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História A Lenda de Albion - Capítulo XXII


Escrita por: misshomicidal

Capítulo 23 - Capítulo XXII


Fanfic / Fanfiction A Lenda de Albion - Capítulo XXII

O segundo dia de recesso havia passado.

No terceiro dia pela manhã, o sepulcral silêncio que se estendia de Aurora estava por todo o ambiente. Beirava ao corpóreo a inquietude em seu peito. Seus olhos cinzas pareciam ferro em brasa, antes de ser forjado. Sua postura era rígida, uma estátua de ferro ao lado da estátua pálida que era seu irmão, Victor.

Estavam na sala de treinamento, no subsolo. Aquela, em particular, tinha um tamanho consideravelmente pequeno. As paredes eram revestidas de um ferro mais fosco e o chão era de linóleo preto. A iluminação era fornecida pelo teto baixo; chamas encantadas eram comedidas por uma barreira feita de vidro temperado, levemente esbranquiçado. O cômodo era retangular. Da sua parede esquerda, havia um côncavo — dele, aquele que estivesse na área de treinamento, podia conjurar a arma que assim desejasse. Obviamente, haviam algumas exceções como materiais encantados. Eram peças simples, dos materiais que estivessem nas forjas do castelo; em sua abundância ferro, embora outras peças pudessem ser encontradas, se você soubesse como pedir.

Do lado direito, um pequeno mezanino tomava toda a extensão. Poltronas estavam dispostas daquele lado, assim como pequenas mesas. Jarros de ferro com vinho, petiscos sobre bandejas de prata. Ninguém parecia excepcionalmente interessado nisso. Alguns dos observadores, ademais, estavam de pé.

Não muitos dele. Aurora tinha tratado aquilo com tamanho desgosto, que permitira apenas algumas poucas pessoas de verem aquela batalha.

Um campo de força impedia que os observadores fossem atingidos por possíveis armas que escapassem das mãos dos competidores — mas isso não prejudicava em nada a vista da luta, que sucederia-se consideravelmente perto.

Além de Aurora e Victor, Hunter estava sentado ao lado da esposa. Atrás dos dois, em pé pela ansiedade, estavam Alena, Lyon e Mikhail — esses dois pareciam ter esquecido, por ora, seus pequenos desentendimentos, para fazer apostas sobre aquela pequena luta. Já, do lado de Victor, seus filhos, com exceção de Sargas que se preparava para entrar na reduzida arena, estavam em silêncio. Pareciam um pouco menos tediosos do que outrora, tinham aqueles hediondos olhos gélidos, curiosos para todos os lados.

Com exceção a Lesath, esse, parecia furioso — ele queria lutar.

— Isso vai ser interessante — Hunter quebrou o gelo, tanto tempo depois, inclinando-se para a esposa. — Não está curiosa para ver o que Ekaterina pode fazer? Você não parece feliz. Os filhos de Victor são bem treinados. Vai ser algo e tanto para ela.

Pela maneira como Aurora virou o rosto para Hunter, ela estava tentando matá-lo com um novo poder que esperava desenvolver: acabar com a vida da pessoa apenas para o olhar.

Ah... matar pelo olhar... se eu não me engano há alguém que consegue fazer isso. Não é engraçado? Mas bem, isso é para outro hora, de todo modo...

— Interessante? — ela sussurrou com uma intensidade doentia. — Interessante, Hunter?

— Sim, minha rainha. Interessante — ele lhe deu um sorriso grandioso, tinha os caninos naturalmente afiados. — Não entendo porque não deixou seu pai vir. O pobre Ryan deve estar completamente desgostoso com você agora.

— Há pessoas o suficiente aqui para presenciarem isso, Hunter — ela encarou os olhos do marido, esperando que ele lê-se o quão óbvio aquilo era. — Você realmente quer que isso seja traumatizante para Ekaterina? Eu me lembro quando eu tinha que lutar com você, ou com Victor, no escritório do meu pai. Uma vez você me colocou no chão e eu só queria ser engolida por ele e sumir. Ao que tudo indica, o ego de Ekaterina pode ser maior do que o meu...

— Isso seria um feito e tanto. Um poder de família, quem sabe? — Hunter deu um sorriso ladeado.

Aurora trincou os dentes de ferro.

— Um ego machucado é algo perigoso, Hunter.

— Talvez deveríamos então, trabalhar o ego dela, não seu potencial assassino — pontuou, o Grande Rei. Mas ele ergueu a mão de ferro antes que a esposa falasse outra vez. — Pela maneira como fala, você tem certeza que Ekaterina vai perder essa.

Os olhos da Grande Rainha estavam em fendas.

Você é burro?

— Posso considerar isso traição a coroa. Estou me sentindo ofendido pelo seu tom de voz... mas o que você quer dizer exatamente? — sempre havia um tom divertido na voz de Hunter que deixava Aurora naturalmente odiosa.

Querido, você já percebeu o que significa o nome desses demônios russos? — o entoar dela era cortante.

— Para falar a verdade, não. Tem uns inclusive que eu nem sei pronunciar. Quer dizer, o que diabos significa Acrab? Como é o nome do outro, Dsc... espera, eu realmente não sei pronunciar. Falta vogais nos nomes desses meninos... se pelo menos Victor tivesse pedido a minha ajuda, sabe, eu tenho uma lista de nomes interessantes que eu queria colocar num megazord, isso se você não tivesse simplesmente banido a ideia dizendo que eram gastos desnecessários de recursos o que foi completamente uma ofensa a um gr...

— Você está divagando, Hunter — Aurora revirou os olhos.

— Certo, os nomes. Eu não sei. Antares, até que vai. Acrab, Lesath. Sargas... mas aquele outro, eu realmente não consigo pronunciar.

Dschubba.

— Sinto muito por esse menino.

— Hunter, o que esses nomes significam? — Aurora estava impaciente.

— Que seu irmão estava bêbado quando os registrou? 

Hunter.

O Grande Rei arrumou-se na cadeira, e segurou a mão da esposa.

— Tudo bem, minha Grande Rainha, o que esses nomes significavam?

Grande Rainha. Os olhos dela semicerraram-se mas Aurora ficou um pouco mais satisfeita dele estar cooperando.

— Eles tem o nome das estrelas da Constelação de Escorpião. Segundo um mito grego, inimigo mortal do caçador. Hunter... caçador — Aurora deu ênfase enquanto o marido parecia estar entrando num estado de nirvana.

Ela estava esperando por grandes teorias da conspiração. ''Seu irmão vai querer roubar meu trono, me matar!''. Pelo menos era isso que ela estava pensando. 

Mas Hunter bateu palmas, violentamente, e deu uma risada alta que assustou Alena atrás dele à qual conversava com os irmãos. Ele inclinou-se na cadeira para olhar Victor e estendeu a mão na direção do amigo para bater no ombro dele, com força o suficiente para fazer Victor ser impulsionado um pouco para frente.

— Mas que merda é essa Hunter? — parecia que Victor estava distante o suficiente para não ter ouvido nada da conversa. Ou não estava interessado.

Hunter abriu os braços.

— O nome dos seus filhos! — ele apontou com entusiasmo os garotos atrás do pai. — Criativo e eu criticando... que absurdo. Os matadores do caçador. Genial, simplesmente genial.

Aurora meneou a cabeça negativamente. Ela estava desistindo.

— Sério? — Victor encarou o cunhado por cima da máscara de corvo, sua voz saía levemente mais abafada. — Dezoito anos depois, você percebeu o que significa? 

— Há certo! Agora eu tenho que ficar descobrindo que vocês colocam nomes ocultos nas crianças por aí? Eu não sou obrigado à isso. Mas achei ótimo. Aliás — ele olhou Aurora. — Há mais alguém que tenha um nome com um significado oculto que eu não saiba?

A Grande Rainha gesticulou a mão com desdém.

— Sim, Victor Aleksei aqui tem o nome do seu pai, que por um acaso é Victor.

— Não, esse eu já sabia — ele deu um sorriso, parecia notoriamente animado. 

— Myrddin é a forma galesa para Merlim — Victor murmurou, voltando a sua posição inicial, porque estavam abrindo a porta para entrada da pequena arena. — Acho que Pietra estava convicta de que o garoto poderia ser o próximo Merlim.

— E Morgaine é também o nome da lendária filha de Igraine e Gorlois — Aurora disse-lhe.

— Isso segundo o livro que você leu — Victor rebateu.

— Cale a boca — ela grunhiu para o irmão mais novo.

— Vou pesquisar o nome de todo mundo mais tarde — Hunter sorriu, vendo Ekaterina cruzar a arena.

Aurora colocou-se em silêncio, assim como os burburinhos paralelos dos mais jovens, atrás de si, cessaram. 

A Grande Rainha parecia estar vendo a cena em câmera lenta. Ekaterina era muito parecida consigo. A confiança exacerbada, os trejeitos fluídos. Ela vestia preto dos pés a cabeça, um uniforme de treino que subia até o pescoço, numa gola alta. As mangas iam até o fim dos pulsos. A calça desaparecia por dentro das botas de combate. Aquele uniforme era personalizado. Lá fora, alguém estava medindo o nível físico deles — quando mais jovem, ela mesma havia usado muito daquelas roupas. 

Os cabelos claros da filha estavam trançados de maneira severa, deixando seu rosto, ameaçador, livre. Gostava da maneira vangloriosa que ela se portava. Tinha olhos impiedosos. 

Ademais, ela parecia tão tranquila que Aurora relaxou os ombros; mas não deveria esquecer-se de por quem, e como, aqueles garotos haviam sido treinados — o matador do caçador.

Ekaterina era uma das suas caçadoras e Sargas era o assassino premeditado dela.

O garoto era enorme. Uma cabeça mais alto do que Ekaterina e tinha os músculos esculturais aparentes, uma vez que a roupa era justa ao corpo. Os passos dele deveriam ser pesados, mas Sargas movia-se para dentro da arena com uma perícia de fazer Aurora trincar os dentes. Ele era pesado, deveria ser, no mínimo, um pouco desajeitado.

Mas não era.

Parecia entediado. Enquanto Ekaterina havia ido na direção do côncavo — de lá, ela conjurou seis adagas — Sargas parou sobre o extremo norte da pequena arena e colocou as mãos para frente.

Ele virou os olhos na direção do pai.

— 60% — Aurora ouviu Victor falar. 

Sargas lerá os lábios do pai e assentira. Aurora virou os olhos lentamente para o irmão.

— 60%? — questionou. — O que isso significa?

Que ele pode usar apenas 60% da sua intenção de matar. 

A Grande Rainha ergueu-se, os olhos pareciam girar nas órbitas. 

— As regras de um combate normal. O primeiro a pedir por clemência, cair na inconsciência, ou morrer, perde a luta. Em jogo temos... o trono da Província Russa? — Aurora gesticulou como se fosse indiferente. — Senhores, sintam-se livre para começarem.

Agora, ela estava com os olhos na filha. Mas Ekaterina estava com os olhos em Sargas e vice-versa.

— Acho um exagero essa coisa de ir até a morte — Hunter retrucou, baixo, para a esposa.

— É só para deixar as coisas mais emocionantes.

Embora não se importasse e não quisesse criar ilusões... Aurora já estava imaginando Ekaterina subindo ao trono da Província da Rússia. 

A princesa de Albion encarou o primo. Não tinha exatamente paixão por Sargas — o que era meio irônico. O gosto dela não pairava sobre primos e russos? De todo o modo, ela tinha quatro adagas sobre os coldres de sua roupa e duas que girava nas mãos com proveniência o suficiente para suas lâminas cintilarem apenas como reflexos. 

Sargas continuou parado, encarando-a. 

— Vamos — ele murmurou. Sabia que ela ouviria.

Os olhos de Ekaterina ascenderam-se, detestava sentir-se desafiada.

Ela arremessou as duas adagas na direção do peito de Sargas. As duas tiniram ao baterem contra a parede atrás dele. Os dentes de Ekaterina trincaram-se. Intangibilidade. Malditos.

Aurora arrumou-se sobre a sua cadeira, enquanto nos próximos segundos, ela via o malabarismo mental que Ekaterina fazia com sua meia dúzia de lâminas — era claro que ela tinha um domínio espetacular em relação ao ferro. Estava tão parada quanto Sargas, apenas dando um conjunto de piscadelas enquanto fazia as lâminas passarem como hélices pelo corpo intangível do primo.

Intangibilidade. Isso não era a porra de uma habilidade roubada?

Oh, como Ekaterina odiava os russos. Quer dizer, ela também era russa porque ela não podia ficar intangível? Mas, pensando bem, qual era a graça?

As adagas pararam todas sobre a cabeça de Sargas. Ele riu. Aquilo teria matado qualquer outra pessoa — minto, teria matado outras pessoas. Ele e seus irmãos, não. 

O problema nem era ela não estar surtindo efeito, foi aquela risada de Sargas. As adagas fizeram um som metálico e conspiratório ao voltarem zunindo na direção dela. Ekaterina moldava o ferro enquanto isso ocorria — não era apenas senhora do ferro, também era do fogo.

Quando o metal estava novamente em suas mãos, não eram mais seis adagas. Era uma espada de uma mão só. Fina, embora não chegasse a ser um florete.

— Para com essa merda e lute — era possível ouvir os dentes de Ekaterina rangerem.

Sargas nada disse. O filho de Victor apenas ergueu a mão, na direção do côncavo. Ele ainda tinha os olhos em Ekaterina. Nos próximos segundos, uma espada negra voou na direção da mão dele. Sargas segurou sua empunhadora.

Os dois avançaram um contra o outro no mesmo momento.

Aurora havia inclinado-se para frente, enquanto Hunter tinha os olhos arregalados — ele adorava uma luta. Mikhail e Lyon passavam leões de ouro — a mais alta moeda de Albion — sorrateiramente um para o outro em suas apostas. Alena estava segurando o encosto da cadeira do pai, encarando Ekaterina e Sargas darem golpes simultâneos.

O som das lâminas gerava um frenesi intenso e geral. Os outros quatro filhos de Victor estavam murmurando entre si, como se medissem as habilidades do irmão.

O rei da Província Russa, tinha uma caneta em mãos — pronto para arcar com as suas consequências, se necessário, mas ele não parecia preocupado.

Dois minutos inteiros — que naquela situação parecia bem mais — passaram-se. Enquanto Sargas tinha uma intensa força bruta, Ekaterina precisava usar de toda a astúcia em seus movimentos ensaiados para escapar de uma notória e desonrosa morte. Era engraçado a forma como eles pareciam estar no mesmo parâmetro.

Até Ekaterina tentar bloquear a espada de Sargas e a lâmina dele ficar intangível... também.

Numa hora a lâmina intangível estava passando pela de Ekaterina, na outra, estava tangível e sobre o seu pescoço, fazendo a princesa de Albion encarar furiosa — cada vez mais ensandecida — o primo e trincar os dentes. Suas mãos apertaram o punho da espada. 

— Você estaria morta — Sargas murmurou, olhando-a de cima. — Agora... você é a caçadora ou é a presa?

Os caninos de ferro da princesa despontaram. A pequena plateia parecia estar aficionada. 

A espada de Ekaterina caiu no chão, no momento que ela erguia a mão e dava um golpe sobre o punho de Sargas que estava parado. Ele deixou a própria espada cair e sorriu. De novo.

Ekaterina estava próxima a uma cólera que desconhecia. Parecia crescer dentro dela, como se fogo estivesse queimando-lhe internamente. Era frenético e impetuoso. Ela parecia conhecer cada nervo de seu corpo apenas naquele momento e avançou com essa fúria e violência descomunal na direção de Sargas.

A princesa de Albion sentia! Ela sentia que ele estava apenas brincando com ela! Porque Sargas desviava dos golpes que queria, dava-lhe outros sem emoção alguma. Apesar de ler levado algumas pancadas, assim como ela que tinha um filete de sangue escorrendo pelo lado direito da boca, Sargas ainda parecia perfeitamente consciente de que ele poderia simplesmente, tornar-se intangível.

Primeiro, ela o estava fazendo recuar — então a figura mudou completamente, num piscar de olhos. Sargas a estava fazendo ir para trás, tentando derrubá-la. Ele não estava usando o seu carro-chefe, e isso a irritava. Não era Sargas que a aborrecia, ela era mesma. Ela era maior do que aquela merda toda. Tinha que ser. Sabia que havia algo dentro dela. 

Ela queria que ele tivesse medo dela. Sua mãe dissera, uma vez, que não havia sensação mais intoxicante do que ser temido — Ekaterina havia sentido isso com tantos outros nobres, mas queria sentir isso com todos eles.

Estava quase pressionada contra a parede sul, quando foi tomada pelo impulso insano de defender-se a todo custo. Pode ter sido algo em seus olhos, ou o zunido da espada que a delatou, mas Sargas usou a sua intangibilidade no último instante, quando Ekaterina o atacou pelas costas, fazendo a espada que usara outrora, viajar na direção dele. 

A princesa grunhiu quando precisou desviar a lâmina para não acertar a si mesma. 

O pescoço de Sargas fez um som sinistro enquanto ele avançava para ela, agora, parecia um pouco chateado pela falta de consideração.

— Achei que você tinha um código de honra, prima — ele murmurou, tinha a voz densa e rouca.

— Eu até tenho, mas ele é meio flexível — Ekaterina cuspiu as palavras.

Sargas a segurou pelo pescoço e ergueu-a do chão com facilidade. Ele bateu o corpo de Ekaterina contra a parede, ferozmente. A princesa gemeu baixo, seus dentes revestidos por sangue. Ela marcou o rosto dele, usando as unhas como arma — foi outro descuido de Sargas. Agora, todas às vezes que Ekaterina tentava segurar no braço ou pulso dele, para tentar fazê-lo afastar-se, a mão dela simplesmente passava pelo nada.

Ele estava deixando apenas as suas digitais tangíveis e ela estava sufocando. 

Os lábios carmesim de Ekaterina estavam ficando arroxeados. Ela desviou os olhos de Sargas só por um momento e encarou Aurora.

A Grande Rainha estava de pé, olhando-a com uma atenção feroz. Ekaterina estava começando a ficar confusa. A mãe estava preocupada ou estava decepcionada? Preocupada ou decepcionada!? Inutilmente, Ekaterina grunhiu e bateu os pés contra a parede. Ela viu o seu pai — esse ela sabia que estava preocupado. Alena, a ponto das lágrimas; se Ekaterina não estivesse nessa situação, ela teria revirado os olhos.

Mikhail e Lyon a olhavam com atenção.

Ela não iria pedir clemência. Ekaterina debateu-se mais uma vez.

Seu tio a olhava com os soturnos olhos azuis, seus quatro primos estavam tão ansiosos quanto Sargas parecia estar.

Ela ia ficar inconsciente há qualquer momento.

Não, ela não podia. Ela não era qualquer pessoa. Ele era um simples príncipe de uma Província. Ela era Ekaterina Nastya, a primeira de seu nome, nascida nas Terras Sagradas de Avalon. Seus pais haviam sido os Senhores que construíram aquele reino a partir do nada. Ela era herdeira de Albion.

A Fúria de Ferro e Fogo.  

Ela não iria perder tão fácil assim.

Começou como o formigar dos dedos — Ekaterina achava que estava enfim, cedendo a força dele. Mas aquilo se espalhou com um delírio incomum. Consumia-a como fogo, realmente como fogo, por dentro. Era como um sexto, sétimo... ou décimo sentido que ela tinha. Além dos ordinários. Era algo novo que sempre estivera ali e ela nunca notara. 

Como um cego que vê pela primeira vez. 

Ela sentiu. A Vontade da Rainha.

Era bastante parecido com uma onda sensorial. Havia crescido dentro dela, direto da sua essência, imperando sobre os seus ossos e partindo dela como um princípio descontrolado na direção de cada um presente dentro daquela sala, com a hostilidade que apenas aquela magia espiritual poderia causar. 

O aperto de Sargas não estava mas em sua mão e ele recuou.

Houve um momento de silêncio.

Sim, sim, sim! Aurora achou que poderia gargalhar. Ela sentia, reconhecia! A Vontade da Rainha; não conhecia ninguém da sua linhagem que a tinha, quase a levando acreditar que ela era uma Escolhida. A única a ponto de despertar algo tão grandioso assim. Às vezes, sua cólera chegava a um ponto tão abissal, que ela podia manifestar isso nos outros — havia treinado muito para saber controlá-lo em pessoas em especial. Mas Ekaterina estava apenas conhecendo-o. Ela colocou-o sobre todos.

Se você não tivesse uma mente treinada, aquele ardor transcendental teria feito você entrar em coma pelos próximos minutos. Se você fosse intermediário nisso, teria ficado com tanto medo que iria simplesmente tentar correr dali o mais rápido possível... agora, mesmo se você fosse um mago muito bem treinado, você iria hesitar diante da presença disso. 

Aurora viu Victor erguer-se. Ele segurou a caneta, olhando para o filho que tinha chegado ao meio do tablado e Ekaterina, que erguia a mão e fazia a sua espada voltar aos seus dedos. 

Ela sorriu com perversidade na direção de Sargas, ele ainda parecia confuso, hesitante. 

— O que ela está fazendo? — Victor murmurou. Não parecia estar perguntando para Aurora, diretamente. 

Hunter caiu na gargalhada, depois de recuperado do imprevisto.

— Sempre soube que ela era louca como você — ele segurou a mão de Aurora e beijou-lhe as costas.

Os mais novos, não tão bem treinados, ainda estavam desorientados. Mas não Ekaterina que girou a sua espada, segurou-a com as duas mãos, mesmo que não fosse necessário, avançou para Sargas com um ar vitorioso e gloriosos. Já podia imaginar-se sentada sobre o trono da Província da Rússia.

Num momento, Sargas estava lá.

No piscar de olhos seguintes, Ekaterina estava desacordada sobre o chão.

A velocidade dele extravasava os limites que ele já havia demonstrado. Sargas deixou a sua espada cair no chão, ao lado de Ekaterina desacordada. Ele ficou encarando a prima por um momento e seu corpo estremeceu, de forma visível. Sargas franziu o cenho. 

Ainda parecia confuso — ele tinha atingido ela por instinto. A soberba de Ekaterina não tinha visto isso chegando. Mas ele ainda estava tentando entender o que havia acontecido. Olhou sobre o ombro — parecia que havia algo o perseguindo. Mas era só a sensação pós a magia de Ekaterina. 

Ele anuiu a cabeça e começou a sair do tablado. 

Aurora tinha sentido o gosto da vitória. Era quase como tirar doce da boca de uma criança. Ela balançou a mão com impaciência, o campo de proteção desfazendo-se a sua frente.

— Lyon e Mikhail, levem Ekaterina para o quarto dela. Alena, certifique-se de que a sua irmã não teve uma concussão. Quando ela acordar, digam-na para me encontrar amanhã pela manhã, na Lança de Aurora. 

Victor Aleksei guardou a caneta no bolso da sua roupa e olhou para Hunter que se espreguiçava na cadeira, vendo Lyon e Mikhail segurarem Ekaterina de qualquer jeito; ele tinha a impressão de que os dois estavam discutindo aos murmúrios.

— Foi legal — contemplou, o Grande Rei.

Aurora revirou os olhos, fuzilando Victor em seguida.

— Não é dessa vez que você fica com a Rússia, mas devo dizer que estou impressionado. Uma habilidade curiosa. Por um momento eu achei que ia virar um sem-teto, irmã — Victor tirou a máscara e sorriu para Aurora. Se isso não fosse o suficiente, ele se aproximou e beijou o rosto dela. 

— Eu odeio você, Aleksei — Aurora grunhiu.

— Não, você não odeia — ele colocou a máscara de volta e olhou sobre o ombro para os filhos. — Vamos, assassinos. Acrab, você pode ir ver a Atlantis até à noite cair, depois preciso de vocês reunidos no meu aposento.

Os meninos — que pareciam soldados — assentiram para o pai e o acompanharam para fora.

Aurora respirou fundo, pela primeira vez naquela amanhã. Hunter acenou para os sobrinhos e depois passou a mão de ferro pela cintura de Aurora.

— Você acha que ainda dá tempo de colocar o nome dos nossos filhos como nomes de constelações?

Aurora riu.

Inferno... era tão fácil odiar e amar Hunter.

 

Claramente era notável que Heidi não estava disposta a andar e confraternizar pelo castelo. Passava seus dias com o marido, ou então estava na presença do pai. Helena ou, raramente, Adam. Adam — era o sobrinho que ela queria ver agora. Por isso a Rainha Grega havia dado-se o trabalho de se estender pelos corredores, observando a face curiosa e assombrosa das pessoas que a viam; sempre vestia negro, a sua cruz invertida sobre a testa, às vezes era substituída por outros símbolos que a ligavam, teoricamente, a magia negra. 

Mas, era tudo apenas para gerar exatamente o que gerava — exclusão. 

Heidi era a Rainha da Grécia, não eram a maior potência em relação a artefatos e escrituras mágicas, mas eram os mais famosos. Sempre havia alguém querendo adentrar os seus limites para conhecer o seu palácio feito de obsidiana, que ela chamava carinhosamente de Monte Olimpo. Se houvesse uma forma de Heidi incomodar Aurora, ela o faria. Não era adorável a forma como a sua cunhada simplesmente se sentia aborrecida se alguém parecia superior à ela?

Qual era a melhor a mais fácil forma de irritar a Dama de Ferro, se não fosse Heidi mesma, fingindo ser uma Deusa, sobre o Monte Olimpo, enquanto tudo que Aurora tinha era um castelo feito de sucata? 

Além do mais, era muito agradável, também, ter colocado apenas Adam como seu concorrente. Sabia que Aurora estava furiosa por isso até os dias de hoje — e não media esforços para ocultar quaisquer informações do garoto que ela tentasse procurar. Heidi era ótima com os jogos da mente, ela tinha sido pupila do rei do Reino Unido a muito tempo, a ponto de não só poder bloquear a sua mente, mas como passagens importantes da mente alheia.

Não era só uma mulher poderosa. Ela era ardilosa e sem escrúpulos, na maior parte do tempo.

A mulher bateu sobre a porta do quarto que Adam estava usando. Ela ouviu alguns barulhos lá dentro, risadinhas que a fizeram fechar a expressão e, quando a porta foi aberta, ela encarou uma das Sete, que a olhou diretamente nos olhos — o que era uma incrível petulância daquele peixe fora d'água — fez uma referência e retirou-se, arrumando os cabelos negros. 

Ela fedia a maresia. 

Heidi ergueu os olhos para Adam. 

— Tia — a voz dele estava falha e Adam prendeu uma risada enquanto pigarreava. — Rainha, o que devo a honra? 

Ela o empurrou, dando assim abertura para estar dentro do quarto. A cama estava bagunçada. Heidi respirou fundo.

— Sua mãe sabe disso? — ela apontou com o dedo para as cobertas em desordem. — Essas... essas garotas da Heather simplesmente se proliferam? Eu tinha a sensação de que eram Sete e agora elas parecem vinte, estão por todos os lados.

— Foi minha mãe que nos apresentou — Adam passou a mão nos cabelos louros e fechou a porta atrás de si.

Heidi revirou os olhos. A um par de anos a grande amizade dela e Aimee havia sido rompida — os seus dentes trincaram-se. Isso não queria dizer que ela não sentia falta da melhor amiga. 

— Que seja. Quero saber se você está preparado para amanhã. Isso vai ser a sua estréia. Apesar de ter acho magnífico a sua apresentação, a mais rápida até agora, eu acho que você pode encontrar algum problema em relação aos portais daquela coisinha Suíça...

— Não vou — Adam jogou-se na cama, colocando as mãos sob a cabeça e encarando o teto. — Não vou encontrar problema nenhum. Já tenho um plano.

— Qual? — Heidi virou os olhos curiosos para o sobrinho. Havia um misto de condescendência sobre eles, com um orgulho que ela jamais colocaria em palavras.

— É segredo, obviamente. Não se preocupe. A Grécia não vai ser desclassificada.

— Claro que não vai — murmurou, vagarosamente. Ela olhou sobre a balaustra na sacada. As pessoas estavam por todos os lados como formigas. — Mas ainda assim, eu poderia ajudar você com isso... talvez você esteja sendo egocêntrico demais e isso pode ser prejudicial. Digo, soube que Ekaterina perdeu uma luta para Sargas essa manhã exatamente por isso.

— Não sou Ekaterina — Adam subiu um pouco o corpo na cama e sentou-se, olhando para a rainha. — Eu sou mais bonito que ela.

Heidi riu, era um som de dar calafrios.

— Pelo menos você tem senso de humor. 

Adam anuiu a cabeça e cruzou as pernas em posição de lótus. Ele era grande demais, acabava aparentando ser mais velho do que realmente era. Às vezes Heidi se esquecia que ele era simplesmente um adolescente que tinha passado por muito... e sabia muito pouco.

— Não tem porque se preocupar. Eu estava certo até aqui, não estava? Chegar vestido como um espartano, as garotas iam dar atenção ao fato de que eu estava sem camisa e os caras iam pensar ''nossa quem é esse babaca vestido assim?''. Então, eles começaram a falar sobre isso e não sobre a minha possível habilidade. Uma simples peça de roupa, foi o suficiente para eles não estarem interessados no que eu posso fazer, mas em como eu me visto. Fora...

Adam ficou em silêncio. Inconscientemente, ele levou a mão ao medalhão que usava. Era simples, com o símbolo de um leão e atrás, estava timbrado a data de seu nascimento e as iniciais V e H — de sua ligação direta com Victor e Hélade, como seu pai lhe contou um dia.

— Fora...? — Heidi o encarou.

— Anastasia estava me contando sobre a nova teoria sobre meu nascimento. 

Um sorriso ladeado pintou os lábios de Heidi, ela se sentou na beira da cama do sobrinho.

— Estou curiosa. Já ouvi que você foi enviado de outro planeta.

Adam deu um sorriso frio.

— Parece que eu sou filho da Miesha, dos russos. Dela e de Hank quando houve um festival aqui. Que festival foi esse? — Heidi podia ver que Adam estava considerando a hipótese.

Ela deu de ombros.

— Uma vez que a Grande Guerra terminou, Hunter e Aurora deram uma grande festa. Cinco dias, se eu não me engano.

— Foi na lua cheia?

— Sim — Heidi confirmou, assentindo.

— Isso explica a minha mãe não estar presente. A teoria parece fazer sentido. 

Heidi semicerrou um pouco os olhos, ela encarou o chão pensativa e então, negou algumas coisas.

— Não acho que isso teria acontecido. Não sei quanto álcool seu pai ingeriu aquela noite, mas definitivamente ele não teria deitado com Miesha. Ela estava noiva de um figurão francês. Muito próximo do conselho do rei Demétrio. 

— Você está mentindo — Adam declarou, assim que a mulher levantou. — Você está mentindo, porque você sabe. Eu sei que sabe.

Ele não achava que era tão corajoso assim, até ter falado aquelas palavras.

Heidi o encarou. Adam havia se arrastado até a ponta da cama e, de joelhos nela, ele ficava na altura dos olhos de sua tia. Havia alguma súplica silenciosa e antiga nos olhos dele. 

A sorte era que Heidi não era uma mulher sentimentalista, embora quisesse reconfortar o sobrinho de alguma forma.

— Você sabe quem é minha mãe — ele tentou outra vez.

— Eu sei — Adam prendeu a respiração. — Aimee é a sua mãe.

Adam gemeu de frustração e seus ombros se encolheram. Por um momento, ele colocou a mão sobre o rosto e depois respirou fundo. De uma hora para outra, ele parecia desolado com a falta de informação.

— Não é o suficiente? Aimee não o amou o suficiente? Nós todos somos a sua família. Porque você precisa se apegar a algo assim, Adam? 

— Eu preciso saber a minha origem — ele afastou as mãos, mas negou. — Por favor, não diga ao meu pai que eu estava perguntando sobre isso, nem a minha mãe. E... não se preocupe com amanhã. Não vou envergonhar o nome da Grécia ou qualquer coisa assim.

Heidi anuiu a cabeça, ela tocou o medalhão dele com os dedos pálidos. 

— Não estou preocupada, nunca estive — Heidi ergueu a mão e tocou o queixo do menino para ele erguer o rosto até encontrar os olhos eletrizantes dela. — Não vou dizer nada ao seu pai... aliás, Adam... você se parece muito com ele.

Heidi afastou a mão. Mesmo que a sua intenção tenha sido reconfortar o garoto, a sua face implacável, talvez, não tivesse ajudado muito o sobrinho. 

Ela caminhou na direção da porta, abrindo-a e saindo pela mesma, não sem antes, é claro, olhá-lo sobre o ombro.

— E, por favor, quando estiver com a Atlantis, use proteção. Eu sou nova demais para ser tia-avó, Adam. 

A última coisa que ela ouviu ao sair do quarto, foi a risada calma do garoto.

 

Haviam algumas bombinhas de caramelo naquele castelo que eles simplesmente não faziam no Reino Unido — Éden não havia notado isso sozinho. Sua mãe também. Caso não tenha sido mencionado ainda, a rainha Lua era o ser humano mais comilão da história desse universo. Então, é importante ressaltar que Éden sempre dava um jeito de comer escondido da mãe. 

Já era noite, quando ele voltava das cozinhas. Seus cabelos ruivos estavam bagunçados, ele tinha cruzado com cinco das Sete, enquanto as primas iam para os seus quartos. Acredita que, mesmo depois de anos, ele ainda conseguia confundir uma com a outra? E olha que elas tinham cabelos diferentes. Nenhuma delas tinha uma coloração de cabelo igual a outra — mas ainda assim quem liga pra que é um louro natural e um louro platinado? Quando mais novo, Éden tinha dado a ideia de que elas poderiam usar crachás de identificação — na cabeça dele estava fazendo um bem para a humanidade com a ideia, mas ao que tudo indicava a sua tia Heather havia ficado ofendida com a ideia.

Paciência.

Não dá pra ela querer que ele decorasse nomes como Phereníke — apesar dele ter decorado esse porque era difícil, mas não tinha certeza se era de Atena ou Ariel. 

De todo modo, ele estava andando com os bolsos cheios de bombas de caramelo. A noite já havia caído, os ânimos do recesso tinham voltado ao frenesi das competições. Ele tinha passado aqueles três dias inteiros, sem ter uma paz em sua cabeça, de seu avô infernizando seus ouvidos e de Philip — Kurt andava se esgueirando por aí, aquele safado, provavelmente tentando fugir do dramalhão —, de que eram primos e não podiam lutar.

Isso era demais para o coração dele.

Éden não tinha problema com esse. Sinceramente ele não era muito ligado à Myrcelle, Maximiliano e Mikhael e seu tio Lionel não era a pessoa mais legal do mundo e ponto. Ainda que fossem, ele também não se importava. Ninguém ia se matar, era tipo treinamento e ele sempre treinava com os irmãos. 

Pronto, sem paranoias.

Éden estava com os olhos baixos, para pegar outro doce em seu casaco, quando ele viu... ele tinha certeza que viu, um vulto atravessando o corredor. Podia até ouvir os passos correndo. Ele ouviu uma risada.

Por alguma razão, ficou compelido a ir averiguar, só queria ter certeza...

Ele apressou a passada, as chamas nos castiçais iluminavam certos lugares e obscureciam outros. No fim do corredor, ele viu de novo um vulto. Parecia uma mulher e ele não poderia ter certeza. Algo em sua consciência o dizia para dar o pé dali — outra coisa, mais poderosa, clamava para que ele desvendasse o mistério.

Éden nunca parecia capaz de alcançar quem quer que fosse, aquela presença estava sempre a sua frente e isso o estava deixando exausto e, não só isso, como ele notou que estava perdido naquela imensidão.

A propósito, onde andavam as guardas? 

Ele anuiu a cabeça, no último corredor, não havia nada. O filho de Hayden bateu com a mão na cabeça como se tentasse colocar o cérebro para trabalhar direito de novo. Ele girou nos calcanhares, só precisava se concentrar um pouco para ter foco mental e conseguir achar uma forma de sair dali. Poderia começar a ouvir as vozes na sua cabeça a qualquer momento quando... ele ouviu uma risada.

Familiar.

Melhor, duas risadas. Baixas, ofegantes.

Familiares.

O príncipe do Reino Unido girou nos calcanhares, seguindo o som até uma saleta que tinha a porta entreaberta. Ele a empurrou mais um pouco, em silêncio, espiando o que parecia ser um sala de troféus. A luz da lua, pelas janelas altas, batia contra os metais bem polidos e refletia para todos os cantos. Éden empurrou mais um pouco a porta, mas gelou — não literalmente dessa vez — quando ouviu o som da voz da irmã.

Lyanna.

— Ainda acho que você está com muitas roupas — ela parecia ronronar. Éden ouviu o som de um zíper ser aberto.

Meu Deus ele iria vomitar. Ele iria vomitar. Ele queria sair correndo dali mas suas pernas estavam travadas e ele estava gelado; não queria presenciar a irmã fazendo sexo nem fodendo. Ele tinha retomado a consciência do seu quarto quando ele ouviu uma segunda voz; até ali, estava muito focado em não presenciar algo abissal, antes de notar que deveria ter uma segunda pessoa na sala, o que deveria ter sido óbvio.

— Você está me deixando com marcas por todo o corpo, está ficando difícil de esconder — Éden ouviu...

Não, ele estava ouvindo errado. Ele estava com alguma interferência. Não, porque não fazia sentido que fosse...

Ele parou mais uma vez.

— Certo, vou colocar a boca num lugar onde eu não possa deixar marcado dessa vez, Kurt — Lyanna disse de um jeito particularmente imoral.

— Porra — Éden soltou, de súbito, em seu mais completo estado de choque.

Em seus dezenove anos de vida, ele não se lembrava uma vez sequer de ter estado tão perplexo. Tinha dito aquilo alto o suficiente para o som lá dentro parar abruptamente, ele tinha sido ouvido.

Mas foda-se que tinha sido ouvido ele acabara de flagrar a irmã e o primo comento um ato hediondo de incesto! 

— Merda — a voz de Kurt murmurou.

— Éden — Lyanna ofegou.

O ruivo continuou parado na porta, parecia ter criado uma espécie de paralisia. Houve silêncio lá dentro e então, movimentos abruptos. Segundos depois, os dois corados, estavam na porta, encarando Éden que os encarava de volta, boquiaberto.

— Éden... — repetiu Lyanna, ela parecia a ponto de ter um colapso nervoso. Não sabia o que falar e só conseguia ver a dimensão da merda que daria, olhando para a face de Éden.

Kurt deu um passo, colocando-se a frente de Lyanna enquanto olhava o primo — ele precisou reunir alguma coragem para encarar Éden nos olhos.

— Não queríamos que você descobrisse assim — declarou o Atlantis.

Éden ergueu a mão e apontou o dedo para ele, depois para Lyanna e começou a se afastar de costas, como se os dois tivessem uma doença contagiosa.

— Vocês tem até amanhã para resolverem como vão contar isso — decretou, enquanto continuava a se afastar. — Se não, eu mesmo vou contar ao papai, Lyanna.

Lyanna sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto. Estava lívida, achava que poderia desmaiar. Seu coração pulsava num ritmo atemorizante e ela fechou os olhos com força depois de ver Éden lançar um olhar raivoso na direção de Kurt; como se ele tivesse cometido um crime.

Kurt não podia dizer que estava se sentindo no ápice da sua sanidade.

— Não, não... não era para ser assim — ele murmurou, descendo a mão para segurar a de Lyanna.

Mas ela caiu no choro no segundo seguinte, apoiando a testa sobre o ombro de Kurt. Mais compadecido por ela, do que pela provável surra que ia levar de Hayden ou Philip no dia seguinte, Kurt colocou a mão livre sobre os cabelos ruivos de Lyanna, beijando-os antes de fechar os olhos e sussurrar para ela, com toda a veracidade que lhe cabia:

— Por favor, não chore — pediu. — Vou dar um jeito nisso. Que seu pai mande o exército dele, não vão tirar você de mim, Lyanna. Eu prometo à você.

 

Em três dias será negligente.

Alguém deveria escutar com mais atenção as visões de Atena. 



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