História A garota do trem - Camren - Shawn is an idiot

Pela manhã, Camila acordou por volta das 09:30. fez sua higiene matinal, tomou um banho e foi pra mesa tomar o café da manhã, teve que ouvir Guilherme ficar testando a sua paciência.

— você nem estuda, não trabalha e ainda não quer ficar com o Louis, o que quer da vida Camila?

— eu terminei o ensino médio e mesmo que eu não vá fazer faculdade agora, eu posso muito bem arrumar um emprego, e eu estou tentando, mas as coisas não são tão simples como aparenta, e eu não me casaria por dinheiro

— você tenta arrumar emprego perdendo tempo naquele hospitalzinho caindo aos pedaços?

— não fale assim de lá! meça bem suas palavras, você não ajuda em nada lá, é um desumano, é um hospital do câncer e tem crianças que precisam de auxílio, pelo menos emocional

— ai você vai ler livrinhos pra eles, que perda de tempo

— eu faço o que eu quiser da minha vida Guilherme, você não tem que se meter

Ele bateu a mão na mesa com força e se aproximou dela segurando seu braço.

— quem você pensa que eu sou pra falar desse jeito comigo sua moleca?

— me larga! VOCÊ NÃO É O MEU PAI

— não, eu sou muito melhor que ele, pelo menos eu estou aqui, mas e ele? deve estar bêbado em algum lugar, se é que ele está vivo, o fígado dele já deve ter virado lixo

Ela levantou e deu um tapa na cara dele, foi a vez de Sinuhe levantar e se aproximar puxando Guilherme.

— deixa ele! eu quero só ver se ele vai me bater! faça isso e você vai parar de trás das grades pois eu não penso nem duas vezes antes de te denunciar, e eu ainda sou de menor, o que seria ainda pior pra você!

— Camila, tenha respeito! ele é o homem que eu escolhi pra viver ao meu lado e eu exijo que o respeite

— a senhora escolheu muito mal então. licença!

Pegou apenas uma mochila que havia trazido de casa.

— onde pensa que vai?

— pra qualquer lugar longe de vocês!

Passou pela porta e bateu a mesma com força. sua respiração estava ofegante de nervoso, ela estava com tanta raiva, tinha nojo de Guilherme e do jeito que ele tentava ser seu pai, sendo que não é. ela caminhou meia que sem destino, então lembrou de Shawn e que iam se encontrar. pegou o celular e ligou pra ele que dessa vez atendeu no mesmo toque.

— e ai gatinha

— sem gracinhas Shawn, onde você está?

— acho que nem namoramos mais pra você ainda estar assim possessiva

— não estou com brincadeiras Shawn, preciso que me encontre

— o que quer? fale por aqui mesmo

— é um assunto que deve ser tratado pessoalmente e logo, eu estarei no parque aqui perto de minha casa, chegue logo, é importante

Desligou na cara dela e foi caminhando para o parque, olhei apenas pra trás pra ter certeza de que sua mãe ou Guilherme não vinha a trás.. mas claro que não, Sinu era sempre do lado de Guilherme, fazia tempo que ela não sabia o que era ter uma mãe presente, uma mãe carinhosa e afetuosa, era o mesmo que viver sozinha naquela casa, e a solidão acabava com ela. em pensar em estar só seu pensamento foi direcionado para Lauren, ela provavelmente estaria nessa agora, sozinha... e Camila não conseguia imaginar como a mulher sabia lidar com a solidão, se é que ela sabia.

Sentou no banco do parque, estava um ventinho bom, seus cabelos balançavam, ela ajeitou melhor o laço em seu cabelo e abraçou a si mesma quando uma brisa veio mais forte fazendo ela se arrepiar. nem tinha terminado de comer, saiu com raiva, e sentia vontade de comer do bolo quentinho de milho que ela havia visto na mesa, será que já era sintoma da gravidez? não, é muito cedo ainda pra isso, pensou ela. aguardou um tempinho e logo avistou Shawn vindo montado em uma bicicleta, desceu da mesma encostando-a no banco e se sentou.

— continua muito linda Mila

— eu não vim aqui para gracinhas, você é um idiota Mendes! a gente namorava, como fez aquilo comigo? simplesmente sumiu e ignorou as minhas ligações

— eu só vi que não era a minha praia namoro sério, eu quero ficar sem me apegar

— poderia ter me dito isso antes de eu te entregar a minha virgindade e confiança, você parecia me amar, você disse todas aquelas coisas bonitas e depois...

— e você acreditou? falamos o que for necessário pra conseguir pegar uma novinha virgem como você era, mas não me julgue por isso, outros caras fazem o mesmo

— você partiu o meu coração Shawn! seu nojento, asqueroso 

— own, coitadinha, quer um beijo de consolação? eu te dou se quiser

Tentou se aproximar dela mas a mesma o empurrou.

— não encosta em mim! seu merda

— nossa, mas quando eu te fodi não falava isso né? eu sabia que estava doidinha pra dar pra mim, eu só tomei a iniciativa que você estava com medo de tomar

Ela sentiu seu sangue ferver, uma vontade de socar a cara dele e uma vergonha por ter tido sua primeira vez com um homem tão babaca como ele, Shawn aparentava ser alguém totalmente diferente.

— agora me diz gatinha, o que quer falar comigo? gostou da transa e quer repetir? eu posso pensar no seu caso

Ela levantou e deu um tapa no rosto dele.

— você é um imundo, e seu pau de merda não fez efeito algum em mim, se quer se gabar tanto com esse pedaço de merda entre suas pernas devia ao menos aprender a usar ele

— nossa, que bravinha, mas para de enrolação e fala logo

— não tenho nada mais pra falar contigo, e vê se aprende a fazer uma mulher gozar, por que não está com nada, meus dedos surtem mais efeito quando me toco sozinha 

— não sabia que havia vindo pra me insultar, achei que o assunto que tinha pra falar comigo era sério, mas parece que só queria me ver

— seu convencido de merda, não tenho mais nada a dizer

Pegou a mochila dela e saiu andando as pressas, como iria contar que estava grávida de um merda desses? sentia era vergonha! se sentiu mal ao ouvir tais palavras dele que era um garoto que a respeitava, era carinhoso, e tudo não passou de táticas para seduzi-la e levá-la para a cama. 

Saiu andando sem rumo, procurou um lugar pra ir mas não conseguia pensar em nada, apenas em Lauren, era só com ela que podia contar. então como não era longe, caminhou até lá, respirou fundo antes de tocar a campainha, seus olhos estavam ardendo de vontade de chorar.

— quem é?

— Camila...

Ela abriu a porta mais rápido do que ela pensou. Lauren usava uma calça cinza de moletom e uma camiseta preta de uma banda, como estava em casa sozinha ela se vestia da forma que se sentia bem, não aparentava usar sutiã pois o bico do seu seio marcava no tecido, mas Camila observou isso apenas por segundos, nem sabia porque tinha feito essa observação.

— eu posso entrar?

— claro, fique a vontade, aceita um pedaço de torta de morango? acabei de fazer e não vou aguentar comer sozinha

— obrigada, eu adoraria

Mesmo um pouco envergonhada ela entrou e se sentou no sofá, a TV estava ligada e estava passando uma série, havia algumas mulheres na prisão. Lauren logo veio da cozinha com um pratinho, a torta e o garfo.

— aqui está, espero que goste. ah, eu estava vendo Orange Is The New Black, minha série favorita

— achei que só lia livros, você não tem cara de quem é viciada em séries

— e eu não sou, mas nessa sim

Ela desligou e sentou ao lado da latina.

— porque tirou? pode ficar a vontade e ver sua série

— depois eu continuo, você está bem?

Esperou ela engolir o pedaço da torta que havia acabado de levar até a boca, para então responder.

— eu fui falar com o Shawn

— como foi? ele vai assumir? ele não apoiou a sua ideia de aborto né? espero que não

— ele nem sabe do bebê

— como assim? não foi pra contar que você o chamou pra te encontrar?

— foi, mas ele começou a dizer umas coisas que me deixaram muito mal, falou que tudo que ele me disse foi uma grande mentira, tudo pra me levar para a cama, como não percebi? sou uma burra

— não, apenas acreditou na pessoa errada, em alguém sem caráter como ele

— Shawn é um moleque, eu devia ter percebido isso antes

terminou de comer a torta e ia levantar pra deixar o pratinho.

— não precisa, coloca aqui em cima do centro que depois eu levo

ela assim fez.

— eu não quero contar pra ele, não quero que o meu bebê seja rejeitado por uma segunda vez, primeiro pela mãe e depois pelo pai

— você não precisa dele, será uma boa mãe

— aos 17 anos? será?

— nem que fosse aos 15, tenho certeza de que seria Camila

— eu andei pensando no que falou e na proposta que fez... eu acho que vou mesmo precisar da sua ajuda

— sério? — disse com entusiasmo — eu fico muito feliz por isso!

— não quero morrer sangrando em uma mesa de cirurgia... mas também estou apavorada, como garante que não vai mentir igual ao Shawn?

— olhe pra mim

segurou ela levemente no queixo e Camila se sentiu um pouco envergonhada. fitou seus lindos olhos verdes nos castanhos da mais nova para então pronunciar algumas palavras.

— eu, Lauren Michelle Jauregui Morgado, me comprometo a te ajudar no que for preciso, e esse bebêzinho também, e eu falo sério, veja em meus olhos se estou mentindo

continuou olhando fixamente para ela que já estava um pouco desconsertada, mas via verdade no que ela dizia.

— eu... eu acredito em você

— ótimo, vai dar tudo certo, o primeiro passo vai ser seu padrasto e sua mãe saberem

— mas não hoje, eu meio que briguei com eles, dei um tapa na cara do Guilherme que veio jogar na minha cara que não estou na faculdade e nem trabalhando ai eu me irritei, eu só não estou trabalhando porque ainda não consegui em lugar nenhum e agora que estou grávida vai ser pior ainda

— pensa positivo, eu posso te ajudar na procura de empregos, tenho alguns conhecidos com quem posso falar, com indicação é mais fácil

— você já tem seus compromissos Lauren, e suas aulas a tarde, não quero que perca seu tempo

— não será tempo perdido. aonde vai depois daqui?

Camila levou a mão até o queixo e pensou, não vinha nada a mente... ela não queria voltar e dar de cara com Guilherme carrancudo e Sinuhe o defendendo.

— não faço a mínima ideia, acho que... andar um pouco

— fique para o almoço, eu posso fazer algo pra nós duas e vou pro colégio

— seus alunos são muito danados?

— depende, há dias que sim, outros não, mas geralmente eles são obedientes

— você ama crianças né?

— muito! sempre gostei

— espero que meu filho te traga então um pouco de alegria

— quer dizer que... vai mesmo tê-lo?

— com um pouco de medo... mas sim, sinto que posso mesmo contar com você

Lauren ficou tão feliz que fez um ato impulsivo, puxou Camila para si e a abraçou. a latina se assustou mas deixou, ela precisava daquilo, precisava de um abraço sincero, para tirar o peso da solidão de suas costas, ela se deixou ser abraçada por Lauren, e fechou os olhos puxando-a ainda mais para si. só depois de longos segundos ela percebeu que estava na hora de se afastar, então soltou e foi se afastando aos poucos.

— uh... me desculpa, eu...

— tudo bem Lauren, acho que nós duas precisávamos disso

— de um abraço?

— sim, é reconfortante

— tem razão... bom, eu vou pra cozinha preparar o almoço está bem? ai enquanto eu vou pro colégio você pode ficar aqui

— não vai ser incômodo?

— de forma alguma professor Girafales

— boba —deu um breve sorriso — vai confiar deixar uma estranha que conheceu no trem ficar na sua casa enquanto não está aqui?

— eu provavelmente serei a madrinha do seu filho, então... isso nos torna ao menos um pouco íntimas, já não é uma desconhecida, e eu confio em você Camila

— mesmo?

— sim

— obrigada

Lauren ficou olhando pra ela por alguns segundos até sair do seu transe e sorrir de lado.

— se quiser pode ligar a TV, eu.. vou fazer o almoço

— obrigada

Foi para a cozinha e franziu a testa, não sabia porque tinha ficado um pouco nervosa ou envergonhada por causa de um simples abraço que deu na garota, talvez esse fosse o efeito que Camila tem nas pessoas. foi pegando os ingredientes para começar logo a preparar tudo, não podia chegar atrasada no colégio e nem deixar a garota sem sua refeição.

Enquanto isso Camila ligou a TV e foi mudando de canal, até ver que estava passando Bob Esponja, ela poderia ter a idade que for, sempre gostaria de assistir Bob Esponja. deu uma espiada para ver se Lauren estava olhando e ela estava.

— não quer a minha ajuda?

— não precisa, pode ficar vendo TV, eu logo termino

— certeza?

— sim

— tudo bem então

— não sabia que gostava de desenhos

— uh, eu gosto, é legal

— eu também gosto, mas isso é um segredo nosso ok?

— tudo bem, não se preocupe, eu não direi a ninguém que a professora séria de literatura vê desenhos em suas horas vagas

— também não é assim, eu só vejo quando estou sem nada pra fazer... bom, e eu fico assim quase toda manhã, as minhas opções são livros ou TV. e eu não sou séria. Ai!

Camila levantou e caminhou em passos rápidos até ela.

— que foi? você se machucou?

— não foi nada, eu só deveria ter prestado mais atenção na carne que eu estava cortando enquanto a gente conversava

— desculpa, te distrai

— eu que sou um pouquinho desastrada as vezes, não prestei atenção

— está sangrando

— é um pequeno corte, não tem nada

— tem sim, venha aqui

Puxou Lauren e a fez se sentar no sofá.

— onde está aquela maleta que você usou para cuidar do meu joelho?

— na dispensa

— posso ir pegar?

— não precisa, eu vou terminar o almoço, nem está saindo muito sangue

— mesmo assim

levantou e foi até a dispensa pegar a maleta branca. pegou alguns gazes e uma pomada. sentou ao lado da Jauregui e segou em sua mão.

— vou passar um pouco disso

melou o algodão com a pomada e encostou no corte

— ai!

— deixa de ser mole que eu encostei devagar

pegou a gaze e envolveu um pedaço no dedo dela, colocando a fita branca em seguida.

— pronto, ao menos não vai ficar sangrando enquanto você termina, não quer que eu corte a carne?

— está tudo bem, nem devia ter feito curativo nenhum... mas obrigada

— por nada, eu vou lá guardar

ela assentiu e levantou do sofá voltando para a cozinha. olhou para o seu dedo esquerdo e sorriu, veio uma lembrança em sua mente, uma vez estava preparando o jantar para ela e Selena quando por descuido cortou seu dedo médio, mesmo tendo sido um corte pequenininho Selena fez questão de cuidar com muito carinho e fazer um curativo, do mesmo jeito Camila havia feito, e isso a deixou feliz.