História A Ilha do Lobo. - Recuperação e superação.

Um som ritmado enchia o ambiente calmo, ele o ouvia perfeitamente, mas não conseguia entender, era como estar mergulhado em águas mornas e tranquilas e sentir-se tão aquecido e bem que não havia necessidade de abrir os olhos, mas mesmo assim ele queria ver o sol, ouvir o vento e descobrir o que era esse som tão agradável.

Pouco a pouco seus sentidos embotados foram voltando e Louis conseguiu se dar conta de sua própria existência, sabia agora que precisava abrir os olhos, seus esforços pareciam em vão, então ele seguiu o som ritmado, forte e conhecido, ele o seguiu e percebeu rapidamente...O som do coração.

Assim que isso ficou claro ele abriu os olhos e viu o sorriso aberto e satisfeito de Gael, sentiu o calor de suas mãos grandes e fortes a segurar seus dedos gelados e pode perceber que esse era o som que o guiava, era Gael.

-Oi meu pequeno lobo lindo.

Louis suspirou e piscou os olhos ligeiramente doloridos algumas vezes e então as lembranças vieram como cascata, todas as imagens da terrível luta entre eles e o demônio e é claro sua transformação em lobo.

-Ele sumiu? Perguntou com a voz muito rouca e assustada.

Gael concordou.

-Nós acabamos com ele, deve ter morrido ou pode somente ter ficado preso naquela dimensão horrível, mas ele nunca mais deve voltar, estamos todos seguros agora.

Louis queria saltar e abraçar o homem, mas seu corpo ainda estava dolorido e mole, como ficava após dias de privação e fome e ele sabia bem o que era isso.

Gael como podia sentir perfeitamente o que seu amado sentia o abraçou e acariciou seus cabelos.

-Logo se sentirá melhor, somos lobos e nossa recuperação é rápida, um pouco de sol e da vida que vem lá de fora e seu forte sangue vai agir muito mais terminando o serviço dos médicos.

Dizendo isso o forte homem lobo o pegou nos braços e saiu pelo corredor do hospital e então Louis viu como a guerra havia sido terrível, mas ficou mais tranquilo ao perceber que todos estavam sendo tratados.

-Está bem cheio não é? E os outros como estão?

Gael sorriu enquanto seus braços o seguravam com carinho.

-Owen e Eloim ainda dormem, o rei está dando nos nervos de Sunan e Dana ainda está em cirurgia, mas apesar de tudo estamos todos bem...E eu sei que Allan vai se gabar de sua cicatriz por décadas.

Louis suspirou, ele entendia que Gael estava amenizando tudo, mas sentia que isso era bom, ainda estava sensível e cansado e considerando todas as coisas que passou em sua curta vida era bom ter alguém que se preocupava em poupa-lo para variar, ele sentia que era uma forma de protege-lo e isso era bom. Recostou a cabeça no peito do homem e se deixou ser levado para o sol de uma jardim repleto de flores...

-Eu me transformei. Disse bem baixinho, talvez mais para si mesmo do que para Gael, mas claro que ele o ouviu.

-Sim, e eu senti um enorme orgulho de você e naquele momento eu soube que precisava lutar com mais força e garra do que antes porque eu tinha você ao meu lado, que venceu tantos obstáculos e ainda lutava, tentando a todo custo me ajudar, quando senti o seu coração de lobo batendo junto ao meu fiquei novamente energizado, eu sentia a energia correr loucamente em minhas veias, foi incrível.

Louis corou, mas ele havia sentido o mesmo, a energia desconhecida para ele o tomou naquele momento durante a luta e seus instintos tomaram o controle, foi libertador e assustador, mas mesmo assim ele gostou muito.

-Acha que eu vou conseguir me transformar de novo? Sem que nosso mundo esteja claramente ameaçado?

Gael riu e o apertou carinhosamente nos braços.

-Claro que sim...Mas não agora, só precisa se recuperar e nada mais.

Louis suspirou e se deixou levar...

Ele sabia que apesar de tudo que haviam passado ainda existiam problemas bem reais para serem enfrentados, depois do demônio inumano ele teria que enfrentar um demônio bem humano que neste momento devia estar ardendo em fúria preso ainda na delegacia, mas isso era algo para quando estivesse recuperado, ele agora sabia que não estava sozinho, ele tinha uma família e o homem que amava estava ali para protege-lo, além disso ele mesmo podia se defender, era definitivamente um homem lobo.

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Na delegacia um homem gritava tomado de fúria quase assassina, faziam dois dias que estava naquele buraco, se sentia sujo, enojado e louco para acabar com esses policiais de cidade pequena, planejava todo tipo de retaliação, desde de mandar todos para a rua até mesmo contratar pessoas para dar uma surra em cada um deles e em especial naquela delegada dos infernos.

-Eu quero usar o telefone!! Gritou pela décima vez a um garoto que não devia ter mais do que quinze anos e que estava muito ocupado com um joguinho no celular.

Com raiva e ciente de que o moleque não o ouvia pois usava fones o homem lhe arremessou a caneca de água pelas grades velhas da cela, não acertou em cheio mas pegou na cadeira e a água se espalhou na roupa do pivete.

-Eu tenho o direito de usar o telefone!! E quando eu sair daqui eu juro que vou acabar com sua vida de merda seu pivete!! Como ousam deixar uma criança tomando conta de uma delegacia? Isso é um completo absurdo!!

O garoto resmungou algo por ter sido molhado e desligou o celular o colocando na mesa da delegada, depois olhou para o homem de aparência desgrenhada dentro da cela e a comida intocada que lhe havia sido servida a quase duas horas.

-Não gostou da comida? Veio da cafeteria, deveria aproveitar, eu duvido que receba coisas tão gostosas na penitenciária.

Kaleb riu de modo desdenhoso.

-Eu já disse que vou acabar com você e com todos nessa cidadezinha esquecida?

O garoto suspirou.

-Os telefones não funcionam, tivemos problemas sérios na ilha e por isso estamos sem comunicação com o continente, sugiro que coma a sua comida e depois o Rob deve lhe acompanhar ao banheiro para o senhor tomar um banho e se barbear, talvez amanhã a delegada volte e possa lhe explicar melhor e esse negócio de acabar com a gente eu duvido muito...Mas vai sonhando tio.

Kaleb rugiu e começou a jogar a comida pelas grades, ele parecia enlouquecido, isso teria divertido o jovenzinho se ele não fosse responsável pela limpeza da cela depois, mas por enquanto ele achou que era melhor deixar esse cara metido a idiota ficar no meio da sua própria bagunça, ele achou que era melhor também comer o próximo lanche que deveria entregar para esse cara porque era desperdício jogar comida fora assim, ainda mais uma comida tão boa! E ser um menino lobo certamente lhe dava uma fome fora do comum, sua fase de crescimento era mais intensa do que dos humanos comuns, ou era isso ou ele tinha mesmo um buraco negro no estomago como sua mãe sempre lhe dizia.

Pegou seus fones e sentou mais longe da cela, jogou suas pernas para o alto na cadeira de encosto macio e voltou ao seu jogo ignorando os gritos do infeliz mal educado preso na cela, só lamentava ter que arrumar a bagunça depois, mas o subdelegado iria ficar zangado se ele não fizesse isso, por tanto...Paciência.

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Sunan sorriu quando Allan mesmo com o braço enfaixado abriu a porta da cafeteria para ele, era uma gesto de carinho que ele sempre amou no marido, sua atenção e sua gentileza.

-Lana! Wendy!! Disse Allan acenando para as duas que vieram rapidamente e abraçaram os dois.

Lana tinha alguns cortes visíveis nos braços e Wendy alguns arranhões.

Sunan tocou os arranhões no rosto da garota e suspirou.

-Vou fazer um unguento que pode amenizar essas marcas, não se preocupe.

Wendy sorriu.

-Eu me arranhei enquanto corria pela campina, não me feri na luta, vai ficar tudo bem.

Lana acariciou os cabelos da menina.

-Ela foi tão valente!! Ajudou a resgatar Dana e depois ajudou a Molly a arrastar os feridos no campo de batalha.

Allan sorriu para a menina.

-Você é uma humana valente como meu Sunan, é especial.

Mas querendo mudar de assunto Lana fez os dois se sentarem e foi lhes servir um café com bolinhos, que era o favorito deles desde de sempre, depois de servir mais algumas mesas ela se sentou com eles e pegou um chá para si mesma.

-Bem, de uma olhada em volta...Como vamos voltar a normalidade depois disso?

Só então os dois se deram conta...Elfos tomavam chá e híbridos comiam bolinhos, a cafeteria estava cheia.

Sunan coçou a cabeça sem resposta para isso.

-Bem, se eles decidirem ficar ou se decidirem nos visitar sempre podemos dizer que usam cosplay, os turistas adoram isso não é? Afinal orelhas pontudas e olhos violetas podem ser comprados pela internet.

Como era realmente uma boa ideia todos sorriram, sua ilha sempre foi diferente, porque não podiam mante-la assim? Um refúgio seguro para as diversidades? As várias espécies convivendo pacificamente? Os turistas que vinham ali não eram muitos e certamente iriam achar mesmo que todas aquelas pessoas usavam algum tipo de fantasia.

Allan sorriu.

-Todo o mundo deveria ser assim, podemos começar por aqui, o que acham?

Wendy, Lana e Sunan sorriram também.

-Porque não? Elas responderam juntas, afinal o mundo está mudando.