História A Hogwarts de Meghan 2 - O Baile - parte 2

Pov. Meghan 

Entramos. Em fila e braços enlaçados com os parceiros.

A primeira coisa que notei foi a decoração. O toque de Victorie era claro no lugar. O salão estava decorado em branco gelo e as cores das casas de Hogwarts. Com mesas espalhadas organizadamente de cada lado, e cadeiras enfileiradas mais à frente. Seguimos para elas.

No caminho encontrei alguns rostos conhecidos. Hagrid sorria orgulhoso para mim conforme passava por ele. Os membros família de Rose estavam reunidos no lado esquerdo do salão, praticamente tomando a maioria das mesas. 

Os professores estavam numa mesa mais à frente, sentados todos juntos, vestindo suas melhores vestes.

O resto dos convidados estava espalhado pelo salão, todos de pé, para nos observar. As roupas chiques e joias que alguns levavam me fizeram pensar em quanto teriam em suas carteiras ou nos saldos bancários. Tirei isso da cabeça, lembrando que aquele não era o lugar nem a hora pra aquilo.

Dominique olhava para a procissão com a cara fechada. Inveja, pensei. Som de violino reberverava o ambiente enquanto andávamos pelo corredor de piso espelhado.

Fred e Roxanne estavam em uma mesa junto aos pais. Encontrei Rose em pé com as mãos cruzadas embaixo do queixo, os olhos brilhando. Sensível extremista. Sorri para ela. Olhei para o lado e meu sorriso se foi. Quase parava de andar, se não fosse por meu autocontrole.

Por alguma razão do destino, no mesmo lugar em que estava Rose e sua família, a mesa dos Weasley-Potter estava acoplada. Sem querer fixei meus olhos em James, ao lado do senhor Potter.

Ele estava... perfeito. De terno preto e cabelo arrumado. Tudo parecia combinar perfeitamente com ele. Se eu fosse uma daquelas garotas românticas até o chamaria de príncipe.

Ele me olhou sério, apenas por alguns segundos, então virou o rosto e começou a conversar com o pai. Aquilo mexeu com alguma coisa dentro de mim. Mas lembrei da nossa conversa. Ele disse que tinha desistido de mim. Cansado daquilo. Talvez fosse verdade.

Chegamos até as cadeiras e tomamos nossos lugares. Victorie sentou-se ao meu lado e esperamos a diretora aparecer.

Havia um palanque em frente aonde estávamos. A diretora Mcgonagall subiu as escadas na lateral do palco e se posicionou de frente à todos. Os convidados sentaram-se e ela ergueu as mãos em um pedido de silêncio.

- Obrigada à todos que vieram prestigiar esse dia. É com muita honra que a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts encerra, nesta noite, a jornada desses jovens aqui presentes. - todos estavam atentos. A voz da diretora ecoava pelo espaço. - Mas isso não é o fim. - uma pausa. -  A partir de agora vocês vão enfrentar um novo mundo. Alguns já sabem os caminhos que vão trilhar, outros ainda não fazem ideia do que fazer. Mas é disso que se trata a vida. De errar e acertar. De escolhas. De viver.

Olhei para trás e vi Hagrid atencioso ao discurso. Contra meus instintos, olhei para a mesa de Rose, mais especificamente para James, ao lado do irmão Alvo. Virei para frente em alguns segundos.

Se fosse em outra época, ele estaria olhando para mim. Sorrindo. Ou até zoando com a minha cara. Mas... ele ouvia a diretora como se ela fosse a coisa mais legal que existia naquele salão.

Ele realmente falou sério no dia anterior? Não iria mais insistir? Sem mais provocações? Ou brigas ou discussões? Eu deveria me importar? Eu deveria ligar pra aquilo? Eu fiz isso acontecer. Eu quem disse que iria embora e não podia ter nada com ele. Eu quem negou e rejeitou todas as aproximações dele. Eu quem estragara o que tínhamos.

E agora, eu queria me sentir horrível por isso. Mas...

O arrependimento beirava a querer aparecer. O afoguei no amargo do meu autocontrole, e me concentrei no que tinha à minha frente.

"Você pediu por isso Meghan. Só mais um pouco e você estará livre", ressoava na minha mente. "É melhor que seja assim."

- ... e agora. - continuou a diretora. - Quero anunciar à todos. A turma de formandos da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts!

Levantamos todos juntos e jogamos os chapéus para cima. A animação era evidente. A gritaria e os aplausos também. Eles também tinham motivos para quererem terminar a escola, só eram um pouco diferentes dos meus. Os familiares gritavam os nomes dos seus filhos e parentes que se formavam. Escutei Hagrid ecoar o meu e do Victorie várias vezes.

Victorie me abraçou animada. A agitação naquela área estava quase derrubando as cadeiras. Eu estava feliz. Isso tinha que confessar. Aquilo estava acabando.

- Pessoal. Pessoal. - chamou a diretora. Aos poucos o silêncio voltou, mas permanecemos em pé, para o que viria a seguir. Victorie abraçada à Teddy. Eu parada esperando o anúncio. - Peço que nossos formandos se retirem para se preparar. E, aos senhores, que dêem espaço. A primeira valsa será realizada dentro de alguns minutos.

Dito isto, começamos a sair pelas portas nas laterais. Antes de ir, sentir como se algo estivesse fixado em minhas costas. Virei, a tempo de ver James virar o rosto, que olhava para mim alguns segundos atrás.

Não sei porque. Não queria isso. Não precisava disso agora. Mas, sorri com aquilo. Um sorriso de algo que eu não sabia explicar. E então, me juntei à massa que ia se aprontar para a dança.

~

Pov. Autora

James tentou. E tentava, desde o momento em que ela surgiu na porta do salão, logo atrás de Victorie, acompanhada de um cara que ele não conhecia. Talvez por não ser tão importante. 

Ele tentou não olhá-la. Tentou não prestar atenção ao quanto ela estava linda, mesmo que estivesse com as mesmas vestes pretas dos outros. Ela conseguia fisgar sua atenção em segundos, e não precisava falar nada, fazer nada, só o fato dela está ali o tentava...

Mas ele não iria se humilhar. Não dessa vez. Não novamente. Ele havia cansado de ficar correndo atrás dela toda vez em que ela se via em problemas ou em alguma situação de risco.

A última chance deles se resolverem fora naquela torre, mas ela deixara bem claro o que pensava e o que queria de verdade. O fato dela mexer com ele não mudaria os fatos reais. Ele não iria mais implorar por atenção. Não. Ele tinha cansado.

Mesmo assim, quando ele a viu comemorando com os outros. Tão alegre vendo suas últimas horas em Hogwarts passarem tão rapidamente... Ele não pôde deixar de olhar. 

Olhar para aquela garota que chegou na escola e, em algum momento, começou a fazer parte da sua vida. Ele fizera muitas coisas por ela, não esperava receber por isso. Fizera tudo aquilo porque quis, porque sentiu vontade de fazer algo que não fosse estúpido como a maioria das pessoas achava que ele agia.

Fizera aquilo porque gostava da garota logo à frente. Abraçada à sua prima. Ele virou o rosto antes que ela percebesse o que estava fazendo.

Mas, ele não sabia como. Mas sabia que aquilo era um sorriso. E, ele se xingou mentalmente, aquilo fez um calor subir pelo seu corpo. Ele podia sentir as bochechas quentes.

Queria esquecer aquilo. Ele era James Sirius Potter. Mas, então, as cornetas tocaram. A atenção de todos se voltou para o grande espaço aberto no meio do salão.

Eles entraram. Meghan entrou. E o mundo de James virou de ponta cabeça.

~

Pov. Meghan

Encontrei o olhar de James, antes mesmo de pisar no salão. Ele me olhava com tal intensidade e surpresa que quase me fez querer ir até lá e lhe bater.

Sorri internamente com a ideia.

Nos posicionamos no centro do salão. Três toques do maestro, que se encontrava no canto do salão com os músicos. E a música começou.

Leve como uma pluma, me deixei levar pela melodia. Lembrando dos passos que ensaiara com James. Lembrei-me dos momentos que passamos juntos ensaiando naquela torre.

Lembrei das nossas conversas e brigas frequentes. Balancei a cabeça, borrando as imagens.

Meu parceiro não estava muito contente com a dança. O sentimento era mútuo. Mas ele fazia bem seu papel.

Mais alguns passos, e nos separamos. Nos alinhamos em uma formação ensaiada, e nos curvamos para a plateia.

Palmas e mais palmas foram ouvidas. Gritaria exasperada também. A diretora deu sinal, e os instrumentos clássicos foram substituídos por algo mais atual. Os músicos começaram a tocar uma música agitada, e as pessoas se juntaram ao embalo. Fiquei cercada pelos corpos em movimento. Aproveitei o momento para me misturar à multidão, e saí me camuflando sem que ninguém percebesse.

Contornei o salão, me misturando às sombras, para que não me vissem. Olhei uma última vez para Victorie dançando com Teddy no meio da multidão; para Rose, junto de Alvo, procurando por algo, talvez por mim.

Suspirei, da porta de saída, vendo Hagrid feliz conversando com os pais de Rose. Me recusei olhar para James. Não queria vê-lo. Não agora que estava tão perto...

Ninguém me viu. Ninguém se deu conta. Nem ao menos percebeu. Quando eu pisei para fora do salão, dando as costas para aquele mundo.

Já estava no corredor, quando parei de andar, à tempo de não me bater com alguém.

- Já vai tão cedo? - ergui os olhos para quem havia feito a pergunta. Vesti a máscara de neutralidade ao dá de cara com o senhor Potter.

- O que posso dizer? - falei calma. - Tenho compromissos mais importantes.

Ele sorriu divertido.

- O que seria mais importante que sua formatura? Vai roubar um banco? 

Eu sabia que era uma brincadeira, mesmo assim, falei indiferente:

- Talvez sim, talvez não. Um ladrão que se preze nunca revela seus planos.

Ele gargalhou um pouco, depois ficou sério.

- Parabéns pela formatura. - disse sorrindo, assenti agradecendo.

Ele olhou ao redor. O corredor iluminado, vazio.

- Melhor voltar pro baile Meghan, ou seu padrinho pode ficar preocupado.

Mesmo que não fosse preciso, sorri pro homem que havia me ajudado em um momento da minha miserável vida.

- Claro, senhor Potter. - falei. A mentira dançando na minha língua. - Vou pegar uma coisa no dormitório e já volto.

Ele apertou meu ombro carinhosamente, e caminhou na direção que eu tinha vindo. Não me deixei relaxar, não até que estivesse longe dali.

Desci escadas e subi degraus, até chegar no dormitório da Grifinória. Falei a senha apressadamente, quando o quadro se abriu, fui logo subindo as escadas.

Com o quarto vazio, fui logo na direção da cama. Me ajoelhei no chão, e puxei as bolsas com roupas, que eu havia feito ontem, logo depois de conversar com Hagrid. Tirei os saltos, dei um jeito de achar minhas botinas, e vesti um casaco.

Coloquei uma das alças da mochila no ombro, e segurei a bolsa preta de viagem com uma das mãos. Não olhei pra trás quando saí do quarto, desci as escadas e saí do dormitório. Não virei para ver, nem uma única vez, quando saí do castelo em direção à cabana de Hagrid.

Entrei na casa e fui recebida por Canino. Acareciei sua cabeça o bastante para que ele fosse para o canto e me deixasse trabalhar. Busquei a mochila pelo local. A encontrei encostada no mesmo lugar de antes, a peguei sem pensar muito e saí da casa em direção à parte de trás dela.

Uma surpresa esperava por mim ali. Eu já havia pedido a Hagrid há algumas semanas. Na verdade, desde que eu chegara a Hogwarts arranjava sempre um jeito de pôr o assunto nas nossas conversas. Com um não como resposta, sempre.

Até que, semana passada, enquanto estava fazendo compras com as meninas, me separei delas por algumas horas quando vi aquela belezura na vitrine.

A confeccionária não podia entregar em Hogwarts. Então tive que contar a Hagrid, que quase me matou de sermões e lições de moral. Mas pro que estava feito não havia volta.

Admirei a motocicleta, preta como a noite. Escolhi essa cor porque seria mais fácil de me camuflar no céu escuro. Parecia uma Yamaha MT-09, mas com um toque adicional. Hagrid me havia explicado o feitiço e eu havia posto na noite passada, quando soube que ela chegara. Bem à tempo.

Pus as bolsas no chão e tirei minha varinha da mochila. Um simples feitiço. Que eu já estava tão acostumada que podia chamá-lo de meu. As bolsas encolheram. Abri o bagageiro da moto e as joguei lá dentro.

Tudo pronto. 

Soltei um suspiro longo e demorado. Era a hora.

Olhei para casa de Hagrid uma última vez. Sentiria falta do lugar, mas podia visitá-lo quando estivesse pronta. Manteríamos contato, com certeza.

Odiava despedidas, fazia parecer que era um adeus definitivo, por isso resolvi ir embora assim. Hagrid já estava avisado. Só esperava que as meninas não ficassem zangadas.

Me despedi mentalmente de todos. Até mesmo das duas pragas da minha vida naquela escola. E me despedi de James. 

Acho que... se fosse em outra vida, em outra época, com outra história, poderíamos ter dado certo. De algum jeito, eu sempre iria levá-lo comigo.

Levei à mão ao colar no meu pescoço. A fotografia dos meus enfeitava seu interior. Encontrei ar no lugar.

Olhei para onde ele devia estar. Vazio. 

Como eu não tinha percebido? Quando ele havia caído? Bati na minha testa em repreenda.

- Droga. - chiei baixinho.

Olhei na direção do castelo. Olhei para moto para à minha frente. Um passo para a liberdade.

O colar fora um presente. Mas o mais importante estava dentro.

- Tsc.

Me xinguei mentalmente já virando para correr. Com a varinha em mãos e o vestido longo contra o corpo pelo vento frio.

Cheguei até a base da entrada e ouvi passos. Me escondi atrás de uma das pilastras e esperei até que eles passassem. "Parece que a festa não está tão boa". Os convidados se foram. Eram três no total. Uma família, observei. 

Esperei mais alguns segundos e corri até a porta. Entrei no saguão principal e escorreguei para atrás da escada. 

O mais provável era o colar ter caído no caminho para o dormitório, ou até mesmo nele. Teria que refazer meu caminho até encontrá-lo. Mas não queria esbarrar com ninguém conhecido. Não queria ter que dar explicações.

Olhei para o teto alto. Estralei o pescoço e respirei fundo. Teria que fazer o que um ladrão faz de melhor, improvisar.

~

Pov. Autora

James estava ficando louco. Ele acabara de dispensar uma lufana daquelas, tudo porquê tinha visto o rosto dela ao invés do da garota. Ele até procurou Fred, mas ele estava muito ocupado com uma colega de time para prestar atenção à James.

Então ele vagueou sozinho pelos corredores de Hogwarts. A agitação da festa o animara até que seu pai chegou avisando que tinha se encontrado com Meghan, foi o bastante para sua mãe começar um discurso sobre como aquela menina era errada. Então ele se retirou junto de Fred, antes que falasse algo que o fizesse ficar de castigo pela eternidade.

Ele lembrou do que a garota disse. 

Depois da formatura.

James suspirou. As mãos nos bolsos. E continuou o caminho sem rumo... Ele sentiu algo sob o pé esquerdo. Estava no corredor aberto ao gramado, percebeu. A luz da lua clareou a imagem quando ele retirou o pé do objeto.

Ele abaixou e pegou a corrente com uma das mãos. O pingente pendia, reluzindo pela luz branca. Meghan. 

Ele olhou ao redor para ver se encontrava alguém. Ela já deve está bem longe, pensou. Levantou-se e mirou o colar por mais um tempo. Ele havia dado à garota no natal passado, quando ela ficou de hóspede na sua casa. 

Ele o vira no pescoço dela algumas vezes, nos últimos dias, mas nunca comentara. Ele teria caído ou ela teria se livrado dele? Era bem a cara dela fazer o último. Para não atrapalhar a missão, era o que ela costumava dizer.

O pingente tinha um encaixe. Ele não estava ligando muito pra privacidade quando o abriu. Estava cansado demais para aquilo.

James olhou a foto dos pais da garota. Ela se parecia com a mãe. Eles eram novos, percebera. Meghan nunca falava da morte deles. Eles só conversaram sobre eles seriamente uma vez, lembrou ele.

Ele encaixou as partes e guardou no bolso do smoking. Então deu o primeiro passo... um baque. Alto e surdo. Ele congelou no lugar.

Ao virar devagar, ele se deparou com Meghan agachada no chão, as mãos apoiadas no piso lhe dando equilíbrio conforme ela se levantava, com a graça de um felino, e tirava a poeira do corpo.

O cabelo, antes, perfeitamente arrumado, estava uma bagunça solta, descendo até um pouco abaixo dos ombros. Havia crescido. De vestido de baile, botinas e casaco preto, ela virou para James. O olhar misturava surpresa à outra coisa que ele não conseguiu ler.

Então ele percebeu uma coisa. Ele olhou para cima. Para as vigas do teto alto do castelo. Ela deve ter percebido, mas não disse nada. No entanto, James falou, com a voz exasperada pelo susto.

- Você é louca.

O sorriso dela em resposta disse tudo.