História A garota da clareira - Ela é a última

 Não dormi durante a noite, meus pensamentos sempre voltavam para aquele labirinto. Porém ter Newt ao meu lado me deixou mais calma. Quando estava prestes a amanhecer, levantei e fui ver como as coisas estavam.

 Encontrei Thomas sentado em baixo de uma árvore. Passar aquele tempo dentro do labirinto com ele me fez criar uma confiança absurda com ele. Por isso, fui até ele e me sentei ao seu lado.

-Sem conseguir dormir também? – ele sussurrou olhando para as portas do labirinto, a nossa frente.

 Balancei a cabeça em negação. Ouvi Thomas suspirar ao meu lado.

 Havia tanta coisa que eu queria falar com ele. Mas algo dentro de mim me travava de falar, como se eu estivesse com medo de que pudesse mudar alguma coisa.

-Como está Alby? – eu perguntei.

-Não sei, os socorristas levaram ele.

 Respirei fundo, rezando para que ele ficasse bem. Imagens de Ben sendo punido invadiram minha cabeça.

-Eu vi uma coisa no labirinto – ele disse um tempo depois – Uma placa escrito: Cruel é bom.

Encarei ele por um tempo, sem entender onde ele queria chegar.

-Vi essas mesmas palavras em um sonho – ele continuou e algo fez meu coração falhar.

 Ele também tinha tido sonhos. Olhei em seus olhos tentando enxergar algo.

-Você acha que esses sonhos são reais? – eu perguntei.

 Thomas olhou para mim e suspirou, mais uma vez.

-Eu espero que sim – ele disse sorrindo e eu sorri de volta.

 Não tive coragem de perguntar se ele sonhou com mais alguma coisa, se ele sabia de mais alguma coisa. Algo dentro de mim queria que fossemos mesmo irmãos, mas a outra parte achava melhor manter isso só para mim por enquanto.

 Um tempo depois vimos os clareanos acordarem, mas estava um clima diferente. Vimos Chuck se aproximar.

-Newt está chamando todos na Sede – ele disse – Vamos ter um conclave.

 Olhei para Thomas com medo e fomos juntos em direção a Sede.

 Quando chegamos lá, todos os clareanos falavam junto e bem alto, não dando para entender quase nada. No meio de todos, Newt estava de pé, com os braços cruzados e olhando para o nada, com um olhar um pouco bravo. Do jeito que eu o conhecia, ele devia estar pensando demais. Queria poder ler seus pensamentos naquele momento. Mas de uma coisa eu sabia: ele estava preocupado.

 Com um assovio, Newt chamou a atenção de todos e todo mundo ficou em silencio.

-Alby está passando pela transformação – Newt disse com aquele sotaque dele – Teremos que esperar uns dias até que ele se recomponha.

 Suspirei com aquilo. Estava aliviada em saber que ele ficaria bem, pelo menos eu espero.

-Como líder aqui – Newt continuou – Temos que decidir o que fazer com Thomas e Emily. Eles desrespeitaram a regra e entraram no labirinto.

 Uns sussurros invadiram o local.

-A regra mais importante – Gally gritou, atrapalhando Newt – Devem ser punidos!

Os sussurros viraram gritaria.

-Tudo começou a dar errado quando ELA chegou aqui – ele continuou apontando para mim – Ben foi picado de dia e expulso, Alby se machucou! E não vamos esquecer de que ela é uma garota! Não quero saber o que mais está por vir!

Mais gritaria. Alguns gritavam que concordavam com Gally, que devíamos ser expulsos. Outros gritavam que era um absurdo.

-Um de cada vez! – Newt gritou extremamente bravo, o que surpreendeu a todos, já que ele sempre foi o mais calmo.

-Emily é nossa amiga – David disse lá do fundo – Thomas também. Só fizeram isso para ajudar. E ajudaram!

-Salvaram Alby! – outro completou.

-Me salvaram – Minho disse e só aí eu reparei sua presença – Eles foram muito corajosos e eu fugi. Não estaria vivo sem eles.

-Porém ainda sim temos uma regra – Gally voltou a falar. Tive vontade de chutar ele – E se tivesse dado errado? Teríamos perdido 4 ao invés de 2! Além disso, eles vão começar a pensar que podem quebrar a regra! O que vem por aí? Vão machucar um de nós?

 Vi Thomas fechar o punho ao meu lado. Segurei sua mão para impedir que algo aconteça.

Newt olhava para os lados tentando pensar em algo.

-Emily é nossa amiga! Não faria mal para a gente – Clint disse e eu sorri em resposta. Agradeci mentalmente por ter tantos amigos naquele lugar.

-Eles são corajosos – Chuck gritou e Thomas riu ao meu lado.

-São mesmos – Minho disse – E se existe alguém que pode fazer a diferença nesse lugar, são esses dois. Por isso, eu tenho uma solução: Vamos torna-los corredores.

 Mais uma vez as pessoas começaram a gritar e falarem juntas.

-Atenção! – Newt gritou e todos prestaram atenção nele – Eles quebraram uma regra. Um dia no amansador, sem agua e sem comida. A partir de amanhã Thomas entra no labirinto.

Levantei de onde estava e olhei para Newt sem entender. Ele iria mesmo tornar Thomas um corredor e eu não? Na frente de todo mundo?

 Estava prestes a começar uma briga, quando ouvimos um barulho alto. Todos se olhavam confusos. Não podia ser. Não tinha se passado nem uma semana que Thomas tinha chegado. Mas aquele barulho era da caixa chegando.

 Todos se dirigiram para fora da Sede, até a caixa. Uns clareanos abriram e eu vi Newt entrar lá dentro. Fui me espremendo entre os meninos, para conseguir ver. Quando cheguei perto, todos estavam confusos.

 Ali dentro tinha uma menina. Tinha os cabelos morenos e estava desmaiada.

-É uma garota – Newt disse se aproximando dela – Acho que ela está morta.

E, com um salto, ela abriu os olhos assustada, puxando ar. Newt se assustou com o movimento brusco.

-Thomas – ela disse e logo depois desmaiou mais uma vez. Todos olharam juntos para Thomas, que encarava a situação com um olhar duvidoso. Ele estava confuso, mas nem tanto. Era como se estivesse feliz e pensando em algo.

-Tem algo na mão dela – Newt disse puxando um papel e chamando a atenção de todos.

-“Ela é a última” – ele leu e olhou para todos confuso.

  Um grupo de clareanos ajudou Newt a tirar a menina da caixa e levar até os socorristas. Não estava afim de ajudar naquele momento, sendo que eu mesma devia ser ajudada, já que não tinha cuidado dos meus ferimentos do labirinto.

-Eu não disse? – Gally voltou a gritar bravo – Agora outra menina aparece dias depois de Thomas! Ela fala o nome desse moleque e ainda carrega um bilhete? Devemos expulsa-los agora!

Alguns clareanos estavam confusos com tudo isso e pareciam realmente ouvir Gally.

Gally se aproximou de mim com passos largos e eu levantei o rosto. Não iria fugir de um cara idiota.

-Tudo é culpa sua fedelha – ele gritou – Não sei como pude gostar de você no começo. Mas se tudo der errado, e já está dando, vai seu culpa sua!

Gally apontava o dedo no meu rosto e me empurrou de leve.

 Vi os clareanos se aproximarem para tentar me ajudar. Porém Thomas foi mais rápido e puxou Gally para longe de mim com muita força. Com isso, ele deu um soco muito forte em Gally, o fazendo cair no chão. Thomas bateu mais uma vez em Gally e gritou:

-Fique longe da minha irmã!