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História A história de nós dois - A vida mudou


Escrita por: CaliVillas

Capítulo 2 - A vida mudou


Por ser muito jovem, Nina não notou quando sua mãe começou a se arrumar melhor, mas percebeu que ela saía mais vezes à noite, quando a deixava na casa da avó, e, também, parecia mais feliz, cantarolando quando estava sozinha, sorrindo à toa, sem nenhum motivo aparente, além de passar mais tempo ao telefone.

Por passar o tempo todo enfurnado no seu quarto, perdido no seu mundo de fantasia de videogames, onde era invencível e a morte efêmera e reversível, Gabriel não notou as mudanças do seu pai, nesses últimos dias. O seu ar mais jovial, o semblante mais leve e luminoso, o riso fácil que vinha sem nenhum motivo aparente. O menino não se deu conta, que a empregada dormia mais noites na casa deles ou que ficava mais vezes nas casas das avós.

Naquele sábado em especial, o pai de Gabriel comunicou animado, que havia comprado ingressos para o cinema, assistiriam um filme infantil famoso. O garoto estranhou, pois, aquilo não era algo que seu pai costumava fazer, mas deu de ombros. Também, não percebeu a agitação e ansiedade dele durante todo o dia, especialmente, ao se aproximarem da frente do cinema, olhando para os lados como se procurasse por algo.

Nina não entendeu quando a mãe lhe contou que havia comprado ingressos de cinema para o sábado à tarde, mas ficou feliz em poder saírem juntas. Também não notou que sua mãe se arrumou com cuidado, estava mais bonita do que nunca. E, apesar dos lugares marcados, ela a apressou para chegarem cedo e parecia aflita na porta do cinema, como se esperasse por alguém. A menina achou que foi só coincidência, no momento que encontraram aquele garoto novo e esquisito da sua turma de escola e o pai dele por lá, e era muito inocente para notar o brilho nos olhos, as bochechas levemente rubras e os lábios umedecidos da sua mãe.

Gabriel também achou que só foi coincidência encontrarem aquela garota da sua turma com a mãe dela, na porta do cinema. Na inocência de menino, não notou o brilho nos olhos do seu pai ao vê-las, nem que ele passou a mão nos cabelos para ajeitá-los, a sua postura mais ereta ou o sorriso luminoso que deu.

- Oi! Vocês por aqui! – Marta disse animada, com dissimulada inocência, enquanto distribuíam beijos nos rostos.

- Oi! Que coincidência! - Rui reiterou a mentira, em tom alegre. – Gabriel queria muito assistir esse filme – afirmou

- Nina também.

As crianças olharam para os respectivos pais, sem entender a mentira, depois se entreolharam com estranheza, já que nunca se falaram na escola, Gabriel abaixou os olhos por timidez, encarando o chão.

- Espero que nossos lugares sejam próximos – Marta continuou com a farsa, pois sabiam que eram.

- Vamos comprar pipoca? – Rui sugeriu, em tom casual.

Munidos de grandes sacos de pipocas e refrigerantes, sentaram-se diante da tela, os dois adultos lado a lado e as duas crianças juntas, que no escurinho do cinema, rindo divertidas da engraçada história do filme, não viram, quando, furtivamente, seus pais se deram as mãos.

Depois do cinema, veio o convite para jantarem juntos, escolheram uma lanchonete de uma famosa rede. A primeira vez que se sentaram um diante do outro, por um breve instante, Nina fitou os olhos escuros do garoto, nesse momento, que sentiu algo que só entenderia muito anos depois.

Marta tentou conversar com Gabriel, que a maioria das vezes respondia por monossílabos, bem diferente da falante Nina, que falava sem freios na língua, tudo que lhe vinha à cabeça.

No fim da noite, Rui deu uma carona para elas até em casa.

Após se despedirem, subindo no elevador, Marta se encheu de coragem para perguntar a filha:

- Então, você gostou do passeio?

- Sim, foi legal – a garota respondeu, sem muito entusiasmo.

- E de encontrar Rui e Gabriel no cinema.

- Legal – a garota deu de ombros. – Aquele garoto é meio estranho – admitiu.

- Talvez, porque a mãe dele morreu e, por isso, ele é muito triste – Nesse momento, Nina entendeu Gabriel, colocando-se no lugar dele, imaginou perder a sua mãe, sentiu um aperto no peito, teve vontade de chorar.

- Coitadinho dele!

 A partir daquele sábado, a vida foi mudando devagar. Na escola, Nina quis se aproximar do solitário Gabriel, tentando ser sua amiga, mesmo enfrentando a relutância do menino, ela conseguiu perfurar sua casca dura com persistência e bem devagar.

Nas semanas que se seguiram, as saídas dos quatro juntos se tornaram frequentes, iam ao cinema, restaurantes, parques e praias.

Até que um dia, quando chegavam em casa, Nina foi incisiva.

- Mãe, você e o Rui estão namorando?

Marta se quedou, paralisada, por um instante, pensou na resposta que daria.

- Sim, Nina, eu e Rui estamos namorando - decidiu pela verdade. - Você vê algum problema nisso?

- Não – a garota respondeu, com indiferença, dando de ombros.

 

Rui estava sem jeito, não sabia como contar a Gabriel que estava namorando, pois desde que a mulher dele morrera, nunca mais se envolveu com ninguém tão importante, que precisasse apresentar ao filho. Também, não queria mais esconder aquela situação, que já estava ficando bastante série.

Em uma noite, depois que deixaram Marta e Nina em casa, Rui começou a falar seriamente com o filho.

- Gabriel! – O menino ergueu a cabeça da tela do seu vídeo game, sem demonstrar muito interesse. – O que você acha da Marta e da Nina? – questionou, o garoto deu de ombros duas vezes.- Você gosta delas? – Rui indagou, ansioso, o garoto deu de ombros mais uma vez, como se não ligasse, mas, no fundo, gostava delas, de saírem juntos e, principalmente, da convivência com Nina. - Se eu e Marta namorássemos, você ficaria chateado? – perguntou, ansioso com a resposta.

 Gabriel não sabia o que pensar, se por acaso aquela mulher tomaria o lugar da sua mãe? Mas, não tinha vontade de se rebelar ou brigar por isso, talvez, não se importasse. Durante aquele interminável momento de silêncio, o aflito coração de Rui batia aos pulos como um passarinho querendo fugir da gaiola.

- Não sei – respondeu o menino, sem emoção na voz.  

 

Foi assim que, em menos de um ano, Rui e Marta se casaram em uma pequena cerimônia íntima, somente para a família e os amigos mais próximos em um restaurante de um amigo dele, fechado para a ocasião.

Nina ficou feliz e animada, entrando, sorridente, junto a mãe com um pequeno buquê de flores nas mãos. Já Gabriel foi obrigado a ficar junto a pai, sem jeito e inseguro, só se acalmou ao ver Nina entrar, tão bonita e com aquele lindo sorriso. Ela ficou ao lado dele durante todo o rito, saíram juntos de mãos dadas na frente dos pais, Nina com um sorriso radiante, puxando Gabriel pela mão, que ficou de cabeça baixa, olhando para o chão.

A nova família se mudou para um novo apartamento maior, sem memórias ou lembranças, uma página em branco para escreverem a nova história das suas vidas, assim cada criança ganhou um quarto só seu, o próprio mundo.

Nos primeiros momentos da sua nova vida, Gabriel e Nina se ignoraram, a seguir houve uma pequena disputa de marcação de território, porque, afinal, os dois eram filhos únicos, nunca precisaram dividir nada com ninguém, o que foi rapidamente contornada pelos pais.

- Vocês precisam se dar bem, afinal, somos uma família e vocês são irmãos, agora - Marta decretou, deste modo, instalou-se a paz, uma convivência pacífica que, aos poucos, transformou-se em camaradagem até chegar a amizade.

Naquela época, as duas crianças não pensavam no futuro, que para os dois, era algo remoto e abstrato, viviam um dia de cada vez.

E, dois anos depois do casamento dos seus pais, nasceu o meio irmão e eles escolheram o nome de João.



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