História A Grande Dama - Conversa

P.O.V SPENCER

— Daniel! — chamei entrando na cozinha.

Ele se assustou quase derrubando o copo de água.

Olhando para mim com os olhos levemente arregalados.

— Não apareça deste modo sem avisar.

Sorri.

— Você não está muito assustado?

Ele me olhou por alguns segundos, então balançou a cabeça.

— O que foi?

— Eu vou sair, avise para minha mãe-

— Lady Bonneville não está.

Estranhei.

— Onde ela foi? — perguntei, só então me lembrei — Hoje é aquele encontro certo? Das amigas dela?

Ele ficou em silêncio por um tempo.

— Sim.

— Bem! Eu estou indo!

Falei quase saindo da cozinha.

— Jovem Mestre! — ele chamou, abrindo a boca para dizer algo, mas então suspirou — Tenha cuidado no caminho.

— Vou ter.

                           ***

— Certo — falei olhando para aquele ruivo — Por que ele está aqui?

Ele revirou os olhos.

— Devia me agradecer. Eu convenci a Amélia a te levar junto, já que ela queria tirar informações suas e te mandar embora.

Eu pensei que quando fôssemos conversar, seríamos apenas eu e Amélia, mas atualmente este ruivo e umas das empregadas de Amélia, Flor, estavam sobrando.

Amélia olhou para ele séria.

— Obrigada por revelar meu plano, Adam.

"Adam"? "Amélia"?

Por que eles estão falando um com o outro tão intimamente?!

Apertei os dentes.

Espera, informações? Plano?

— O que?

Eles olharam para mim e então se viraram para um para o outro novamente.

— Como eu já disse, eu não acho que ele tenha alguma coisa haver — o tal de Adam falou.

— Se ele não tem, a mãe dele tem, e acha que eu vou poder confiar nele?

Ele olhou bem sério para ela.

— Me diz você, você vai poder confiar nele?

Ela desviou o olhar para o chão e então para mim.

As pessoas no parque passavam ao longe, nos olhando e fingindo não estarem interessadas.

Amélia continuou me olhando por um bom tempo, parecendo estar se perdendo em memórias, sua sombrancelhas se franzido cada vez mais.

Por fim, ela bufou e se virou para Adam.

— Não.

Ele e eu soltamos um suspiro.

— Vamos conversar — Adam disse, apontando para o banco, sinal que eu devia me sentar.

— Onde está sua mãe? — Amélia perguntou.

Aquilo tinha haver comigo e com minha mãe.

Mas eu realmente estava perdido alí.

— Ela foi a um encontro com as amigas dela — eles pareceram confuso — Todo mês, ela e as amigas realizam um encontro, se juntam pra conversar, tomar chá, essas coisas.

Amélia e Adam trocaram um olhar.

— A quanto tempo ela faz isso? — ele perguntou.

— Bem... — pensei tentando lembrar quando ela começou com isso — Acho que desde sempre, não consigo me lembrar de um período em que ela não tenha feito isso.

Amélia e Adam lançaram um olhar para Flor, que estava acanhada e quieta até agora.

Ela assentiu.

— Eu só fui convocada para a casa dos Bonneville pouco antes de Amélia se mudar para lá, ela realmente saía todo mês, Amélia deve se lembrar. A Grande Dama, ou melhor, Lady Bonneville foi pessoalmente até a mina para escolher alguém, ela me disse para ficar quieta ou iria...

Os olhos dela se encheram de lágrimas.

— Eu não consegui nem falar com Matilde. Queria esquecer esse período da minha vida, mas a minha irmã ainda estava lá...

As lágrimas finalmente desabaram de seus olhos.

Eu nem sabia que a Flor tinha uma irmã.

E uma mina? De carvão? Ou de pedras preciosas?

— Bem, ela conseguiu fugir no incêndio, e tem me mandado cartas desde então.

Olhei para Amélia e Adam.

— Do que ela está falando?

Eles me olharam desconfiados.

— Mas que porra! Amélia não me disse aonde esteve esse tempo todo! Vocês dois estão de segredinho! E parece Flor está falando grego! — falei apontando para ela.

— Nós não temos tempo para isso — Adam falou — Respondemos suas perguntas depois.

Essa foi a gota d'água.

Me levantei do banco e agarrei o colarinho daquele ruivo.

— NÃO!! VOCÊ VAI ME RESPONDER AGORA!!

Ele apertou os olhos, levantando a mão para começar uma briga.

Ouvi um grito de Flor.

Só então senti uma mão pousar levemente na minha.

Olhei para a mão e segui até parar no rosto de Amélia, ela estava com um estranho sorriso no rosto.

— Que tal, ao invés de ouvir, você não vê com os próprios olhos?

Franzi as sombrancelhas levemente, minhas mãos se afrouxando.

— Ele vai conosco? — Adam perguntou.

— E por que não? Foi você quem me pediu para dar a ele uma chance.

Ele pareceu querer dizer algo, mas se calou.

— Depois do que você ver, talvez eu te responda tudo o que você quiser saber — Amélia disse olhando para mim.

Algumas horas depois, nos estávamos em um caminho deserto, com Adam nos guiando a um lugar que aparentemente estava abandonado.

Ele estava na frente, logo trás estava Amélia junto a Flor, e eu estava por último, sozinho.

Que clima tenso!

Eu realmente espero que seja algo que vai valer a pena!

— Jovem Mestre.

Olhei para frente, encontrando Flor.

Ela logo começou a caminhar ao meu lado.

— Jovem Mestre, eu sei que está confuso com essas coisas, mas eu peço paciência. Eu sei que o senhor não tem nada haver com o que aconteceu, por que eu lembro de como falou comigo assim que cheguei em sua casa.

Olhei para ela, confuso e preocupado.

— E eu vou fazer questão de contar a Amélia.

Quanto mais ela falava mais perdido eu ficava.

— O que está acontecendo? Do que você está falando?

Ela sorriu.

— O senhor logo vai entender.

Dito isso, ela voltou ao lado de Amélia que a olhou desconfiada.

Sinto vontade de bater minha cabeça contra uma árvore.

Certo. Certo.

Preciso ligar os pontos.

Amélia desapareceu. Flor tem uma irmã e as suas eram de uma mina.

Adam sabe de alguma coisa, e de alguma forma ele e Amélia ficaram próximos.

Mas ela estava na minha casa durante todo o tempo, então só pôde acontecer depois, quando ela estava desaparecida.

Então... Eles estavam juntos durante esse tempo.

Não, ele veio na minha casa há uns dois ou três meses, gritar coisas do portão para minha mãe.

Flor mencionou a minha mãe e Amélia também.

"A Grande Dama, ou melhor, Lady Bonneville foi pessoalmente até a mina para escolher alguém"

"Se ele não tem, a mãe dele tem"

E as perguntas sobre ela.

"Onde está sua mãe?"

"A quanto tempo ela faz isso?"

Mais a frente, Adam parou. Ele se virou e pôs a mão na boca em sinal de silêncio.

Nós andamos mais um pouco e eu pude ver ao longe algo grande.

Isso é... Um trem?!

Por que tem um trem no meio do nada?

Logo a frente havia um túnel.

Todos nós nos abaixamos e nos escondemos.

Como estava muito longe, tive que apertar os olhos para enxergar.

Andando de um lado para o outro, havia uma mulher loira.

Arregalei os olhos.

A mulher era alguém que eu conclua muito bem, alguém que mesmo se estivesse fantasiada e de costas, como ela está, eu reconheceria.

— M-Mãe?