História A garota da clareira - Não o meu Newt

 Eu ainda estava sem acreditar nas proporções que aquela situação tinha sido levada. É óbvio que Newt não tinha psicológico suficiente para lidar com tudo isso daquela maneira e sozinho. Assim que ele viu ao ponto que tinha chegado, ou seja, ter me empurrado e gritado com seu melhor amigo, surtou, o que fez ele achar melhor fugir.

Bom, era isso que eu imaginava na minha cabeça naquele momento.

-Nós vamos achar ele – Thomas dizia ao meu lado – Gally tem contatos que viram por onde ele foi.

-Vamos logo – eu disse puxando meu irmão e indo até um dos carros.

-Ele foi para o oeste – Gally disse entrando no lado do motorista – Temos que achá-lo antes que ele seja visto.

-Que se foda se ele tenha sido visto ou não – eu gritei brava – Precisamos ver se ele está bem.

Gally levantou a sobrancelha com a minha resposta e bufou, acelerando com o carro.

Encostei no bando e tentei relaxar, mas estava impossível, eu estava muito preocupada com ele e não me perdoaria se algo acontecesse.

-Ele está bem – Thomas disse mais uma vez. 

Talvez ele tenha dito mais para ele mesmo do que para mim.

-Eu espero que sim – eu disse deixando uma lagrima escorrer pela minha bochecha. Eu não estava preocupada se Thomas iria ver, eu não ligava para isso. Ele seria uma das poucas pessoas que me entenderiam naquela situação. – Posso te contar uma coisa?

-Claro – ele disse segurando minha mão.

-Newt me pediu em casamento – eu disse e consegui sorrir um pouco.

Pensar nesses momentos de felicidade, que eu só tinha ao lado de Newt, era uma das poucas coisas que conseguiriam me deixar feliz em um momento como aquele.

Thomas pareceu surpreso com minhas palavras, ficou calado por um tempo, mas abriu um sorriso comigo logo depois.

-E você aceitou? – ela perguntou.

-É claro né.

-Nós vamos achar ele, acalmar a situação e faremos um casamento lindo – Thomas disse – Sua felicidade é o mais importante.

Sorri com suas palavras. Nunca me passou pela cabeça fazer uma cerimonia ou algo do tipo, só de estar com Newt já me deixava muito feliz. Ser sua oficialmente. Encostei minha cabeça em seu ombro, tentando procurar algum conforto. Mas não encontrei. Meu coração ainda estava apertado.

-Gente – Gally disse um tempo depois chamando minha atenção – Acho que sei para onde ele foi.

Me aproximei do banco do motorista e olhei para frente. Havia uma construção enorme, como se fosse uma prisão, com muros altos e algumas cercas.

-Que lugar é esse? – eu perguntei ainda um pouco assustada.

-Onde mandam os crancks infectados – Gally respondeu e um arrepio percorreu todo o meu corpo.

-Podemos entrar aí? – Thomas perguntou.

Antes que Gally pudesse falar algo, avistei uma pessoa andando na nossa frente. Estava longe, mas eu reconheceria ele de longe, ainda mais pelos cabelos loiros e o andar mancando.

-Olha ele ali – eu gritei fazendo Gally parar o carro com tudo.

Estávamos de carro e Newt a pé. Obvio que estávamos em vantagem e chegaríamos primeiro.

Abri a porta do carro com tudo e sai de dentro sem nem me importar se alguém me veria. Ao redor da prisão só havia areia, não tinha uma alma se quer.

 Corri em sua direção desesperada.

-Newt! – eu gritei assim que me aproximei dele.

O mesmo virou a cabeça assustado e assim que me viu, suspirou. Apressei meus passos e alcancei ele.

-Ta tudo bem meu amor – eu disse segurando seu rosto entre minhas mãos – Ta tudo bem.

-Não está nada bem – ele disse com uma voz de choro, o que fez meu coração de partir em dois.

-Eu estou aqui – eu disse encostando minha testa na dele. Sua respiração batia em meu rosto com a aproximação – Vamos embora.

-Eu não posso mais ficar com vocês – ele disse com os olhos fechados.

-Por que não?

Newt não me encarava. E quando ele não quer falar algo, ele não consegue me olhar nos olhos. O mesmo acontece comigo. Somos tão parecidos e conhecemos um ao outro na palma da mão.

-Newt – eu insisti – Me fala.

Newt abriu os olhos e, ainda sem me encarar, se separou de mim. Ele ergueu a manga da blusa dele e me mostrou seu braço.

Tinha uma marca roxa profunda ali, com umas veias saltadas e pretas. Eu já tinha visto antes. Nos crancks.

Fechei meus olhos com força, acreditando que quando eu abrisse, nada disso estaria acontecendo. Mas nada mudou.

-Eu não sou imune como pensávamos – Newt disse – E estou infectado.

Soltei a respiração que eu estava prendendo até aquele momento, sem perceber. Um soluço foi emitido pela minha garganta e meus olhos se encheram de lagrimas. Balancei a cabeça, negando aquelas palavras.

Como eu não tinha visto aquilo antes? Quando aquilo apareceu?

Newt me olhava com dó na minha frente.

Tudo fazia um pouco de sentido agora. Seu ataque de raiva. Aquele não era Newt. Nunca seria Newt. Não o meu Newt.

-Deve ter um jeito – eu disse com a voz totalmente de choro.

-Emily, não há um jeito.

-E entrar nessa prisão é uma solução? - eu já estava gritando com lagrimas nos olhos - Desistir assim? Fugir de mim? Depois de tudo isso? Depois de dizer para mim que me queria ao seu lado? Me pedir em casamento?

-Não posso machucar você mais uma vez – ele disse finalmente olhando em meus olhos.

Parei para pensar nas palavras de Newt antes de me pedir em casamento. Ele já sabia. Estava desesperado e não queria perder tempo. Ele sabia esse tempo todo.

Não aguentei e abracei ele, chorando tudo o que estava preso em minha garganta.

Por que minha vida tinha que ser daquele jeito?

Newt acariciava meus cabelos enquanto eu chorava. Ficamos assim por vários minutos.

-Vamos voltar – eu disse limpando meu rosto e me afastando – Vamos dar um jeito nisso.

-Emily...

-Para Newt! – eu disse desesperada – Se você acha que eu vou desistir de você, você está enganado! Eu sempre estarei ao seu lado! Sempre!

Newt se aproximou em um ato rápido e selou nossos lábios. Um beijo calmo, cheio de paixão e amor. Minhas lágrimas se misturaram ao beijo e creio que as dele também. Aquele era meu Newt. Ele ainda estava lá. E eu não iria desistir dele.

-Vamos embora – eu disse assim que nos separamos, ainda olhando em seus olhos, mantendo a conexão.

Me virei e dei de cara com Thomas e Gally. Ambos encaravam a gente com um olhar de dó. Eu não conseguia entender direito a expressão de Thomas, mas não era boa. Seu olhar estava vago e algo me dizia que ele já tinha sacado tudo e seu cérebro trabalhava para fazer algo.

Segurei a mão de Newt e o puxei para o carro.

Ninguém disse nada no caminho de volta. Deitei minha cabeça no peito de Newt e fiquei observando o céu pela janela do carro. Devo ter dormido no caminho.

Eu só sabia de uma coisa: uma parte de meu coração tinha sido deixada lá fora.