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História A garota do porão - Camren - Um tipo de esperança


Escrita por: m-issbrightside

Capítulo 27 - Um tipo de esperança


Fanfic / Fanfiction A garota do porão - Camren - Um tipo de esperança

-Eu estou me esforçando pra não dizer isso de novo, mas Mila, você está ótima! - Ally disse pelo que parecia ser a centésima vez em poucos minutos, e colocou as mãos no rosto de Camila. 

-Obrigada, Ally. Estou me cuidando agora. - ela respondeu, encolhendo os ombros enquanto a mais velha acarinhava e observava seu rosto, pouco antes de recuar. 

-Ah, não, não foi isso que eu quis dizer! - ela explicou rápido, e segurou uma das mãos da garota. - Estou dizendo que parece mais saudável, retomou o seu peso e a cor nas bochechas... - e fez uma pausa. - Você parece feliz. 

Levou um segundo pra que Camila respondesse, embora o sorriso em seu rosto e a forma como suas bochechas coraram violentamente, enquanto ela desviava o olhar, tivessem dito tudo antes que ela abrisse a boca. 

-É, eu estou. - ela sorriu longamente, e suspirou. - Considerando todas as coisas, sobre a carta e, você sabe. - então deu de ombros, e foi muito oportuno que seus olhos cruzassem os de Lauren, caminhando de volta para a mesa. - As outras coisas estão indo bem quanto possível. 

-Estou vendo o sorrisinho, Chancho. - Dinah chegou dizendo, e cutucou a bochecha de Camila. - O que é? Não me diga que Ally está te elogiando de novo. 

Ally só a olhou sorrindo de forma culposa, e Normani riu logo atrás, antes de Jauregui se aproximar o suficiente. 

-Certo, olha, se ela ficar convencida, eu não vou suportar. - a mais alta gesticulou, segurando o riso enquanto as outras riam, e se sentou. Camila chutou sua cadeira de leve. - E espere até a Lauren saber que você está enchendo a garota dela de elogios. 

-Lauren saber o que? - a garota de olhos verdes chegou sorrindo, e parou atrás da cadeira de Camila, ao lado de Normani. 

-Nada, Lolo. Dinah está só sendo boba, como sempre. - a de olhos castanhos respondeu, se virando com um sorriso para a garota que a olhou de volta e descansou as mãos em seus ombros enquanto Ally voltava a falar. 

-Bem, sobre aquele assunto, como combinamos, eu liguei na escola de vocês. - e os olhares de todas as quatro recaíram sobre a mais velha, na mesma hora. - Eles me deram permissão para ir lá e dar uma olhada no arquivo. Só há alguns poréns: primeiro, não posso levá-lo pra casa, então só tenho algum tempo pra olhá-lo e gravar o que precisarmos, temos que estar prontas pra isso. Segundo: precisamos andar logo com isso, pra não arriscar que alterem qualquer coisa no arquivo, ou que mudem de ideia sobre me deixar entrar lá.

-Tudo certo. - Normani assentiu rápido, entreolhando-se com Dinah.

-Ótimo, então vamos. - a mais alta incentivou, olhando as outras uma a uma.

-Estamos prontas. - Lauren assentiu na mesma hora que Camila interviu.

-Mas, não podemos entrar com você, não é? - ela olhou para Ally, que cedeu um pouco com a cabeça.

-Esse era o outro porém. Vocês não podem entrar comigo, e muitas de nós lá, num sábado, pode levantar suspeitas. Então, é melhor que só algumas estejam lá. - ela explicou e fez uma pausa, fitando a todas, rapidamente. - Às que quiserem ficar, posso deixá-las em casa e podemos nos encontrar aqui depois, se preferirem.

-Eu vou ficar. - Camila disse de repente, e todas a encararam com alguma espécie de surpresa: exceto por Lauren, que entendeu na mesma hora.

É claro que, se tratando de um assunto que a envolvia diretamente, Camila gostaria, e muito, de estar envolvida em toda a ação útil possível. Mas, naquela ocasião específica, era muito mais coerente que ficasse distante, sem todo o potencial pra alarmar os funcionários da escola ou qualquer coisa do tipo, e ajudasse nas descobertas que as garotas trouxessem em seguida.

E é claro: sendo ela a figura principal naquela descoberta, seu não envolvimento declarado provavelmente deixaria as garotas não só muito mais livres para decidir envolver-se, como também pra pensar na possibilidade do contrário - como não foi muito difícil de se processar na cabeça de Jauregui.

-Eu vou ficar também. - ela emendou rápido, e trocou um olhar breve com Camila. - E podemos ficar aqui, não precisa nos deixar em casa, Ally. É mais perto da escola, pra caso precisem de alguma coisa, e assim acho que ficamos menos ansiosas em esperar.

-Tudo bem, então. - a mais velha assentiu e, enquanto Camila alcançava a mão de Lauren por detrás da cadeira, ela se virou. - Dinah? Normani?

-Eu definitivamente vou. - a mais alta respondeu logo, e à menção que Normani fez de dizer "tanto faz" ou algo parecido, continuou. - E você vai também. Se eu vou substituir o voto passional da Mila na situação, você vai substituir o cérebro da Jauregui e, é claro, me fazer companhia enquanto Ally  vasculha o arquivo.

Levou um instante até que Normani respondesse, com uma sobrancelha arqueada e os braços cruzados.

-Você é muito folgada, garota. - ela então disse e empurrou Dinah pelo ombro, enquanto as outras riam um pouco. - Mas, tudo bem, eu vou. Só pra garantir que você não vai fazer alarde, que fique bem claro.

-Aham. - Hansen ironizou, e Ally então se levantou, tirando as chaves do carro do bolso.

-Certo, então vamos, vocês duas. E vocês - ela olhou para Lauren e Camila, que se levantava. - fiquem tranquilas e, qualquer coisa, é só ligar.

Assim, as cinco garotas se despediram umas das outras o mais rápido que puderam mas, ao mesmo tempo, um pouco mais demoradamente do que o normal, e se dividiram nos dois grupos combinados depois, no que Lauren e Camila assistindo do parque as outras três irem em direção à rua.

(...)

Uma vez na escola, depois de avisadas que apenas Ally poderia entrar e ter acesso ao arquivo, as outras duas ficaram do lado de fora esperando, distantes, porém também perto o suficiente, e atentas aos celulares.

Mas, não sem que antes houvesse uma ideia e dica valiosa para a mais velha.

-Está com o celular aí? - Normani quem perguntou a Ally, e imediatamente o celular estava à mostra na mão da outra, enquanto Dinah olhava de uma para a outra com curiosidade, mas sem dizer nada.

-Certo, provavelmente vão colocar algum funcionário ou segurança lá dentro com você, ou vão ter câmeras ao redor, então é melhor garantir que você consiga gravar o que puder discretamente, sem ser pega. Assim. - ela explicou e pegou o celular, e então perguntou, apontando para a jaqueta que Ally vestia. - Posso?

-Claro.

Num instante, Normani já havia iniciado a gravação na câmera do celular já desbloqueado de Ally, e no outro colocou o aparelho dentro do bolso mais alto de sua jaqueta, na altura do peito, aonde cabia perfeitamente e fechado pela aba de tecido, com a câmera virada para fora.

-Pronto. Agora, quando estiver com o arquivo, abra o bolso e garanta que ele apareça bem na frente da câmera, nessa altura, e feche o bolso de novo antes de sair.

E nesse sentido, seguindo com a dica muito inteligente e indispensável de Normani, e também com o fato de que demoras não seriam bem vistas pelos funcionários esperando por ali, Ally disse que voltaria logo antes de se afastar até a porta do departamento.

Lá dentro, ela notou que não só Normani estava certa uma vez, como duplamente: havia um segurança e também uma câmera num dos cantos da sala, o que tornou o celular, de câmera agora à mostra pelo bolso destampado, realmente muito oportuno.

-Srta. Brooke, o arquivo da Srta. Cabello. - um homem de meia-idade disse, entregando a ela uma pasta bege como todas as outras, mas com o nome de Camila ao meio da capa. - Infelizmente só podemos dar à Srta. cinco, no máximo dez, minutos. Mas, fique à vontade.

-Tudo bem, será o suficiente. - ela respondeu, sorrindo casualmente, e gesticulou com o arquivo em mãos. - Obrigada.

Depois de se sentar em frente a uma mesa pequena perto de muitas gavetas, Ally abriu o arquivo - cuja capa, por sinal, parecia larga, como se já tivesse sido maior do que era agora. -, para de deparar primeiro com uma página com informações gerais sobre Camila, cópias de documentos de quando foi matriculada na escola, e uma foto do mesmo período - nada de muito interessante para o caso atual.

Em seguida, algumas páginas passaram com fotos no mesmo modelo e sempre de Camila, mas em idades e séries diferentes. Até que, depois da última que achara, havia uma colagem de jornal, com manchete em letras grandes, seguida por uma foto de uma mobilização na cidade e uma pequena foto de Camila no canto esquerdo:

"Desaparecimento de garota de 11 anos perturba a pacata cidade de Portland".
 

A partir dali, Ally passou a correr os olhos pelas folhas atentamente, e o mais cuidadosamente que podia entre a necessidade de ser rápida. Ela notou que, entre relatos e observações não muito úteis e notícias recortadas, haviam pequenos rasgos e emendas em certas lacunas de algumas páginas, como se alguém tivesse voltado atrás na ideia de deixar certas informações que já haviam sido colocadas ali.

E quando percebeu tal coisa, ela garantiu que isso fosse capturado no vídeo do celular em seu bolso e foi avançando pelo arquivo com o sentimento, crescente conforme as páginas, de que estava chegando a algo importante.

No processo, ela notou os nomes da família de Camila muitas vezes por ali, o de Dinah também, e pouquíssimas vezes os da família Jauregui - na verdade, o próprio nome de Clara aparecia em destaque apenas uma ou duas vezes no começo da documentação, sendo citada como mãe de Lauren, "colega de sala de Camila, a garota desaparecida há três semanas", e outra numa espécie de entrevista. 

E finalmente, a intuição que havia em seu peito explodiu com razão conforme as mãos passaram para um par específico de páginas: ali, no papel amarelado de partes mal plastificadas, Ally viu uma série de blocos com informações que pareciam importantes, porque estavam bem separadas e negritadas aqui e ali, além de cercadas por alguns recortes como os de antes. 

No primeiro bloco ela viu uma foto, que parecia padrão pega na internet, de uma espécie de furgão branco. Embaixo havia, escrito em letras corridas, uma anotação em caneta grossa preta que dizia "Placa do Estado de Oregon", ao lado de  uma outra foto com uma silhueta de homem e uma interrogação ao meio, que ganhou a escrita "Suspeito sem descrição, não identificado" embaixo. 

Abaixo disso, haviam digitações padronizadas com conteúdo mais específico: 

"Pesquisa de bairro, Polícia de Portland: durante essa semana, cerca de 57% dos moradores afirmou ter visto um furgão de modelo Mercedes Sprinter, com a placa do Estado de Oregon, estacionado nos arredores num período específico que antecedeu o desaparecimento. Nenhum dos moradores foi capaz de descrever um suspeito para confeccionar um retrato-falado."

"Levantamento: a Polícia traçou rotas de procura e possíveis destinos do sequestrador, a realizar-se em buscas que, segundo o Departamento de Polícia Local, começam amanhã de manhã."

Após isso, Ally continuou lendo mais avidamente e, se possível, mais atentamente do que antes.

Seguindo o padrão de disposição, havia embaixo outro bloco que começava com uma foto de várias pessoas por um campo durante a noite, a polícia à frente e todos com lanternas, debaixo da qual lia-se: "mutirões de procura durante a noite e finais de semana", e depois:

"Mutirões de busca, organizados pelo Departamento de Polícia e pela vizinhança: semana quatro. Nenhuma pessoa, suspeito, corpo ou pista encontrada."

Depois, no próximo parágrafo, uma foto que integrava a escola e uma manchete no jornal: "Escola local torna recesso de dois dias em Campanha de Procura a Camila e Apoio aos Cabello".

Em seguida, no próximo parágrafo, que era menor do que os outros, uma pequena anotação digitada: "recesso e campanha na escola + reforço de segurança no perímetro ajudaram a retomar as aulas, mas ainda não há pistas sobre o paradeiro de Camila."

Na sequência, os blocos foram ficando cada vez menores e às vezes mais rabiscados e alterados, quase como se, com o tempo, as informações nunca fossem certas o suficiente e a própria escola tivesse cessado com as esperanças de encontrar Camila - portanto, também com o propósito de continuar anotando todas aquelas coisas. Ally não soube dizer se julgava aquilo deplorável e de pouco caso, ou compreensível: ela sabia de toda a história, mas vê-la ali no papel, daquela forma recortada e sequencial, dava uma perspectiva nova e estranha sobre a coisa toda, que colocava as suas certezas, mas também os julgamentos, em xeque.

Ela viu os dias avançando em branco ou rabiscados, até que um nome familiar chamou sua atenção no que parecia um relato de palavras faltando: no lugar delas haviam rasgos, com a intenção falha de acidente, que impediam que a sentença fosse lida por completo, como fora dita.

"É, Camila e eu estudamos na mesma sala. Ela é uma garota legal, é bem (...) Foi o último em que eu a vi na escola, e ela estava indo embora (...). Mas, eu estou torcendo de verdade pra que Camila esteja bem e volte pra casa logo, volte pra escola. Nós estamos (...) - disse Lauren Jauregui numa gravação (...), colega de sala da garota desaparecida, Camila Cabello. 

Ally, intrigada, passou os dedos pelas partes rasgadas, suas sobrancelhas se unindo ao cenho com mais intriga do que antes e ela quis se deter ali, mas o fato de que o tempo estava correndo a incentivou a continuar virando as páginas, que pareciam estar acabando rápido demais.

Então, chegaram partes com mais fotos do que anotações: eram imagens de lugares que, por alguns traços da vegetação e placas nos cantos, juntamente da parte de sua memória que era familiarizada com os arredores, ela reconheceu serem fora de Portland, mas não muito distantes, ainda em Oregon. Haviam pedaços de estrada em algumas fotos, com placas que diziam quilometragens; outras de casebres, furgões, de policiais junto de placas, e assim sucessivamente. 

Até que, ela chegara a um espaço em branco, mas com marcas de cola que formavam uma moldura de foto arrancada dali, ao lado de um único adesivo meio rasgado, aonde lia-se "Oficial Responsável pela Busca: Will Bracey."

(...)

Não muito distante dali, no mesmo parque de minutos atrás, Lauren e Camila estavam sentadas no meio de um pequeno parque para crianças - onde poucas brincavam, porque havia um bem maior a pouca distância, perto do lago -, cada uma num balanço dos quatro que haviam, ao lado uma da outra.

Camila estava desenhando na areia com um graveto do chão, em volta dos pés, e Lauren estava oscilando devagar, com os olhos no que a outra fazia, mas muito quieta e distante dali, até que Cabello interrompeu sua divagação.

-Dinah deve estar dando trabalho a Ally uma hora dessas, com toda aquela ansiedade. - ela sorriu consigo mesma, quase rindo, e Lauren balançou a cabeça pra captar o que ela dissera, rindo um pouco também.

-Ah, com toda a certeza, mas Ally aguenta o tranco. - ela ergueu as sobrancelhas e a outra garota riu da expressão, concordando com a cabeça. Jauregui aproveitou para emendar uma pergunta que lhe ocorrera muito naquele breve tempo esperando pelas outras garotas. - E você? Não está ansiosa? 

-Bem, - a garota latina começou a dizer, largando o graveto no chão, e limpou as mãos uma na outra. - é claro que eu sou a pessoa que mais quer descobrir isso, e o motivo pelo qual estamos fazendo tudo isso, afinal. - ela encolheu os ombros arregalou os olhos, como se fosse óbvio, fazendo uma pausa.

-Mas, Lolo, - e se virou para a menina de olhos verdes, com uma expressão que Lauren achou nunca ter visto antes. - eu tenho um sentimento comigo, uma coisa muito certa, de que vamos conseguir o que quer que precisemos para ir atrás de respostas. Eu não sei explicar, e não sei se é exatamente sobre hoje, mas eu sei que vamos, e só sei. - e então tocou uma mão de Lauren, que estava sobre o joelho. - Você entende? É como uma espécie de intuição, uma esperança certa. 

E Lauren, é claro entendia. Embora por um sólido momento ela não tivesse dito coisa alguma, ela entendia, e como, do que Camila estava falando. 

Ela entendia, primeiro, porque era exatamente como havia se sentido desde que a conhecera. 

Talvez não fosse nada impressionante ou visionário; e talvez fosse só aquela vontade e necessidade de amizade tão absoluta que certas crianças adquirem na iminência da escola. Mas, de toda forma, desde que pudera ver e falar com a garota tão genuína, doce e única que Camila fora, algo dissera a Lauren que elas estavam fadadas a se aproximar, a ser amigas ou, ao menos, a ter contato, de qualquer forma improvável que fosse. 

Ela lembrava de sentir quase como se não precisasse se esforçar, embora gostasse muito de tentar fazê-lo, como podia - como quando lhe dera aquela pulseira em segredo. 

E também, Lauren entendia perfeitamente aquele sentimento porque, em segundo lugar na ordem cronológica de sentimentos mais estranhos que já sentira na vida - ou, de sentimentos mais estranhos que Camila Cabello já a fizera sentir na vida -, ela havia sentido exatamente aquilo em certo ponto do sequestro de Camila.

E foi isso o que voltou a dizer, aproveitando o assunto de que falavam.

-Sim, é, eu entendo. - ela assentiu com veemência depois do tempo em silêncio, e olhou para a própria mão, sobre a de Camila, em sua perna. - Quero dizer, talvez tenha sido um pouco mais bizarro, mas eu me senti assim depois de um certo tempo, quando estávamos procurando você. 

Foi com essas palavras que os olhos muito castanhos de Camila pararam e, ao mesmo tempo, se tornaram brilhantes sobre os da garota Jauregui, e sua boca não se moveu pra coisa alguma, até que Lauren continuasse.

-Nós procuramos muito intensamente no começo, e então o período começou a se alongar e ninguém mais, nem mesmo a Polícia, nem a vizinhança com os mutirões que a cidade toda fazia durante as madrugadas, tinha mais pista alguma sobre você. Então, as procuras começaram a se dispersar e se tornar mais lentas por um período, e  depois restritas às autoridades quando, agora sabemos, estava mais perto de que fosse encontrada. - ela suspirou e fez uma pausa longa, então deu de ombros, brincando com os dedos de Camila nos seus. 

-E é claro que, com isso e todo o tempo passando, eu fiquei com medo muitas vezes, como tantas pessoas que gostavam de você. Como Dinah certamente sabe dizer mais que eu. - e só então riu um pouco, e a outra garota a acompanhou. - Mas, eu realmente nunca tive o sentimento de que não íamos te encontrar, sabe? Acho que era isso também que me mantinha mais calma do que costumo ficar, e insistindo contra todas as chances da minha mãe pra participar das coisas que envolviam a busca. 

-Era como se houvesse uma coisa me dizendo que você estava aguentando, o tempo todo, e que alguém de nós estava mais perto de achar você,  cada vez mais. - ela então pausou por mais tempo, encarando o céu muito expansivamente, e depois voltou às mãos. - É engraçado porque eu, como era de se esperar por aquela idade, não pude fazer muita coisa, ainda que me sentisse desse jeito. - e deu de ombros de novo, querendo rir. - Mas, é, era isso. Talvez eu fosse só uma criança otimista demais, e isso tenha funcionado? 

E com isso, Camila riu, fazendo-a sentir mais confortável depois de toda aquela confissão, e até que houvesse silêncio de novo. 

Uma espécie de silêncio que existia não por quê Camila não acreditava ou não entendia como um sentimento daqueles se enquadrava naquela situação pavorosa; mas, pelo contrário: porque ela se deixou perder algum tempo admirando o jeito como Lauren pareceu tornar aquele significado enorme em algo tão simples e absoluto. Tão fácil, como se estivesse sempre ali e à mão.

-Você era uma criança otimista, nena, mas não era isso. - Camila riu e negou com a cabeça finalmente, e então tocou o lado do rosto de Lauren com a mão, num carinho persistente e atencioso. - Essa era a parte de você que tem todos esses sentimentos bonitos e intuitivos, Lolo. Sua intuição é muito poderosa, e a sua esperança também. - ela sorriu, certa do que dizia, e olhando bem nos olhos da outra garota, que inclinou a cabeça em sua mão, os olhos cintilando e sorrindo marejados na sua direção. - Acho que essas coisas vindas de você, da minha família e de outras pessoas me mantiveram viva por muito mais tempo do que pensei que aguentaria.

-Você é muito forte, Mila. - Lauren respondeu, depois de engolir a seco, e agora segurando a mão de Camila, que deslizou de seu rosto. - Desde criança, mais do que se dá conta, e eu só posso ser grata por isso e por tudo que te manteve viva. Apesar de desejar que não tivesse tido que passar por nada disso. - ela acrescentou desnecessariamente, porque Camila sabia, e negou com a cabeça, mudando de tom.

-Sabe, eu mal consigo olhar pra minha mãe depois de achar aquela carta. Qual é o tipo de pessoa que compactua com algo assim? Que faz isso com uma criança? - ela se perguntou indignada, e Camila baixou os olhos, quando Lauren retomou a voz e disse com leveza. - Nós erámos crianças tão felizes, e tão boas.

-Éramos mesmo. As coisas eram todas tão felizes. - Cabello respondeu sorrindo largo, e sacudiu as mãos entrelaçadas para chamar atenção. - Você se lembra de quando haviam balanços como esses na escola, antes de renovarem tudo? E de como eram tortos? 

-É claro que lembro. - a de olhos verdes respondeu, rindo de repente. - Eu só aprendi a me balançar sem deixar as correntes enroladas porque vi você fazendo. Você era mesmo boa nessa coisa de balanço.

-Muitas coisas não mudam, Lolo, eu ainda sou. - ela sorriu e piscou um dos olhos, e disse convincentemente, de perto. - Assim como nós ainda podemos ser crianças felizes, como antes, sabe? Só que um pouco mais crescidas.

Nisso, depois do olhar brilhante que os olhos esmeralda deram aos castanhos de Camila, prestes a se inclinar para mais perto, ela se levantou, roubou um beijo leve - daqueles que fazem cócegas - dos lábios sorridentes de Lauren, correu para trás do balanço onde ela estava sentada, e começou a empurrá-la com ânimo.

-O que é que você está fazendo? - Jauregui riu com surpresa e se segurou instintivamente às correntes do balanço, e ergueu os pés do chão, querendo olhar para trás.

-Estou te balançando, Lolo! - Camila riu alto com a surpresa da outra, e continuou, se divertindo. - Vamos, você ainda sabe balançar! Ponha os pés pra frente e depois para trás! 

-Você está empurrando muito alto! - Lauren exagerou, e gargalhou sem querer porque, a adrenalina boba do balanço indo e vindo no alto, somada às risadas de Camila às suas costas, sopravam todos os tipos de borboletas em seu estômago e acima.

A outra garota riu também, prolongando o som da risada da garota em sua cabeça e o cheiro doce dos cabelos soprando em sua direção, enquanto corria para sentar-se no balanço ao lado, aonde estava antes - e ali começou a se balançar como havia obrigado Lauren a fazer mas, de fato, muito mais habilidosamente do que ela fizera à princípio.

E aquele momento poderia ter durado centenas de dias ensolarados e iguais, ou qualquer que fosse o necessário pra que o Sol passasse centenas de vezes por aquele céu nas exatas mesmas posições, em tardes que eram sempre tão quentes e lindas quanto as anteriores, com o passatempo que as risadas altas definiam muito mais do que as palavras soltas no meio do caminho. 

Mas, quanto quer que tivesse durado, ele sempre chegaria ao fim cedo demais. 

E, por isso, a satisfação de ver as três garotas acenando de dentro do carro de Ally, parado ao meio fio do outro lado da rua, demorou um pouco a se manifestar como deveria, fazendo com que parassem e se levantassem dos balanços, para então caminhar de mãos dadas e em direção ao carro. 

-O que foi, Cheechee? Descobriram alguma coisa? - Camila perguntou quando parou à frente do vidro onde Dinah aparecia, intrigada.

-Descobrimos. Uma coisa pra ser exata. - Dinah disse apressada, e gesticulou para dentro. - Mas, não dá tempo de contar, vocês precisam vir pro carro. 

-Espera, como assim? - Lauren foi quem perguntou dessa vez, a serenidade se esvaindo de seu rosto conforme os traços se torceram em seriedade e dúvida demais. - O que aconteceu? 

-Está tudo bem, Laur. - Normani emendou do banco do passageiro, num tom calmo, mas rápido. - Ally está com tudo gravado e conseguiu ver bastante coisa.

-Sim, está tudo aqui. -Ally afirmou, levantando a mão que tinha o celular. - É só que, o principal que encontrei foi um nome e, aproveitando que estamos todas aqui e o tempo livre, tentei falar com ele para nos encontrarmos e consegui. Mas, precisamos ir agora, o mais rápido possível. Todo o resto vocês podem ver e ficar sabendo no caminho. 

Sob esse resumo e urgência, Lauren e Camila, então, só deram a si mesmas tempo de se entreolhar e então se apressarem ao lado de dentro do carro, dividindo o banco de trás com uma Dinah definitivamente ansiosa e com as explicações que vieram de todos os cantos - e todas em tons diferentes mas, definitivamente sob os efeitos daquela mesma espécie de sentimento peculiar: um tipo de esperança movido por intuição, e vice-versa.



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