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História A Lei do Casamento - Dramione - Capítulo 8


Escrita por: Silver-Shades

Notas do Autor


Oi amoressss!
Mais um capítulo fresquinho!
Quero agradecer muito a todos os comentários (recorde, mais uma vez!) @Amandinha_MO, @ariellbest, @Maia1373, @IRLOUREIRO, @GrangerHaruno, @julianavieiram, @nonequeen, @jessica_12, @s77759, @Melissandre, @Lyragray, @lynaHH, @Alicy1810, @_Kate, @val2030, @Alassea, @raiss132, @JGMalfoy, @Plummit, @Tanitars, @Laom, @Choi_Hime, @Miles_lilice, @Andress0, @camilagomes94, @Vivisoldi, @SenhoritaFanfiqueira, @anjaencantada, @kia_hatake.
Vocês engajaram, hein? Muita gente nova comentando, muitas críticas aos personagens e muito amor envolvido. Preciso nem falar que eu amo isso, né? Comentem mesmo, interajam com o que os personagens fazem.

Sem delongas, espero que gostem <3
Boa leitura!

Capítulo 9 - Capítulo 8


Hermione recebeu uma carta de Narcisa Malfoy uma semana após saber que o filho dela seria seu marido pela Lei do Casamento. A bruxa estava sentada em seu sofá, lendo um livro de ficção trouxa que tinha sido lançado recentemente, no momento em que uma coruja grande entrou na sala, pousando com graça na mesinha de centro e assustando-a com movimento repentino. Curiosa para saber quem estaria mandando uma ave tão imponente, ela pegou a carta rapidamente para lê-la.

Boa tarde, Srta. Granger.

Fiquei sabendo por Draco que foram pareados juntos, e mal pode imaginar minha reação quando também soube que ele não te contatou apropriadamente para que pudéssemos nos encontrar.

Peço perdão pela falta de educação e lhe convido para um chá, apenas para nós duas. Fique à vontade para comparecer à Mansão, amanhã às 16h. Nós reconstruímos tudo após a guerra e a intervenção do Ministério, mas se ainda assim se sentir desconfortável, podemos nos encontrar na mesma casa de chá onde conversamos sobre seu projeto. Envie-me a resposta do local pela mesma coruja.

Atenciosamente,

Narcisa Malfoy

A grande coruja estava olhando com seus olhos amarelos brilhantes para Hermione, provavelmente aguardando a resposta, a mando de Narcisa. Ela não poderia negar o pedido da mulher que tinha sido tão educada e polida. Mas havia o fato de que sua primeira e última visita à Mansão Malfoy não fora a melhor. Entretanto, ela mostrou, explicitamente, que queria que Hermione se sentisse confortável durante o encontro.

Respirando fundo enquanto tomava sua decisão, pegou um pergaminho limpo e uma pena, e escreveu uma resposta curta e corajosa para a mulher. Ela iria à Mansão Malfoy. Seria um bom primeiro passo para encarar o local onde tivera o pior dia de sua vida e quase morrera. No fundo, sabia que Malfoy não aceitaria sair de sua casa para morar no apartamento minúsculo que tinha, e provavelmente, teria que se mudar para lá.

Amarrou sua resposta na pata da coruja, entregou-lhe uma guloseima e viu a ave zarpar de volta para a mansão, sumindo rapidamente no céu chuvoso. Sentou-se novamente, mas tinha perdido a vontade de continuar lendo, e deixou seus pensamentos vagarem para os últimos acontecimentos.

Após o incidente com Theo e o quase-beijo com Malfoy, ela achava que a vida não podia ficar mais complicada.

Porém, o universo estava conspirando contra ela há semanas.

A lei dos centauros havia empacado no Wizengamot, com o argumento de que o projeto escrito continha falhas e que seria necessário realizar alterações antes que pudesse ser votado pela banca. Ela e Theo ficaram frustrados com a falta de sucesso, mas sabiam desde o início que o caminho até a aprovação não seria fácil. Durante todo o tempo de trabalho da semana, dedicaram-se a corrigi-lo e aproveitaram a chance para modificar outros itens, garantindo que o documento estivesse correto o suficiente para evitar outro empecilho. 

O relacionamento dos dois amigos não mudou, como ela achou que aconteceria. Esperava alguns constrangimentos, mas Theo agira com muita maturidade sobre a situação, não tocando mais no assunto do último encontro deles ou sentimentos. Ela ficou aliviada, tendo a certeza de que iriam construir uma amizade maravilhosa e que o momento que tiveram ficaria enterrado no passado.

Também não voltou à Toca depois que todos abriram suas cartas e descobriram seus pares. Recebeu uma carta de Gina, que havia voltado aos treinos, perguntando como ela estava e se já havia se encontrado com Malfoy, além de informá-la que ela e Lino haviam conversado e estavam de acordo. Eles decidiram a data do casamento, que seria dali a duas semanas, e a cerimônia no Ministério, apenas para os membros mais próximos da família. Hermione se perguntou, enquanto lia, se Gina estava indo rápido demais, mas guardou o pensamento para si mesma e desejou toda a felicidade para a amiga.

Harry falara com ela no dia anterior, durante o horário de almoço do Ministério, e se desculpou por não ter entrado em contato antes para conversarem. Um novo caso difícil havia caído em suas mãos e ele estava trabalhando dobrado. Alguns prisioneiros de Azkaban estavam contrabandeando produtos entre eles, drogas trouxas até poções mágicas modificadas para uso ilícito, e estavam atacando os guardas durante a saída para o banho e jantar. Harry trabalhava arduamente para descobrir como os produtos chegaram até a prisão e através de quem, além de estar ajudando na recruta de novos guardas, aumentando os feitiços de proteção da prisão e interrogando os prisioneiros.

Hermione entendeu totalmente a situação, e agradeceu internamente.  Não se sentia pronta para conversar com seu melhor amigo sobre se casar com Malfoy, ter filhos com ele e falar sobre Narcisa. Havia muito em sua mente e sabia que seria melhor se tivesse o primeiro contato com a família, conhecesse o terreno onde estava pisando, e depois ter uma conversa mais aberta sobre suas expectativas com seu melhor amigo.

Ela também encontrou Rony e Jorge numa tarde do início da semana no Beco Diagonal, no momento em que estavam fechando a loja. O ex-namorado tentou uma conversa civilizada, mas logo alterou a voz quando tocou no assunto Malfoy, e a julgou insana por aceitar a situação sem pestanejar. Jorge conteve o irmão e logo o afastou de Hermione, permitindo que ela fosse embora, antes que atraíssem uma plateia e parassem na primeira página do Profeta Diário.

Neste momento, ela estava nervosa e levemente ansiosa. O que deveria esperar do encontro do dia seguinte com sua futura sogra? Deveria vestir algo formal? Por mais que fosse apenas um chá, Narcisa Malfoy tinha um ar de elegância instalado em todas as suas fibras corporais, enquanto Hermione não se preocupava com a etiqueta, mesmo que sua mãe, há muitos anos atrás, tivesse passado alguns conhecimentos sobre o assunto.

Malfoy estaria presente? Narcisa garantiu que seriam apenas as duas, mas ele não usaria o momento para envergonhá-la, na frente da mãe, de propósito? Ou até mesmo contar sobre Theo, e acabar com a imagem que a mais velha tinha dela?

Subindo para tomar um banho, deixou-se levar, pensando em todas as possíveis situações que poderiam acontecer no dia seguinte, desde um surto por visitar a Mansão, Malfoy e sua língua afiada estragando tudo, até um encontro agradável. 

Este último ela sabia que havia poucas chances de acontecer.

• ───── ✾ ───── •

No dia seguinte, Hermione não conseguiu dormir até mais tarde como queria, devido à sua ansiedade implacável. Além do nervosismo, estava entediada já de manhã, tentando buscar algo para ocupar a cabeça e passar o tempo. Já havia passado por todas as tarefas da casa e ainda eram 12h30. Em um momento súbito de inspiração, decidiu fazer uma torta de maçã com caramelo salgado e canela para levar ao encontro com Narcisa. Ela sabia que a Mansão possuía elfos domésticos que cozinhavam e que serviriam lanches variados, mas tinha em mente que levar o doce seria uma oferta de paz.

Não era a melhor cozinheira, mas depois da guerra, como passava muito tempo com os Weasley e, principalmente com Molly, tinha adquirido alguns conhecimentos em confeitaria. Ela faria do zero; massa, recheio e calda. 

Duas horas e meia depois, a torta estava esfriando no forno e Hermione subiu para o quarto a fim de tomar banho e trocar de roupa para se dirigir até a Mansão Malfoy. Optou por vestes mais quentes, devido ao tempo frio e chuvoso. Pegou a torta e colocou em um recipiente hermético para mantê-la quente e protegida da chuva, e lançou um feitiço repelente de água nela mesma. Aparatou em Wiltshire, em frente aos portões principais e respirou profundamente, acalmando seus nervos, antes de apertar a campainha, pontualmente às 16h.

A Mansão Malfoy vista de fora era a mesma dos tempos de guerra. Sem o medo iminente da morte que a acompanhava na primeira vez, pôde observar os jardins bem cuidados, as roseiras de todas as cores, além de árvores frutíferas nas laterais do terreno. Os portões, antes escuros e de ferro pesado, transbordando magia negra, hoje não emanavam a mesma energia, agora de cor cinza. A única magia que podia ser sentida, naquele momento, vinha das proteções e barreiras mágicas do terreno e residência, provavelmente relacionadas ao sangue Malfoy.

Enquanto avaliava todo o local, os portões se abriram automaticamente e as proteções permitiram que ela passasse. Um pouco a frente, havia uma elfa doméstica, vestido com roupas verdes sonserina — previsivelmente — com o brasão Malfoy estampado na frente e um chapéu de penas roxas e brancas na cabeça. Hermione sorriu internamente com a cena inusitada, lembrando de Dobby e seu gosto fiel por meias de todas as cores e tamanhos. A elfa estendeu a mão e a cumprimentou.

— Boa tarde, senhorita Hermione Granger — falou com uma voz estridente. —  É um prazer recebê-la esta tarde. Dipsy foi encarregada de recolher seus pertences e levá-la até a ala da Sra. Malfoy. Por favor, me entregue sua bolsa e seu casaco.

— Muito obrigada, Dipsy. O prazer é meu. Você também poderia pegar esta torta de maçã que eu trouxe para sua senhora? — Hermione pediu educadamente, mas ficou incomodada em pedir algo para a elfa. Sua adolescente interior, apaixonada pelo direito dessas criaturas, ainda existia, porém sua maturidade a permitia entender que os elfos gostavam de seu trabalho e, aparentemente, a elfa a sua frente era muito bem tratada.

— É claro, Srta. Hermione. — A elfa desapareceu a torta e recolheu seu casaco e bolsa, colocando-os em um apoio chique perto da porta de entrada.

Seguindo em direção às escadas, ela chamou a atenção da bruxa, que estava olhando nervosamente para todos os lados da sala, tentando reconhecer algum local.

— Queira me seguir, senhorita. A Sra. Malfoy está em seu solário.

Hermione assentiu, engolindo em seco. Ela se lembrava de ser arrastada pelos cabelos pela escada, em direção ao salão onde fora recebida por Belatriz Lestrange. Mas Narcisa não havia brincado quando dissera que a Mansão fora reconstruída após a guerra. Na verdade, parecia que o lugar tinha sido derrubado e construído do zero, já que não havia nem mesmo um quadro no mesmo lugar que antes, além do lado exterior. Este fato estava aliviando seu nervosismo aos poucos, mas a tensão de se encontrar com a mulher ainda se fazia presente.

Dipsy a acompanhou para uma sala de tamanho médio, inteiramente fechada com janelas de vidro extremamente limpas e brilhantes que permitiriam que os raios solares — ausentes nesse dia chuvoso — entrassem e iluminassem todo o local. Havia um lustre no meio do teto, iluminando a sala. Narcisa Malfoy estava sentada em uma poltrona de tecido claro, uma mesinha posta em sua frente com chá, leite, biscoitos e petiscos salgados, e uma outra poltrona ao seu lado estava vazia, provavelmente destinada à Hermione.

A elfa anunciou sua chegada e Narcisa se virou para recebê-la com braços abertos e um largo sorriso no rosto. Pegou as duas mãos de Hermione, aproximando-se para dar um beijo em cada bochecha e olhá-la nos olhos.

— Bem vinda, Srta. Granger! Fiquei muito feliz por ter aceitado meu convite. Sente-se, por favor. Vamos tomar um chá? — Ela levou a bruxa até a poltrona, ainda segurando suas mãos, e Hermione se sentou, atentando-se em manter a postura frente à mulher.

— Dipsy, obrigada por trazê-la. Agora vamos tomar o chá e chamarei se necessário. — Narcisa dispensou a elfa com um sorriso, que assentiu com a cabeça e aparatou rapidamente.

A bruxa mais nova se acomodou na poltrona e cruzou as mãos sobre o colo, um pouco perdida se deveria puxar algum assunto com a futura sogra ou não. Com sorte, Narcisa a poupou do trabalho e começou a falar:

— Como você está, Srta. Granger? Faz um bom tempo que não nos vemos. Conte-me as novidades — pediu, sorrindo animadamente e servindo duas xícaras de chá.

Mordendo o lábio inferior, Hermione ponderou se ela queria saber sobre a lei do casamento ou algo parecido. Decidiu começar em um território neutro.

— Eu e Theo estamos avançando com o projeto dos centauros. Aliás, graças à sua generosa doação. Tivemos um pequeno empecilho com o projeto escrito, mas amanhã de manhã iremos mandar uma versão atualizada para o Wizengamot e torceremos para o aprovarem — ela falou, tentando controlar a tensão em sua voz.

Narcisa sorriu e tomou um gole de chá. 

— Não precisa agradecer. Fiquei honrada quando recebi a carta de Theodore e extremamente feliz por poder ajudar. — Ela fez uma pausa. — Srta. Granger, querida…

— Por favor, me chame apenas de Hermione ━ ela interrompeu e Narcisa sorriu antes de continuar.

— Hermione, não quero que me ache ríspida, mas não gosto de enrolar muito. Te chamei para o chá porque gostaria muito de conversar sobre alguns assuntos, acredito que todos pessoais. Minha intenção não é ser invasiva de alguma forma, mas me avise se eu passar dos limites.

Ela ficou levemente nervosa, antecipando o que a bruxa mais velha gostaria de falar que poderia invadir seu espaço pessoal. Corajosamente, concordou e a incentivou a falar.

— Por favor, Sra. Malfoy, fique à vontade. Tentarei ser, hum, o mais sincera possível. — Sorriu brevemente.

— Pois bem, então. Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir minhas sinceras desculpas por todo o mal que minha família causou durante a guerra, principalmente a você, e em específico aquele dia fatídico em minha casa.

Hermione congelou, tentando manter a expressão para não assustar a mulher. Ela não era uma pessoa fraca que não encarava seus medos, mas aquele dia lhe causara tanto sofrimento que após o final da guerra passara meses tendo pesadelos e ataques de pânico. Narcisa continuou, aparentemente não percebendo nenhuma reação da bruxa.

— Não sei te dizer em qual momento isso aconteceu, mas eu já vinha tendo alguns pensamentos de que eu e minha família estávamos participando de uma coisa totalmente sem precedentes. Aquela criatura, em minha própria casa, machucando meu próprio filho… — ela fez uma pausa, contendo as lágrimas — e depois do que minha própria irmã fez com você, a punição que recebemos por ter deixado Potter fugir… eu sabia que precisava arranjar uma maneira segura de escapar disso tudo. Logo chegou a Batalha Final em Hogwarts e eu agarrei a última chance, mentindo para ele quando soube que Draco estava vivo, assim como Potter. Nós fugimos logo depois, abandonando os comensais. O que importava era que meu filho estava vivo e inteiro, e eu não arriscaria perdê-lo novamente.

Nesse momento, Narcisa já não conseguia mais conter as lágrimas. Hermione também estava chorando silenciosamente com o depoimento, lembrando-se de todas as coisas horríveis que aconteceram, todas as vidas perdidas. Também sentiu grande empatia pela mulher, que sofrera em silêncio por tanto tempo e agira corajosamente na intenção de salvar seu filho e, sem saber, permitiu que Harry salvasse o mundo da tirania de Voldemort. 

Narcisa secou suas lágrimas com um lenço de seda e continuou:

— Mesmo fugindo no final da guerra, não fomos poupados dos julgamentos, tanto os oficiais como aqueles da sociedade. Seus depoimentos conseguiram salvar a mim e a Draco de Azkaban, mas não Lúcio. Meu marido…  ele causou tanto mal e sofrimento que não havia chance de escapar, mas eu sabia, no fundo, que estava fazendo o que achava necessário para tentar salvar nossa família. Ele foi condenado à prisão perpétua, mas morreu algum tempo depois porque estava extremamente debilitado. Não estou te contando nada disso por sua pena, Hermione, por favor, entenda. Só quero que veja o lado da nossa família na história quando digo, com muito pesar, que sinto muito por não ter feito nada naquele dia. Entrei em choque com a cena, nunca havia visto minha irmã tão dissimulada antes. Não é justificativa, é claro, mas se pudesse voltar no tempo e fazer diferente, não hesitaria nenhum segundo — ela terminou e voltou o olhar para Hermione, estendendo uma mão para pegar a dela, apertando-a em conforto.

— Sra. Malfoy — Hermione começou com a voz cheia de emoção —, muito obrigada pelas palavras. Realmente achei que fosse morrer naquele dia, mas o fato de que Dra-Malfoy hesitou em confirmar quem realmente éramos, salvou nossas vidas. Sinto muito por tudo o que aconteceu, e acredito fielmente que a senhora entendeu todo o mal que o preconceito puro-sangue causou em nosso mundo, e se esforçou desde então para mudar o que estava em seu alcance. Agradeço muito por isso. É… é muito importante para mim ser aceita, principalmente agora.

Narcisa rapidamente captou que o assunto havia sido direcionado para a lei do casamento, responsável por unir seu filho e ela forçadamente. Draco ainda estava recluso e irritado com a situação, mas Hermione aparentava ter aceitado, mesmo que um pouco, seu futuro.

— Esse é um outro assunto que eu gostaria de tratar. Veja bem, Hermione, sei muito bem que meu filho não está agindo de acordo e muito menos está satisfeito com a decisão do Ministério, mas de certa forma estou… feliz com o resultado.

Ela arregalou levemente os olhos, pois tinha entendido que a mulher não estava contente com a combinação, mesmo que o empecilho não estivesse no status de sangue.

Narcisa captou o movimento e logo tornou a se desculpar. 

— Por favor, não estou me referindo à sua pessoa, mas sim à situação no geral. Nossa família foi uma das principais, desde o início dos tempos, a praticar o ideal purista e superior quando se tratava do sangue bruxo. Infelizmente, o nome Malfoy matou inúmeros nascidos-trouxas e trouxas, e não me orgulho de dizer isso em voz alta. Meu ponto é: acredito que essa possa ser nossa segunda chance. Uma segunda chance de nos desculparmos com o mundo por todo o mal feito a esses bruxos e seres humanos inocentes, de aprendermos e termos a chance de evoluir como pessoas. 

Hermione assentiu, entendendo onde ela queria chegar, e Narcisa continuou explicando:

— Não é publicidade para o nosso nome, muito menos caridade com você, eu sei que não precisa, mas acredito que a senhorita tem muito a nos ensinar, agora como membro da família, e estou imensamente feliz pela oportunidade, assim como todos os outros puros-sangues que têm a mesma opção em suas mãos.

— Er, hum, obrigada novamente, Sra. Malfoy. Suas palavras estão me deixando bem mais aliviada, devo confessar. — Hermione estava um pouco envergonhada em admitir seu nervosismo para ela.

— Oh, imagine, querida. Eu quem deveria ficar nervosa com toda a situação, mas estou realmente muito feliz por ter se mostrado aberta a tudo que eu queria dizer. Porém… tem mais um assunto, e esse talvez seja mais delicado. — Ela fez uma pausa considerada dramática, na visão de Hermione, que a deixou nervosa. — Quero falar sobre você e meu filho.

Pronto, era naquele momento, depois de um lindo discurso de desculpas e de todas as coisas boas que Narcisa falara, que ela iria para a forca. Com certeza ela sabia sobre Theo. É óbvio que Malfoy não pouparia esforços em torná-la uma pessoa horrível para sua mãe antes do casamento. Bem adulto da parte dele.

— Considero esse assunto complicado, em partes, porque não quero me intrometer no relacionamento de vocês, mas me sinto no dever de alertá-la sobre algumas coisas — Narcisa pontuou e pegou um pequeno pedaço de sanduíche, comendo-o tranquilamente antes de voltar a falar, deixando Hermione ainda mais nervosa.

— Draco é meu filho e eu o amo incondicionalmente, mas desde a guerra, tem agido de modo peculiar. Quando estávamos cumprindo pena domiciliar, ele tirou o ano para resolver todas as pendências financeiras da família, encerrou negócios ligados às artes das trevas, se preocupou com doações para reconstrução de Hogwarts e do Beco Diagonal. Parecia que estava determinado a fazer tudo o que Lúcio não fez, visto que sempre enfatizou o quanto não era parecido com o pai.

— Um tempo depois, começou a fazer investimentos, abriu o próprio negócio e se reconectou com antigos amigos de Hogwarts. Ele estava cada dia melhor. Porém, quando a lei foi anunciada… ele falou igualzinho ao pai. — Narcisa sorriu tristemente enquanto contava a Hermione sobre tudo. Ela tinha em mente que a futura esposa de seu filho necessitava saber onde estava entrando. 

— O ponto ao qual quero chegar, Hermione, é que Draco ainda reproduz discursos preconceituosos e soberbos, principalmente quando se sente ameaçado ou envergonhado. Eu sei que você não aceita insultos de cabeça baixa e bem, grifinórios tendem a ser muito emocionais em algumas situações. Odiaria saber que ele te magoou de alguma forma devido ao orgulho que sente. E nesse ponto vejo que sua mentalidade pode ser como um incentivo para ele. Não cabe à sua pessoa, jamais, tomar a responsabilidade de mudar sua personalidade, relacionamentos assim nunca prosperam. Mas acho que ele vai perceber seus erros por conta própria durante a convivência.

Hermione estava pensativa com tudo que Narcisa lhe confidenciara. Malfoy ainda era um bastardo presunçoso e arrogante, mas tinha potencial de evolução. Narcisa via um futuro nele, e talvez para eles. A situação poderia não ser tão ruim quanto ela imaginara. Eles poderiam ser amigos e conviver pacificamente.

Narcisa chamou sua atenção mais uma vez quando voltou a falar:

— Agora eu só tenho uma única pergunta, talvez a mais pessoal de todas, mas estou ansiosa por isso desde o início. — Ela girou o corpo para ficar sentada totalmente de frente para Hermione, e tinha um sorriso travesso nos lábios. Ela mal sabia o que a atingiu.

— Quantos netos pretende me dar?

Hermione arregalou os olhos em choque com a pergunta da mulher. Invasivo não chegava nem perto da definição daquele momento. A única coisa que havia deixado de lado até agora era a questão de filhos, quando e quantos. Malfoy provavelmente iria adiar até o último segundo qualquer gravidez que pudesse ter, e ela mesma ainda não se sentia pronta para ser mãe.

— Sra. Malfoy… eu… filhos… — gaguejou, mal sabendo como começar a responder a pergunta.

Narcisa riu levemente e interrompeu:

— Ok, te peguei de surpresa, já entendi. Só pense no assunto e depois me fale, tudo bem? Eu gostaria muito de ter netos correndo pela casa, mas respeito seu espaço. 

Antes que Hermione pudesse responder alguma coisa, Dipsy apareceu.

— Sra. Malfoy, as senhoritas Parkinson e Greengrass vieram até a Mansão visitar o mestre, e querem cumprimentá-la. Dipsy avisou que a senhora estava com visitas, mas elas insistiram — a elfa choramingou de cabeça baixa, aguardando as ordens de sua dona.

— Está tudo bem, Dipsy, você fez um ótimo trabalho — ela a acalmou e se virou para Hermione. — Me desculpe pela interrupção.

Ela logo se prontificou para ir embora, levantando da poltrona. Narcisa a parou com a mão antes que ela pudesse se despedir.

— De maneira alguma, não precisa sair. As meninas são tranquilas, e não haverá nenhum constrangimento. Dipsy, pode trazê-las, por favor!

Em instantes, Pansy e Daphne adentraram o solário, sendo recebidas com abraços e beijos de uma Narcisa sorridente. Hermione assistiu a cena um pouco receosa pela possível reação que as duas pudessem esboçar com sua presença. Daphne a notou primeiro e andou em sua direção. 

— Hermione Granger em pessoa. Muito prazer, Daphne Greengrass. Estávamos no mesmo ano em Hogwarts. — A loira estendeu a mão para cumprimentá-la e Hermione hesitou por um segundo. — Não se preocupe, nós não mordemos.

Ela sorriu envergonhada e aceitou o cumprimento de Daphne.

— É um prazer, Daphne! — Se dirigindo para Pansy, ela repetiu o movimento — Parkinson, bom te ver.

Pansy abriu um sorriso malicioso depois que Hermione soltou sua mão, avaliando-a dos pés à cabeça, fato que não passou despercebido e a deixou um pouco nervosa.

— Ora ora, Granger. Dois anos fizeram muito bem para você. Ótimo gosto para roupas, e seu cabelo definitivamente não é mais aquela coisa. — Ela gesticulou com as mãos, tentando mostrar um cabelo selvagem e ganhou um estreitar de olhos de Hermione.

— Engraçada, Parkinson. Mas obrigada, eu acho.

—Agora que estamos todas devidamente apresentadas, por favor, sentem-se — Narcisa anunciou e chamou a elfa novamente: — Dipsy, por favor, traga mais dois jogos de chá.

— Dipsy também deve trazer a torta da senhorita Granger?

Narcisa olhou surpresa para Hermione. 

— Você trouxe uma torta? É claro, Dipsy, traga também, por favor. 

As quatro mulheres estavam sentadas juntas, desfrutando o doce e mais chá. As sonserinas fizeram algumas perguntas impessoais sobre o trabalho e o que Hermione fez após a guerra, e em pouco tempo todas estavam conversando alegremente sobre inúmeros assuntos do mundo bruxo.

O clima foi quebrado assim que Malfoy entrou no solário para chamar Pansy e Daphne. Seu olhar surpreso e assustado denunciou que não sabia que Hermione estaria ali, muito menos conversando contente com sua mãe e amigas.

— O que vocês duas estão fazendo aqui em cima? — Ele fez um ótimo trabalho em ignorá-la por enquanto. Hermione se voltou para seu chá e fingiu que ele não estava ali.

— Viemos cumprimentar sua mãe e Hermione estava aqui. Resolvemos ficar e a conversa está se estendendo — Daphne respondeu.

Draco arqueou uma sobrancelha com o uso do primeiro nome de Granger. 

— Ok, então. Não vão descer?

— Não vamos. Tchau, Draco — Pansy o dispensou.

— Não vai cumprimentar Hermione, filho? — Narcisa interferiu na conversa.

Draco parou por um momento e levou seu olhar a Granger novamente. Realmente, ela era uma coisa. Ele engoliu em seco e logo se lembrou do beijo e de como saiu estupefato e com raiva de si mesmo por ter cedido. Hermione se virou para olhá-lo nos olhos e ele apenas acenou com a cabeça em reconhecimento de que ela estava ali, antes de girar nos calcanhares e praticamente sair correndo da sala.

Pansy cortou o silêncio com uma risada alta. 

— Salazar, parece que ele viu um fantasma. Granger, o que fez com ele?

Hermione dirigiu um olhar surpreso para Parkinson. 

— Eu?! Não sei do que você pode estar falando — ela falou tentando esconder o nervosismo.

Pansy sabia?

— Claro que sabe! Todo mundo já sabe que você e Theo estavam de rolinho e tiveram que encerrar tudo por causa da lei. Draco estava obcecado com o fato de que vocês dois estavam trabalhando juntos, e agora age como um adolescente. Então te pergunto novamente, o que fez com ele?

A bruxa engoliu em seco sob os olhares curiosos das três mulheres, Narcisa e Daphne contendo um sorriso. 

— Parkinson! Eu…

— Ah, mas é claro, Pansy Parkinson é uma gênia! — ela interrompeu Hermione. —  Aposto minha conta no Gringotes que vocês se beijaram, ele fugiu como se tivesse visto Voldemort na frente, e você está confusa com tudo porque estão prestes a se casar e ele mal dirige um olhar em sua direção. Acertei?

Ela fechou os olhos com a perspicácia da mulher, apertando a ponte do nariz em resignação. Foi o suficiente para Pansy exclamar um grito de comemoração e arrancar risadas de Daphne e Narcisa, deixando Hermione completamente envergonhada com a situação e seu excesso de emoções. Ela realmente não sabia esconder nada.

— Hermione, relaxe, nós estamos apenas brincando. Convenhamos, a energia que rola entre vocês dois sempre foi explosiva. Era uma questão de tempo até que algo assim acontecesse. — Daphne tentou acalmá-la, ainda sorrindo.

Ela cedeu e suspirou com a situação. Se algum dia falassem que ela estaria sentada tomando chá com Narcisa e duas sonserinas de sua turma, conversando sobre beijar Draco Malfoy, e que ela se casaria com ele, provavelmente riria na cara da pessoa com todo o fôlego que tivesse. Mas cá estava, exatamente nessa situação, abismada com tudo.

— Não vou falar sobre nada disso com vocês! — exclamou, pensando especificamente em Narcisa. Cavaria um buraco no chão se tivesse que conversar sobre beijos com a mãe do homem.

Pansy ergueu as mãos em rendição. 

— Tudo bem, Granger. Uma hora vamos descobrir tudo mesmo.

Hermione revirou os olhos e finalizou seu chá. O céu estava praticamente escuro, indicando que a noite estava chegando, e ela tinha que trabalhar no dia seguinte.

— Acho que está na minha hora — informou e se levantou, passando a mão pela calça para eliminar as rugas inexistentes.

— Não, querida! Fique para o jantar, por favor — Narcisa pediu segurando suas mãos.

— Muito obrigada, Sra. Malfoy, mas realmente preciso ir. Adorei o convite e foi um prazer conversar com a senhora. — Hermione sorriu e apertou as mãos da futura sogra com carinho.

— Vamos marcar mais vezes, certo? As meninas também podem vir.

Pansy e Daphne assentiram em concordância e Daphne se dirigiu para Hermione, abraçando-a e depositando um beijo em cada bochecha.

— Me mande uma coruja, podemos marcar um jantar em um final de semana, e depois ficar na minha casa, fofocando! Suas amigas da grifinória são bem-vindas! Vai ser praticamente uma noite das garotas. — Hermione armazenou o convite em sua memória para analisá-lo com calma depois, mas concordou silenciosamente.

Pansy também a abraçou.

— Isso mesmo, Granger! Traga suas amigas para que elas vejam que nós, sonserinas, somos gente boa. E eu adoraria conversar com você sobre moda, talvez até experimentar algumas roupas!

Hermione fez uma careta com a ideia. O movimento não passou despercebido por Pansy, que colocou as mãos em seus ombros antes de falar:

— Não vou ser uma idiota e ficar te criticando, Granger. Somos adultas e já passamos por muita coisa para ceder às provocações adolescentes da época de Hogwarts, não somos?

Hermione arqueou uma sobrancelha para a bruxa em sua frente. Com certeza ela estava vivendo em um universo alternativo onde ela se casaria com Malfoy e Pansy Parkinson estava sendo gentil e amigável com ela.

— Hum, vou pensar no caso, tudo bem? E também vou pensar em um dia para o jantar — ela se dirigiu a Daphne. — Na verdade, por que uma noite das garotas? — perguntou confusa.

— Acho que seria ótimo se nos aproximassemos um pouco, e nada como comida e álcool para diminuir os ânimos, certo? Podemos, inclusive, fazer alguma coisa relacionada ao casamento para vocês duas. A propósito, Pansy foi pareada com Justino Finch-Fletchley.

Hermione arregalou os olhos, imaginando Pansy casada com Justino, aquele garoto inconveniente do seu ano da lufa-lufa. 

— Poupe-me dos comentários, Granger.

— Eu não iria dizer nada! — Hermione riu. — Mas acho que falar sobre o casamento é desnecessário… 

— Na minha época, fazíamos a mesma coisa. Uma noite para melhorar a interação de vocês seria ótima! — Narcisa comentou. 

— Tudo bem, acho que posso fazer isso. Tem alguma ideia do dia? — Hermione perguntou à Daphne.

— Ainda não. Veja com suas amigas quando elas podem, e me mande uma coruja com a sugestão. Eu informo Pansy e depois te confirmo, pode ser?

Hermione assentiu novamente, finalizando o assunto. Ela se aproximou de Narcisa para se despedir apropriadamente, e Pansy e Daphne se sentaram no sofá.

— Obrigada novamente, Sra. Malfoy.

— O prazer foi meu, Hermione. Obrigada por ter vindo! Logo te mandarei outra coruja, tudo bem? Precisamos falar sobre o casamento — a mais velha falou e se aproximou de Hermione para abraçá-la, indo em direção ao corredor ligado à escada que levava até a saída. Narcisa chamou Dipsy e pediu para que acompanhasse Hermione até a saída.

Draco surgiu de uma porta adjacente ao corredor, assustando as duas mulheres, e a elfa que apareceu imediatamente.

— Dipsy, não. Eu acompanho Granger. Está dispensada — Malfoy falou firmemente.

A elfa olhou para Narcisa, confusa sobre qual ordem seguir, e Hermione ficou inquieta com a situação, perguntando-se porquê Malfoy queria acompanhá-la.

— Está tudo bem, Dipsy. Deixe isso com Draco, obrigada — Narcisa a dispensou, olhando curiosa para o filho. Ela deu um beijo na bochecha de Hermione e voltou para o solário, deixando-os sozinhos.

A morena abaixou a cabeça sob o olhar avaliador que Malfoy lhe dirigiu depois que sua mãe saiu. Não queria olhar em seus olhos naquele momento. 

— Queira me acompanhar, Granger.

Ela o seguiu escada abaixo, chegando em frente a porta principal em silêncio absoluto. Ele recolheu seu casaco e bolsa e lhe estendeu os itens, com o olhar em seu rosto durante o tempo todo.

— Não sabia que minha mãe tinha te convidado — ele disse com a voz baixa e contida. 

— Recebi uma carta ontem.

— Aparentemente, você estava se divertindo com elas — ele apontou e Hermione não sabia onde ele queria chegar.

— Hum, sim. Foi uma ótima tarde — respondeu diretamente, querendo ir embora o mais rápido possível.

Draco passou a mão pelo rosto e cabelo, mostrando nervosismo por estar ali. Hermione analisou sua testa franzida, desceu para seus olhos cinzas brilhantes e depois para seus lábios rosados, se lembrando de como eles eram macios quando se beijaram. Malfoy pegou seu olhar, levantando um sorriso zombeteiro e chamando sua atenção.

— Gosta do que vê, Granger? Tire uma foto.

Hermione arqueou uma sobrancelha com sua arrogância e se virou para ir embora, mas ele a chamou de volta.

— O que é, Malfoy? — perguntou irritada.

— Precisamos falar sobre o… casamento. — Ele gesticulou com as mãos. — Decidir algumas coisas que sejam adequadas para os dois lados.

Dois lados?

— Ok. 

— Podemos nos encontrar nesta semana? Durante um jantar, talvez.

Hermione assentiu, um pouco confusa com o que ele quis dizer com “dois lados”.

— Só me envie por coruja quando quiser e eu te digo se posso. Tchau, Malfoy.

— Granger, espere — ele chamou novamente. — Aquele dia em sua casa, obrigado por ter me… ajudado. E sobre o… beijo — ele começou com uma feição estranha no rosto, parecendo indeciso sobre o que falar. — Agi por impulso. Não precisa se preocupar com a possibilidade de acontecer de novo, porque não irá. Sei que essa situação não é a ideal, mas vou garantir que tudo fique em seu devido lugar.

Hermione assentiu sem entender direito o que Malfoy quis dizer. Ele se desculpou por beijá-la porque não queria que tivesse acontecido, ou por medo de que ela estivesse brava? 

Ele acenou com a cabeça e abriu a porta principal para que ela fosse embora. Hermione aparatou em sua casa, suspirando pesadamente com todas as emoções que habitavam seu ser.

 


Notas Finais


Capítulo enorme e importante! O que acharam?
Dois lados, Draco? Hmmmm, e agora, leitorxs?

O que esperam do próximo? Domingo tem nova atualização.
Comentem muito! Obrigada por estarem acompanhando.
Amo vocês <3


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