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História A Insanidade de Mary - Sem arrependimentos


Escrita por: Bolin-d-Arroz

Capítulo 4 - Sem arrependimentos


 

Mais uma manhã infernal e de novo o alarme toca irritantemente. Me levantei sem um pingo de paciência e sem pensar muito, joguei o despertador de uma vez na parede, que ficou em pedaços.

Cinco dias se passaram e quase não vi Jeff. Senti um arrepio ao me lembrar daquele noticiário, pois se descobrirem a existência desse cara na minha casa, eu estarei realmente muito fodida. Não consigo entender o porquê de eu ter levado tanto tempo para descobrir quem ele era.

A cada dia que se passa a situação na escola piora, Jonny mais deprimido e minha paciência para lidar com qualquer tipo de situação vem desaparecendo. Eu diria que não falta muito para que eu perca a cabeça. Jeff também é um dos responsáveis por isso.

Apesar de não o ter visto muitas vezes, a sensação de estar sendo observada é frequente. Piorou depois do aparecimento daquele cara de moletom amarelo. Me pergunto quem ele era, mas não tive coragem de perguntar ao Jeff. Não consigo mais andar pelas ruas ou até mesmo dentro de casa sem conferir se estou sendo seguida ou algo do tipo.

"Ridículo!", pensei comigo.

Além das paranoias estou tendo que lidar com os meus constantes ataques explosivos, desse jeito a casa vai ficar em pedaços.

Vesti aquele maldito uniforme, peguei tudo que eu iria precisar e é claro, não deixei de levar minha faca comigo. Se tornou um hábito levá-la para todos os cantos. Desci as escadas com certa pressa, eu já estava atrasada e dessa vez eu decidi que iria comer qualquer coisa antes de ir.

— Qualquer dia desses eu vou ficar puto de verdade com você fazendo uma barulheira do caralho essa hora da manhã. — Jeff surgiu de algum canto resmungando.

— Eu pensei que você não dormisse.

— Normalmente não durmo, mas não significa que eu goste de barulho.

— Quer saber? Sinceramente eu não me importo com o que você gosta ou não. — Falei visivelmente irritada.— Minha paciência com você já foi pro caralho e eu não me importo com quem quer que você seja!

— Ah, então você sabe quem eu sou, Mary? — Sorriu diabólico.

Se eu estou tentando discutir com um famoso assassino em série? Sim, estou.

Eu sei que Jeff tem orgulho de sua fama e ele sabe que tal fama impõe medo. Certamente ele vai ficar irritado se alguém o enfrentar dessa maneira. Vai se sentir desafiado.

Eu e Jeff não somos muito diferentes com a questão de perder a cabeça, mas ainda não descobri quem é pior. Acredito que isso seja o suficiente para que ele queira encravar uma faca nas minhas costas, mas pelo que eu entendi, ele não pode fazer isso. Existe um motivo, algo que impeça ele de me matar ou me causar danos graves. Essa pequena provocação é apenas um teste, mas não significa que eu não esteja irritada pra caralho com ele de verdade.

Desisti de comer e apenas fui em direção a porta sem o encarar. Meu braço foi puxado com uma violência absurda e eu sabia exatamente o que iria acontecer.

— Solta. Agora!

Jeff gargalhou. Me assustei com isso, sei que ele é um lunático, mas não me acostumei com suas mudanças de humor repentinas. Ele estava realmente possesso.

— Vai fazer o quê?

A cada segundo seu aperto estava se tornando mais forte. Eu tinha certeza de que meu braço ficaria roxo.

Não respondi sua pergunta, mas sem que ele pudesse ter tempo de se defender, acertei o chute mais forte que eu conseguia em seu abdômen. Jeff se recuperou rápido e antes que ele viesse para cima de mim, eu o derrubei no chão e desferi vários socos no seu rosto. Seu sorriso sangrou e Jeff estava prestes a perder o que restava de sua sanidade.

Em questão de segundos ele me devolveu um soco, daqueles que são capazes de jogar uma pessoa no chão, mas antes que ele chegasse até mim eu consegui derrubá-lo. Ele infelizmente se levantou mais rápido do que eu esperava, e quando finalmente iria me acertar mais um dos seus socos, algo chamou nossa atenção simultaneamente.

Um homem desconhecido por mim estava de pé em frente a escada segurando uma câmera, provavelmente gravando nossa briga. Ele trajava um moletom amarelo bem desgastado e seu rosto estava coberto com um capuz preto, com um desenho de uma carinha triste em vermelho. Jeff o encarava com o mais puro ódio enquanto continuava me segurando, como se ainda pretendesse me dar um soco. Nossa respiração poderia ser claramente ouvida por todo o cômodo. Jeff me soltou e o indivíduo finalmente abaixou a câmera.

— Que ótimo! Não posso nem me divertir em paz. — Jeff exclamou irritado.

Encarei a pessoa de amarelo e senti um frio na espinha. Me soltei de Jeff e peguei minhas coisas afim de seguir rumo a escola. Não estava me importando se eu estava com um roxo no olho ou se alguma roupa minha estava rasgada. Estava pouco me fodendo, mas eu tinha que sair daquela casa.

 

***

 

— O que diabos aconteceu com você? — Jonny me questionava insistentemente. — Não me diga que aquele cara apareceu por lá de novo?

"Sim." Pensei.

— Não Jonny, eu só caí no meio da escada, não é nada demais.

É claro que essa desculpa não vai adiantar muita coisa. Não me dei o trabalho de contar a ele que agora estou morando com um assassino bem conhecido. Essa situação só vai piorar seu eu contar toda a verdade, e acho que está melhor assim. Quanto menos Jonny souber, melhor.

As aulas não passaram tão rápido quanto eu gostaria, infelizmente. Jenna passou a aula inteira cochichando, trocando bilhetinhos e rindo, tudo isso enquanto olhava de relance para mim. É óbvio o que ela está fazendo, mas a questão aqui é: Está me irritando pra caralho.

Logo deram o sinal, indicando o intervalo. Avisei Jonny que hoje eu iria permanecer na sala, enquanto isso ele foi até a lanchonete comprar algo.

A sala não demorou para ficar totalmente vazia, ou quase; com exceção de mim e Jenna.

— Nessa idade ainda apanha da mamãe? Que vergonha Mary!

— Eu adoraria que você fosse foder com a paciência de outra pessoa.

— Mary, quem você acha que engana com essas desculpas? Eu sei que você está fazendo algo muito errado.

— E o que você acha que sabe sobre mim? — Questionei de forma despreocupada.

— Estou de olho em você. Sua família não está em casa, e tem um garoto morando lá, não é?

 — Eu acho melhor você começar a cuidar da sua vida. — Me levantei.

Jenna imediatamente se afastou, sorrindo confiante. Tudo que eu sei é que preciso me acalmar, ou eu vou acabar saindo de controle. Apesar de a vontade de espancá-la aqui e agora serem grandes, não posso fazer isso aqui, ou então eu vou ter que sumir dessa cidade. O problema aqui é que ela sabe demais.

A verdade é que eu considero Jenna um desperdício de tempo, vida e dinheiro. Tenho pena de seus pais.

— E eu acho melhor você tomar cuidado comigo. — Ameaçou. — Sabe por que estavam todos falando sobre você a aula toda?

— Não, e não me importo.

— Pois deveria. Agora todos pensam que você está se prostituindo. Não é engraçado? —  Sorriu.

Cansei.

Minhas mãos pareciam congelar, e por dentro eu sentia algo queimar. Eu não queria perder o controle, não aqui. Sei que se eu ficar fora de mim, eu vou fazer besteira.

Jenna me olhou assustada. Por alguns segundos ela parecia tentar decifrar o que se passava na minha cabeça, algo que nem eu compreendia. Um calor enorme, uma adrenalina desconhecida por mim, eu estava me perdendo. Coloquei minhas mãos no bolso do moletom numa tentativa completamente falha de esconder meu nervosismo. Por pouco tempo eu havia me esquecido daquela faca, e lá estava ela. Azar o dela? Ou sorte a minha?

— Eu não me importo mais com essa merda toda Jenna. Eu estou cansada. — Encarei irritada.

A garota fez menção de se afastar ainda mais, evidenciando assim sua percepção sobre minha mudança de humor.

Não lhe dei tempo de resposta. Empurrei Jenna fazendo com que ela caísse sobre as mesas.

Eu esperei tanto por este dia! Eu já não me importo mais com as consequências, só estou adiando o inevitável. De todo modo ela sabe de muita coisa, e eu estou fazendo um favor à sociedade. Eu sabia que aquilo era errado, mas seu olhar repleto de medo e incompreensão me traziam uma satisfação sem igual. Ser temida é desnecessariamente excitante.

Em um movimento rápido eu a joguei contra o chão e me sentei em seu colo, com o objetivo de imobilizá-la. Segurei suas mãos com facilidade e a encarei por alguns segundos.

— Eu vou te dar uma chance de sair de cima de mim se não...

— Se não o quê? — Interrompi. —Vai gritar? Eu espero que isso seja uma piada.

Algo dentro de mim estava diferente. Meu coração estava agitado, mas eu conseguia pensar exatamente no que fazer. Não conseguia sentir medo ou arrependimento, muito pelo contrário. Uma vibração gostosa subia pelo meu estômago, eu poderia sentir meu sangue quente correndo pelas minhas veias.

Rapidamente puxei a faca do meu bolso e tentei acertar sua garganta, mas ela foi rápida e segurou as minhas mãos. Ela estava de fato lutando pela sua vida, pois a força que eu estava usando era surpreendente incomum.

— Não temos muito tempo, Jenna. Me deixe rasgar a sua garganta de uma vez! — Sorri animada.

Usei então a força de Jenna contra ela. Puxei a faca para cima na direção contrária e empurrei novamente em sua direção de uma só vez. Ela não esperava uma ação dessas, mas foi rápida o suficiente para virar o rosto. A faca acertou sua face impecável, fazendo um corte profundo na bochecha, me lembrando o sorriso de alguém. Sorri com isso.

Puxei novamente a faca e tentei acertar seu peito, mas cometi outro erro. Aceitei seu braço com brutalidade, e Jenna por sua vez, soltou um grito estridente. Logo escutei passos rápidos vindos do corredor.

— Droga!

Eu precisava sair daquele lugar o mais rápido possível, não tinha como voltar atrás e eu não poderia ser pega agora.

Arranquei a faca presa em seu braço, que foi acompanhado de mais um grito de dor. Um pouco de sangue jorrou em mim, o suficiente para que alguém me olhe e saiba que fiz alguma atrocidade.

— Eu espero que não se esqueça de mim, Jenna. Eu vou voltar pra te matar, é uma promessa.

A garota me encarava assustada, seu corpo tremia e seus olho estavam cheios d’agua. Saí o mais rápido possível de cima dela e peguei minha mochila. Duas alunas tinham acabado de chegar até a porta e enquanto tentavam processar o acontecido, passei de uma vez pela porta empurrando às duas.

O lugar mais fácil para sair seria a janela próxima da diretoria. É arriscado, mas eu não poderia sair pela porta da frente. Então no meio da correria eu bati de frente com alguém e nós dois caímos no chão pelo baque. Senti que deveria praguejar até sua última geração, mas quando olhei em seus olhos, percebei que eu estava de frente com Jonny.

Ele me encarou espantado, tentando decifrar a batida. Seus olhos desceram para meu moletom que agora tinha um pouco de sangue.

Jonny é a última pessoa no mundo para quem eu apareceria assim. Eu gostaria de explicar o que houve, mas eu não seria capaz sequer de pedir desculpas em um momento desses, e julgando pelo que eu fiz, ou tentei fazer, eu imagino que ele não me perdoaria.

Desviei meus olhos dos seus, pois eu não seria capaz de encara-lo assim. Me dispersei dos meus pensamentos e me levantei. Jonny tentou dizer algo, mas não conseguiu, então não lhe dei tempo para pensar e apenas o ignorei. Continuei a correr até a janela e saltei, sem olhar para trás.

Corri pelas ruas não tão movimentadas, era horário de almoço então não haviam tantas pessoas passando por ali, mas as poucas que tinham me olhavam confusas ou mesmo com curiosidade.

Finalmente cheguei em casa, sem fôlego e sem um plano. Eu só sei que deveria ir embora, e não voltar mais.

— Jeff! — Gritei.

Nenhum sinal dele. Subi as escadas à procura do mesmo e lá estava o indivíduo, sentado no canto do quarto olhando para o chão. Jeff me encarou, pude vê-lo arquear a sobrancelha por um instante e passou a me olhar com curiosidade.

— O que você fez?

— A gente tem que sair daqui. Agora!

 



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