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História A Fúria dos Quatro - Ella, a Número Dez


Escrita por: Guard

Notas do Autor


Primeiro capítulo da nova fic galera, espero que gostem

Capítulo 1 - Ella, a Número Dez


Ella

 

            Pense no filme mais longo que você já viu. Nem de perto pareceu com a quantidade de tempo que eu passei perdida nas lembranças da Ella do futuro.

            A princípio, eu achei que iria ser algo simples. Como ver as memórias específicas que a garota queria que eu visse, mas ao contrário do que pareceu. Eu vi tudo, todas as lembranças dela, vieram a minha mente como um filme em velocidade muito rápida. Todos os anos que a menina viveu há mais que eu nessa guerra, dando pausas em momentos chaves. Uma hora eu me vi presa na nave Anúbis onde descobri meu parentesco com Setrákus Ra, ele tentou fazer experimentos comigo tentando me transformar numa espécie de híbrida de loriena e mogadoriana como ele é.

            De alguma maneira, eu – quer dizer a outra Ella – conseguiu se livrar disso se jogando num poço lórico onde se fundiu com a energia de Lorien que existe aqui na Terra. Tenho que admitir, isso foi muito louco e eu nem tenho ideia de como teria essa coragem. Acho que no fundo a garota não pretendia se libertar, mas se matar. Por sorte, as coisas não deram erradas naquele momento.

            O resto foi mais rápido, quer dizer. Um turbilhão de batalhas sangrentas onde vi muitas pessoas amadas para Ella do futuro morrerem. Pessoas próximas a garota que eram da Garde, vi a morte de Nove, Seis e Cinco, das Chimaeras. Foi um verdadeiro banho de sangue que por mais que quisesse acordar, não conseguia. As visões me empurravam para mais fundo.

            Eu tentava me acalmar no meio das batalhas e procurava a achar alguma informação útil para ajudar os outros. As únicas coisas que consegui identificar eram que depois da morte de Sarah Hart, acho que era uma namorada e John naquela linha do tempo que não cheguei a conhecer. Ele e Seis não se falavam mais e sempre decidiam ter estratégias diferentes para as batalhas, chegando a ter momentos em que houveram rupturas na Garde, agora com os humanos com poderes também.

            A principal briga era por causa de Cinco. John queria a ajuda dele, mesmo que o garoto tenha nos traído e matado Oito naquela linha do tempo – sinto um nó no estômago quando descubro isso. Marina foi com Seis, ela tinha ódio de Cinco também e a outra Ella também. Mesmo que ela não tivesse tanta raiva do garoto quanto os outros porque ele tentou ajudá-la a fugir da nave onde era mantida cativa por Ra, arriscando sua vida e quase sendo morto por causa disso.

            A batalha mais sangrenta foi a de Chicago, nessa época já devemos estar há 3 anos no futuro. Seis e John fizeram uma trégua para lutarem juntos, nessa época a Ella estava do lado de John, sabia que ele e Nove precisam mais das minhas habilidade que Seis e Marina. Elas duas sempre faziam missões de infiltração enquanto as missões de John eram batalhas com ajuda do exército de todas as nações. Ele precisava da telepatia para se conectar com a Garde em campo de batalha. Enfim, a batalha havia sido colossal e com resultado destruiu completamente a cidade. Onde eu estou na hora da guerra é numa espécie de base subterrânea vendo a Ella do futuro chorar, não consigo entender o motivo até que finalmente vejo Nove chegar carregando o corpo de Seis. Suas mãos pendem imóveis no ar e sinto vontade de gritar.

            - Não quero ver mais mortes! – digo e me surpreendo ao perceber que minha voz consegue sair aqui. – Só me mostre o que é necessário.

            Não sei se deu certo, mas as memórias voltam a acelerar e sou bombardeada novamente por uma tonelada de informação que essa garota viveu antes de morrer. Começo a sentir um cansaço dentro dessas visões, de alguma forma toda a dor que a garota está sentindo está sendo transmitida a mim. Sinto que estou amadurecendo junto com a sua jornada de alguma forma, lembro que Ella do futuro disse na minha mente que não queria que fazer isso. Acho que ela já sabia a repercussão disso na minha vida.

            Começo a ser inundada por uma luz azul novamente. De alguma forma a minha versão de outra linha do tempo era mais ligada espiritualmente com Lorien do que eu jamais achei que fosse possível, fico tentando pensar na ironia que é isso. Eu que sou a herdeira do Ancião banido, a filha de um homem que sabia que isso tudo iria acontecer, mas que planejava ir embora do planeta na hora que tudo acontecesse. Meu coração dói só de pensar no sacrifício final dos meus pais tendo que me entregar e irem para a guerra, será que se eu tivesse demorado mais um pouco para nascer, eles teriam embarcado também? Seria melhor para a Garde termos mais Gardes adultos conosco.

            - São várias perguntas, eu também as vivia fazendo? – ouço uma voz muito parecida com a minha atrás de mim.

            Olho para trás com um pulo e encontro a minha versão mais velha de outra linha do tempo. Dessa vez ela está sem metade do seu corpo coberta de pedra e morrendo. Está vestindo um lindo vestido branco com laços e seu cabelo é preso numa fita de rabo de cavalo, a garota está descalça e começa a caminhar na minha direção e o chão ao nosso redor começa a tomar forma.

            Estamos num terreno arenoso que parece ter sido o alvo da queda de algo. Só que a areia é meio acinzentada e tem um aspecto estranho, de alguma forma eu sei que não estamos na terra, estamos em um lugar muito mais distante que esse. Viro-me rápido e encontro uma esfera em formato de pérola que abre a comporta como uma nave. Sinto um calafrio quando eu percebo o que é isso.

            - Isso é em Lorien, essa é uma visão bastante perturbadora... – Ella do futuro murmura para mim e noto que seus olhos mudam um pouco nessa hora, assumindo um aspecto azul-cobalto.

            A visão ficando mais nítida e eu vejo um homem parado do lado de fora da nave. Ele é alto e tem a pele coberta por cicatrizes, sua mais protuberante é a roxa que fica próxima ao pescoço, vestido todo para a guerra e com três metros de altura. Não preciso que ninguém me faça a introdução para saber que esse é Setrákus Ra, nosso maior inimigo e minha única família viva. Só de pensar nisso me dá ânsia de vômito.

            - Consegui encontrar essa memória depois de muito escavar as profundezas da Entidade. – Ella do futuro comenta se aproximando até o meu lado. – Quero que veja bem o que irá acontecer.

            Um homem de dois metros e com a cabeça cheia de tatuagens começa a se aproximar. Ele é alto também e pálido, não tanto quanto os mogadorianos que lutamos normalmente. Está mais para a mesma tonalidade que Adam, o homem caminha com uma armadura negra e uma espada de mesma tonalidade presa nas costas até a direção de seu líder, percebo que o homem está um pouco apreensivo ao se aproximar dele.

            - Meu Adorado Líder – o homem começa a falar e percebo que não há nenhum tipo de emoção em sua voz, qualquer coisa que achei que ele tivesse sentido foi mera imaginação. – As pessoas que o senhor pediu para rastrearmos e pouparmos foram encontradas, só que infelizmente...tiveram que ser abatidas.

            Setrákus se vira tão rápido na direção do seu subordinado que posso perceber a raiva em seus olhos. Acho que ele irá avançar e arrancar a cabeça daquela pessoa na mesma hora, mas meu avô se contém. Ele fecha os olhos por um momento e quando os abre percebo que estão com a mesma frieza do seu subordinado. Ele é o líder dos mogadoriano, por mais que se importe com a família dele; não pode dar o braço a torcer na frente dos outros.

            - Eles resistiram, Andrakkus? – ele pergunta calmamente.

            O mogadoriano parece tentar se controlar quando o seu líder lhe pergunta isso para então responder.

            - Bastante, meu senhor, a mulher abateu um Escumador onde meu irmão Andrian estava, ele nem chegou no solo para lutar. E o homem lutou bravamente também, pelo que soube só os mais bravos de nós conseguiram chegar até ele para lhe enfrentar de frente – nessa hora percebo um vislumbre de nojo no mogadoriano antes de continuar a falar – infelizmente não consegui chegar a tempo para transmitir a ele sua mensagem.

            Setrákus encara o tal de Andrakkus por um longo período, algo no jeito que o homem hesitou antes de falar e o nojo na sua voz me faz pensar que talvez isso seja uma mentira. Não sei se meu avô percebeu, mas ele levanta o cajado dourado e o olho vermelho brilha ao encontro do mogadoriano.

            - Tudo bem, mande as tropas se reunirem. – ele ordena. – Não há mais nada aqui para nós meu General, agora temos que voltar para Mogadore e começarmos o planejamento da Segunda Expansão para o planeta mais próximo, a Terra.

            Sinto um frio na espinha. Quero poder atacar os dois nessa hora, o General faz uma continência estranha e começa a sair do local onde Setrákus Ra está. Ele fica olhando o mogadoriano se afastar por vários minutos até que então começa a caminhar na direção da sua nave branca, sinto nojo do meu avô por isso. Um dos seus subordinados pode ter matado meu pai e ele não fez nada, só pelas visões da Ella eu sei que ele vivia tentando convertê-la para a causa mogadoriana. Só que nem puniu o assassino do seu filho? Não, meu pai era neto dele também, Setrákus é meu bisavô.

            Ele de repente para e se vira para o horizonte, olho para o chão que está começando a ficar cinzento além de onde a esfera está. O céu está perdendo o brilho e assumindo uma cor branca leitosa, era o que os outros falavam sobre o planeta estar adormecendo. Morrendo por terem tirado seus habitantes de lá, e destruírem seu ecossistema. Uma pequena lágrima escorre rápido do olho de Setrákus Ra, há algo nela que não sei dizer o que é.

            Talvez Remorso?

            Não acredito que ele tenha a coragem de sentir tal sentimento após tudo que fez. Não pode ser isso, ele vai destruir um segundo planeta e se orgulhar disso, tudo pela sua ambição.

            - Raylan, me desculpe... – ele murmura consigo mesmo. – Eu queria que você tivesse aceitado minha oferta, poderíamos ter governado a galáxia juntos.

            Ok, isso faz mais sentido para mim. Ele se sente arrependido pela morte do meu pai, provavelmente nem deve saber ainda da minha existência.

            A memória começa a se desfazer e Ella do futuro volta a aparecer do meu lado. Ao invés de sentir raiva de Setrákus eu sinto um pouco de pena do velho homem. Algo no meu coração infantil ainda acredita que possamos mudar o seu lado, mesmo ele sendo um tirano genocida.

            - Ele sabia, foi o próprio General que matou nosso pai. – Ella do futuro sibila atrás de mim, sua voz está carregada de amargura. – Não tenha pena dele, nosso avô não merece nada disso. Por isso eu o matei.

            Verdade. Fui eu, quer dizer ela que matou nosso próprio avô. Hoje eu não me consideraria uma pessoa capaz de fazer isso, mal consigo lutar numa batalha sem representar um perigo para os outros que estão tentando me proteger, quanto mais salvar o mundo da maior ameaça que é meu próprio avô.

            - Por que ele não fez nada? – pergunto ressentida. – Se ele sabia quem foi, então por que não o matou para puni-lo ou o rebaixou, sei lá!

            Ella do futuro me olha de uma maneira que faz me sentir irada. Como se eu fosse ingênua, posso aguentar esse olhar de todos, mas de mim mesmo é idiotice, nós somos a mesma pessoa. Só que ela tem 17 anos e eu quase 12, não há tanta diferença assim.

            - Ele não poderia matar seu braço direito, Raylan, nosso pai, sempre soube das histórias das Guerras Secretas de Lorien. Sabia que havia algo grandioso para acontecer. – Ella me explica. – Ele sabia que as profecias da destruição eram reais e estavam ligadas à nossa família, então começou a preparar tudo para que o dia que isso acontecesse pudéssemos fugir.

            Tento entender todas essas coisas sobre liderança e decisões. E ainda procuro entender o motivo dessa visão que a garota me mostrou, mas algo perturbador começa a surgir na minha mente.

            - Espera um pouco, você não está tipo viva agora na minha mente, não é? – pergunto nervosa, não quero ter uma própria versão minha mais velha na minha cabeça querendo dizer o que eu devo fazer.

            A outra Ella parece sentir vontade de rir de mim, mas apenas sorri. Acho que eu devo estar lembrando alguma relação que ela já conheceu.

            - Não, eu estou morta. – a garota fala sem se sentir muito incomodada com isso. – Tudo que você tem na sua mente são minhas lembranças da minha vida, além de parte da minha consciência para lhe explicar algumas coisas, mas ela logo irá se dissipar, pode ficar tranquila.

            Me sinto mal na mesma hora, não queria enxotar a garota da minha cabeça, só que tudo isso é muito confuso para mim. Essas questões filosóficas que estão sendo impostas na minha mente.

            - Só que você vai ter alguns efeitos colaterais. – Ella me explica. – Eu não lhe mostrei só minhas lembranças para te dar o conhecimento necessário, também foi para lhe deixar em igualdade com a Garde. A medida que você for progredindo em minhas memórias irá desenvolver seus Legados da mesma maneira.

            - Sério? – pergunto sorrindo e ficando empolgada. – Isso é demais.

            Estava me sentindo bastante retardatária em comparação aos outros, mesmo com todo mundo dizendo que não devia me sentir assim porque eu sou muito nova e em breve desenvolveria meus Legados. Não quero ficar sendo para sempre dependentes deles, já me basta ser a única sem Heranças e um colar. Agora eu sei a explicação.

            Enquanto eu estava perdida nas minhas conjecturas percebo que Ella parou de falar comigo e voltou para suas lembranças, agora a garota está com 16 anos. É o penúltimo ano, pelo que sei deve ser esse o ano que verei meus outros amigos ainda vivos morrerem que são da Garde, queria ter pedido para a garota me ensinar a pular essas cenas.

            Felizmente eu não tenho que ver a morte de Nove e nem a de Cinco. A outra  Ella não teve coragem de ver os corpos e as duas batalhas que resultaram em suas mortes foram travadas sem sua participação, ela só soube dos ocorridos quando falou com John daquela linha do tempo. Mesmo assim eu pude sentir sua dor, após esses ocorridos John deixou que Ella e Marina viajassem juntas para esquecerem um pouco essas batalhas.

            As duas não fizeram isso, elas lutaram com fúria em locais mais remotos juntando os Gardes que estavam com medo e não se juntaram a causa. Com a ajuda da telecinese de Ella que se expandia quando ela ficava próxima aos pontos chaves das pedras gigantes de loralite era uma tarefa fácil rastrear os nossos futuros companheiros humanos que nos ajudarão na guerra. Elas encontraram uma garota chamada Gwen no País de Gales, lá travaram uma batalha horrível que destruiu toda a cidade da pobre garota.

            Olho para o rosto dessa menina chamada Gwen, tem algo nela que me faz sentir arrepios. Algo que me faz ver que ela é a chave de alguma coisa, parece que era ai que a Ella do futuro queria que eu chegasse porque seus olhos começam a brilhar num tom azulado novamente como se fosse ganhar vida novamente para me explicar sobre os poderes dessa garota.

 Tudo começa a escurecer assim como quando fui envolvida pela mente da outra Ella. Sinto minha mente começar a ser sugada por uma força muito maior que a minha, quase como se fosse a própria gravidade de um buraco negro me sugando para seu centro faminto pela minha matéria.

Eu grito de frustração, ainda não consegui chegar no último ano de vida da outra Ella. Não consegui ver o que ela descobriu que iria nos ajudar a unir as linhas do tempo e salvar o mundo de Adamus. Nem sei se seremos capazes de fazer isso, nós nem sequer conseguimos vencer uma grande batalha ainda sem precisar de sacrifícios. De qualquer forma a lembrança da Ella do futuro mais importante está em seu último ano e em seus últimos momentos.

Eu quero saber como eles mataram o Setrákus Ra daquela época.

À escuridão começa a se dissipar e então abro meus olhos e dou um gemido, sinto uma grande vertigem e uma sensação de que alguém acabou de fazer milkshake com meu cérebro, sem falar que meus ossos doem de uma maneira horrível – parece que fui esticada numa dessas máquinas medievais de tortura. Acho que devo ter voltado para meu corpo normal, não lembro de sentir dores quando estava na vida da outra Ella.

Quando consigo focar no que está ao meu redor, vejo que estou numa cama de casal king size e com uma coberta até minha cintura. Meu travesseiro é tão macio que me faz me sentir meio mal por estar toda dolorida; era para eu ter tido um sonho de beleza aqui e não estar como se tivesse dormido numa pedra.

Olho para o lado e vejo que há um criado mudo perto da cama. Nele tem uma jarra que parece ser de cristal com um copo ao lado, a jarra está cheia com um líquido de coloração meio verde clara. Acho que deva ser chá, provavelmente deve ser alguma coisa de Marina e Oito.

            Meu quarto em si não é nada mau, estávamos no meio das apresentações da residência então eu deduzo que estou numa das suítes da cobertura de Nove. Tenho um espaço bem grande e espaçoso, diferente da minha vida de hotel e hotel barato que passei com Crayton. Aqui é um lugar gigante uma verdadeira mansão nos céus.

            Noto que há uma pessoa recostada numa cama poltrona reclinável. Quando vejo o cabelo na altura da metade do pescoço eu acho que seja Nove, mas o cabelo de Nove é maior que o dessa pessoa e com certeza não é castanho. Por causa do tempo que fiquei presa na mente de Ella eu até me desacostumei a vê-lo com essa aparência, mas mesmo assim eu o reconheço. Só não consigo entender o que o Cinco está fazendo aqui ao invés de Crayton ou Marina – eu esperava a maioria das pessoas aqui menos ele.

            - Cinco? – falo o seu nome meio sem certeza, é muito estranho o ver aqui. E meio assustador, depois de todas as coisas que vi sua outra parte ter feito na outra linha do tempo.

            Cinco abre os olhos e percebo que estava em sono profundo, porque seus cílios parecem estar se prendendo para não abrir. Ele me olha e tenta falar algo, mas o seu estado de sono era tão grande que deveria estar quase babando, então ele fecha a boca e se concentra antes de falar. Nossa uma cena totalmente romântica, tudo que eu esperava quando acordasse de um coma.

            - Até que enfim acordou pirralha – ele murmura ainda cansado e começa a coçar os olhos – estávamos começando a ficar preocupados com você.

             De repente eu começo a ouvir os pensamentos de Cinco e percebo que ele na verdade queria dizer era que estava preocupado – péssimo timer para o Legado começar a surgir e uma invasão de privacidade muito inconveniente. Tudo bem que de repente ele começa a ficar meio sem jeito enquanto fala e me encara, não precisaria de muito pensamento para chegar nessa conclusão.

            Sou obrigada a olhar para o chá do meu lado, a coloração esverdeada é meio estranha. Não conheço muito bem de ervas então não sei do que se trata esse chá. Cinco percebe que estou olhando para a jarra e faz uma careta engraçada.

            - Não está planejando beber isso né? – ele me pergunta. – É horrível, Oito que deu a ideia. Eu provei e é uma bosta, já não é a primeira vez que Marina tenta fazer algum chá para você e sempre que aqueles dois vão para a cozinha inventam alguma comida esquisita vegetariana.

            Que fofura esses dois. E ainda mais por eles estarem pensando em mim, mas só de imaginar Cinco provando o meu chá que era para mim quando acordasse me deixa com raiva. Ele está sendo meio idiota comigo, quando vou olhá-lo para lhe repreender de repente tenho um breve vislumbre acordada das lembranças da Ella do futuro. O corpo de Cinco muda na minha frente e ele de repente está mais alto e musculoso com um tapa-olho preto e o cabelo curto no estilo militar. Ele me olha de maneira mal-encarada e eu quase grito.

            Sinto meu corpo começar a estremecer e então ponho minhas mãos na cabeça. Tento usar os Legados que a outra Ella falou que agora eu teria para dissipar essa lembrança da minha mente.

            - Ei Ella, se acalma, está tudo bem! – Cinco fala se aproximando de mim alarmado.

            - Por quanto tempo eu estive apagada? – finalmente pergunto. – E onde está Crayton?

            Quando levo minha cabeça para encara-lo é o Cinco da minha linha do tempo quem está me olhando. Fico bastante aliviada com isso, aquele outro Cinco me dava calafrios, embora eu soubesse que no final ele foi para o nosso lado e tentou no ajudar sendo morto por isso. O do meu tempo parece ficar meio confuso com tantas perguntas e me encara da cabeça aos pés.

            - Em coma você ficou por 4 dias, mas parece que enquanto ficou nele sofreu o processo de puberdade mais bizarro de toda a história e quanto a Crayton, ele está com os outros na Sala de Aula ajudando Henry. – Cinco me explica.

            - Puberdade? – pergunto meio nervosa e então olho para minhas mãos, fico horrorizada quando percebo que elas estão maiores. Não parecem nada com minhas mãos menores, então minhas dores no corpo começam a fazer um sentido muito bizarro.

            Eu puxo meu coberto e vejo que estou de camisola que vai até o início da minha cocha. Minhas pernas estão muito mais alongadas agora, eu tive um surto de crescimento. Se fosse para chutar, devo ter quase a altura de Cinco agora. Um nó se forma na minha garganta, eu sou uma Aeternus, eu posso viajar por entre as idades que eu já vivi. Só que eu nunca tive 16 anos, mas eu vivi a vida da Ella do futuro mesmo que de uma forma rápida; nunca imaginei que meu Legado fosse absorver a idade da garota e transferi-la para mim assim como seu conhecimento sobre seus Legados adicionais.

            Vejo que Cinco está olhando para minhas pernas de uma maneira descarada e começo a dar tapas nele. Me sinto envergonhada também, no susto eu nem sequer me toquei que esse tipo de situação poderia ocorrer. Ele começa a gritar enquanto eu esbofeteio suas costas e se afasta de mim jogando o lençol de volta para minhas mãos com a sua telecinese.

            - Pra que isso! – ele grita comigo e sai quase como um guincho.

            - Por que você é um tarado idiota! – murmuro irritada tentando não fazer escândalo demais. – Eu sou... a sei lá o que eu sou agora.

            - Uma doida isso que é, eu não tenho culpa de nada aqui. – Cinco tenta se recompor, mas seu rosto ainda está vermelho enquanto olha para mim. – Sério, foram só suas pernas, não foi nada demais. Que século você vive?

            Reviro os olhos e respiro fundo. Não gostei muito do jeito que ele me olhou, mas também teve algo mais nisso tudo, eu gostei de me sentir desejada por Cinco. Nunca senti nada disso antes, é bizarro demais agora só falta eu começar a ter sentimentos de uma pessoa quatros anos na minha frente sendo que eu até 4 dias atrás tinha quase doze anos.

            Sinto algo pesado que estava escondido atrás da camisola se projetar agora para fora. Eu o seguro com minha mão e elevo o objeto até perto para poder observá-lo, é um pingente azul-cobalto que brilha um pouco quando eu o seguro. Demoro para perceber que ele é de loralite e tem um símbolo entelhado nele, um símbolo lórico.

            - Onde estava isso?

            - A isso? – Cinco olha para o pingente com a mesma curiosidade que eu. – Quando a outra Ella morreu e o corpo dela se desfez em poeira branca, sobrou apenas esse pingente no sofá onde ela estava. Sabe que esse é o seu número em lórico não é? O Dez.

            Eu nem sequer tento corrigir Cinco, eu sou, mas não sou a número Dez. Só que ao olhar esse pingente em meu pescoço de repente começo a me sentir parte de todos eles, da Garde e da equipe, justo quando achei que na verdade eu fazia parte de um destino cruel.

            - Eu nunca soube que havia um pingente com o meu número. – digo, e falo nisso me referindo as memórias da outra Ella. Não a vi o usando em nenhum momento da história.

            - Pois é, o Adamus ficou espantado com isso também. – Cinco comenta querendo tocar o pingente. – Ele disse que quando veio para cá, John e Ella daquele tempo forjaram 3 pingentes falsos para enganarem Setrákus Ra sobre a morte dos primeiros números. Só que se existe um seu também significa...

            - Que a Ella daquela linha do tempo fez esse pensando em mim... – murmuro e sinto uma lágrima começando a se formar.

            Esse pingente lórico com meu número pode não ter o significado que o dos outros. Só que para mim ele é muito importante, é o que me mostra que agora eu sou parte da Garde. Dos Anciões, posso não saber todas as respostas ainda, mas irei conseguir descobri-las, só tenho que saber como destravar o último ano da vida da outra Ella.


Notas Finais


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