História A Little Girl - Decisão Difícil.

Diana Andrada On.

Eu estava chorando á quase duas horas, sem parar. Minha mãe nem me olhava, e apenas continuava a olhar para a TV sem se importar com meu estado deplorável, encostada á um canto da pequena sala, abraçando meus joelhos.

A dor em minhas costas era grande e as lágrimas queimavam em meus olhos, fazendo meu rosto arder e minha respirar sair entre cortada.

Do outro lado da sala, Tom ainda bebia sua garrafa de vodka me olhando ameaçadoramente.

Aquela não era a primeira vez que ele me batia, pois desde que se casara com minha mãe vinha fazendo-o sempre. No entanto, aquela era a primeira vez que eu sentia meu corpo queimar de ódio e minhas veias se inflamarem de fúria.

Eu só queria poder socá-lo até sangue escorrer por sua boca. Mas eu era frágil e ele forte. Eu era apenas um estorvo, enquanto ele era o novo marido de minha mãe, a qual nunca o contestava e nem impedia que ele me batesse.

Olhei com tristeza para a mulher que ignorava meus soluços e tentei me lembrar de como ela era quando meu pai ainda estava vivo. Ela era tão diferente, nunca foi muito carinhosa, mas parecia se preocupar comigo.

Fechei meus olhos e chorei, enquanto as lembranças do enterro de meu pai, há um ano, invadiam minha mente. E então, infelizmente, ao abrir meus olhos e me deparar com Tom me encarando, lembrei-me do dia em que os dois se casaram, e só eu permaneci como Andrada na casa, pois agora minha mãe se chamava Mello. Kátia Mello mulher de Tom Mello.

Talvez tenha sido a lembrança amarga ou talvez apenas a bile que subia em minha garganta toda vez que me lembrava disso, mas eu senti minha boca arder como fel e então me dei conta de que não chorava mais.

Tentei me levantar vagarosamente, pois como já havia aprendido, fazer movimentos bruscos depois de uma surra era péssimo.

Fui em direção ao quarto minúsculo que era meu, e abri o pequeno guarda roupa. Fiquei olhando por um momento, antes de pegar minhas poucas roupas e colocar tudo dentro de minha mochila. Fechei-a e rapidamente calcei um par de tênis .

Respirei fundo tentando me acalmar e fechei os olhos contando até três.

Fui até a sala e vi que Tom estava deitado no sofá com a cabeça no colo de minha mãe. Como se nada tivesse acontecido. Como se ele não tivesse me espancado por eu apenas passar perto dele.

Suspirei e tentei parecer forte, a porta aberta parecia a saída do inferno, a passagem para o paraíso.

Cerrei minhas mãos em punhos e comecei a atravessar a sala o mais rápido possível, no entanto, sem correr. Se eu corresse sabia que Tom iria atrás, ele odiava quando corriam dele.

- Aonde você vai? – A voz de minha mãe ecoou e eu olhei para ela, esperando alguma tristeza ou ao menos um olhar de desculpas, mas seus olhos castanhos eram opacos e seu semblante era cínico.

- Eu vou embora – disse simplesmente e consegui chegar até a porta.

- Com permissão de quem? E pra onde, garota estúpida? – Minha mãe ia se levantar, mas Tom, bêbado, agarrou suas pernas.

- Deixa essa idiota ir, fique comigo – sua voz saiu embolada, mas foi o suficiente para minha mãe se deter e voltar sua atenção á ele.

Aquilo foi demais pra mim, e então eu saí correndo, portão afora, chorando, sentindo que meu coração estava dilacerado e tomando a decisão mais difícil da minha vida.