História A Guerra (Sougo e Kagura Perdidos na Ilha) - Às vezes o álcool é como o açúcar para o cérebro.

  Tarde da noite, em meu apartamento de hotel, caminho até a varanda. Deslizo a porta de vidro e sinto o vento frio bater em minhas bochechas, pensando em como essa vista tranquila terá que servir como um analgésico. Ou ao menos, uma distração barata.  

  Amanhã irei continuar meu trabalho no laboratório (da Universidade de Tokyo), e nos próximos dias, ficar na cidade. De nada adianta rodar em círculos. 

  A penumbra me acalma e não somente ela. Um gole de saquê e sinto minha garganta pular em alegria… É uma bebida maravilhosa, fiquei deliciada. Assim como meus cabelos, o robe de cetim que visto por cima do pijama de seda balança sem parar e minha consciência recorda que o tempo não estagna nem agora que estou quase implorando de joelhos por uma ajudinha dos céus. Aos poucos, vou deixando o termo 'sóbrio' de lado e me pego contando as estrelas. Será que a culpa realmente é delas?

  Então, a lua permanece brilhando e meus vagos pensamentos recebem sua energia e são iluminados, são levados à uma ideia. Por que não pensei nisso antes? 

  É claro que o Japão, assim como outras nações, esteve em constantes lutas e intrigas por território. Tanto há aqueles cuja denominação aborda os vencedores, como os perdedores, o que cria a hipótese que, nesse caso - o melhor para mim - o país possa ter encurtado suas fronteiras. Não, mesmo que não seja especificamente nesses termos, porém ainda assim, algo está ficando fora da nossa pesquisa, alguma área esquecida... Já sei!

                            ★★★★★

  Passando pelo portão da universidade, meus olhos marejam e solto um bocejo exagerado. O campus está deserto, devido ao horário, assim não me incomodo com a etiqueta. Tenho em minha face as marcas de um pequeno "desespero" ou melhor dizendo, insônia justificada. As pálpebras não fechavam ao ter meu sangue percorrendo pelas veias mais veloz do que se tivesse ingerido um quilo de açúcar mascavo e o cérebro recebia a mesma adrenalina compartilhada por todo o meu ser, provocando incessantes passos de genuína ansiedade pela sala de estar, que uma hora iam da direita para a esquerda e na outra seguiam pelo inverso, o que, portanto, apresenta a condição na qual fiquei desperta a madrugada inteira. 

  Por um longo período noturno, me amaldiçoei por ter tão pouco acesso aos arquivos através de meu notebook pessoal. A restrição foi minha pior barreira, tal qual sequer pude solucionar e que, a cada minuto perdido, era mortífero e provocava a sensação de dez mil agulhas torturando minha pele, circunstância resultante de grande parcela de minha insônia. E posteriormente, tendo pela manhã uma obrigação maior ainda, não pude dormir, não conseguiria descansar, mesmo querendo muito. O dever me chama!

  Mesmo assim... Fadiga é pouco, estou um caco. Preciso de uma seção redobrada no spa, entretanto cada qual no seu momento, não é? Agora, é "pra" valer!

  O laboratório daqui é tão bem equipado como o nosso, mas eu sinto falta do que me entrega mais do que tecnologia, diria até que é bem melhor o conforto do costume do que a agonia do novato. Independente de tudo, é o que temos para hoje. E o capuccino oriental é super gostoso. 

  E dessa maneira, foram subtraídas duas horas do tempo limite, tornando o clima cada vez mais pesado dentro da minha consciência. Acima dos níveis de preocupação, começava a suar frio pelo nervosismo e esforço bruto, enquanto meus dedos teclavam as teclas do computador, sem parar. Se existe algo que até então não descobrimos, irei descobrir agora mesmo, nem que para isso necessite hackear cada governo nacional. 

  Incrível! O cansaço não é forte o suficiente para me abater, nem o sono, nem nada. Se deixei de dormir por uma noite completa com o pensamento na minha genial sacada de mestre, até parece que pregaria os olhos tão simplesmente assim, logo agora que tenho o computador e sua vasta liberdade para transitar por áreas proibidas em mãos. Jamais, estou começando até a querer rir pela sonolência.

  Meghan foi a primeira a aparecer, pontual como sempre. Trouxe mais café expresso e entregou um para mim, deixando-o no porta copos, à direita do mouse em meu controle. Assim que se afastou, desejou um "Ótimo dia!" e pediu que não me esforçasse além da conta. Impensável, não?!

  Além da principiante perda de juízo, duas unhas já foram derrotadas, quebradas porque não aguentaram o tranco. Irrelevantes, afinal, pois estou quase lá. Estou quase alcançando meu objetivo. Como passei a madrugada toda fazendo anotações, escrevendo os pontos de maiores relevâncias, levantando teorias e traçando suas ligações com o piloto no quadro branco, agora tenho uma direção correta a seguir. 

  Eu temia absurdamente com a possibilidade de ter a ideia apagada de súbito da memória, pior ainda, que não retornasse nunca mais. Concentração e mais concentração, tudo para que não haja 0,001% de chance de sofrer um branco de vez. 

  Então, logo em seguida, Yuri chega, saudando um "Bom dia!" em japonês. Como é mesmo? "Ohayō" alguma coisa? Bem, deve ser… E pelo visto, está todo alegre. Em suas mãos deve haver uma caixa de rosquinhas ou brownies, pois sinto no ambiente o aroma doce e saboroso. Tomara que sejam donuts, afinal estão na minha lista de preferências. 

  Em todo caso, qualquer comida ficará para depois. Agora, não tenho tempo nem de olhar diretamente para alguém que atravesse aquela porta, meu aceno de cabeça é o bastante. Além do que, obviamente, qualquer um levaria um susto com minha aparência fantasmagórica. Não, estou além disso, me transformei em algo mais horroroso, eu virei um zumbi da série The Walking Dead. 

  Estética a parte, aquieto meus movimentos em um segundo para estalar os dedos e torno a digitar ligeira. Que dó de mim, espero que a tremedeira que sofro constantemente não indique Mal de Parkinson. É uma doença terrível, ninguém merece. 

  Por alguns minutos, Yuri e Meghan ficam conversando e a única coisa que chega aos meus ouvidos é: "A previsão do tempo indicou que o dia seria ensolarado, porém vi algumas nuvens distantes e prevejo chuva até às 16 horas da tarde". Não sei ao certo quem falou, mas quem diria que temos um meteorologista no grupo. Pior que está correto (risos).

  Mais uns últimos ajustes aqui e acolá e então...

  "Bingo! Aqui está! Por fim, God!" - comemorei gritando eufórica na cadeira, sorrindo de orelha a orelha, um evento presenciado por toda a equipe, pois o restante entrara na sala no momento certo, um atrás do outro.

   _ Ao que se refere, senhora? - perguntou Lilian, curiosa, querendo saber o porquê de tanta empolgação da sua chefe. Assim, levantei em silêncio da cadeira, batendo na mesa com força e sem ao menos olhar para um deles. Houve uma pausa congelante no tempo, onde todos permaneceram calados, esperando minha manifestação quebrar o silêncio. 

  Pensei muito em como diria aquilo, imaginei a reação da galera ao ouvir a notícia e ri internamente. Dentro de mim, a festa já rolava solta e eu pedia ao DJ para tocar minha música preferida, enquanto vingava a promessa de dançar até cair! Ah, mas o que estava esperando para contar, né? Sei lá, juro. Por um minuto, quis apenas apreciar a sensação de dever cumprido. 

  Meu coração já estava acelerando forte, fazendo-me sentir a pulsação em minha testa, que quanto mais tinha o ritmo das batidas vibrantes aumentado, mais conseguia me projetar numa real comemoração carnavalesca, ouvindo os sons do tambor estridente e vendo os confetes coloridos chovendo pelo céu azul. Meu sonho estava há um passo de distância. 

  _ Pessoal, eu achei… - iniciei, já virada de frente para eles após um giro sagaz, porém com o olhar no chão. - "Eu, após tanto tempo procurando, tive uma lâmpada acendida sobre a cabeça" - não consigo não brincar e dou uma risadinha, guiando minhas lentes oculares para registrar suas expressões faciais. - "E então, dessa forma, já sei onde 'ele' está! Aprontem suas coisas, porque vamos até ele, agora mesmo!" - informei pulando de alegria e entregando a notícia inusitada, que ao princípio deixou todos estagnados de boca aberta e sem palavras. Algo que me fez morrer de rir. 

  Não demorou para a ficha cair e a equipe inteira berrar estrondosa o bastante para romper os tímpanos humanos, querendo entender melhor do que se tratava. 

  _ Espera, Sophie, do que você está falando?! - quis saber, Noah, com a confusão mental batendo forte em seu cérebro surpreso. 

  _ Nossa! Nossa! Nossa! Não acredito! Isso é sério? - soltou Lilian, buscava uma reafirmação para o motivo de sua emoção. Logo de cara, ficou saltitante e sorria sem conseguir conter a felicidade. É uma jovem formidável, sem sombra de dúvidas. 

  _ Claro que é! Mais sério impossível! - respondi sorridente. Estava agora segurando suas duas mãos e lhe garantindo a veracidade das minhas palavras, olhando bem nos seus olhos. Nesse instante, o brilho de suas pupilas ganhou vida e imaginei estar acendendo a chama de uma criança inocente contando-a sobre a existência de fadas e reinos mágicos. Kawaii!

  _ Não, calma… Então quer dizer que… - interrompeu Christian, trazendo noção ao cenário e algo um pouco além: seriedade. Tudo estava acontecendo tão rápido para as suas mentes assimilarem na mesma velocidade que outrora tinham que lançar novos tópicos. E felizmente, eu tenho as respostas para o que quer que seja. 

  _ SIM! EXATAMENTE! NÓS… - tomei frente na frase, até que… Boom!

  _ NÓS CONSEGUIMOS!!! - gritaram todos em uníssono, pulando juntos em um círculo recém-formado. No meio de toda a alegria e barulheira em forma de "grito de guerra", Christian me segurou pelos quadris, ergueu meu corpo do solo, que tomou apoio em seus ombros através das mãos, e giramos. Ele me girou no ar - eu ri tanto. Logo que notou sua ação, freou a si próprio e me colocou de volta ao chão, ficando um pouco envergonhado. Sua fisionomia rubra me fez sentir vontade de rir e lhe apertar as bochechas, contudo não o fiz, apenas sorri para ele, que sorriu sem graça de volta e se afastou, dando alguns passos para trás, coçando a nuca. Como eu disse antes, a discrição de todos é uma dádiva, e sou grata por agirem sempre com cautela. Além do que, claro, sinto-me aliviada por ter tantos sorrisos direcionados à nós dois. Isso significa apoio?

  Será que somos mais um "shipp" nesse mundo?

  Agora que paro para pensar direito… 

  Cadê minha ressaca?

   Continua...