1. Spirit Fanfics >
  2. A herdeira do inferno >
  3. A alucinação

História A herdeira do inferno - A alucinação


Escrita por: RenaTriz

Notas do Autor


Não é real.

Capítulo 29 - A alucinação


Fanfic / Fanfiction A herdeira do inferno - A alucinação

Dormir em uma cama era mágico. Fora da realidade que eu havia me acostumado. Dessa vez não sonhei com Tristan o que me trouxe um alivio. Mesmo sendo bom me ver valente lutando contra ele em meu sonho, o rosto maligno familiar ainda me trazia medo e desgraça na vida real. Comer essas balas velhas do pequeno pote que estava na cabeceira, era quase tão bom quanto dormir novamente em uma cama. Eu apreciava cada pequeno gosto da "normalidade" e "liberdade" que eu tinha. Depois que se é sequestrada, você aprende que tudo pode ser o seu último prazer. Tristan poderia me buscar em breve e tirar tudo isso de mim.

Já havia me levantado da cama, só não tive vontade de fazer mais nada em seguida. Apenas me direcionei a janela e degustei os raios de Sol que entravam por ela.

Minha mãe tentava conversar comigo, mas eu sempre me esquivava de suas perguntas. Eu não queria falar sobre o que havia acontecido comigo. Cada palavra trazia lembranças que eu queria esquecer. Exclui-la de minhas emoções era difícil, nós sempre fomos muito abertas uma com a outra. Mas nada que ela pudesse dizer ou que eu pudesse explicar, mudaria alguma coisa.

- Filha, você está bem? – Ela me perguntava. Provavelmente está achando estranho o fato de eu estar a mais de 30 minutos parada aqui em frente a janela.

- Estou. – Eu respondi mentindo sem encara-la.

A janela do quarto era grande, o que facilitava a entrada da brisa da tarde. O clima estava agradável, nem muito frio e nem muito quente. Respirei fundo com os meus olhos fechados. Como as pessoas podem não valorizar essa sensação? Aquele ditado está completamente certo: “você só dá valor quando perde”.

Eu olhava o céu e cada pequena bolinha de nuvem que pintava o azul de branco. Ficar parada ali apenas olhando era tudo que eu queria. Tudo que eu precisava. Talvez, quanto mais tempo eu me mantiver longe de Tristan, do meu cativeiro e da loucura que é a minha vida, as coisas comecem a ser comuns. Afinal, eu me sentia entorpecida de neuras e esperava que uma hora isso tudo acabasse.

- Você quer alguma coisa para comer? Vou descer para abastecer a van. – Ela perguntou e tocou o meu ombro.

Eu me virei lentamente e olhei-a nos olhos. Seu olhar me lembrava do dia em que Lucian morreu. Ela demonstrava a mesma preocupação apreensiva, o mesmo jeito caridoso. Naquele dia eu também me sentia sem rumo, sem fundamento. Foi o primeiro dia do início da minha nova vida; onde tudo poderia ter sido diferente. Mas seus olhos também estavam tristes, ela estava sofrendo por me ver assim. Minha mãe tem a grande virtude de me amar ao ponto de tomar a minha dor para si. Eu queria poder dizer que eu a amava mais que tudo, mas nada saia, tudo ficava preso dentro de mim em um grande buraco negro. Eu não era mais a filha honrosa e destemida que ela pensava ter. Eu gostaria de fazer a coragem do dia em que eu matei Victor aparecer como em um passe de mágica. Eu o fiz pagar pela morte da minha avó e o faria pagar de novo se fosse possível. Mas tudo aconteceu desastrosamente. Culpa do impacto do efeito dominó. A morte de Victor desencadeou toda a minha tortura pelas mãos do pai dele.

Minha mãe ainda me olhava e agora parecia confusa, pois eu acabei me perdendo em pensamentos enquanto olhava para seus olhos.

- Filha? – Ela tentava me chamar a atenção.

- Nada. – Eu respondi fraquejando.

- Posso trazer um chocolate. – Ela sorriu tentando me animar. Ela era maravilhosa, até mesmo quando eu não merecia.

Eu dei de ombros e ela me soltou sorrindo sem jeito. Minha mãe pegou algumas coisas na bolsa e saiu pela porta sem demora.

Eu fiquei sozinha no quarto, mas algo me incomodava. Os minutos passavam e a impressão de que estar sozinha me colocava em perigo só aumentava. Estou paranoica. Tentei pensar em outras coisas para não começar a surtar, mas o meu único pensamento era ele. Tristan. 

De repente, flashs do meu corpo sendo machucado por ele vieram a minha cabeça. Socos que eu levei no rosto, cortes feitos com o bisturi, suas chicotas... Chega, não estou mais presa. Sacudi minha cabeça tentando afastar as memórias. Ficar sozinha não era uma boa ideia quando se tem distúrbios psicológicos devido a um trauma recente. Respirei fundo.

Comecei a olhar para trás sentindo a presença de algo. Tem alguém aqui, eu sinto. Envolvi meus braços ao redor do meu corpo e estremeci. É só impressão sua, Celeste. Você não está em perigo. 

Parecia que alguém estava me observando. Engoli o seco e me afastei da janela. Olhei para o espelho descontraidamente e gritei ao ver o reflexo de Tristan me olhando de volta. Ele sorria e segurava o bisturi que usou para me mutilar diversas vezes. Eu levei as minhas mãos até a boca e meu corpo tremia de medo. Como ele pode estar aqui? Eu senti medo de olhar para o lado e vê-lo comigo aqui. Permaneci encarando seu reflexo. Ele vestia o mesmo smoking do baile, mas sem a máscara. Por que ele não está fazendo nada? Criei coragem, olhei ao meu redor e ele não estava fisicamente perto de mim, voltei a olhar para o espelho e ele havia sumido. É só uma alucinação. Uma angustia forte preencheu o meu peito. Estou desprotegida aqui. Olhei de um lado para o outro apavorada do que poderia acontecer enquanto eu estivesse sozinha. Me sentia isolada e com a impressão de que estava profundamente vazia por dentro e só o terror estava presente. Fechei a janela rapidamente para que nada pudesse entrar por ela, apesar de estar no segundo andar, eu quis ter a certeza de que nada pudesse me atingir. Corri até a cama e deitei. Me encolhi em posição fetal e fiquei olhando para ver se algo estava vindo. Estou em perigo, tenho certeza que alguém vai me machucar. Cadê minha mãe? Cadê os cavaleiros? Eu preciso se ajuda. Vou morrer se ficar sozinha aqui, eu sinto.

- Celeste... – A voz dele sussurrava em meu ouvido. Tristan, onde você está?

Olhei para o lado assustada e não havia ninguém. Dei alguns tapinhas em minha cabeça.

- Você não está aqui! – Eu gritei e me sentei na cama. - Você não veio atrás de mim, não sabe onde eu estou.

Fiquei encarando o meu rosto assustado no espelho na minha frente.

- Celeste... – O sussurro persistia.

Eu peguei um dos travesseiros e lancei para onde supostamente os sussurros vinham. O objeto atingiu a porta do banheiro e caiu no chão.

- Para! Você não está aqui! – Eu tampei meus ouvidos com as mãos e tentei normalizar os meus batimentos cardíacos que pareciam estar a milhão.

Fechei meus olhos para manter a calma. São só visões, ele não está aqui. Quando abri ele estava parado na minha frente com os braços cruzados e me olhando com as sobrancelhas franzidas de raiva. Parecia um animal selvagem preparando a presa.

- Eu vou te achar. – Tristan dizia. – Vou matar todos que você se importa e deixarei você por último para sofrer a morte de cada um deles.

- Você não é real. – Eu disse tremula. – Não é, não pode ser.

- Você só vai se livrar de mim quando morrer. – Ele sorriu ao dizer.

Ele deu um passo para frente encostando os joelhos na cama e eu reagi dando um pulo para fora da mesma. Corri para o banheiro e me tranquei dentro dele encostando as minhas costas na porta. Ele não vai entrar aqui. Tudo estava me sufocando, eu sentia falta de ar e uma sensação horrível de que algo ruim iria me acontecer.

- Celeste! – A voz dele era grossa e aterrorizante do outro lado da porta.

Fui até a pia, olhei para a porta e os sussurros “você só vai se livrar de mim quando morrer”, “acabe com isso”, “você não vai ter paz”, “estou indo atrás de você”, me enlouqueciam. Por que isso está acontecendo? Eu preciso de ajuda.

- Socorro! – Gritei do banheiro. – Socorro! – Não havia janela no banheiro para que eu pudesse fugir.

- Eu vou entrar e te levar comigo de volta para o seu cativeiro. – A voz de Tristan do outro lado da porta me assustava drasticamente.

O que eu faço? Olhei o meu reflexo no espelho. Você precisa ser corajosa e enfrentar os seus demônios. Soquei o vidro o fazendo quebrar. Meus dedos ficaram cortados e sangravam levemente. Peguei um dos cacos que era afiado e grande, e apontei para a porta. Você não vai me levar de volta.

- Você jamais se libertará. – Ele sussurrou.

Abri a porta furiosa esperando vê-lo, mas ele não estava lá.

- Cadê você? – Eu gritei. Eu estou ficando louca.

Olhei para os cantos do quarto procurando-o e nada. Eu só percebi que estava apertando o pedaço de espelho na mão quando o meu sangue começou a sujar o tapete de veludo do quarto. Soltei o caco de vidro e cai de joelhos no chão. Eu estou alucinando a presença de Tristan. Ele não me deixa em paz, me persegue até mesmo em meus pensamentos. Eu não vou mais viver assim! O medo me afunda. Passei a mão que não estava cortada sobre o rosto. Meu deus, até quando vou viver na sombra dele?

Preciso tomar uma decisão agora! Ou eu acabo com esse tormento dando um fim a minha vida logo, ou eu supero os acontecimentos e volto a lutar encarando o meu destino. Ficar enlouquecendo com vozes na minha cabeça e vendo Tristan, eu não vou ficar. Se eu me permitir ficar com medo o tempo todo, a depressão jamais me deixará viver de novo. E é isso que eu quero? Viver?

- O que eu faço? – Perguntei a mim mesma. – O que eu faço? O que eu faço? – Fiquei repetindo.

Não quero ficar sentindo essa euforia toda vez que estiver sozinha. Não quero sentir como se ainda estivesse presa a Tristan mesmo estando longe. Olhei para o caco de vidro ao meu lado e o peguei. Meu sangue o sujou um pouco. Olhei o reflexo dos meus olhos verdes no pedaço do espelho e vi lágrimas se formando em meus olhos. A solução mais rápida é a morte. Muito mais fácil. E depois de muito tempo, eu finalmente chorei. Encostei a ponta afiada no meu pulso e suspirei. Então assim será. Chega de medo. Chega de delírios, alucinações e perturbações. Chega de sofrer. Talvez tudo seja melhor assim. Tristan pode deixar meus amigos e família em paz se eu não estiver viva porque no final de tudo ele só quer permanecer invicto em seu reinado. Afundei a ponta na minha pele e o sangue subiu.

Um estrondo forte fez a porta do quarto ser derrubada.

- Celeste! – Lorenzo correu até mim, passou por cima da porta no chão largando a arma que segurava.

Ele se ajoelhou na minha frente, tirou o vidro do meu pulso, tirou a camisa e envolveu no ferimento. Ele me puxou para seus braços. Paz... Eu deitei em seu peito e chorei. Sempre esteve me salvando. Chorei como se tudo que eu sentisse pudesse ir embora pelas minhas lágrimas.

- Eu não aguento mais. – Eu disse entre os soluços. – Eu só queria que tudo acabasse.

- Eu sei... – Ele acariciou minha cabeça e eu molhei sua pele de lágrimas.

- Ele me mudou. Me destruiu. – Eu disse enquanto me aconchegava nele.

- Você não precisa se entregar a ele. Lute contra o seu medo e tudo vai embora. – Ele disse.

- Mas eu não consigo, Lorenzo. – Chorei ainda mais.

Chorar era a única coisa que eu conseguia fazer. A dor acumulada no meu peito se expusera finalmente. Lorenzo apenas ficou lá me acariciando. O que eu estava pensando? Morrer não iria mudar nada. Tristan ainda iria vir atrás deles. Eu conheço ele o suficiente para saber que o prazer dele é fazer as pessoas sofrerem.

- Eu estou aqui. – Lorenzo disse e passou as mãos nas minhas costas. – Eu sei que você é a mais forte de nós, só precisa de tempo. – Suspirei e tentei me acalmar nos braços dele.

Esse sofrimento só vai acabar quando for cortado pela raiz. Tristan precisa morrer e desde o início o plano foi esse.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...