História A Herança - O Dom da Solidariedade

Apesar do alívio que Jin sentia por resolver o que na verdade era um mal entendido sobre seu trabalho, também estava muito decepcionado por descobrir como era a pessoa para quem ele cozinhava.

Jin havia criado a imagem de um jovem cheio de responsabilidades, de tempo ocupado, até mesmo aceitava a correria do dia-a-dia do rapaz como desculpa por manter o apartamento tão bagunçado, achava que era uma pessoa que trabalhava muito e com esforço conseguiu comprar aquele apartamento, até que fora totalmente desiludido ao se deparar com alguém de personalidade tão fútil, descobriu que Namjoon não passava de um jovem mimado, foi frustrante.

- Pense pelo lado positivo hyung! Você não precisa ver a cara dele enquanto está trabalhando. - Hoseok comentava depois do mais velho desabafar para ele sobre o primeiro contato com o outro.

- Mas... É... Você está certo! Vou parar de pensar nesse idiota e me concentrar apenas no meu trabalho. – os dois estavam na sala.

- Sim! Porque apesar dele ser um babaca, ao menos reconheceu o quão bom cozinheiro você é, o resto não tem importância.

- Verdade... Obrigado por me ouvir Hobi!

- Você sabe que devia compartilhar mais suas preocupações comigo, não tente carregar tudo nas costas sozinho.

- Eu sei, mas-...

- Nada de "mas"! Eu não sou mais uma criança, você não precisa continuar me protegendo de tudo, eu também posso te ajudar, só basta você deixar.

- Você sabe que eu tento não preocupar você.

- Eu sempre tive você como meu guia hyung, eu sempre olhei para você, e por isso sei quando as coisas não estão bem, e o fato de você tentar me manter longe disso é que me deixa ainda mais preocupado! Divida um pouco a carga de problemas comigo. – o mais velho se surpreendeu com as palavras francas do irmão.

- Vou tentar Hoseok... E obrigado, porque apesar de tudo o que aconteceu com os meus pais, apesar das coisas não serem fáceis para nós, eu ainda tenho você comigo.

- Eu sempre vou estar aqui, você é meu irmão mais velho que nasceu de outra mãe! - e os dois riram - Desde que eu me lembro do meu passado é sempre nós!

- Sim, é sempre nós! E... Eu já cheguei da aula faz tempo, eu já contei para você tudo o que andou acontecendo e você continua aí puxando assunto... Não quero ninguém reclamando ao ter que acordar cedo amanhã, senhor Hoseok! – bagunçou o cabelo do mais novo.

- Mas eu não estou com sono agora hyung! - falou manhoso.

- Mas nós dois sabemos que amanhã de manhã você não vai estar querendo acordar quando o celular despertar!

- Eu sei disso! – um bico foi formado em seus lábios - Vou ir deitar e você devia descansar também hyung, deve estar com a mente cansada devido ao estresse. – se levantou.

- Sim, eu estou! Só vou tomar banho e já vou ir deitar.

- Vá logo! Não sou o único que precisa acordar cedo. – abraçou o irmão por trás do sofá, beijando o topo de sua cabeça – Boa noite hyung.

- Boa noite! – observou o irmão sumir no corredor.

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- Aish, essa porcaria não para de tocar. - reclamou desligando o modo soneca pela enésima vez.

- Hoseok! Quanto tempo você pretende ficar enrolando aí?

- Estou com sono ainda hyung. - falou manhoso escondendo o rosto no travesseiro quando a claridade do dia lhe acertou os olhos, o mais velho estava parado em sua porta.

- Ontem a noite eu tive que ouvir alguém falar que não era mais uma criança, mas agora não está querendo cumprir com as responsabilidades que tem! Você ficou até tarde nesse celular conversando com Jimin não é?

- Sim! Ele disse que está voltando do intercâmbio. Estávamos combinando de nos ver esse fim de semana.

- Por que não deixaram para conversar no fim de semana ao invés de ficar acordado até tão tarde para isso?

- Não foi até tãããão tarde assim... - bocejou.

- Ah, não? Então você conseguiu dormir o suficiente sim e pode levantar logo!

- Aaaaaah! – reclamou quando o mais velho foi até ele e o puxou pelo braço o fazendo levantar da cama.

- Que criança trabalhosa eu tenho aqui! – o empurrava para fora do quarto – Vá logo tomar banho enquanto eu faço nosso café da manhã!

- Ok! Ok! – entrou finalmente no banheiro.

Jin mexeu a cabeça em negação e riu, eram raras as vezes que tinha que convencer Hoseok a se levantar, mas eram nessas vezes que se lembrava que o “irmão caçula” ainda era um adolescente, e apesar de se esforçar para não lhe causar preocupações, ainda não era um adulto, tinha seus dias em que seu lado infantil falava mais alto.

Os dois seguiram a rotina de sua manhã, tomaram o café da manhã juntos, Hoseok foi para o colégio e Jin arrumou mais umas coisas em casa antes de sair para o trabalho. Na última noite finalmente havia conseguido dormir bem, andava preocupado sobre seu trabalho e isso lhe tirava o sono, mas agora que tudo fora esclarecido pôde finalmente deitar a cabeça no travesseiro com a consciência tranquila e descansar de verdade.

 Ao chegar ao apartamento de Namjoon apenas ignorou a bagunça que sempre lhe recepcionava na sala e seguiu direto para a cozinha. Dessa vez não havia nenhum bilhete lhe aguardando, e ele preferia assim, se era para receber apenas críticas era melhor nem continuar com a troca de bilhetes.

Lavou, secou e guardou toda a louça suja que lhe esperava, e depois começou a preparar as refeições, fazia seu trabalho normal, até que seu celular começou a tocar.

- Alô?

- Hyung, por um acaso você vai estar em casa quando eu sair da aula hoje?

- Não, eu vou estar aqui no trabalho ainda. – ficou confuso com a pergunta.

- Poxa, pelo menos eu tentei a sorte.

- Mas para que você precisava que eu estivesse em casa hoje?

- É que eu acabei de perceber que esqueci minha chave, aí não tem como eu entrar em casa para almoçar e pegar meu uniforme do trabalho.

- Tem certeza que esqueceu?

- Sim! Já revirei minha mochila inteira e nem sinal dela, só posso ter deixado em casa!

- Só vamos descobrir se você a encontrar quando chegar em casa... – suspirou pensando numa solução para a situação – Faz assim: quando você sair da aula passe aqui no meu trabalho para pegar minha chave, eu te mando o endereço daqui por mensagem.

- Posso fazer isso hyung?

- É a única coisa que podemos fazer no momento.

- Obrigado hyung! Eu vou desligar agora que meu intervalo está acabando, desculpe por causar problemas.

- Não se preocupe, essas coisas acontecem! Agora vá estudar!

- Eu vou! Até mais hyung.

- Até mais, boa aula!

 

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- Pela sua cara já sei que a conversa com Sungmin não foi das melhores ontem. – só de olhar para Namjoon já era possível perceber uma aura nada amigável emanando dele.

- Foi péssima! Aquele velho não reconhece as coisas que faço, estava tentando fazer as coisas certas, mas não parece valer a pena, isso não muda nada as coisas com Sungmin, estou fazendo à toa!

- Ficou revoltadinho assim só porque não tem uma empregada para arrumar sua casa?

- Como você sabe dessa história?

- Sungmin me ligou ontem a noite para contar, rimos muito de sua reação ao descobrir que Seokjin era “apenas” um cozinheiro particular. – voltou a rir ao lembrar-se das palavras do amigo.

- Até você está achando graça disso? Ah não Gun, não sou obrigado a aturar esse tipo de coisa!

- Não esqueça que eu sou seu chefe aqui, se não tiver gostando a gente pode conversar sobre sua demissão, mas lembre que com isso você perde seu apartamento, não terá um chefe de cozinha particular, o que será de você? – Namjoon apenas bufou e virou o rosto, estava cansado de ouvir essas coisas todos os dias – Ele ficou chateadinho! Que dó! Melhore esse humor! Sabia que quando só temos pensamentos ruins acabamos atraindo coisas ruins?

- Você não tem suas coisas para fazer no escritório Gun? Deve ter outra coisa melhor para fazer além de ficar no meu pé!

- Infelizmente para a sua sorte eu tenho mais o que fazer mesmo, não poderei ficar mais tempo me divertindo com você. Mas saiba que não tolerarei reclamações de clientes sobre seu mau humor ou você sendo mal-educado com alguém, então é bom que você coloque um sorriso no rosto e trabalhe direito!

- Aham, já sei! Agora vá logo fazer seu trabalho também.

- Estou indo! – se afastou com essas últimas palavras.

Ainda não havia superado o fato de Choi enganá-lo daquela forma. Havia se iludido achando que finalmente teria algumas coisas de volta a sua vida por estar fazendo seu trabalho certo como era o desejo do mais velho, porém o que recebeu por isso parecia ser um prêmio de consolação, apenas alguém cozinhando para ele, nada demais.

Só se conformava com o fato do fim de semana estar finalmente chegando e com isso ele poderia descansar, apenas passaria dormindo o máximo que pudesse, estava cansado do trabalho, cansado da faculdade, cansado de todos se colocando contra ele nos últimos tempos.

Achou com a semana acabando, acabariam também as merdas que continuavam a acontecer em sua vida, pelo menos durante seu período de folga, mas como parecia que tudo que os mais velhos lhe falavam se tornava lei em sua vida, algo ruim ainda estava para acontecer com Namjoon.

Lee pediu para que ele lavasse um carro que havia chegado já que o funcionário que fazia isso pela manhã estava de folga naquele dia, mesmo irritado por segundo ele ter de fazer o serviço que era de outro, obedeceu às palavras do mais velho.

Molhou o carro e esfregava o capô um tanto impaciente enquanto resmungava alguns xingamentos por estar insatisfeito, como sempre, e até aí tudo estava em sua normalidade, porém Namjoon concentrado em seus pensamentos não viu uma poça de óleo no chão, sendo suficiente para ele pisar sobre ela e escorregar. Quando percebeu sua queda iminente usou o braço para diminuir o impacto, e apenas seu grito de dor pôde ser ouvido por todos no posto.

Um colega de trabalho foi o primeiro a aparecer e ao tocar o braço de Namjoon para tentar ajudá-lo a se levantar, o que estava no chão soltou um palavrão, seu braço doía muito. Levantou-se sozinho avistando Gun se aproximar e logo teve que explicar o ocorrido.

- E se eu tocar aqui, dói? – tocava áreas diferentes do braço de Namjoon.

- Mas que porra! Já disse que está doendo!

- Olha as palavras moleque! – lhe deu um tapinha na cabeça – Vamos lá pegar suas coisas, vou levar você no hospital.

- Ok! – nem tentou falar nada mais além disso, pois até quando se machucava recebia sermão, então melhor nem ousar reclamar.

No hospital Namjoon já não conseguia mais girar sua mão e um leve inchaço já havia se apoderado de seu membro superior direito. Através do raio x, comprovando o que os sintomas já indicavam, descobriram que o acinzentado havia quebrado um dos ossos do antebraço, e como tratamento imediato teve de ser engessado.

Após Gun ligar Sungmin apareceu para ver a situação de Namjoon, e assim o rapaz teve de aguentar os dois senhores rindo de seu momento de distração que o levou ao acidente, aguentou quieto ser chamado de “bocaberta” apenas porque se não conseguia se virar contra um daqueles homens, não chegaria nem perto ao tentar responder os dois.

Choi assinou os papeis de alta de Namjoon, depois passaram em uma farmácia para comprar os remédios que o médico receitou e finalmente deixou o rapaz em seu apartamento.

- Aproveite os dias que você terá em casa para fazer umas meditações, afastar toda essa energia ruim de você!

- Até você vindo com esse agora? – observou o mais velho rindo enquanto parava o carro em frente ao seu prédio.

- Cadê seu senso de humor? – e o outro o encarou rápido e então se enrolou um pouco tentando abrir a porta com a mão esquerda – Quer uma ajuda aí?

- Não precisa! – finalmente conseguiu abrir a porta.

- Ok! Se cuide!

- Aham, eu me viro.

- Até mais então.

- Até.

O caminho até seu apartamento foi um pouco complicado. Só percebemos o quão importante é cada parte de nosso corpo quando uma nos falta, e Namjoon estava percebendo isso agora que tinha seu braço direito engessado da mão até o cotovelo, limitava muito seu alcance às coisas.

Teve que segurar a sacola dos remédios com a mão do braço engessado para conseguir abrir a porta com a mão esquerda de maneira um tanto desajeitada, por ser destro as coisas estavam um tanto dificultosas para ele. Mas foi a porta de seu apartamento a parte mais problemática, não conseguia de jeito nenhum destrancar a porta, qual era seu problema? Ficou um bom tempo brigando com a fechadura, até ouvir um barulho de chaves do lado de dentro e a porta se abrir, lhe surpreendendo com o ato.

- Quem é você?

- Desculpe? O certo não seria que fazer essa pergunta?

- Não quando você é a pessoa desconhecida que está no MEU apartamento!

- Namjoon? O que faz aqui a essa hora? – Jin surgiu na sala.

- Essa é minha casa, eu posso muito bem vir aqui à hora que eu quiser.

- Eu sei, mas-...

- Quem é esse aqui? – apontou para o adolescente a sua frente.

- Esse é meu irmão mais novo.

- E por que ele está aqui?

- Ele só veio pegar uma coisa comigo.

- Apenas isso? Não quero você trazendo pessoas estranhas para o meu apartamento.

- Ele não é um estranho, é meu irmão, já falei!

O mais novo ali apenas desviava o olhar de um adulto a outro sem saber o que fazer, estava em meio a fogo cruzado. Tentando não chamar a atenção foi até a cozinha pegar sua mochila e de mansinho passou ao lado de Namjoon saindo do apartamento.

- Desculpe interromper essa... Hã... Discussão de vocês, mas hyung, só quero avisar que estou saindo. Não se esqueça de passar no meu trabalho para pegar sua chave depois. Tchau! – saiu antes que sobrasse alguma coisa para ele.

- Pelo menos ele percebeu que não era bem-vindo e já foi embora. – disse entrando finalmente no apartamento.

- Quê? Ele só veio buscar uma chave, chegou aqui cinco minutos antes de você aparecer!

- Isso é o que você diz! - fechou a porta e tentava trancá-la novamente, sem obter êxito – Que caramba!

- Quer ajuda com isso? – tentou segurar um riso observando aquela cena.

- NÃO PRECISA!

- Que grosso! Eu só ofereci ajuda.

- Mas ninguém pediu por isso!

- A gente tenta ajudar quando percebe que uma pessoa é incapacitada de fazer algo sozinha. – a má educação do outro afetava o humor de qualquer um.

- Me deixa! Eu me viro aqui!

- Ok! Já entendi! Vou voltar para o meu trabalho.

Jin voltou para a cozinha e terminou de preparar uns lanches rápidos. As comidas já estavam prontas e guardadas na geladeira, havia descascado algumas frutas e depois de preparar os lanches só precisava lavar as louças que sujou e organizar seu ambiente de trabalho.

Quando começou a mexer com as louças na pia observou pelo canto do olho Namjoon entrando na cozinha a passos lentos.

- E-eu deixei a porta destrancada mesmo porque está um pouco difícil para eu me adaptar a fazer as coisas com a mão esquerda, então vim aqui lhe avisar que quando sair não a tranque. – e com isso o mais velho teve que se segurar para não rir, pois percebeu que o outro só foi ali para tentar justificar o fato de que não conseguiu trancar a porta.

- Tudo bem.

- Hmm... Tem alguma coisa pronta para comer?

- Sim, está tudo na geladeira, já estou terminando aqui.

- Bom... Continue fazendo seu trabalho então, que eu vou ali trocar de roupa e já vou vir comer.

- Ok. – viu o rapaz saindo da cozinha.

Riu sozinho pensando no outro se justificando. Namjoon havia sido mal-educado com seu irmão a poucos instantes atrás, e depois teve que ser visto num momento tão vulnerável ao não conseguir realizar uma ação simples, devia ser difícil para o rapaz do ego grande, mas engraçado para Jin.

Enquanto terminava de organizar o armário guardando os ingredientes que não havia usado, viu Namjoon aparecer novamente. O mais novo foi até a geladeira e pegou o que parecia lhe agradar mais. Jin pôde analisar ele numa batalha com os potes sem conseguir abri-los, tentou cada um por mais de uma vez, e nada de ter sucesso.

O acinzentado olhou para o mais velho e viu este virando o rosto.

- Não ria!

- Eu não estou rindo! – se continha para não rir mesmo.

- Se você tivesse uma mão imobilizada também teria dificuldades. – falava enquanto continuava tentando abrir os potes.

- Aham.

- Ai! Desisto! – se irritou de vez indo até a geladeira ver se tinha algo com fácil acesso para ele poder pegar.

O mais velho sentiu dó da cena deplorável que observou e por isso foi até a mesa e abriu os potinhos.

- Pronto Namjoon!

- Eu não pedi para você fazer isso. – fechou a geladeira irritado.

- Orgulhoso quase nada!

- O que disse?

- Nada não. Eu não ligo em ajudar, não é como se fosse um grande esforço fazer isso, só se lembre de agradecer quando fazerem algo para você.

Voltou para a geladeira e tirou todos os potes que havia lá dentro retirando as tampas e cobrindo com plástico filme, assim o mais novo conseguiria se virar sozinho. O dono do apartamento apenas o observava enquanto comia em silêncio, não tinha pedido por ajuda, por que ele continuava fazendo aquilo?

Não demorou muito e Jin terminou de limpar a cozinha, estava tudo em ordem. Assim, arrumou suas coisas e foi embora falando um breve tchau a Namjoon, ainda precisava passar no trabalho de Hoseok para ver se ele encontrou a chave dele e pegar a sua de volta.

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Antes de sair do prédio para ir a aula Jin passou em sua caixa de correio para ver se havia chegado alguma coisa, se deparando com o que estava esperando já fazia alguns dias. Pegou o envelope e o guardou na mochila.

Com o novo emprego Jin não precisaria trancar a faculdade para trabalhar em período integral, daria conta das mensalidades e das contas da casa, porém ainda havia as faturas atrasadas que precisava quitar e para isso solicitou um novo parcelamento para elas e estava aguardando a chegada dos boletos.

No ônibus ele abriu o envelope conferindo seu conteúdo. Passou a se preocupar quando viu a data de vencimento da primeira fatura, era para dali uma semana e como Jin havia acabado de entrar no novo emprego não receberia seu salário a tempo para pagar a conta e qualquer atraso cancelava automaticamente o acordo de parcelamento.

O rapaz ficou angustiado, o dinheiro que havia recebido quando parou de trabalhar no restaurante foi para colocar as contas da casa em dia, não poderia pedir esse dinheiro para a tia porque sabia da situação dela e pedir um adiantamento do salário nos primeiros dias no novo emprego não seria uma boa coisa, não sabia o que fazer para resolver isso.

Quando tentou desviar seus pensamentos do novo problema percebeu que já estava passando pela faculdade. Se levantou rapidamente colocando o envelope de qualquer jeito no bolso e apertando o botão que solicitava a parada, quase o perdeu. Logo desceu do ônibus e tentou entrar em seu modo estudante, porém as preocupações não lhe deixavam.

 

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Namjoon saiu do carro de Sungmin um tanto irritado devido às piadinhas incansáveis do mais velho sobre o incidente que levou o rapaz a quebrar o braço. Andou apressado para dentro da faculdade, queria se afastar o mais rápido que pudesse daquele velho irritante.

Andava pelo campus seguindo para o bloco de sua aula distraído xingando Choi em pensamento e não percebeu quando outra pessoa vinha em sua direção, esbarrando nela.

- Ah, me desculpe!

- Olhe por onde anda! – já estava irritado.

- É um carma meu te encontrar de mau humor ou você é assim sempre? Você não deveria ser assim quando também tem sua parcela de culpa em trombar na outra pessoa.

- Quem é você para me dar lição de moral? – e Jin ficava cada vez mais chocado com a má educação do outro.

- Namjoon, eu não estou com paciência para aguentar suas grosserias agora.

- Você podia ter visto que eu estava andando distraído e desviado do meu caminho.

- Eu também estava distraído!

- Pois deveria tomar mais cuidado enquanto caminha, já é a segunda vez que tromba em mim! – e com isso o mais velho se encheu, não conseguia acreditar que existe uma pessoa tão idiota no mundo.

- Juro que não vou me estressar com você agora, já tenho meus próprios problemas para resolver.

E com essa última frase Jin começou a andar se afastando de Namjoon, deixando o acinzentado inconformado para trás por ser deixado sem terminarem sua conversa, ou talvez por ele não poder ter dado a palavra final na discussão.

Virou para trás pensando em xingar aquele que seguia seu caminho, quando avistou uns papeis caindo do bolso dele.

- EI! Hã... Seokjin? – não tinha certeza se era esse o nome, não lembrava ao certo, mas tentou arriscar mesmo assim – SEOKJIN! – e o outro apenas acelerou mais seus passos, até ser perdido de vista – Eu estava tentando te ajudar agora, seu idiota! – resmungou indo pegar os papeis que foram deixados para trás.

Ao pegar os papeis um tanto amassados voltou a andar em direção ao seu bloco. Começou a ler os papeis de maneira indiferente, até mesmo pensou em jogá-los fora, pois se Seokjin não havia dado atenção para o que estava em seu bolso é porque não deveria ser algo importante, mas quando percebeu do que se tratava aqueles papeis ficou um tanto chocado, o mais velho havia adquirido uma dívida grande com a faculdade.

Guardou os boletos em sua bolsa com a intenção de devolvê-los ao mais velho quando o visse em seu apartamento na outra semana.

 

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Ao chegar em seu lar novamente Jin colocou o celular para carregar, o aparelho havia se desligado por falta de bateria. Quando o ligou recebeu uma mensagem com a notificação das ligações que havia perdido, era de Choi, assim o rapaz resolveu retorná-las já.

- Alô?

- Senhor Choi? É o Seokjin que está falando.

- Ah, olá Seokjin!

- Vi ligações perdidas suas, meu celular estava desligado e só as vi agora. O senhor precisa de algo?

- Preciso sim. Na verdade é uma proposta que tenho a fazer.

- Pode falar.

- Você estava no apartamento quando Namjoon chegou hoje?

- Estava sim.

- Percebeu o braço quebrado dele, né?

- Sim! Na verdade seria meio difícil não reparar nele com aquele gesso no braço agindo todo atrapalhado tentando se virar com sua mão esquerda. Desculpe, mas foi engraçado. – riu.

- Você percebeu isso também? Ele é um desastre! – riu também – Então, é por causa disso que tenho uma proposta a você. Será que haveria a possibilidade de você ir lá amanhã ajudar Namjoon a dar uma arrumada no apartamento? Eu sei que isso é totalmente fora de sua função, mas é que ele é muito desorganizado, e isso  quando está são, imagina agora com o braço quebrado como vai ser! Fiquei apavorado quando visitei o apartamento hoje no fim da tarde e estava aquele caos e quando entrei na cozinha pude perceber sua organização, estava tudo no lugar.

- Mas se o senhor visse como estava antes de eu começar a trabalhar lá ficaria ainda mais chocado! Eu tento ignorar a sala todos os dias quando tenho que passar por ela para ir até a cozinha.

- Namjoon é um incorrigível! E claro que você vai receber um extra por trabalhar mais um dia, desculpe se o pedido está em cima da hora, mas é porque o incidente com o braço dele aconteceu hoje né.

- Não, tudo bem pelo pedido, eu... – pela sua cabeça começou a passar seus momentos com Namjoon arrogante, mas logo lembrou-se de suas contas – Eu aceito sim.

- Que bom! Mas assim, não precisa fazer uma super faxina não, é mais para você ensinar ele a fazer as coisas, a como se organizar melhor e dar uma arrumada só para diminuir um pouco a bagunça do lugar.

- Eu entendi, não se preocupe que eu vou ajudar.

- Obrigado! Até mais.

- Até mais senhor Choi.

Suspirou ao encerrar a chamada, se não precisasse realmente do dinheiro nunca daria essa ajuda ao mais novo e como sabia que seu próximo dia seria longo ao ter que aguentar Namjoon, já ia dormir para estar bem descansado.

 

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Namjoon achava que sua semana ia acabar pior do que havia começado, pois além do cansaço que estava se habituando a ter ainda tinha conseguido quebrar o braço, era desgraça demais em sua vida, que só sentia ficar pior quando pensava que ficaria a sexta-feira a noite em seu apartamento dormindo.

Porém, sem esperar Namjoon recebeu um telefonema de Yoongi lhe convidando para sair, disse que a noite seria por conta dele, e sem pensar duas vezes o acinzentado aceitou o convite.

De maneira um tanto quanto destrambelhada conseguiu se virar para se arrumar, era muito difícil conseguir tomar banho sem molhar o gesso e depois se vestir com aquele negócio no braço lhe atrapalhando, e deu graças quando Yoongi chegou fazendo o amigo lhe ajudar a se arrumar.

Teve que aguentar o amigo rindo dele da maneira que ele conseguiu cair e quebrar o braço, depois usou o amigo como psicólogo e despejou todas as suas frustrações dos últimos dias, mas por fim acabaram rindo muito na mesa do bar, outros amigos apareceram e a noite terminou divertida.

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Namjoon acordou sentindo o peso na cabeça, não estava mais acostumado a beber tanto e por isso sentia a ressaca lhe tirando toda a disposição de viver. Percebeu o vazio ao seu lado na cama, mas não se lembrava da despedida.

Sentiu uma dor no braço e lembrou-se dos remédios, levantou se sentindo meio zonzo e ao abrir a porta do quarto passou a sentir cheiro de café sendo passado. Sorriu pensando em quem devia estar fazendo café para ele e indo até a cozinha observou a cena que tinha imaginado.

Se aproximou o abraçando por trás, só não esperava ter sua ação sendo correspondida em forma de uma cotovelada na barriga.

- O que pensa que está fazendo? – a reação foi rápida quando foi atacado de repente.

- CARALHO! – passava a mão onde foi atingido - Espera, Seokjin?

- Claro que sou eu! Pensou que fosse quem? – estava chocado com o que acabara de acontecer, observando o outro ali vestindo apenas uma boxer.

- Eu não sabia que você trabalhava aos sábados também.

- Eu não trabalho, mas o senhor Choi pediu para eu vir hoje.

- Para quê?

- Para ser assediado é que não foi.

- Isso foi um mal entendido! Eu não percebi que era você, aliás, nem sabia que estava tão tonto a ponto de não conseguir te reconhecer.

- Que gritaria foi essa agora? – um loiro surgiu na cozinha bocejando, estava apenas com uma boxer também.

- Você me agarrou pensando que eu fosse ele? – Jin ficou confuso quando o baixinho apareceu, os dois não eram nada parecidos para serem confundidos.

- Eu? Não! – o loiro respondeu.

- Não estou entendendo. – o mais velho ali não entendia o que se passava.

- Eu nunca ficaria com esse idiota!

- Entendo o teu sentimento!

- Vocês sabem que eu continuo aqui ouvindo você falarem de mim na minha cara, não é?

- Eu só vim aqui para pedir que vocês falem baixo que eu quero dormir. – falou e foi se retirando da cozinha.

- Espera Yoongi! E o Seong, onde foi?

- Quando chegamos eu lembro dele falar que não poderia passar a noite aqui, mas depois que vocês foram para o seu quarto eu não sei de mais nada, fui para o meu e dormi.

- Ele deve ter ido embora depois então... Ai! Não sei o que dói mais, minha cabeça, meu braço ou minha barriga agora... – sentou em uma cadeira e apoiou a testa na mesa.

- Tome um remédio que você vai melhorar! – apontou para Namjoon e depois para o outro que se encontrava na cozinha - Ah, e você deve ser o famoso Seokjin então, eu sou Yoongi, prazer! Agora parem com suas discussões idiotas, por favor, que eu vou dormir. Obrigado. – disse se retirando sem esperar por qualquer resposta.

- Desculpe pela cotovelada, foi por causa do susto.

- De qualquer forma tenho que tomar meus remédios para dor mesmo.

- Você faz drama quando está mal?

- Drama?

- É, isso que está fazendo ao não parar de reclamar.

Com isso o mais novo bufou, se levantou e foi para o quarto, estava com dor de cabeça forte demais para continuar a discussão. Pegou seus remédios e avistou em sua mesinha os papeis que encontrou na noite anterior voltando para a cozinha com eles.

- Acho que isso é seu!

- O que é isso? – pegou os papeis e percebeu o que era – Onde você achou isso?

- No campus ontem a noite, depois da gente se trombar eles caíram do seu bolso. Tentei te chamar para devolvê-los, mas você não me deu ouvidos.

- Achei que tivesse me chamado para continuar a discussão, e eu não estava com cabeça para aquilo... Nossa, eu nem percebi que tinha perdido... Obrigado por guardar isso para mim. – sorriu.

Namjoon não esperava pelo pedido de obrigado, muito menos por aquele sorriso. Viu alívio no rosto do rapaz por encontrar algo que nem sabia que havia perdido, aqueles papeis eram importantes, e se não fosse por ele provavelmente não os encontraria mais. O mais novo sentiu um sentimento bom dentro de si. “É assim que a gente se sente quando ajuda alguém? Mas não fiz nenhum esforço...”.

- Acho que eu te devia uma por ter me ajudado com os potes ontem. – sorriu de volta.

- Então agora estamos kits.

Namjoon pegou uma xícara de café com um pouco de dificuldade, sentou junto a mesa e observou o outro mordendo o lábio inferior tentando segurar o riso por seu jeito desajeitado ao lidar com sua mão canhota. O observou bem de perfil e quando este lhe olhou e o percebeu lhe encarando, voltou o olhar para a pia e corou um pouco. Sem perceber o acinzentado sorriu com aquela cena.