tentando ver mais alguma coisa além das árvores. 

 

— Está em Busan, na Coreia do Sul, você vem de onde ou… — Fez uma leve pausa olhando melhor para o Kim. — De que época? 

 

O mensageiro analisou as próprias vestes antes de encarar o Jeon, tentando ser o mais sucinto em sua resposta.

 

— Venho de um reino muito importante, lá no Paraíso. 

 

Aquilo instintivamente interessou o mais novo.

 

— Vou te levar para a minha casa e você poderia me falar melhor sobre de onde vem e em compensação te falo sobre aqui. 

 

 • • •

 

A primeira coisa que os olhos de Hoseok capturaram quando chegou em casa foi a figura de um desconhecido usando as roupas de Jungkook, sentando em seu sofá, bebendo algo que parecia muito ser café. O Jung até mesmo deu uns passos para trás com medo de ter entrado no apartamento errado, no entanto, quando a figura do Jeon entrou em seu campo de visão, as coisas passaram a fazer um pouco mais de sentido. Ou era isso o que a mente do rapaz mais velho ali achava.

 

— Finalmente arrumou um amigo, eu disse que se procurasse você poderia encontrar um pouco de felicidade no meio desse tormento todo.

 

O rapaz nem deu chance de deixar os meninos responderem, fechou a porta e logo em seguida sorriu amigável para o Kim, fazendo uma rápida referência e largando a mochila na poltrona velha, tratando de seguir para a cozinha e deixando tanto Jungkook quanto Taehyung para trás.

 

— Não ligue para o meu amigo, ele é um pouco afobado demais e sempre fala besteiras. 

 

O Kim sorriu de canto, encarando os móveis do pequeno apartamento. Tudo era diferente demais, praticamente não existia nada que Taehyung conhecesse ali. Era um universo tão novo e estranho para si, e gostava daquilo, mesmo que se sentisse um pouquinho deslocado. 

 

— O que gostaria de saber? — o Kim diz, de repente — Sobre o paraíso e a vida lá?

 

— Honestamente? — assentiu — Não faço a mínima ideia. Esperei muito tempo por esse dia, em que eu iria finalmente conseguir tirar um peso dos meus ombros e dizer que todo esse tempo eu estava certo. Agora que eu consegui isso e você está bem na minha frente, eu não sei o que perguntar. De certa forma, sinto como se o meu esforço não tivesse valido nada. 

 

— Isso quer dizer que não está feliz pela descoberta? — Taehyung questiona, confuso. Ao contrário do outro, ele tinha várias perguntas sobre aquele mundo e pretendia fazê-las. 

 

— Estou realizado por ter provado a minha teoria, mas não estou feliz. — Deu de ombros. — Acho que a minha expectativa era outra. Parece que agora eu percebi o que tudo isso significava para mim. Não estou feliz porque continuo neste lado. O meu objetivo nunca foi apenas provar o meu ponto; era procurar a minha felicidade fora daqui também, apenas não quis admitir. Então diga-me, Taehyung, o Paraíso é assim tão bom quanto parece? 

 

O mais velho permaneceu calado durante vários segundos. Não porque não sabia o que dizer, mas sim porque não sabia por onde começar. Havia tantos pontos negativos, que ele nem ao menos era capaz de escolher um para responder. Mesmo assim, não ficou calado por muito mais tempo. — Não. 

 

A resposta pareceu chocar Jungkook, mas não o impediu de continuar. — Nós apenas pensamos em ser felizes, mas a felicidade é realmente tudo na vida? O Paraíso é um lugar feliz, não me entenda de outra forma, mas é feliz demais. Nada do que é 100% perfeito é bom, sabia? O que é demais, nem sempre é assim tão bom. 

 

Aquela simples explicação do Kim conseguiu deixar Jungkook ainda mais pensativo. Seus pais passaram anos falando isso para si e até mesmo Hoseok já tinha tentado fazer aquilo entrar em sua cabecinha. Às vezes a perfeição pode ser chata ou até mesmo algo ruim. 

 

— Por que todo esse interesse no Paraíso? A realidade é ruim demais? 

 

A pergunta de Taehyung pegou o Jeon de surpresa também. Ele sempre via a sua realidade como um verdadeiro inferno, odiava praticamente tudo de sua vida. Algumas coisas com motivos reais e outras apenas por birra. Todos ali tinham problemas e nem por isso parecia ser o fim do mundo. Aquele cara que caiu de um portal trouxe muito mais do que esperanças para Jungkook. Ele abriu os olhos do rapaz de uma forma que mais ninguém conseguiu. 

 

Poderia parecer ironia, mas precisou que uma pessoa de outro universo aparecesse para que o jovem notasse que nem sempre fugir de seus problemas fosse a melhor solução. Porque era assim que Jungkook via as coisas, ele precisava achar uma forma de sair de onde estava para ter paz e felicidade plena, para que seus problemas sumissem. No entanto, em todo lugar haveria algo que se tornaria um problema. Nada era perfeito. 

 

— Eu só queria me sentir bem e feliz por um momento — Fez uma pausa, tempo necessário de Hoseok sair da cozinha e se trancar em seu quarto. — Passei praticamente minha vida toda brigando com todos ao meu redor por não ser feliz e por procurar um lugar onde eu pudesse ser, passei anos arrumando confusão e me negando ajuda. 

 

Os olhos do rapaz marejaram, sua voz falhou e o Kim segurou a respiração por entender o que o Jeon dizia. 

 

— Eu me fiz ser infeliz em vez de fazer de tudo para ser feliz. Procurei formas de sair desse lugar e encontrar o meu lugar, meu porto seguro. — Deixou uma risadinha escapar enquanto se perdia em pensamentos. Era tudo tão bagunçado em sua mente.

 

— O Paraíso poderia se tornar seu pior pesadelo, Jungkook. Você está acostumado a sentir demais, emoções intensas em demasia — suspirou ao ver o olhar quebradiço do outro. — Lá é tudo muito calmo, quase pacato. Nada acontece, nada muda. Tudo parece ser artificial. 

 

— Somos de lugares tão opostos. 

 

— E isso é bom, você é perfeito para viver aqui. A realidade é cruel, no entanto, nós somos os únicos responsáveis por deixá-la fazer o que quiser conosco. — Tomou um gole do café já morno, sentia-se cansado de uma forma nunca sentida antes. — Passei anos da minha vida indo contra todos, lutando sozinho em uma batalha praticamente inexistente. 

 

— E no fim, eu fiz a mesma coisa, lutei contra todos que me querem bem por simplesmente achar que seria mais fácil partir e encontrar a minha própria paz.

 

— Isso é bom, você percebeu a tempo que não daria certo em um lugar como o Paraíso.

 

E então como um estalo, algo surgiu na mente do Jeon.

 

— E você? Como voltará para lá? 

 

Taehyung sorriu, mas de uma forma adorável e que demonstrava sua felicidade plena.

 

— Talvez eu tenha sido feito para cá e mandado para o lugar errado. — Jogou no ar a ideia, terminando de vez o café. — Fui feito para sentir demais.

 

Seria interessante ter de ensinar tudo para Taehyung, ensiná-lo melhor sobre seu mundo. Sua realidade. 

 

— Tudo bem então, vou precisar te ensinar tudo sobre aqui e te fazer se sentir em casa.

 

— Só se me permitir te ajudar a melhorar! 

 

E com um sorriso cúmplice, aqueles dois selaram uma promessa que duraria a vida toda se tivessem a oportunidade, e eles desejariam a todas as entidades existentes que deixassem-os viver eternamente juntos.

 


Notas Finais


É isso mores. Se for #1 é sucesso, se não for, dizemos que foi sem intenção de charts. A capa foi feita por mim (@harmonix) então agradeço a mim mesma por ela. Obrigado á beta responsável pelo pedido @couverture por corrigido todos os errinhos. Agradeço também á minha coleguinha que teve paciência para aturar a minha preguiça para escrever.

Por último, agradeço ao casal da nação, taekook, que são lindos demais e fizeram o plot acontecer.


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