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História A Ilha do Lobo. - Gael.


Escrita por: akirasam946

Notas do Autor


Segundo capítulo e eu apresento Gael, espero que gostem dele.

Capítulo 3 - Gael.


Fanfic / Fanfiction A Ilha do Lobo. - Gael.

Gael.

 

Nesta manhã um sonho estranho havia despertado Gael, um daqueles sonhos que no momento em que está acontecendo temos a certeza de ser a mais pura verdade e por isso mesmo é tão impactante e dolorido.

Em seu sonho ele caminhava numa rua deserta de uma cidade chique e bela com luzes nas ruas e casas gigantescas com carros de luxo, no final desta rua ele parou em frente a uma casa branca, a última casa da rua e a mais afastada de todas, com sua fachada dando direto para o mar que ele podia ver claramente, no sonho até mesmo sentia o cheiro da maresia, talvez fosse alguma cidade da Califórnia, mas não sabia, foi quando ele viu uma pequena sombra que saiu da casa e correu pelas areias finas saltando no mar e desaparecendo de vista, logo em seguida um homem saiu correndo ainda descalço e gritando a plenos pulmões, parecia extremamente zangado ou nervoso.

Observando a violência com que as ondas batiam na praia e o fato de que ainda era noite no sonho Gael concluiu que essa pessoa desconhecida que correu para os braços do mar desejava morrer e isso o encheu de um medo irracional, tão irracional que o fez correr e ultrapassar o homem gritando e saltar para o frio abraço das ondas espumadas para salvar esse desconhecido, e foi apenas isso...Ele acordou.

Passou os dedos nos cabelos ao sentar abruptamente na cama e percebeu que estava suando, trêmulo e confuso, irritado por ter ficado assim por um sonho se levantou e analisou sua imagem no espelho do seu banheiro, barba por fazer, olheiras e um leve cansaço, sabia que era a proximidade da lua cheia, faltavam apenas cinco noites e ele sempre sentia bem antes seus efeitos, as vezes agitação e as vezes sonhos premonitórios, não que tivesse sido o caso, afinal ele nunca viu o tal homem que gritava na praia, quanto a sombra que passou correndo não era mais que uma sombra pequena, podia ser uma garota ou uma criança, ele provavelmente nunca saberia.

Depois disso fez a barba, tomou um longo banho e depois se olhou novamente no espelho, parecia bem melhor e mais apresentável.

Lógico que ter um metro e noventa e dois e ter genes poderosos ajuda muito e esse pensamento o fez rir para si mesmo pois o fez lembrar que em seu clã havia um grande defeito, tanto homens como mulheres costumavam ser um pouquinho arrogantes.

Pensou no que vestir, tencionava ir a Dublin para ver como andavam os negócios que tinha por lá, por isso optou por um terno completo de tecido macio e elegante, em um tom de azul profundo, quase negro, uma gravata vermelho queimado e sapatos confortáveis porém modernos e muito bem lustrados, abotoaduras de ouro branco e sua colônia francesa mais apreciada, por fim passou os dedos nos cabelos ainda úmidos e achou que estava bem, no seu dia a dia preferia roupas mais casuais, porém sempre que precisava ir a cidade fora da ilha se vestia mais de acordo com as funções de um empresário de sucesso. Não fazia isso com frequência, apenas uma vez na semana ou quinzenalmente, tudo que precisava podia fazer ali mesmo, todo o conteúdo de seus negócios estava em seu notebook pessoal sobre a mesinha no escritório, mas quando fechava um contrato ou precisava se encontrar com acionistas ou compradores era necessário ir, lógico que ele sempre tomava cuidado para que esses encontros estivessem bem longe da lua cheia, só por precaução, afinal ele sempre teve um instinto afiado e um controle ainda mais intenso, caso ele estivesse fora da ilha embora complicado não seria o fim do mundo, ele podia se controlar.

Uma última olhada em volta antes de pegar o cachecol e o casaco mais quente o fez sorrir.

-Muito bem Merlin, saia da minha cama, eu não me importo em ter um gato dormindo enroscado nos meus lenções, mas preferia que fosse humano, não se ofenda.

O gato elevou as orelhas para ele e depois saltou da cama majestosamente, era um lindo gato grande e negro com impressionantes olhos caramelos, independente como somente os gatos podem ser e igualmente manhoso e egoísta, porém Gael sabia que existia amor verdadeiro no felino para com ele, pois quando se mudou e trouxe o gato para a nova casa, apesar de olhares atentos ele não resmungou e nem tentou voltar para o chalé, embora ocasionalmente desapareça por um dia inteiro e o dono suspeite que ele volta para dormir no sofá velho da antiga casa.

Gael achou divertido que o gato tenha se afeiçoado a ele, afinal gatos e lobos não se dão muito bem, nada bem para ser sincero, mas Merlin não é como os gatos comuns, ele compreende que há mais humanidade no seu dono do que instintos selvagens e ele nunca teve medo, apesar de se ausentar em luas cheias para a o quarto de hóspedes e permanecer por lá a noite.

-Ração senhor Merlin?

O gato chiou irritado e Gael riu alto afagando o pelo do animal bonito.

-Leite fresco?

Desta vez o gato parecia satisfeito e o homem se dirigiu a cozinha e colocou leite em um pires sobre a bancada da cozinha, se sua mãe fosse viva e estivesse ali seria uma briga feia por isso, mas ele não tinha tantos problemas com zelo doméstico quanto sua mãe teve, por isso acariciava o gato enquanto ele bebia seu leite de modo charmoso, depois o viu saltar e ir para o seu canto favorito da sala dormir perto da lareira.

Após colocar comida para seu gato em uma tigela, apesar de saber que ele não gostava muito de ração, ele saiu e fechou a porta, deu uma olhada no jardim e suspirou, precisava arrumar tempo e coragem para mexer ali, havia potencial entre os montinhos de terra e as flores desordenadas, eram tão lindas pela manhã se destacando entre o verde da colina e as borboletas que sobrevoavam o local, mas ele sentia falta de companhia, havia meses desde de a última vez que trouxe alguém ali, e infelizmente não era alguém especial para ele, apenas uma conquista mútua de uma noite de bebedeiras, lógico que a mulher bela e elegante parecia realmente boa o bastante, mas no final era apenas um rosto bonito, não havia paixão nela como não ouve nos outros e ele soube assim como antes que seu segredo não podia ser compartilhado com ela, aliás esse era todo o problema, para alguém como ele ter um relacionamento era preciso mais que confiança, era preciso entrega, pois se um dia ele pudesse confiar e se entregar a alguém de corpo e alma seria preciso contar exatamente quem ele era e isso era algo que nem todos podiam compreender.

Deixando os pensamentos de lado ele entrou em seu carro e dirigiu ao centro da cidade parando perto de sua cafeteria, ter um negócio na ilha era mais que trabalho, era um prazer, ele amava a ilha, dentro do carro ficou ali alguns instantes pensando em nada e depois saiu do carro se dirigindo para dentro, sentiu neste momento algo estranho, seu coração deu uma batida alta, fora do comum e ele levou os dedos ao ponto no peito onde sentiu o entorpecimento.

Se não fosse um homem diferente podia pensar que estaria doente, mas as doenças normais não era uma constante em sua família...genes fortes, muito fortes...E ele entrou na cafeteria ouvindo o sininho da porta que lembrava as asas das fadas em dias de primavera.

Gael tirou o casaco que usava sobre o terno, as luvas e o cachecol que envolvia seu pescoço e descansou numa das poltronas de couro avermelhado do lado de dentro de sua cafeteria, notando a pequena Wendy usando avental e servindo café e pãezinhos a dois clientes, um deles era a delegada e amiga que conversava animada com a mocinha.

-Quando será seu aniversário? Sua mãe pretende fazer aquele bolo de morangos de novo?

-Claro tia Dana, com certeza!

Dana virou para Gael e se levantou indo até ele.

-Sabe que isso é contra a lei? Quantos anos a Wendy tem mesmo? Disse apontando um dedo acusador para o amigo de longa data.

Gael roubou um gole de café da amiga sem nem mesmo se dar ao trabalho de pedir por isso.

-Sua irmã é a culpada, ela deixa essa menina ficar o dia todo lendo lá em cima, que culpa eu tenho?? É praticamente funcionária da loja e claro que da cafeteria também, já estou até pensando em dar férias remuneradas para ela.

-Eu topo!! Gritou Wendy rindo.

Dana e Gael reviraram os olhos divertidos com a menina.

-Onde está a sonsa da minha irmã?

Gael decidiu roubar o café de vez das mãos da amiga e respondeu depois de um gole do líquido quente e saboroso.

-Ela deve ter ido buscar bolinhos congelados no mercado, que Deus nos ajude. Ele disse fazendo uma careta de desagrado.

Dana riu.

-Não, tenho certeza que ela tem bom gosto e deve ter convencido a Molly de fazer alguns...Não me surpreenderia se estivesse agora mesmo voltando com uma caixa ou duas.

Gael suspirou mais contente.

-Precisamos urgente de alguém que saiba cozinhar de novo, a Molly não pode fazer tudo sozinha e mesmo na baixa temporada temos um bom movimento, no entanto nesta ilha não temos muitas opções, estou pensando em ir a Dublin sequestrar alguém, você me prenderia se eu fizesse isso?

Ela deu de ombros.

-Se essa pessoa fizer torta de nozes até ajudo a sequestrar.

Gael sorriu.

-Mulher fora da lei...Nem acredito que é a delegada desta cidade!

Ela lhe mostrou a língua e pegou sua xícara de volta fazendo uma cara de desgosto ao ver que o amigo havia tomado tudo.

O som do sino da porta bateu e Gael viu Lana entrando seguida de um rapaz pequeno, bonito demais para seu próprio bem, sem querer ele o encarou por um segundo, mas o rapaz estava de olhos baixos, parecia cansado, quase exausto para ser mais sincero.

-Gael! Que bom, me diz? Não alugou o chalé né?

Gael negou vendo o jeito meio tímido do rapaz bonito de se aproximar apertando as alças de uma mala de mão velha e tendo os cabelos revoltos pelo vento, cabelos castanhos levemente ruivos numa mistura divina, o cheiro de uma colônia leve roçou o nariz do homem, suave e envolvente assim como o rapaz que ele observava diretamente, tão diretamente que podia ser considerado atentado ao pudor, se ele tivesse algum.

-Não aluguei ainda...Porque?

Lana riu e se sentou empurrando a irmã no ato, que praguejou ruidosamente.

-Hey! Minha bunda é grande demais para este banco, não vou dividi-lo com você!

-Coma menos bolinhos! Decretou Lana.

Dana fez uma careta mais sorriu, elas eram muito parecidas fisicamente, fora o cabelo, de Lana era longo e maravilhoso, como uma artista de cinema americano dos anos 60 e da irmã delegada era curto como dos marujos do cais.

Gael riu, essas duas não eram fáceis, mas ele prestou menos atenção ao ver como o rapaz ainda se mantinha parado ali.

-Este é Louis, ele sabe mexer com a maquina de café e tem interesse no chalé, o que acha?? Podemos contrata-lo?

Gael finalmente parou de encarar diretamente o jovem rapaz, fez seu melhor para manter seu ar de homem civilizado e competente, ordenando aos seus genes de lobo para não farejar o ar em busca de mais aromas, pois era o que ele queria no momento, isso e talvez dar uma lambida na pele clara do pescoço convidativo, mas se controlando divinamente.

-Depende...Sabe cozinhar Louis? Perguntou Gael lhe estendendo a mão, duvidando que esse mocinho pudesse sequer fritar um ovo.

Louis piscou por um momento quando enfim elevou os olhos para o homem que lhe estendia a mão, ele era o tal Gael que a senhora falou, ela não mentiu, era um pedaço de mal caminho, forte, decidido e lindo de morrer, se a família inteira fosse assim certamente eram abençoados pelas fadas.

“Foco, foco, foco, foco...” Pensou Louis estendendo a mão e perdendo o foco ao sentir o calor e força pura dele invadir seu dedos, uma espécie de eletricidade os invadiu aos dois, um choque que os fez romper o contato rapidamente, o coração de Louis galopou como um cavalo selvagem, uma coisa completamente inesperada.

-Ahh eu trabalhei muito com cafeterias e lanchonetes, tenho boas referencias se desejar, sei cozinhar quase todos os pratos de lanchonete, sei preparar lanches e alguns doces de confeitaria, faço bolos também, para aniversários e casamentos e posso começar quando quiser, aceito fazer horas extras e não me importo em trabalhar nos finais de semana. Depois de dizer tudo isso rapidamente Louis achou que falou demais e tratou de fechar a boca irritado consigo mesmo.

Gael riu alto e se levantou de onde estava contornando as duas irmãs que prestavam bastante atenção nele, seu movimento bem como seu tamanho e porte fizeram Louis recuar e apertar mais apertado a alça da mala que ele carregava, pois o homem parecia um predador e ele se sentiu amedrontado, isso não passou despercebido de Gael, mas também não o incomodou, ele sabia que podia ser intimidante devido a suas características únicas, seus genes de lobo podiam ser intimidantes para pessoas mais sensíveis mesmo que elas nem soubessem disso, certamente era o caso deste rapaz.

-Quero ver as referências sim, se puder deixa-las comigo mais tarde eu agradeço, podemos começar amanhã mesmo pela manhã, o que acha? Consegue preparar alguns doces e alguns salgados ou tortas para degustação? Não posso contratar você sem saber que pode realmente fazer o que disse.

Louis concordou, agora de boca bem fechada, mas teve que perguntar tomando cuidado para desta vez falar calmo e pausadamente.

-Posso preparar as degustações aqui?

Gael o olhou mais atentamente, divertindo-se ao notar o completo embaraço dele ao ser analisado e notando o quão bonito eram seus olhos claros, olhos de um verde que pareciam esmeraldas, fascinantes e perigosos, mesmo que o dono dos tais olhos não fizesse ideia disso com certeza.

-Para isso terá que acordar muito cedo, abrimos as sete em ponto todos os dias menos nos feriados.

-Posso fazer isso.

Gael também concordou, depois voltou para o próximo tópico.

-Quantos anos tem?

Louis se sentiu levemente ofendido, será que o homem duvidava de que ele fosse maior de idade? Impossível! Ele podia ser um pouco magro e talvez pequeno, mas não era um adolescente e certamente não se parecia com um, ou pelo menos achava que não.

-Tenho 23.

Gael piscou analisando o jovem, seria verdade? Mas porque mentir não é mesmo? Mesmo assim ele era jovem demais...

-Tudo bem...Onde está ficando no momento? Não o vi na cidade.

Lana deu um tapa na bunda de Gael o que resultou em um olhar severo dele para com ela, olhar que não a intimidou nem por um segundo e fez Dana sorrir discretamente.

-Eu não disse que ele chegou hoje? Respondeu Lana revirando os olhos como se isso fosse algo totalmente obvio.

-Eu pretendia me hospedar em uma pousada ainda hoje, mas depois eu quero alugar uma casa, tenho economias, por isso fui ver a sua casa, mas creio que esteja um pouco acima do meu orçamento, aquele chalé é realmente maravilhoso e fica num local lindo. Respondeu Louis rapidamente.

Gael achou isso muito interessante, podia muito bem usar isso a seu favor, contratar Louis e descontar o aluguel em seu salário, não pretendia cobrar o valor exato da casa, afinal ele não era um mercenário e para ser bem sincero não precisava de mais dinheiro do que tinha, manter a casa alugada era melhor do que a ver fechada e ele teria sossego sabendo que a sua casa estaria sendo bem cuidada, supondo que esse rapaz cuidaria dela, considerou que ele poderia ser um estudante de férias e estava apenas passando um tempo ali, de qualquer forma deixar sua casa alugada por umas semanas ou meses lhe pareceu bom o bastante.

-Creio que podemos chegar a um acordo, eu pretendia alugar o chalé para as férias mesmo, mas isso está bem longe, creio que prefiro ver aquela casa habitada supondo que possa cuidar do jardim para mim.

Louis concordou de modo rápido e Gael achou isso bem fofo.

-Mas só falaremos disso se eu gostar do que irá preparar para mim amanhã cedo, por isso creio que precisa de um local para passar a noite.

Louis pensou e se lembrou da pousada que o homem no cais lhe indicou.

-Tem uma pousada na entrada da cidade...Pousada do Lobo, posso ir lá agora e ver um quarto e Lana me disse também que seu irmão mais velho tem uma pousada também, a pousada Fada Azul.

Gael pensou por um momento, não poderia deixar esse jovem inocente sob as garras do dono da pousada do Lobo, era perigoso demais, já não haviam problemas a muitos meses, mas isso não queria dizer que tal homem tenha se emendado, lobos degenerados normalmente não mudam e ele não queria lutar com o infeliz de novo, da última vez quase o matou, o que teria sido um problema.

-A pousada do Lobo não é um local muito adequado para você, eles tem negócios um tanto diferentes para ser sincero...

Louis não entendeu.

-Como assim? Perguntou inocente.

Dana respondeu.

-Já pensei em fechar aquela espelunca uma duas vezes, mas não tenho nada de concreto para realmente fazer isso, no entanto é um ponto de prostituição, pelo menos é assim quando temos turistas, no resto do ano é apenas um bar para bêbados.

Louis concordou meio chocado e Gael lhe chamou a atenção pois teve uma ideia.

-Bem, infelizmente a pousada de Allan está em reformas, acabei de saber, no entanto acho que ele pode lhe ceder um quarto para essa noite se aceitar andar até lá.

Louis estava cansado, seus pés estavam doloridos e ele ainda carregava uma mochila e uma mala de mão, mas esse homem lhe oferecia um quarto na casa de um dos irmãos e um provável emprego, desde de que ele pudesse fazer bolos e tortas saborosos e ele sabia que podia, por tanto mesmo que seus pés estivessem implorando por um descanso ele andaria.

-Claro que estou.

Dana sorriu, Lana fez o mesmo e ficaram olhando quando os dois saíram da loja caminhando pela rua.

-O que acha? Perguntou Lana jogando seus cabelos longos para o lado de modo novelesco.

-Desta vez acho que acertou, ele é o tipo de Gael, bonito, pequeno e arredio, talvez um pouco assustado demais, mas você sabe que Gael gosta muito de um desafio, está em seu sangue e ele não pode negar, além disso ele está há muito tempo sozinho, talvez finalmente ele esteja começando a ver isso também, sem falar que eu tenho certeza que percebi Gael farejando o ar.

-Ohhh tô shipando eles!! Disse uma voz doce perto das duas mulheres que se viraram para ver Wendy de olhos brilhando observando os dois.

-Não acredito! Você é nova demais para isso menina!! Indignou-se Lana.

-Também acho!! Afirmou Dana.

Molly que entrava e ouviu a conversa sorriu, deixou as comprar em cima da mesa e se aproximou da filha.

-Deixa eu adivinhar, shipando o chefe com o rapaz novo na cidade, acertei?

Wendy pulou junto com Molly, as duas rindo.

Lana e Dana reviraram os olhos, a diferença de idade entre Wendy que tinha somente treze e Molly que tinha trinta e oito não era significativa para os genes das duas, mãe e filha eram iguais em tudo.

Nenhuma delas comentou que Gael deixou seu carro importado estacionado na calçada em frente a loja e saiu andando a pé com o novato, mesmo usando um terno caro e estando mais parecendo um herdeiro de negócios do que qualquer outra coisa, lógico que imaginaram que isso era um plano para conhece-lo melhor, testa-lo ou o que quer que seja que passou na cabeça do outro, o que importava era que...As duas estavam começando a shipar também, mesmo sem admitir isso.

E realmente Gael queria estar na companhia do jovem mais tempo, caminhar ao vento era perfeito, ele podia farejar o outro discretamente e ainda ouvir sua respiração e sentir o som do seu coração, era uma tentação que somente os lobos podiam conhecer. Por isso seu carro ficou estacionado na cidade enquanto ele caminhava pelas estradinhas de pedra da ilha, totalmente esquecido do plano de ir a cidade naquele dia, certamente ele já tinha perdido a balsa, mas quem se importa?

O vento parecia ter aumentado durante o tempo em que Louis estava dentro da cafeteria e estava mais frio agora apesar de estar um sol bonito, o moletom leve e surrado não era suficiente e ele logo começou a tremer, o caminho era bonito e agradável e ter um homem tão lindo andando ao seu lado podia ser considerado realmente um presente dos deuses, não fosse o cansaço por ter passado uma noite quase inteira sem dormir enquanto ele aguardava a embarcação que o trouxe a ilha e o fato de que ele estava com os pés doendo e a cabeça latejando, a mala de mão parecia ter dobrado o seu peso em minutos e a mochila estava o incomodando.

E Louis ainda sentia a força bruta que emanava daquele homem muito elegante ao seu lado, aquele terno poderia custar meses de salário dos que ele costumava receber nos bares e lanchonetes em que trabalhou até então, mas havia o aroma que o homem tinha, delicioso e muito perturbador.

-Você parece cansado, quer que eu leve a sua mala? Deve a estar carregando desde de que chegou.

Louis sorriu e negou se afastando sem perceber uns dois passos dele.

-Estou bem, mas na verdade eu estou carregando essa mala desde de ontem a tarde, como não sabia o horário da embarcação cheguei atrasado no cais e perdi a última embarcação do dia, passei a noite na pequena estalagem sentado em um canto no bar, peguei a primeira embarcação do dia e cheguei aqui as nove da manhã, tomei café na sua cafeteria.

Gael não era um homem que compreendia bem a palavra não, mas não era um idiota, mesmo assim ele pretendia carregar a mala pois notou como o outro estava cansado, por isso se adiantou e tomou a mala da mão pequena do jovem sem dizer mais nada e começou a caminhar de novo.

-Percebi que não veio de carro, mas aqui é bom ter um, apesar de ser uma ilha tudo parece ser um pouco longe, como a casa de meu irmão. Disse olhando para Louis que estava ainda mais longe dele agora, parecendo mais ainda com um animal acuado e indefeso.

-Hum...Não tenho carro, viajei muito nos últimos anos, não era viável ter um, mas eu gosto de caminhar, me mantém em forma.

Gael não discutiu sobre isso, o rapaz estava em forma, talvez estivesse até um pouco magro demais, nada tão sério, mas o homem tinha certeza de que o rapaz não se alimentava muito bem, se ele ficasse daria um jeito nisso, ninguém em sua cidade passava fome, de jeito nenhum!

Eles conversaram mais um pouco com Gael notando que Louis respondia todas as perguntas sobre seus empregos anteriores mais sem deixar vazar nada pessoal, parecia bem consciente de sua privacidade e parecia um pouco arredio também, mais de uma vez Gael se aproximou de modo proposital só para ver ele se afastando da mesma maneira, como um jogo de gato e rato, um passo de Gael na direção de Louis resultava em dois do menor para longe.

Após quatro longos km eles pararam numa colina, a vista era de tirar o fôlego, o mar era visto a distância, colinas verdejantes se perdiam ao longe com pequenos pontos brancos nela, ovelhas e cabras e o céu azul a emoldurar tudo com gaivotas ao fundo e o som do vento, mesmo assim foi uma boa caminhada e os pés de Louis estavam doendo.

-Oh Deus! É lindo!

Gael concordou, ele morava ali a vida toda e ainda se impressionava.

-Sim, realmente lindo, mas está vendo aquela casa ali? É para lá que vamos, venha!

Louis o seguiu um pouco mais e parou na frente de uma casa de tijolos avermelhados, com lindas roseiras a frente, as janelas da casa abertas ao vento da colina com cortinas esvoaçando soltas e um cachorro vira lata dormindo preguiçoso na varanda nem se incomodando em latir para eles.

Um homem surgiu dos fundos da casa com uma cesta de vime repleta de roupas limpas e muito provavelmente recolhidas do varal neste momento, uma cena bucólica e quase surreal.

-Hey Gael, tudo bem?

-Oi Sunan, Allan está em casa?

O homem que os recebeu parecia asiático e Louis não saberia dizer sua idade, ele parecia jovem e tinha uma beleza exótica com seus olhos negros pequenos e seus cabelos lisos pelos ombros, devia ter a mesma altura de Louis ou ser até menor.

-Quem é seu amigo? Perguntou Sunan deixando a cesta no chão por um momento.

Gael apresentou os dois e depois entrou seguindo Sunan que colocou a cesta sobre um sofá de canto e se dirigiu aos fundos no que parecia ser a cozinha e lá estava um homem parecido com Gael, alguns anos mais velho e talvez um pouco mais forte fisicamente, com cabelos mais claros, na cor cinza do céu quando vem uma tempestade, absurdamente belo.

-Oi Allan, trouxe alguém que precisa de um quarto, pode oferecer o quarto de hóspedes por está noite? Já que a pousada está em reformas.

Allan se virou e estendeu a mão a Louis de modo simpático.

-Olá Louis, acho que posso ajuda-lo se concordar em ajudar com a janta.

Louis se surpreendeu, como aquele estranho sabia seu nome e essa dúvida ficou tão evidente em sua face que o homem sorriu e tratou de explicar antes que o rapazinho fugisse pela porta por onde passou.

-Ouvi a conversa lá fora, o vento carregou suas palavras, por isso sei seu nome.

Louis suspirou mais aliviado.

-Obrigado senhor Allan, eu posso fazer o jantar se desejar, gosto muito de cozinhar.

Sunan sorriu e se aproximou.

-Se o chamar de senhor ele vai chuta-lo para fora.

Gael riu e puxou Sunan para um abraço.

-Parabéns pelo seu aniversário, eu deveria ter vindo antes, mas estava em Dublin sexta passada, como foi a festa?

Allan puxou Louis para se sentar e o livrou da mochila para então abrir a geladeira e tirar de lá um pedaço grande de bolo de festa de aniversário que ele começou a partir para dividir.

-Não foi tão ruim fazer quarenta anos quanto eu pensei...Ganhei um monte de presentes e comi todo tipo de coisa calórica, ainda estou tentando perder tudo isso. Disse Sunan rindo e aceitando o pedaço de bolo que o marido lhe passava divertido.

Louis ainda processava que esse jovem homem a sua frente tinha quarenta anos, issos era possível? Ele parecia ter saído de uma banda k-pop!!

Allan se sentou e se serviu de uma fatia de bolo após servir Louis e Gael que aceitaram prontamente.

-Não reclame de sua idade amor, eu já tenho quarenta e seis e estou em forma.

Agora Louis quase engasgou com o bolo, discretamente tomou um gole de água que graças a deus estava sobre a mesa.

Lógico que ele notou que esses dois eram um casal, o que o deixou feliz em saber que pelo menos não havia preconceito na ilha, ou ao menos não muito.

-Vocês moram juntos há muito tempo? Louis perguntou desejando não ser inoportuno.

-A vida toda...Ou quase. Respondeu Allan que sorriu para Sunan.

Gael notou que Louis parecia a vontade ali, o que era bom, um bom sinal, será que ele era gay? Talvez bi?

-Meu irmão fugiu com Sunan quando eles eram muito jovens, nossos pais não aprovavam esse relacionamento, no final ninguém pode fazer nada.

Louis concordou.

-Que romântico...Fugindo de casa. Disse Louis levemente sonhador.

-No começo não foi romântico, a gente sofreu um bocado, foi em 1995, eu tinha só dezesseis anos e Allan tinha vinte e dois, os tempos eram outros, o preconceito era muito forte no mundo todo, a gente foi morar em São Francisco, lá conseguimos sobreviver, não foi fácil mais eu não mudaria nada. Disse Sunan estendendo a mão e tocando a mão de Allan por sobre a mesa, era possível sentir os fios do amor e do destino ligando esses dois.

Gael concordou, ele se lembrava, tinha dez anos na época e se lembrava de tudo, o modo como as pessoas reagiram ao romance, nem todas, mas boa parte da cidade ficou contra eles, especialmente seu próprio pai e seu tio, eles eram os mais afetados, se sentiam irritados com isso, era uma vergonha para a família, a família de Sunan partiu e voltou para a China, nunca mais o procuraram. Mesmo assim eles ficaram juntos, estudaram, se formaram, ambos trabalharam muito e agora viviam na ilha, após a morte do patriarca da família ele recebeu a herança (incrivelmente seu pai lhe deixou uma boa herança) e comprou aquela casa, montou a pousada e teve sucesso, a cada estação ela ficava cheia de turistas e era a mais popular da ilha.

Sunan havia parado de trabalhar a dois anos, ele foi professor de escola primária, mas agora dava aulas particulares em casa e tinha tempo para seus quadros, que vendia nas feiras locais ou pela internet, as paisagens bucólicas que ele habilmente pintava eram arrebatadas rapidamente, ele possuía um talento incrível.

Louis ouviu tudo atentamente, já gostava destes dois imensamente e respeitava muito o que passaram.

-Que história interessante, imagino que vivendo em uma ilha não deve ter sido fácil mesmo, se o preconceito era alto em cidades grandes eu imagino como era aqui, uma cidade pequena com famílias antigas.

Gael, Allan e Sunan concordaram, eles sabiam disso.

-Famílias antigas mesmo, meus descendentes fundaram essa ilha, pode imaginar não é? Felizmente as coisas mudaram, um viva a evolução da mente humana. Disse Gael brindando com seu copo de água e os demais brindaram juntos.

O quarto ficou acertado e Gael foi embora deixando a chave reserva da cafeteria para que Louis pudesse chegar lá bem cedo e preparar os doces para degustação, ele nem se atentou ao fato de que ele precisaria andar a noite e no escuro por uma estrada deserta para chegar na cidade e na loja.

Quando Gael retornava para a cafeteria ele sentiu o aroma que vinha no vento carregado de folhas e encantos, era um aroma leve, sutil e somente alguém como ele poderia sentir...Cheiro de madressilvas e chuva de primavera, ele tentou localizar de onde vinha, mas não conseguiu, sua mente estava inundada de olhos verdes na cor exata das esmeraldas e de sorrisos tímidos em uma boca pequena...Ele suspirou.

“Foco homem! Esse rapaz será seu funcionário em breve e você sabe que não deve se envolver com funcionários e nem com ninguém fora do clã levianamente.”

Mas dizer e fazer isso eram coisas bem diferentes como Gael estava prestes a descobrir em breve.


Notas Finais


Ok, está aí e espero que gostem, podem perceber que Gael não é somente um empresário, ele tem mais do que isso no seu sangue...Enfim, espero que tenham gostado. Beijos de Akirasam.


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