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História A Lenda da Abominação - Livro Um: Amizade - Capítulo 2: O Grande Templo


Escrita por: Ren_Kintasu

Capítulo 3 - Capítulo 2: O Grande Templo


Fanfic / Fanfiction A Lenda da Abominação - Livro Um: Amizade - Capítulo 2: O Grande Templo

— Kuzou.

Yan foi pego de surpresa pelo forasteiro. Andavam lado a lado, ajudando o dobrador de água a transportar o gigante.

— Meu nome é Kuzou. Você parecia querer saber naquela hora — disse, terminando de formar um leito de rocha para o grande homem, enquanto o dobrador de água formava uma pista de gelo para o leito deslizar.

— Ah... sim, sim... — Yan nem lembrava mais o que havia acontecido, o ataque até aquele momento parecia irreal. Porém, nada como um ataque surpresa para criar laços. Yan riu desse pensamento. O forasteiro entrou no clima.

— Então... dobrador de ar, é? O que um faz tão longe de seu templo, se me permite perguntar?

— Ahn... — mediu as palavras, se segurando para não falar demais novamente. — Estou... bem, meio que em uma peregrinação.

— Quer dizer o rito de passagem dos nômades? — perguntou Kuzou, maroto.

— E... exato. — Ele realmente não dava para sutileza. — Ah, pro inferno. Estou no meu rito de passagem pelo templo do ar do leste. Faz alguns... faz um tempo já.

Kuzou parecia intrigado, mas foi interrompido pelo dobrador d’água.

— Muito bem, tudo pronto. Se importam de me acompanhar? Provavelmente precisarei de ajuda com... isto — disse ele, apontando para o gigante.

Eles concordaram e começaram a andar. Kuzou mantinha o leito com o gigante em movimento e estável, enquanto o franzino ia aumentando a dianteira da pista e recolhendo a traseira conforme andavam.

— Você mais cedo... mencionou o Avatar e não explicou mais.  — comentou Yan, curioso.

— Ah sim. Vocês fizeram um grande serviço ao Avatar hoje. Talvez ao mundo todo. Não se preocupem que vocês serão muito bem recompensados quando chegarmos ao Templo do Avatar.

— Mas por q... — começou e interrompeu-se, absorvendo a informação. — Templo do Avatar? Estamos indo para lá?! — exclamou Yan, entusiasmando, esquecendo completamente a pergunta que ia fazer.

— Claro. No entanto, sinto informar que o Avatar não estará presente, pois está em visita a Ba Sing Se no momento.

— Ah, sim! Eu soube das rebeliões. Suponho que o Avatar tenha ido tentar acalmar os ânimos entre os rebeldes e o “rei” Quan. — Yan tinha ouvido dos problemas em uma taverna perto do porto em que havia chegado ao Reino da Terra. Parecia que a cidade estava mais frágil que nunca. — Esperemos que desta vez tudo se resolva.

— Todos esperamos, mas sabemos melhor. Um problema que dura meio século não mais será resolvido com diplomacia. Mas não custa tentar. Esse mundo já viu guerras demais. — disse o dobrador de água.

— Realmente. Bem, voltando ao templo, como é... — começou Yan, com brilhos nos olhos.

— Enfim — interrompeu Kuzou. Yan parecia congelado na pergunta que nunca terminou. —quem devemos o prazer desse papo político? E a tudo isso? — disse, gesticulando para o grande ser no leito de rocha, ainda inconsciente.

— Ah, sim. Me chamo Yikki. Sou o assistente pessoal e representante do Avatar. Também sou o curador do Museu do Equilíbrio, que se encontra dentro do templo...

— Você é o curador do Museu YinYang?! — cortou Yan, estupefato. — Eu não acredito! Temos tanto para conver...

— E quem é o homem que nos atacou? — interrompeu Kuzou novamente. Yan novamente se encontrava petrificado na pergunta nunca dita, mas pequenos espasmos musculares nos dedos e na testa revelavam sua irritação.

— Acho que vocês merecem uma explicação. Mas primeiro, vamos resolver aquele pequeno problema — disse Yikki, apontando para frente.

A poucos metros à frente, encontrava-se o templo. De perto, via-se o quão gigantesco era. Na entrada, era possível ver a quantidade ridícula de pessoas que se encontrava esperando para entrar. As quatro filas saiam da entrada do museu e seguiam até a cidade.

— Bendito Aang! Eu sabia que esse lugar era famoso, mas não tanto! — exasperou-se o nômade.

— Hoje é dia de promoção — mencionou Yikki, um pouco contrariado. — Eles não podem ver isso. Qual o seu nome, nômade?

— Yan. Yan Li Bai.

— Senhor Li Bai, você pode usar sua dobra para fazer a areia flutuar? Uma cortina de areia seria ótimo.

— Ah... claro... Claro! Claro que posso! — E começou a conduzir uma brisa para o solo, fazendo a areia começar a espalhar-se pelo ar. Logo, eles estavam invisíveis para quem visse de longe.

— Muito obrigado. Agora venham, por aqui — orientou-os, pegando outro caminho.

Depois de um tempo, perceberam estar na parte detrás da construção.  O portão traseiro era enorme, e continha vários buracos e encanações pela sua extensão. O assistente do Avatar dobrou água para fora da bolsa d’água em sua cintura e fez com que ela entrasse por um dos buracos, canos acima. O portão rangeu, e começou a abrir.

“Uma porta de dobras, que fantástico!”, pensou Yan, entusiasmado. O assistente percebeu o ânimo do nômade.

— Legal, não?

— Muito! Não se vê muitos delas ultimamente. — Yan passava a mão pelos detalhes perfeitamente entalhados na pedra da porta.

— A da entrada principal também é, e é uma rara. Para abri-la, são necessários quatro dobradores, um de cada elemento. É um como um show antes do prato principal — explicou o curador, com uma ponta de orgulho na voz.

Eles entraram, e os portões fecharam-se atrás deles, sem um rangido sequer.

— Eu preciso ver isso! — bradou Yan, quase pulando.

— Eu imagino que essa porta por qual passamos seja mais segura do que aparenta — supôs Kuzou, indiferente.

— É claro que sim. Todo dia, os encanamentos interiores mudam de lugar. Apenas alguém de dentro sabe qual buraco leva ao cano certo, e que elementos são permitidos na semana — disse Yikki, fechando a porta ao puxar uma alavanca à direita.

— Eu espero não estarmos trazendo uma de suas atrações que fugiu — brincou Kuzou, ácido. O curador pareceu apreciar a piada, e riu.

— Ah, quem dera... quem dera... — disse quando parou de rir. — Infelizmente, o assunto é mais sério. Muito mais sério. Me acompanhem.

Eles seguiram pelo armazém interno escuro, até chegarem a um corredor. Lá, o curador acendeu uma luz, e pediu que carregassem o gigante, pois o leito não caberia pelo caminho. Cada um pegou um braço, passou sobre os ombros, e seguiram. Ainda assim, o gigante mal cabia no corredor apertado. Viraram à direita no final do mesmo, quase se desequilibrando. Ainda em frente, chegaram a uma parte mais escura, com celas. Era possível ver um grande estrago. As paredes estavam rachadas e com pedaços de concreto caindo. Uma das celas estava literalmente demolida. Kuzou deduziu que fosse trabalho do gigante que carregava. Não era um bom presságio.

O assistente abriu uma cela e gesticulou para eles entrarem. Dentro, o curador pediu para prenderem os pulsos e as pernas do grande homem em correntes penduradas na parede. Feito isso, Yikki puxou uma alavanca fora da cela, e as correntes foram puxadas até o gigante ficar pendurado na parede, sem contato com o solo. Trancada a cela, ele se virou para eles e pediu para acompanhá-lo.

Entraram numa sala no corredor adjacente àquele das celas, e sentaram-se num sofá, um de frente para o outro. A sala era pequena, mas aconchegante.

— Muito bem. Agora lhes devo explicações — decidiu-se Yikki. — Sim, ele é um prisioneiro. Perigosíssimo, por sinal. Vocês viram o tamanho da destruição causada pelo mesmo. Ele é bem bruto. Quase um animal. Mas agora as providências necessárias serão tomadas.

— Se me permite dizer, essa fuga foi tudo menos indevida — retorquiu Kuzou. O curador levantou uma sobrancelha. — Vimos pessoalmente mais cedo que ele é um dobrador de terra poderoso e bruto, no entanto, as celas são feitas de elementos derivados da terra, os quais uma simples criança seria capaz de dobrar com treino. Apenas as algemas de platina parecem adequadas para o caso. Portanto, esse lugar é ineficiente para cárcere. Mas eu acho que a pergunta certa, no caso, é: por que um museu possui uma prisão?

Yan estava estupefato com as constatações. E um pouco preocupado com a possível resposta do curador. Estava diante de uma oportunidade cultural única, e tinha medo de que essas perguntas todas irritassem o homem que poderia garantir-lhe isso. No entanto, Yikki deu um pequeno sorriso.

— Muito sagaz, senhor Kuzou. — Foi quando Yan percebeu que ele ouvira a sua conversa mais cedo com o forasteiro. — O que mais havia nas celas, você reparou? — disse, com um sorriso maroto.

— Nada de anormal. Uma pequena tocha no canto esquerdo para iluminação, e um balde d’água para a hidratação do prisioneiro — lembrou Kuzou. O curador sorriu mais. Foi quando ele percebeu. — No entanto... uma tocha dá mais trabalho que uma lanterna à óleo e é uma opção pouco usada hoje em dia... e o balde... estava longe demais para alguém acorrentado alcançar...

O curador deu uma risadinha.

— Levamos água todo dia à cela, e o corredor é muito bem iluminado, se acendermos as luzes — disse ele. — As paredes em volta de fato são de terra e derivados, mas a contra a qual o prisioneiro está preso, é apenas pintada assim. Atrás, se encontra um bloco de platina do tamanho da cela. Nada está lá deliberadamente. Algumas celas têm peculiaridades diferentes das outras. Como paredes de gelo puro, pouca ou muita ventilação, tochas ou lanternas....

Yan ainda não entendia aonde tudo aquilo levava. Olhou para Kuzou, que parecia mais concentrado, mas também demonstrava confusão. O curador parecia estar divertindo-se bastante, como se tivesse dando uma aula para um grupo de visitação particularmente curioso.

— A cela parece frágil, porque essa é a intenção. A função delas não é prender ninguém; é permitir que alguém escape. — Aquilo claramente surpreendeu os dois. — Aquele bruto pode dominar terra à vontade, desde que ele escape das algemas. No entanto, para isso, é impossível usar a terra. Portanto, só lhe resta usar...

— Outro elemento — completou Yan. Ambos se viraram para ele. As peças começaram a se encaixar em sua cabeça. E na de Kuzou também.

— A tocha, o balde... celas de gelo, celas bem ventiladas ou não... — desenvolveu Kuzou. — Todas as celas parecem que foram feitas para privar um único elemento, enquanto os outros ficam em abundância...

— Exato — sorriu Yikki.

 

A Abominação.

 

Todos olharam para Yan, que tinha chegado à conclusão mais rápido. O curador meneou a cabeça afirmativamente.

— Você está dizendo... que aquele homem que nos atacou e trouxemos até aqui é... a Abominação?! — exclamou Kuzou, exaltado.

— Exato. Não tínhamos certeza até hoje, quando ele conseguiu fugir. Mas agora não há dúvida — disse o curador, sério.

— Espera, ele estava preso aqui... sem vocês sequer terem certeza? Baseado no quê? — disse Yan, também exaltado.

— Não nos tome por tolos. Sabemos que várias pessoas dizem ter visto ou interagido com a Abominação, mas, quando alguém verifica, descobre ou que a pessoa é louca ou que mentia, por fama ou por outro motivo qualquer. Sempre vamos pessoalmente verificar. Esse possuía muitas evidências favoráveis para ser ignorado. E agora está confirmado.

— Museu bem interessante o seu. Vocês cobram quanto pelas visitas aos lugares de verificação? — sibilou Kuzou, ácido. Ele não deu tempo para o curador responder. — Se aquele é mesmo a Abominação, todo mundo aqui corre perigo, não?

— Calma. Te garanto que as medidas necessárias estão sendo tomadas enquanto falamos para assegurar a remoção dele e a segurança dos visitantes.

Kuzou pareceu não acreditar muito. Yan continuava calado.

— Mas chega desse assunto desagradável. Eu lhes devia uma explicação pelo infortúnio, e esta lhes foi dada. Agora, eu gostaria que isso ficasse entre nós, não queremos pânico. Portanto, vamos aproveitar o museu. Vocês têm livre acesso a ele de graça, como agradecimento. Aliás, vocês gostariam que eu fosse seu guia? — falou o assistente do Avatar, animado.

Yan pulou em pé com a animação, esquecendo completamente o assunto anterior.

— Mas é claro! Eu tenho tantas perguntas! Adoraríamos, não é, Kuzou? — berrou, animado. O forasteiro não parecia tão inclinado a ir.

— Ah, pro inferno. Por que não? — soltou finalmente, levantando-se.

— Maravilha! Me acompanhem — instruiu-os o curador. Todos saíram da sala e seguiram o corredor na direção contrária à escuridão que envolvia o gigante.

Olhando para trás, Yan podia jurar que ouvira um gemido vindo de lá. Se era de raiva ou tristeza, ele não saberia dizer.

Já Kuzou, que também ouvira, sabia que se tratava das duas coisas.

 

 

 

Yan parecia uma criança em uma loja de brinquedos. Aquele lugar era maravilhoso.

Lá, se via de tudo. As botas da Avatar Kyoshi, o planador do Avatar Aang, um retrato da Korra. Esses e outros avatares mais importantes ou recentes tinham alas próprias. Yikki era um ótimo guia, dando informações das mais curiosas e ínfimas que ele descobrira, como o fato de a Avatar Korra ter lutado em ringues de dobra de terra enquanto estava desaparecida; ou que o Avatar Aang conquistou sem querer uma menina na nação do fogo, no meio de uma infiltração disfarçada. Comentou pelo menos umas duas vezes sobre a inteligência dele e do Avatar em terem feito o museu de camadas de vidros, aproveitando assim os recursos do deserto à sua volta. Kuzou não estava pulando de alegria como Yan, mas parecia sinceramente interessado. Observava fixamente cada detalhe, e parecia absorver todo tipo de informação.

— Você parece saber bastante, nômade — afirmou o curador, observando o animado Yan, depois de saírem da ala do Avatar Roku. O nômade pareceu ligeiramente envergonhado e desconversou. — Ora, não adianta fazer isso. Eu reconheço um arqueólogo quando vejo um. — Yan estacou, surpreso. Kuzou também parou, olhando para ele com uma sobrancelha levantada.

— É... é, tá, pode-se dizer que sou um arqueólogo. Sou fascinado por antiguidades e pela história do nosso mundo. Também se pode dizer que sou historiador, então — contou, envergonhado, mas com certo tom de desafio. — Mas também não sou dos bons. É de se esperar que um bom arqueólogo reconheça um vaso falso antes de comprá-lo — confessou, contrariado, e tirou o vaso de sua fiel e enorme mochila. — Era Roku uma ova, aquele cretino deve ter pintado um vaso da mãe e posto na prateleira. 35 peças de prata por essa piada.

O curador riu e pegou o vaso para olhar. Então o rosto dele começou a ficar sério.

— Inacreditável! Isso é um vaso de uma era anterior a Roku! Seu valor é incalculável! — exclamou Yikki. Yan estava boquiaberto. — Eu lhe compraria agora por 500 peças de ouro... se não fosse essa pequena rachadura aqui. Agora não vale nada. — e jogou o vaso de volta. Yan tremia e parecia à beira das lágrimas, com o vaso agarrado no braço. — Calma, calma, era brincadeira! É um vaso qualquer pintado — confortou-o, rindo.

Yan ainda parecia arrasado. Já Kuzou se divertia.

— Bem, vamos para a ala que eu mais gosto. Por aqui — direcionou-os, seguindo pelo meio do saguão cheio de pessoas. — E desculpa pela brincadeira. — Yan meneou a cabeça perdoando, mas ainda segurava o vaso como se fosse um filho.

Eles passaram pela linda fonte central, e seguiram em direção às escadas principais.

Do terceiro andar, na passarela de vidro sobre eles, alguém os observava.

 

Entraram em uma grande sala banhada pelo sol, que atravessava as espessas paredes de vidro. Toda a sala, desde o rodapé ao teto, era feita de vitrais e vidraças coloridos, dando um aspecto lindo ao local. Yan conseguia ver milhares de reflexos seus caminhando pelo lugar, todos repetindo as mesmas ações. Milhares de homens baixos, com cabelos castanhos lisos até os ombros, que seguravam firmemente milhares de vasos contra seus peitos. Ele parecia uma criança segurando um brinquedo. Pelo menos era uma criança bonitona.

— Pare de se admirar, Sokka, e venha nos acompanhar — brincou Yikki, ali perto.

 Yan ficou vermelho de vergonha e voltou a segui-los.

 — Ah, aqui estamos. Olhem — apresentou, apontando para uma estátua de vidro enorme, duas vezes o tamanho do Gigante.

Olhando mais afundo, perceberam que o vidro era oco, e, dentro da estátua, a água corria pelas articulações e membros, como se fosse sangue. Era uma peça incrível, Cuidadosamente trabalhada, com um empenho que beirava a devoção.

— Esse é o nosso atual Avatar, Avatar Kororrak, da Tribo da Água! Tenho orgulho de dizer que sou seu assistente, e um amigo pessoal. Ambos nascemos da Tribo da Água do Norte, e treinamos juntos sob a sabedoria do mesmo mestre. E ele me escolheu para acompanhá-lo em suas aventuras, uma honra inimaginável, e até hoje sou grato — expôs, com a voz cheia de admiração. O Avatar estava em posição de dobra d’água, mas mesmo assim tinha um ar de imperatividade. — Tenho o orgulho de dizer que juntos vencemos a grande crise de nossa era, a volta dos Igualitários, e venceremos também a crise da monarquia auto imposta de Ba Sing Se. Logo, a pior das ameaças, a Abominação, também será derrotada. Foram 19 anos de aventuras e embates, e que muitos anos ainda se sigam assim.

“O nosso Avatar é um dos mais fortes e aptos nos últimos 200 anos, tendo dominado todos os elementos aos 12 anos, e todos os elementos derivados aos 16. Hoje com 32, sua sabedoria é enorme, e seu poder imensurável. Ele é...”

— Com licença senhor, temos um problema — interrompeu um funcionário de vestimenta colorida do museu.

O curador pareceu murchar. Virou–se para ele emburrado e perguntou o que aconteceu. O funcionário sussurrou no ouvido dele, e foi embora quando Yikki o dispensou.

— Que maravilha. Parece que o dobrador de água da equipe da porta principal se acidentou no meio da dobra. Vou ter de ir resolver isso, infelizmente; talvez até substituí-lo. Peço perdão. Aproveitem o museu. — E retirou-se, contrariado.

— Merda. A visita estava fascinante — reclamou Yan, após ele sair de vista.

— Sei não, pensei que ele ia beijar a estátua a qualquer momento — brincou Kuzou. Yan não conseguiu evitar rir.

— Não é? Só faltou isso — disse, entrando na brincadeira. — “Ai, Avatar, vamos conquistar o mundo juntos!” — E puseram-se a rir.

E riram até sair da sala, às custas do assistente. Esperavam que ninguém ouvisse, mas sabiam ao mesmo tempo que outras pessoas deviam rir disso. Afinal, ele era muito obvio.

Separavam-se brevemente enquanto Kuzou foi ao banheiro e Yan foi dar uma volta. Demoraram a reencontrar-se, pois Yan perdeu-se na ala da Korra.

— Então, arqueólogo e historiador, é? — perguntou Kuzou, quando se encontraram de novo no saguão, ao lado da fonte feita de vidro azul cristalino.

— Pois é. Tenho viajado o mundo atrás do nosso passado. Essa mochila tem sido minha grande companheira de viagem, e sem ela estava perdido — abriu-se Yan.

— Isso faz parte do rito de passagem nômade?

— Sim. Desde a Convergência Harmônica, 200 anos atrás, quando novos dobradores de ar surgiram... bem, do ar — brincou —, foi criado esse rito de passagem. Para se tornar um verdadeiro mestre do ar, após os anos de treino, viajamos para conhecer o mundo e culturas. Isso meio que compensa os anos de reclusão... — disse Yan, mais baixo, e claramente incomodado.

Kuzou demonstrou curiosidade, mas Yan desconversou. Antes que fosse possível insistir, no entanto, uma garota os abordou.

— Se divertindo, rapazes? — perguntou ela.

Era baixa, do tamanho de Yan mais ou menos, e possuía cabelos negros bem curtos. Aparentava ter 17 anos, a inocência e a beleza da juventude estavam estampados em seu rosto. E algumas sardas.

— Muito interessante o museu, não? Imagino como que deve ser a parte que não vemos, a parte dos fundos. Deve ser muito bagunçada! — riu-se. Ela falava muito rápido.

— Nem tanto, é até que bem organizada, cheia de coisas fascinantes, e não é feito de vidro, curioso, não? Obviamente por razões de seg... — Yan começou a soltar a língua.

 Kuzou interrompeu-o com um gesto.

— Então vocês estiveram lá?! Vocês poderiam me mostrar, sempre quis ver... — atropelando ela, aproveitando a deixa.

— E quem seria a senhorita? — interceptou Kuzou, desconfiado.

— Ahn... eu sou... Mira! É! Mira é meu nome! E o de vocês? — perguntou ela, piscando inocentemente.

— Eu sou Yan, e est... — rompeu Yan novamente, antes de ser igualmente cortado por Kuzou.

— Improvisou bem. Ou você é retardada. Mas não acho provável uma retardada ser capaz de nos seguir tão “habilmente” como você fez. Então, diga, “Mira”, o que deseja? — inquiriu Kuzou, mordaz.

A menina parecia congelada, com o sorriso grande demais ainda estampado no rosto. Yan não ficava atrás, boquiaberto, olhando de um para o outro.

— E-e-eu não s-s-sei do q-que você está... falando... — gaguejou ela, quando finalmente havia descongelado.

— No entanto, olhar de uma passarela de vidro diretamente para baixo por vários segundos foi bem amador... vidro é transparente dos dois lados, sabe?... — continuou provocando Kuzou. Nenhum dos três moviam-se. — Me pergunto o que você quer tanto saber sobre os “bastidores”...

Kuzou percebeu o movimento, mas Yan foi mais rápido. Interceptou a mão da garota a meio caminho do golpe. Dobradores de ar realmente eram rápidos.

A aparência dela parecia tudo menos inocente naquele momento. Seus olhos estavam cerrados, e ela tinha sido interceptada em posição de batalha. Yan era mais forte que aparentava, estava segurando a menina firme, sem vacilar com as tentativas dela de desvencilhar-se dele.

Então, uma chama apareceu e queimou a mão do nômade, que largou a garota e apagou a chama com um sopro forte. Kuzou já dobrava a terra, formando uma armadura que saiu do chão, atravessando o azulejo cristalino do saguão e firmando-se em seu corpo. A dobradora de fogo tomou distância e preparou-se para atacar.

Mas o embate nunca aconteceu.

Porque a terra tremeu, e o saguão pareceu explodir.

O impacto ocorreu atrás de Kuzou. A armadura de terra o protegeu de ser jogado longe. Yan não teve a mesma sorte; foi parar dentro da fonte. A menina desaparecera.

Do grande buraco que se formara na parede agora rachada, saiu um ser enorme, com correntes de platina arrebentadas refletindo de seus pulsos e tornozelos. Kuzou, no chão, virou-se e o viu.

O Gigante.

A Abominação.

Sem perder tempo, o gigante dobrou a terra, formando uma onda de terra que destruiu a entrada, formando uma rota de fuga. Seguranças e funcionários de diferentes dobras correram para interceptá-lo, mas a próxima onda, de tamanho assustador, jogou-os para fora do caminho, inconscientes.

O grande ser correu para a saída, sem resistência à altura.

Da mesma porta que antes haviam adentrado o museu, a partir do corredor das celas, saiu o curador, mancando.

— PEGUEM-NO, SEUS INÚTEIS! NÃO DEIXEM QUE ELE ESCAPE! — esgoelava-se, desesperado, o assistente do Avatar. Se seu cabelo não fosse cortado tão rente, ele provavelmente estaria arrepiado. No entanto, as exclamações dele não impediram que o gigante escapasse.

Kuzou, ainda com a armadura danificada, levantou e correu até Yan, que cambaleava para fora da fonte. Ou tentava; tudo tremia demasiadamente.

— Mas que po... — começou ele, tonto.

— Vem! Esse lugar vai desmoronar! — berrou o dobrador de terra, ajudando o nômade.

Com timing perfeito, o prédio gemeu.

E o saguão, e seus andares adjacentes, começaram a despedaçar-se e cair.

Ambos correram para a saída feita pelo gigante, ao mesmo tempo que usavam suas dobras para evitar serem mortos por estilhaços e escombros.

Do outro lado do saguão, o curador parecia desabar junto com seu museu. Paralisado, não fez nada quando a passarela de vidro caiu em sua direção. Ele apenas olhou.

Quem o salvou foi a terra, que criou vida, atravessou o chão de vidro e o jogou para longe do raio de impacto. Caído, ele olhou na direção de seu salvador.

Kuzou encarou-o de volta, antes de sair pelo buraco na entrada, em direção ao deserto.

Yikki decidiu não desperdiçar a oportunidade, levantou-se e correu para a saída dos fundos.

 

 

Os dois só pararam de correr um quilômetro depois.

Ao longe, tudo que se via do grande templo era uma enorme nuvem de areia e fumaça que cobria a visão do lugar. O sol estava para se pôr, dando uma coloração ao mesmo tempo etérea e sinistra ao deserto.

Kuzou desfez a armadura e recuperou o fôlego. Yan subiu a duna mais próxima, ignorando a exaustão, e olhou para o maior polo cultural do mundo. Nada se via através da camada de fumaça ao longe. Nem sequer um brilho.

— Eu não acredito... Eu. Não. Acredito. A maior fonte de história do mundo... o lugar pelo qual eu atravessei metade do Reino da Terra. Destruído — lamentou o nômade, desolado. Sua fiel mochila jazia esquecida no pé da duna.

— E quase tivemos o mesmo destino. Diria que foi um dia de sorte — riu-se Kuzou, sem qualquer verdadeira alegria.

— VOCÊ NÃO ENTENDE! — gritou Yan, exasperado. — O valor histórico que foi perdido é incalculável! Foi a maior perda da humanidade desde o desaparecimento da biblioteca de Wan Shi Tong!

— Won Se, o quê? — disse o dobrador de terra, cansado e confuso.

— Wan Shi... ah, foda-se. Não importa — disse o nômade, escorregando a duna. No pé da mesma ele permaneceu, sentado. Pegou o cantil que tinha enchido no museu, e despejou parte da água no rosto. — Esquece.

Kuzou, cansado, seguiu o conselho dele. Jogou-se ao seu lado e pegou o próprio cantil para se hidratar.

— Até agora eu não entendi o que aconteceu. Num minuto, estávamos rindo e apreciando o fantástico museu, e, no outro, uma menina queima minha mão e o prédio vem abaixo — reclamou Yan, mais calmo, mas ainda inconsolável.

— Nem eu entendi direito. Mas alguma relação existe. E como está sua mão, falando nisso? — indagou Kuzou, olhando o sol se pôr por de trás dos prédios da cidadezinha que compartilhava o deserto com o museu.

— Está ótima. Apaguei a chama antes que algum dano real fosse feito. Mas ainda tem uma certa ardência — respondeu, jogando um pouco de água na mão. — E é claro que tem relação. Tudo tem relação. Assim como eu adoraria saber a sua “relação” com o fato de você parecer saber de tudo e ter habilidades extra-sensoriais. E não me venha dizer que eu que sou distraído por não perceber a menina!

Kuzou congelou de surpresa. E então riu.

— Você não é tão tapado quanto parece. Mas tem de admitir que foi desatento — brincou ele. — E é uma longa história. Não se importe com isso.

— Bem, como o meu destino principal provavelmente jaz em pedaços atrás daquela névoa agourenta, eu acredito que não tenho muito mais o que fazer, então por favor, conte-me sua grande história — enfatizou Yan, emburrado. — E não sou desatento.

— Ok. Mas só se você me dizer o que te fez fugir do Templo do Ar do Leste — rebateu Kuzou, com um sorriso maroto.

“Cretino sagaz, será que ele percebe tudo? Ou eu que sou desleixado? Não, ele é um puto sabichão, isso sim”, pensou Yan.

— Touché — disse o nômade, contrariado. — Mas errou. Eu não fugi. Estou mesmo no rito de passagem. Só... não pretendo voltar. Gosto do mundo. Cansei do templo. Cansei do isolamento.

— Entendo.

— Duvido. Sua vez, sabichão.

— Ok. Eu sou tão atento porque fui treinado a perceber qualquer possível ameaça, a um nível que chega a ser paranoico.

— Treinado? Por quem?

Kuzou deu uma risadinha.

— Dai Li — contou, como se tivesse informando alguém do tempo.

Yan assustou-se tanto que pulou em pé. E afastou-se um pouco, porque não era de ferro.

— D-Dai Li? O Dai Li? A organização “secreta”? — gaguejou o nômade. — Aquele Dai Li?! O mesmo do...

Kuzou interrompeu Yan com um movimento rápido e levantou-se, alerta. O nômade estacou, apavorado, pensando que era com ele, que tinha passado dos limites.

Mas não era.

Uma sombra ao norte, entre eles e a cidade, destacava-se. Aproximava-se rapidamente em sua direção, deixando um rastro enorme de areia em seu encalço. Quando as últimas luzes do sol alcançaram-na, elas refletiram em seus pulsos e tornozelos. Kuzou o reconheceu.

 

O Gigante também os havia reconhecido.



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