História A História de uma Filha de Atena - Brigo com um garoto gótico (Luísa)

‘Os ecos sumiram do corredor

Mas ainda me lembro da dor de dezembro’.

Let Me Go – Avril Lavigne

Acordei entusiasmada. Esperei esse evento por dois logos anos: a Bienal do Livro!

Meu quarto (na verdade meu e da Emma) era simples, mas confortável.

A parede direita que era meu lado tinha uma pintura branca com vários desenhos na parede, minha cama, duas prateleiras, uma escrivaninha e um guarda roupa de jacarandá. Havia alguns quadros pendurados nas paredes, algumas replicas do Salvador Dalí (A Persistência da Memória e Ovo Cósmico), um pôster do Manuel Neuer e outro do Linkin Park.

Na parede do meio havia uma janela media de vidro límpido com uma cortina cinza clara.

Do lado da Emma a pintura era azul clara com vários pôsteres do Robert Pattinson e do Taylor Lautner, sua cama, guarda roupa e escrivaninha. Alguns desenhos de animais marinhos em preto deixavam a parede muito parecida com o mar.

- Emma... Acorda – sussurrei em seu ouvido e a sacudi de leve para acordá-la.

- Só mais cinco minutos... – ela murmurou com o travesseiro na cara.

- Acorda logo! – gritei a sacudindo rápido – já vou indo! Thau!

Abri a porta correndo. Emma levantou um pouco atordoada, mas ao me ver na porta jogou um travesseiro em mim. Peguei o travesseiro no ar e o joguei de volta.

- Precisa me acordar gritando? – minha amiga resmungou.

- Precisa quando você demora e hoje é Bienal do Livro – falei pegando uma toalha no guarda roupa – eu tomo banho primeiro. Arrumou suas coisas?

- Já. Que atrações vão ter hoje? – Emma perguntou procurando suas roupas.

- Não lembro. Olhe na internet – respondi pegando minhas roupas e minha bolsa.

Fui até o banheiro, que ficava no fim do corredor do primeiro andar.

Tomei um banho quente para espantar o sono. Vesti uma calça jeans azul escura, blusa branca do Star Wars, jaqueta de couro marrom e sapatilha preta básica. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto com alguns fios da frente soltos. Coloquei os brincos prateados com algumas pedras em forma de argolas pequenas, anéis solitários prateados com uma pedra branca e pulseiras gringos prateadas. Peguei minha bolsa preta transversal pequena que tinha dinheiro, bilhete, chaves de casa, néctar, ambrosia, as jóias de âmbar que meu pai havia me dado de presente, estojo e agenda. Escondi minha faca por baixo das roupas, por garantia.

Sai do banheiro e já fui direto pra cozinha.

         Comi pão de queijo e tomei suco de manga.

         Peguei minha faca que estava escondida debaixo das roupas. A lamina metade bronze celestial e metade prata pura reluzia.

         É uma linda faca. Letal tanto para monstros quanto mortais. Você, Luisa, possui um dom muito raro. Além de você, somente seu pai possuiu essa habilidade. Use a seu favor. Mostre do que é capaz.

         As palavras de Luke Castellan ao me entregar a faca rondavam a minha mente. Seu rosto abatido com a cicatriz de garra de dragão, os cabelos cor de areia e expressão determinada eram suas marcas registradas. Era o principal servo de Cronos.

Ele havia me capturado aos oito anos quando vagava pelo Labirinto de Dédalo. Fui obrigada a participar do exercito do Rei Titã. Passei dois anos treinando duro, sendo humilhada pelos mais velhos, longe de casa, sem ninguém, sendo usada como uma arma...

Segurei as lágrimas. Eu não vou chorar. Isso é passado. Já passou. Não importa mais.

- O que aconteceu?

Estava tão distraída que não percebi Emma chegando, comendo torradas com café e me cutucando.

Ela estava linda, com uma calça justa azul clara, blusa preta de manga caída escrito TIME TO SHINE em amarelo e jaqueta de couro azul escura. Calçava um All Star branco com listras pretas. Seus cabelos negros cacheados como ondas do mar eram curtos, na altura dos ombros. As mechas vermelhas davam um toque de personalidade.

- Nada – falei guardando a faca – não percebi você chegando. Está pronta?

- Não tente mudar de assunto – Emma disse se sentando à minha frente – eu vi o jeito que olhava pra faca. É o seu pai, não é?

Lá vem aquele interrogatório chato.

- Em partes. Não quero falar disso – respondi tomando um gole de suco.

- Será que vai ter algum cosplay bem gato por lá? Porque a edição passada teve um bem lindo de Itachi Uchiha... – minha amiga fez uma cara sonhadora, me fazendo revirar os olhos. Ao ver minha cara de desinteresse deu um sorriso – cadê o animo? Vai que aparece um cara tipo o Neuer pra você!

- A ideia não é ruim – falei me levantando e pegando as chaves da bolsa – vamos logo, esperei dois anos por esse dia!

***

Depois de pegar um ônibus até o metrô, descermos na estação Barra Funda e pegarmos um ônibus até o Anhembi finalmente chegamos na Bienal. Ficamos o caminho inteiro conversando, rindo e cantando.

A fila da entrada estava absurdamente enorme.

- Por onde começamos? – perguntei entusiasmada após passarmos as catracas.

- Que tal pela Panini? – Emma respondeu olhando ao redor.

- Anda logo! – disse a puxando pelo braço para o stand mais próximo.

Andamos por vários stands. Alguns estavam hiper lotados, que mal se conseguia andar direito.

Quando eu estava saindo do stand da Saraiva, acabei sendo empurrada por alguém atrás de mim. Sem querer, a pessoa que estava a minha frente acabou sendo empurrada com tudo pra frente.

- Desculpe – disse pegando minhas sacolas que caíram no chão.

- Cuidado para não matar alguém, desastrada! – o garoto disse grosso em inglês. Ao levantar os olhos notei sua pele bem pálida, escondida pela jaqueta de aviador. Seus cabelos negros caiam por cima dos olhos, parecendo uma cortina. Era dois anos mais velho que eu e bem alto e forte.

- Eu já falei que foi um acidente seu grosso – retruquei em inglês. Paciência não é uma das minhas virtudes. Aliás, a falta dela é um dos meus defeitos – ou acha que te empurrei por ter vontade?

- Vai saber! Quem sabe você não queria dar em cima de mim? – ele disse debochado cruzando os braços.

- Escuta aqui Cara Pálida – me aproximei um pouco mais. Perdi o restante da paciência que tinha. Quem ele pensa que é pra me chamar de atirada? – pode ir tirando essa altivez toda que você nem me conhece. E não sou nenhuma das... – ia continuar, mas Emma acenou de longe pra mim.

Apenas peguei minhas sacolas e andei na direção de Emma. Ela havia ido em outro stand não muito longe.

- O que aconteceu? – ela perguntou enquanto andávamos para a praça de alimentação.

- Um grosso e mal-educado não aceitou minhas desculpas por empurrá-lo por acidente – respondi brava.

- Eu vi um Trooper por ali - minha amiga apontou para a esquerda – e um cosplay de Luke Skywalker!

- Eu tenho que tirar uma foto com eles! – falei andando ate o stand onde haviam uns caras fantasiados de Trooper.

Aquele garoto pálido se acha demais. Quem ele pensa que é? Ninguém nesse mundo me chama de atirada!

Afastei esses pensamentos da mente. Mas ao vê-lo tive um mau pressentimento, de que algo daria errado.