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História A História de RiSara - Tân (Fogo)


Escrita por: DudaKCALY

Capítulo 2 - Tân (Fogo)


Fanfic / Fanfiction A História de RiSara - Tân (Fogo)

Fy Eiddo – A História de RiSara
Capítulo II – Tân (Fogo)

 

Richard

 

Chegamos, senhor.

Abri meus olhos lentamente. Não é como se eu estivesse dormindo, mas valia a pena descansar os olhos de vez enquanto. Eles ardiam às vezes, seja pelo cansaço ou pelo estresse do dia a dia.

Eu já estava acostumado a esta vida.

Olhei para o soldado parado em minha frente e assenti, mostrando-lhe que eu estava acordado. Com uma longa reverência, ele me deixou sozinho novamente.

Entretanto minha paz não durou muito. Eu já havia levantado e lavado meu rosto quando meu pai atravessou a porta com o olhar perturbado.

– Até que enfim, não aguentava mais este avião. – desabafou enquanto caminhava como um bicho preso pelo quarto.

Não lhe respondi nada, apenas continuei com meus afazeres. Tirei minha roupa lentamente, deixando as peças por cima da cama.

Não tinha vergonha de ficar nu em frente ao meu pai, ele sempre me via assim quando tinha que me dar alguma... lição.

– Ora, não vai falar comigo, filho? – perguntou ele com uma calma fingida – Vai ignorar seu velho pai?

– Seu teatro não funciona comigo.

Os olhos escarlates, tão iguais aos meus, não refletiam mais calma depois de minha revelação. Agora estavam frios, gelados... Cheios de uma raiva lasciva.

Um sorriso medonho se abriu em seus lábios.

– Oh, eu sei bem disso, filho.

– Não sei por que ainda está aqui.

– Estou aqui por que precisamos conversar. Acertar nossas ações dentro de Wawr.

Bufei de irritação.

– Não precisa de mim para isso, sabe fingir muito bem sozinho.

– Oh, é aí que você se engana. Por um motivo que ainda desconheço, o Marechal Whitefire solicitou que você estivesse presente em todas as reuniões e negociações que possamos ter. Sinto muito pelo inconveniente, mas terá que fingir que se interessa pelo legado dos Arquerrite ao menos uma vez na vida.

A raiva que corria por minhas veias era tão quente que me senti inflar. Tinha certeza que meus olhos estavam refletindo meu estado, pois meu pai passou a adotar uma postura de defesa.

– Que se explodam você e suas negociações!

Ele deu um passo à frente, não recuei nem estremeci.

Eu não era mais uma criança.

Apesar de meu pai não ser um homem que possamos chamar de pequeno, eu era muito maior do que ele. Meus 1,94 metros ultrapassavam seus meros 1,88. Além do mais, ele já estava velho, e os anos de conselho haviam acabado com qualquer traço de juventude em seu rosto. A única coisa que ainda parecia viva nele eram os olhos. Como os meus, transmitiam sentimentos, e cabia a você mascará-los ou não.

– Olhe como fala, moleque.

– Olhe você como fala, pai. Lembre-se de quem eu sou, e do que sou capaz.

A ameaça era clara: Tenho coragem o suficiente para te jogar na primeira vala de esgoto que encontrar em Wawr, e você sabe que nunca conseguirá me impedir.

Ele entendeu muito bem o recado.

– Certo. Só peço que se apresente de uma maneira aceitável perante os oficiais de Wawr. Essa base tem grandes chances de se tornar sua próxima casa.

Não respondi nada a ele, que ainda ficou esperando. Eu apenas encarava-o com uma expressão que eu esperava que transpassasse indiferença. Mas por dentro eu fervia, borbulhava... Explodia.

– Te vejo na plataforma de desembarque. – e com isso saiu apressado de meus aposentos.

Assim que a porta se fechou, peguei o primeiro objeto que atravessou em minha frente e joguei-o, estraçalhando-o na parede.

Era assim desde quando eu era novo: a sede do conselho vivia se mudando, e eu ia junto.

Desde que me lembro eu vivo para meus treinos, aprendo como ser melhor, mais rápido, mais forte... Sou moldado para matar, e para, no futuro, governar todo um séquito de seres sobrenaturais enraivados e rancorosos. Considerando que “calma” e “complacência” são palavras distantes no vocabulário de minhas qualidades, temos um grave problema pela frente.

Me virei para ir ao banheiro e tomar uma ducha rápida antes do avião pousar, porém me detive quando, ao passar os olhos pelo quarto bagunçado, vi a foto de minha mãe.

Segundo o pouco que me contavam, ela era uma mulher doce e calma, o que me leva a ter certeza que não puxei nada de seu temperamento. Seus cabelos eram dourados como o sol, e seus olhos de um azul tão intenso que pareciam vibrar. Tinha a pele branca, o rosto oval e expressões tão calmas que me acalmavam também. Seu sorriso era lindo.

Fui até a foto e toquei seu rosto de leve, com as pontas de meus dedos ásperos. Senti-me mais calmo de imediato.

– Obrigado, mãe.

Fui até o banheiro. Liguei o chuveiro frio e, sem me importar com a parede gelada, me encostei nela.

Pensei em toda a minha vida. Fiz um recesso até meus pensamentos mais antigos, mais ocultos.

Minha infância não fora nada fácil. Comecei a treinar com meu pai aos quatro, e quando ele ficou ocupado demais, passou essa responsabilidade à Andulvar.

Andulvar era como um segundo pai para mim. Na verdade, ele era mais meu pai do que o próprio Robert Arquerrite, o grande Meistr. Eu e meu tio éramos tão íntimos que, quando estávamos à sós, eu o chamava assim: pai.

Robert perdeu minha mãe algumas horas de pois do meu parto. Passou o próximo meio ano sumido, ninguém conseguia encontra-lo. Pensavam que ele jamais voltaria.

Mas, contradizendo todas as expectativas, ele retornou. Porém, estava diferente: frio, distante, irritado. Começou a me treinar com quatro anos, e, quando eu não fazia os exercícios da maneira mais perfeita que existia, da maneira dele, ele me batia.

Era uma surra dolorida. Ele me deixava nu, e com um cinto de couro marcava minha pele inúmeras vezes, até sangrar. Então, passava pratina em minhas feridas, para que elas não sarassem com a genética lupina. Foi desse jeito que consegui as inúmeras marcas que possuo. Nada que me envergonhe, ou me deixe mal. São as provas de quem eu sou. São o que me fizeram crescer, amadurecer... E jamais querer ser como ele.

Mas não culpo Robert por sua falta de carinho. Acho que nenhum macho consegue voltar a ser o que era depois de perder sua marcada.

Sua marcada, sua alma gêmea, aquela que lhe completa, que lhe ampara, que vai estar lá mesmo que o mundo estiver ruindo... Aquela que habitará sua mente e seu coração por toda a eternidade. Eram muitas as formas de se descrever a relação entre uma marcada e seu macho. E é claro que eu, como futuro Meistr, tinha que saber todas elas. Desde cedo fui instruído sobre essa relação poderosa, que até hoje é um mistério para os mais renomados cientistas de meu povo.

Não conheço o rosto, ou sequer faço ideia de onde minha marcada está. Tenho 27 anos e nunca tive sequer uma prova do que meus sentimentos por ela podem vir a ser. Jamais amei, jamais tive afeto por uma mulher além da amizade. Jamais desejei uma mulher por mais que uma noite.

No fim, alguma coisa surgia para me irritar: seja o jeito como fala ao comer, ou alguma coisa que diga, ou seu cheiro enjoativo, sua voz esganiçada... Nunca durava. Nunca era perfeito. Existiam rachaduras enormes que eu sabia que apenas ela conseguiria cobrir.

Aquela destinada a mim, e somente a mim.

Eu esperava conseguir controlar minha possessividade quando encontrasse minha marcada. Ficava dividido entre ter uma mulher tão estonteante como minha mãe ou desejar uma bem feia, para que nenhum homem a deseje como eu. Era um pensamento egoísta, mas eu não conseguia controlar.

Eu ansiava por encontrar minha companheira. Queria alguém para dividir minhas angústias, meus medos, minhas falhas. Mas sei também que ela não será apenas minha esposa. Ela será como uma grande mãe, à serviço de todos. Assim como eu terei que ser um grande pai. Tomar decisões importantes também caberá a ela. Ela será meu braço direito, tanto na vida pessoal quando no que diz respeito ao controle de todo o mundo.

Bem, eu ainda tinha que me acostumar com a parte de ser de todos, mas com o resto eu estava indo bem.

Por enquanto.

 

.-*-.

 

O avião pousou com maestria no aeroporto congelado de Wawr.

Descemos e, logo na entrada, três soldados nos aguardavam.

– Whitefire – cumprimentou meu pai assim que nos aproximamos. O Marechal já tinha certa idade, mas seu olhar mostrava toda a sagacidade que ele ainda possuía. Com sincronia, ele e os outros bateram continência para mim e meu pai. Respondemos o ato do mesmo modo – É um imenso prazer finalmente poder visitar a célebre base de Wawr.

– O prazer é exclusivamente nosso, Meistr, de receber o senhor e seu filho em nossas acomodações.

Ele me encarou com aqueles límpidos olhos azuis. Senti nele uma confiança imensurável com apenas o primeiro olhar.

Cumprimentei-o mais uma vez com um aceno de cabeça, e ele respondeu-me com um sorriso nos olhos.

– Permitam-me, senhores, apresentar meus soldados de maior patente aqui dentro da Wawr. – começou Whitefire apontando para os dois soldados ao seu lado – Este é o General de Divisão, Kile Woodwork, e este é o General de Exército, Kemuel Rivers.

Encarei o General ao lado direito do Marechal. Seus olhos eram castanhos, combinavam bem com o loiro pálido dos seus cabelos compridos. Mas aquele cheiro... Não me trazia segurança.

Kemuel Rivers. Ele era uma ameaça.

Ele percebeu que eu o encarava, e sustentou meu olhar. Trocamos farpas internas por um longo período. Aquele olhar frio, sem sentimentos, combinado com seu cheiro estranho, fazia meu estômago revirar.

Estreitei meus olhos.

Veja em meu olhar que não confio em você, seu babaca.

Ele pareceu ter entendido o recado, pois logo desviou seu olhar do meu, voltando a atenção ao Marechal.

– ... e todas as comemorações serão feitas no salão de baile da Base. – explicou Marechal Whitefire.

Meu pai sorriu.

– Vocês tinham um salão de baile?

O grisalho sorriu amarelo.

– Bom, claro que não. Tivemos que adaptar uma sala de treinamento em grupo, mas modéstia à parte ficou realmente muito bom.

Meu pai gargalhou alto.

– Isso é o que esperava de alguém eficiente como você, Whitefire. Nada menos do que isso.

 

.-*-.

 

O suor escorria por meu torso nu. Minhas mãos queimavam com o crepitar das chamas acesas. Minha respiração era acelerada, e tudo à minha volta parecia estar em câmera lenta.

Reunindo mais força, forçando meus músculos ao máximo, aumentei a bola incandescente em minhas mãos.

Eu a controlava, era minha. Uma extensão de mim.

Focalizando meu alvo do outro lado da sala, joguei a bola de fogo em sua direção. Ela explodiu pelos ares, e acertou o boneco de madeira, transformando-o em brasa em segundos.

Este é o maldito poder Arquerrite.

Éramos uma mistura perfeita. Híbridos de lycans e vampiros, com o adicional de um poder feiticeiro que se manifestava de diferentes formas em cada Arquerrite que nascesse. No meu caso, o controle do fogo, que mudava de intensidade conforme meu humor.

Já era a terceira hora seguida de treinamento. Eu precisava controlar meus poderes. Não poderia sair explodindo tudo e todos por aí.

– Sua mira anda meio torta, e seu fogo anda meio laranja demais. Onde está o azul vívido de sempre, han?

Bufei de irritação. Eu adorava meus treinos com Andulvar, mas ultimamente ele estava chato pra caramba.

Desviei meus olhos para o homem que vinha em minha direção. Era baixo, tinha uma barriga avantajada e um rosto roliço e vermelho. Parecia que ia explodir.

– Eu sei, Andulvar. Não precisa ficar repetindo.

– Vou repetir até você acertar aqueles alvos com uma precisão perfeita. Sabe que um erro de dois centímetros pode definir o curso de uma guerra!

Rolei meus olhos.

Concentrando meu poder novamente em minhas mãos, acendi uma bola de fogo e controlei-a. Dessa vez era azul incandescente, a versão mais quente e poderosa de meu fogo. Sem desviar meus olhos dos de meu tio, arremessei a bola que acertou o meio perfeito do alvo.

Transformou-o novamente em cinzas. Nada de diferente.

– Viu só? Nada mudou.

Ele me deu um sorriso de canto.

– Você é um pestinha. – e me estendeu uma toalha.

Aceitei o pedaço de pano com gratidão, e passei-o por todo o meu rosto e tronco, tirando o suor. Ele me estendeu também uma garrafa de água.

– Você está cada vez melhor. Sua intimidade com as chamas é surpreendente.

Assenti, enquanto sentia aquele líquido gelado escorrer para dentro de meu corpo febril, esfriando minhas entranhas.

– Temos um assunto para resolver.

Quase cuspi a água ao ouvir o tom sério em sua voz.

Abaixei a garrafa e foquei em seu olhar duro.

– O que foi?

– Você e seu pai terão de abrir o baile hoje à noite.

Rolei meus olhos. Tanto suspense para aquilo?

– Não tenho par – respondi simplesmente, virando-me e saído à passos calmos.

Ele não desistiu e veio atrás de mim.

– Whitefire já providenciou isso. Pegou as duas mulheres de maior peso aqui dentro e destinou-as a dançar com você e seu pai.

Eu gargalhei, abrindo meus braços.

– Maior peso?

Andulvar ficou vermelho.

– Você entendeu, garoto malcriado.

– Se sou malcriado a culpa é sua. Foi você que me criou.

– Deveria ter dado mais broncas em você.

– Eu sou um menino educado, Andulvar.

Ele me olhou com os olhos cheios de lágrimas.

– Faz anos que não é mais um menino.

Sorri de canto. Ele era um carrancudo bem emocional.

– É, já sou homem.

– É, já é sim.

Suspirei fundo e resolvi mudar de assunto para afastar o clima de melancolia.

– Mas me diga, quem são essas mulheres?

– A que dançará com você é uma Major. Bem bonita, por sinal. Ruiva, olhos azuis, algumas sardinhas.

Assenti.

– Exótica – resumi.

– Sim, exoticamente linda.

Revirei os olhos e sorri para ele.

– E a outra?

– Não sei, não vi. Só sei que é uma Coronel.

Assobiei, levantando minhas sobrancelhas.

– Uma Coronel? Não é fraca, não.

– Pois é. Whitefire me disse que ela está há 12 anos no exército da Clave.

Franzi meu cenho.

– Doze anos é bastante tempo. Ela já deve ter mais idade.

– Não sei quantos anos tem, mas cheguei à mesma conclusão que você. Não se preocupe, ela irá dançar com seu pai. A sua é a jovem Major ruiva.

– Quem sabe essa Coronel idosa não fisga meu pai e ele deixa de ser tão ranzinza.

O olhar de Andulvar escureceu.

– Você sabe que isso é impossível, Richard. Um lycan só ama verdadeiramente uma mulher em toda sua vida. Seu pai amou sua mãe, e ninguém mais.

Então senti a melancolia me invadir. Senti todos os meus músculos ficarem tensos.

– Do que adianta um Arquerrite encontrar sua marcada, se todas elas morrem ao dar à luz a um filho homem?

Andulvar perdeu a pose sombria. Agora seu olhar era carregado de pesar.

– Só porque sua mãe morreu, não quer dizer que sua marcada também vá.

– Não estou falando só de minha mãe, Andulvar. Todas as marcadas Arquerrite existentes até hoje morreram ao conceber um filho homem. Nenhuma sobreviveu. Você sabe que essa maldição é real.

– Richard...

Levantei minha mão, e ele se calou.

– Já me acostumei à esta ideia, Andulvar. Não pode ser tão ruim assim.

O olhar dele carregou-se de extremo pesar.

Sem conseguir encará-lo, comecei a caminhar para fora do local de treinamento. Minhas passadas eram rápidas e pesadas. Eu estava praticamente correndo dali.

O fato de que minha marcada morreria quando concebesse um filho meu era algo doloroso de encarar.

Mas antes de sair, ainda ouvi um murmúrio de Andulvar:

– Oh, criança... Você não sabe o que te aguarda.

Respirei fundo.

O pior é que eu sei.

 

.-*-.

 

A noite chegou rápido. Após alguns cumprimentos, conhecer as instalações, acomodar-me em meu quarto e treinar, eu não estava com uma grande disposição para encarar uma festa. Mas era meu dever ir.

Bom, pelo menos eu conheceria a Major ruiva.

Ajustei mais uma vez meu smoking preto. O corte era perfeito, mas meu olhar, sempre analítico, insistia em encontrar falhas.

Não era à toa que o departamento que eu controlava era o melhor de todo o exército do Grande Conselho.

Duas batidas na porta e eu me distanciei do espelho.

– Entre – disse com uma voz que expressava superioridade.

A porta se abriu e revelou o General loiro de mais cedo.

Kemuel Rivers.

Imediatamente minha postura moldou-se de forma que eu ficasse alguns bons centímetros acima dele. Meu olhar ficou sério e penetrante.

Veja que sou superior a você, babaca. Era o meu pensamento.

Ele deu-me um sorriso amarelo e torto. Também se esforçava para parecer simpático.

– Mandaram vir avisar-lhe que seu pai e Whitefire já o esperam para irem juntos à festa.

Não me dei ao trabalho de responde-lo, apenas assenti levemente. Isso pareceu inflamar sua raiva.

Andei a passos calmos e comedidos para fora do quarto. Passei por ele e fiz questão de esbarrar em seu ombro levemente. Vi que ele ficou tenso com minha aproximação, e isso afagou meu ego.

Ele sabia quem eu era e do que era capaz. Era mais do que suficiente.

– Não vai me acompanhar, General Rivers?

– Não, senhor. Irei até os dormitórios femininos buscar minha acompanhante.

Sorri com desdém.

– Certo, então. Terei prazer em conhecê-la.

Seus olhos faiscaram com uma súbita raiva. Ele deveria ter sentimentos por essa acompanhante.

Fiquei atento quando a raiva deu lugar à um brilho de malícia.

– Não se preocupe, senhor. Acho que é capaz de achar o caminho sozinho, não é?

Meu sorriso esmoreceu lentamente. Sentia minhas entranhas se revirarem de ódio.

O que esse cara tinha que me deixava tão furioso?

Recuperei minha pose em instantes. Eu não cederia a este idiota.

Aproximei-me dele lentamente, e foi com grande satisfação que vi ele encolher-se à medida que eu avançava.

– Sou capaz disso e de muito mais, Comandante Rivers.

Ele encarou-me com ódio, e um sorriso mordaz surgiu em meu rosto.

– Sei muito bem do que é capaz, General Arquerrite.

Sua fala não me abalou nem um pouco, pelo contrário: fiquei feliz que tivesse voltado ao seu lugar.

Abri um sorrisinho provocativo.

– Não deixe essa mulher esperando muito, ou ela pode desistir – e dizendo isso, me afastei à passos calmos.

Eu sentia seu olhar de ódio queimando em minhas costas, mas não liguei.

Eu queimava muito mais do que ele.

 

(...)

 

– Senhor, quero que conheça sua parceira de dança: senhorita Farley Wilson, Major da esquadraria 6. – apresentou-me Whitefire.

Eu não era um cara com um ego muito grande, mas eu sabia o efeito que tinha sobre as mulheres. Sorri de canto e vi seu rosto corar.

Com delicadeza, peguei em sua mão e depositei ali um beijo casto.

– É um prazer, Major Wilson.

– O prazer é todo meu, senhor.

Soltei sua mão e voltei minha atenção ao copo de conhaque em minha mão.

Meistr, sua parceira já deve estar quase chegando. Comandante Rivers foi busca-la.

Meu pai deu seu sorriso diplomático.

– Não era preciso, Whitefire. Meu filho abrir a pista de dança seria o suficiente para mim.

Controlei-me para não revirar os olhos.

Mas que modesto.

Quando olhei para Whitefire, me surpreendi ao ver que, no fundo de seus olhos, ele tinha a mesma reação que a minha.

– De maneira nenhuma, Meistr. O senhor é nosso convidado de honra, assim como o General Arquerrite.

Desviei minha atenção da conversa que se desenrolava à minha frente. Se eu visse mais um dos sorrisos falsos de meu pai, eu vomitaria.

Não sei como Whitefire aguenta.

Dei um último gole em meu conhaque enquanto via o Comandante Woodwork se aproximar.

– É uma boa bebida, não? – perguntou ele apontando para meu copo. Só então percebi que ele tomava o mesmo que eu.

– Sem sombra de dúvidas. – respondi.

Então entramos numa longa conversa sobre bebidas, e depois sobre vinhos. Engatamos alguns países e logo falávamos dos pontos fortes e fracos de cada base do exército do Grande Conselho.

– Seren, no Cairo, é uma base praticamente desabitada. – observou ele.

– Sim. Depois do último ataque da Akatsuki não valia mais apena reconstruí-la. O estrago foi grande.

– Uma pena. Tínhamos boas pesquisas com pratina lá.

– Sim, e com verbena também. Estavam finalizando um líquido poderoso. Uma combinação de pratina e verbena. Não tiveram a oportunidade de concluir.

Ele arregalou seus olhos.

– Isso é horrível.

Acenei positivamente.

– Meu pai quer trazer os pesquisadores de Seren para cá. Aqui eles teriam boas condições de continuar suas pesquisas, visto que esta base é praticamente impenetrável.

– Seria uma honra para nós.

Assenti, e a conversa acabou. Logo nos misturamos na conversa acalorada que meu pai tinha com Whitefire, Andulvar e alguns outros homens de Wawr.

A conversa era tensa. Falavam sobre os recentes ataques às bases do Grande Conselho.

Meu pai já estava roxo de raiva.

– Nosso maior problema, atualmente, é sem dúvidas a Akatsuki. – disse meu pai.

– Sim, infelizmente se tornaram um problema maior que os rebeldes extremistas. – observou Whitefire.

– São mais organizados, mais discretos e muito mais mortais. Temos que tomar logo uma providência. – disse Andulvar.

– Já estamos providenciando novos armamentos – começou meu pai – Novas pesquisas estão sendo realizadas, e mais armamentos estão sendo produzidos. Com três de meus jatos armados eu bombardeio uma das bases da Akatsukie eles nem vão saber o que os atingiu.

– O problema é encontrarmos estas bases – intrometi-me – Escondem-se feito ratos. Mudam de lugar de vez enquanto. São muito bem organizados.

Andulvar assentiu, assim como meu pai.

– Eles realmente estão se tornando um grande problema. – observou Kile.

Minha boca estava seca. Esse assunto me deixava borbulhando de raiva. A Akatsuki ser algo que nós tínhamos dificuldades em lidar me deixava nervoso.

Eu precisava de mais conhaque.

Quando abri minha boca para pedir licença, o mundo inteiro parou.

O cheiro me atingiu como um soco, me deixando completamente alerta. Minha mente era um turbilhão de pensamentos.

Fechei meus olhos por um breve momento, e aspirei com mais força o ar à minha volta.

Rosas, com um leve toque picante que eu não saberia identificar. Era tão viciante... Eu sentia aquele perfume preenchendo cada parte do meu ser, colando em minhas entranhas. Mesmo que se passassem mil anos, eu jamais o esqueceria.

Abri meus olhos lentamente e os deixei correrem livremente pelo salão. Quando avistei a mulher de vermelho no alto da escada, quase gemi de prazer.

Caralho, ela era tão linda.

A primeira coisa que fixei meu olhar foram seus olhos. Como os meus, corriam pelo salão à todo vapor, mas ainda não haviam me visto.

Estaria me procurando também?

Desci meu olhar lentamente para sua boca. Sentia-me queimar por dentro com aquele formato ferino e delicado de seus lábios. Seus cabelos negros, presos em um coque foruxo, deixando seu pescoço perfeito totalmente à mostra, alimentando ainda mais meu desejo latente.

Minhas mãos suaram e eu as sequei na calça. Senti todo o meu corpo entrar em ebulição enquanto analisava seu corpo perfeito, apertado por aquele vestido vermelho sangue.

Essa mulher me pertencia, era minha.

Quando senti minha pele começar a formigar de tanto desejo, voltei meus olhos para os seus, e vi que ela me encarava de volta.

Aquele olhar ferino, aquela boca perfeita... Eu iria enlouquecer.

Vi quando alguém começou a puxá-la para que descesse as escadas. Só então vi que ela estava acompanhada.

Senti meus sentimentos mudarem completamente, e o ciúme me atingiu tão forte que rosnei.

Alguém estava tocando na minha mulher.

Quando, com muita luta, retirei meus olhos dela para olhar para o futuro cadáver de um homem, senti minhas entranhas se contraírem de um jeito que eu jamais senti. O sentimento de possessividade exalava de todos os meus poros.

Kemuel Rivers, aquele maldito, estava acompanhando a minha mulher.

Senti uma leve ardência em minhas gengivas, e uma queimação em minha garganta, sinal de que meu lado vampírico estava aflorando.

Sinal de que alguém iria morrer.

Sem me importar com mais nada, apenas comecei a andar. Meu olhar estava fixo no casal que tinha acabado de alcançar o fim da escada.

Sara já não me olhava, tinha sua atenção voltada para outro macho que a havia chamado, e agora estava parado como um idiota em frente a ela.

Porra, quantos eu teria que matar até que entendessem que essa morena era minha?

Ignorei o problema 2 e fixei no problema 1. Kemuel olhava diretamente para mim.

Canalizei toda a minha raiva e a transmiti através de meus olhos. Foi com satisfação que observei sua pele empalidecer, o rosto contorcido em confusão e medo.

Mas antes que eu alcançasse o trio onde estava minha marcada, alguém agarrou meu braço.

Voltei meu olhar transtornado de ódio para Andulvar.

– Me largue – mais rosnei do que falei. Minha voz estava rouca de raiva e desejo.

Eu sabia que estava perdendo o controle aos poucos, mas eu estava literalmente dando um foda-se.

– Nenhum deles sabe que ela é sua marcada, então não há motivo para ciúmes. Não faça um escândalo.

– Não vou fazer um escândalo, vou quebrar a cara daqueles dois imbecis.

– Controle-se, Richard! – vociferou ele num sussurro.

Trinquei meus dentes, e, relutante, acatei sua ordem. Respirei fundo algumas vezes, mas o cheiro dela só me fazia ficar mais e mais nervoso.

– Se aquele comandante não a largar em cinco segundos, eu vou botar esse lugar abaixo. – ameacei com voz baixa.

Ele suspirou.

– Vou resolver isso, enquanto você se acalma.

– Não vou me acalmar enquanto aquele lá estiver perto dela – rosnei baixo e ameaçadoramente.

– Já disse para se controlar! – sussurrou Andulvar – Daqui a pouco as pessoas vão perceber seu estado.

Mordi sobre meus dentes mais uma vez, e desviei meu olhar para os dois.

Agora Kemuel que encarava o macho em frente a ela e tinha uma conversa amistosa com ele, mas eu podia perceber o quanto estava nervoso.

E ela... Ela me olhava. Me encarava tão fixamente que senti um frio gigante no estômago, e então todo o meu corpo voltou a se acender.

Eu a desejava mais do que tudo.

Seu olhar era doce, mas me tirava completamente a sanidade.

Vi quando sua boca se mexeu e, lentamente, ela abriu um sorriso para mim. Então o mundo voltou a parar.

Senti minhas presas retrocedendo e meu coração se acalmando. Sem nem mesmo me conhecer ela já tinha um poder monstruoso sobre mim.

Não importava quem estava ao seu lado, ela era minha marcada, e nada no universo poderia mudar isso.

Quando ela desviou novamente seu olhar, voltando sua atenção para Kemuel, me virei para Andulvar, que me olhava com lágrimas nos olhos.

Expandi minhas narinas.

– Pare com essa melação e vá logo tirar aquele macho fedorento de perto da minha mulher – eu disse rispidamente.

Ele sorriu de canto.

– Estou indo, Rick.

Observei com olhos de um felino enquanto Andulvar se afastava e chegava perto dos dois.

Eu me recusava a chamar aquilo de casal. Ela só formaria uma dupla, um par, um casal, ou o que quer que fosse, comigo.

Observei com prazer enquanto, com muita diplomacia, Andulvar tirava-a de perto do loiro fedorento.

Agucei minha audição para que eu pudesse escutar.

“O Meistr quer conhecer sua parceira de dança antes da abertura” dizia Andulvar com extrema educação na voz.

“Mas ela é minha acompanhante. Deve ir para lá apenas na hora da dança.” Protestou aquele imprestável pousando uma mão no ombro nu de minha mulher.

Eu vou esquecer do que Andulvar me pediu. Vou ir agora lá e mata-lo da forma mais fria que conheço.

Vi que Andulvar ficou tenso com o gesto do loiro.

E foi assim que ouvi, pela primeira vez, a voz melodiosa de minha marcada.

“Kemuel, acho melhor não desafiarmos nosso superior. Se ele quer me conhecer, que assim seja”

Oh, ela era inteligente, ela era linda, ela era a realização de todos os meus sonhos.

Ouvi o loiro bufar.

“Se é o que você acha, tudo bem. Vou junto com você”

Rosnei baixinho, queimando Kemuel em minha mente perversa.

Andulvar, nervoso, desviou seu olhar para mim. Balancei minha cabeça negativamente.

Vi que os olhos desesperados de meu treinador voaram para minha marcada, que entendeu o recado.

Ah, ela com certeza era inteligente, e isso me agradava imensamente.

“Kemuel, o Meistr quer conhecer a mim, não a você” quase ri com a bronca de minha marcada “Além do mais, Phillip está aqui. Seria deselegante deixá-lo sozinho.”

Genial! Ela era simplesmente genial!

“Certo então” concordou ele “Vá lá e depois volte para perto de mim”

Quem esse idiota pensava que era para dar ordens à ela?!

Só nos seus sonhos ela vai voltar, seu babaca.

Vi com imenso prazer quando Andulvar afastou a mulher de perto do loiro aguado e tomou seu braço.

Encarei Kemuel, que agora olhava fixamente para mim, com ódio no olhar.

Sorri de canto para ele. Ela é minha, babaca, conforme-se.

Ele rangeu os dentes, mas não fez nada.

Andulvar se aproximava lentamente. Levantei-me num pulo e fui até os dois.

Quando ocupei o campo de visão de minha marcada, ela encarou-me com firmeza. Seus olhos queimavam, assim como os meus, mas ela se mantinha firme, inabalável, não parecendo afetada por nenhum de meus pontos mais positivos.

Merda, isso seria mais complicado do que o normal.

Agora, mais de perto, eu podia analisá-la melhor. Seus olhos eram tão negros quanto o mais profundo abismo, assim como seu cabelo, que brilhava contra as luzes vindas dos lustres. Sua pele alva contrastava perfeitamente, sendo clara e acetinada. Sua boca, vermelha como o mais doce sangue, estava levemente aberta. Acho que demorei demais meu olhar ali, pois ouvi um pigarreio de Andulvar.

Sorri de canto, enquanto, lentamente, movi minha mão de encontro à mulher à minha frente, esperando que ela me permitisse tocá-la.

Quando nossas peles se tocaram, foi uma explosão de sentimentos sem igual. Um choque percorreu meu braço e se alastrou por todo o meu corpo. Percebi que ela também sentiu algo, pois sua respiração ficou pesada.

Curvei-me mais que o necessário, e levei sua mão para perto de meus lábios, dando um longo beijo. Depois disso, ainda me demorei um pouco. Fechei meus olhos e senti o cheiro de sua pele quente e macia.

Me ergui lentamente, e quando tornei a olhá-la, seu olhar havia escurecido.

Meu ego inflou.

Ela me desejava, assim como eu a desejava.

– É um imenso prazer conhecê-la, senhorita. – minha voz saiu tão rouca que nem eu mesmo a reconheci.

Ela suspirou.

– O prazer é todo meu, General Arquerrite.

Ela disse meu nome com tanta prepotência, mas ao mesmo tempo com tanta inocência, que ouvi meu lobo rugir.

– Deixemos as formalidades de lado, por favor. Me chame somente de Richard.

Ela sorriu de canto.

– Como quiser, Richard.

O som de meu nome em seus lábios era tão bom... Como uma doce carícia.

– Você já sabe meu nome, mas eu ainda não sei o seu.

Ela alargou o sorriso de canto.

– Sou-

Fomos interrompidos, e eu quase chorei de frustração.

– E esta, Meistr, é a senhorita que irá dançar com você. – dizia Whitefire conforme se aproximava, com meu pai em seu encalço.

– Oh, mas que bela senhorita – disse meu pai.

Vi o brilho de malícia que se acendeu em seus olhos.

Ela era realmente bela, mas era minha, porra.

E por que diabos desta vez Whitefire não podia dizer o nome também?!

Seus olhos ainda passaram uma última vez por mim antes de voltar para meu pai.

Ela abriu um sorriso completo e curvou-se levemente.

Nada de sorrisos de canto, nada de provocações com o olhar. Fiquei satisfeito que ela reservava isso especialmente para mim.

– Agradeço o elogio, Meistr. É uma honra conhecê-lo.

– A honra é toda minha, senhorita.

– Agora que sua parceira já chegou, Meistr, acho que podemos dar início à primeira dança, não é?

– Oh, sim, sim. – confirmou meu pai – Podemos.

Senti minhas entranhas se contorcerem. Eu precisava dançar com ela, não meu pai.

– Deixei vocês esperando muito tempo? – perguntou minha doce mulher, passando seu olhar brevemente por mim.

– Não se preocupe, senhorita. – respondeu meu pai.

– Por algumas coisas vale a pena esperar – eu disse com meus olhos fixos nos seus.

Ela sorriu para mim.

– Fico feliz de não ter causado nenhum aborrecimento.

Eu sorri de volta.

O olhar de meu pai vagava de minha morena para mim, sem parar nenhum segundo. E então, ele abriu um leve sorriso amarelo.

É, acho que meu velho já entendeu.

Whitefire não parecia muito surpreso com a cena ao seu redor.

– Vou lá pedir para os músicos iniciarem a valsa. Coronel Uchiha, por favor, acompanhe o Meistr até a pista de dança.

Uchiha. Eu já havia ouvido sobre esse sobrenome, sobre esse clã antes.

Eram poderosos, uma alcateia numerosa localizada no leste asiático, comandava por um Alfa relativamente novo.

Mas se ela possuía uma família, por que estava aqui?

Resolvi deixar meus questionamentos de lado. A dádiva de descobrir ao menos seu sobrenome me deixou anestesiado. Só voltei a mim quando meu pai retomou a palavra.

– Sabe, Whitefire, acho que vou dançar com a jovem ruiva.

Olhei para meu pai, sentindo meu peito se aquecer.

Ele realmente estava fazendo um gesto decente por mim?

– Ah, e por que? A Coronel Uchiha não lhe agrada?

– Não é isso, de maneira nenhuma. Mas acho que ela e meu filho se deram muito bem.

Eu ri internamente.

Você nem imagina o quanto me dei bem com ela, pai.

– Certo, que assim seja. Vou procurar os músicos e também Farley. General Arquerrite, você e a Coronel já podem ir para a pista.

Lancei um olhar de agradecimento para meu pai, que me retribuiu com um aceno.

Voltei minha atenção para a mulher maravilhosa ao meu lado, e ela me olhava com os olhos brilhantes, em expectativa.

Estendi para ela meu braço.

– Vamos, Coronel Uchiha?

Ela sorriu, enganchando seu braço no meu.

– Claro, General Arquerrite.

O suspiro de satisfação de Andulvar ficou para trás à medida que avançávamos para a pista de dança. Quando chegamos ao centro, todos os olhares imediatamente se cravaram em nós dois.

Nenhuma palavra foi proferida por nenhum de nós. Apenas aproveitávamos a presença fascinante um do outro.

Quando as primeiras notas da valsa soaram, não hesitei em passar meu braço por sua cintura fina nem em acolher sua pequena mão na minha.

Tudo parecia tão certo, tão normal. Era como se eu a conhecesse há anos e anos.

Começamos a nos mover ao ritmo da música. Modestamente, eu dançava muito bem, e ela também não ficava para trás. Nós flutuávamos pelo salão, e eu sentia os olhares curiosos sobre nós.

Quem quebrou o silêncio foi ela.

– Ainda não acredito que está aqui.

Suspirei de satisfação ao ouvir sua voz, e criei uma bolha à nossa volta para que ninguém ouvisse nossa conversa.

Os Arquerrite tinham uns truques legais.

– Ainda não acredito que você é tão perfeita.

Sua bochecha corou levemente enquanto ela ficava constrangida.

– Sabia que eu estava aqui? – perguntou-me.

– Não. Tive uma maravilhosa surpresa.

Ela sorriu para mim.

– Eu também.

Seus olhos eram tão hipnotizantes... Mas observei com aflição eles se escurecerem, até se tornarem duas pedras frias de ônix.

– O que foi?

– Deveria ir embora.

Essa informação me atingiu como uma facada no peito, mas não deixei transparecer.

Tudo estava tão bem até agora... Algo deve ter acontecido.

Franzi meu cenho.

– Não vou a lugar nenhum – respondi com a voz firme.

Vi que seu olhar vacilou. Um mísero segundo que me provou que algo havia acontecido.

– Mas deveria.

– Por que?

– Por que eu não sou mulher para você.

Eu ri.

– Você está brincando? – perguntei. Vendo que ela não teve reação, apertei meu braço em volta da sua cintura, trazendo-a mais para perto. Estávamos tão colados que eu sentia cada parte do seu corpo encostado ao meu – Você e eu somos destinados. Não existe mulher mais perfeita do que você.

Vi quando ela prendeu a respiração e engoliu seco.

A música continuava, e nossas pernas se moviam numa sincronia perfeita. Éramos a atração da festa.

– Não estou brincando. Isto deve ser um erro.

Tá, isso machucou.

– Não diga besteira – respondi a ela sério – Isso aqui é bem sério, não há erros.

Seu lábio inferior tremeu. Ela se segurava para não chorar.

O que estava acontecendo?

Estreitei meus olhos e intensifiquei meu olhar. Eu precisava compreendê-la.

– Você é tão... – ela deixou a frase no ar.

– Tão...? – incentivei-a.

– Lindo. – soltou num suspiro.

Eu sorri de canto.

– E você é a síntese de tudo que há de belo neste mundo.

Eu sentia seu coração retumbar contra meu peito. Ela estava nervosa.

A música foi diminuindo aos poucos, até que parou.

Ela e eu paramos ao mesmo tempo que a última nota, e os aplausos explodiram ao nosso redor.

Afastei-me dela e peguei sua mão, dando um aperto firme.

Meus olhos estavam fincados aos seus.

– Você ainda não me disse seu nome.

Sua expressão era séria, quase fria.

– Coronel Uchiha é o que precisa saber.

Ela estava assustada, estava me rejeitando. Aquela realidade me atingiu como um soco, e eu tive vontade de berrar de dor, mas me controlei.

Eu precisava respeitar o tempo dela. O que quer que a deixasse assim, com certeza era algo grande com o qual ela precisava lidar.

Talvez estivesse ligado ao fato do porquê ela não estar com sua família, na Ásia, ao inés de estar há 12 anos servindo ao Exército do Grande Conselho.

Com uma leve reverência, depositei um beijo casto em sua mão. A respiração dela vacilou, e ouvi seu coração falhar uma batida.

– Não pense que vai fugir de mim – sussurrei baixo.

Após o beijo, me levantei. Ela também me fez uma leve reverência, finalizando de vez a dança.

Desfiz a bolha que nos envolvia.

Eu não sabia o porquê de sua rejeição, mas com certeza descobriria.

Essa mulher não me escapa de jeito nenhum.



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