História A lua mais brilhante - Invasões Parte 1

Marcas de cheiro renovadas, fronteiras sem ameças, céu nublado. Pata de Alecrim fazia a patrulha da tarde-à pedido de Vento Frio-com Pata de Lírio e Coração de Noz. No momento estavam em Planície, mas já haviam passado por Vale Arenoso, Floresta de Plátano e Grande Pinheiro. A sensação gostosa da brisa em seus pelos, quase fazia o aprendiz listrado esquecer de seu enorme cansaço. Ele balançou a cabeça para afastar o sono e continuou farejando alguns arbustos, deixando marcas de cheiro logo em seguida.

_Precisa de ajuda, Docinho?- a voz irritantemente açucarada era cortesia de Pata dr Lírio. "Docinho" era um apelido ridículo que ela inventou para o gato malhado a algumas semanas. Ele suspirou pesadamente, girando a cabeça, fungindo um ronron.

_Não precisa! Muito obrigado pela gentileza!- miou com uma falsa ternura. Isso foi o bastante para a colega dourada se derretesse em risinhos bobos e ronrons tão altos que Pata de Alecrim tinha certeza de que poderiam ser ouvidos de Rochas Pontiagudas. Observou a gata saltitar alegremente até um arbusto de mirtilos, balançando a volumosa cauda de um lado para o outro. Deixou a cabeça cair, revirando os olhos esverdeados.

_Pata de Alecrim!-chamou Coração de Noz-Vamos! Ainda temos que passar em Três Pulos!- o felino tigrado acenou brevemente com a cabeça, trotando para o lado do guerreiro. Coração de Noz não era velho, muito menos experiênte. Tinha se tornado guerreiro a, apenas, três pares de luas. Ele ainda tinha sido colega de Pata de Alecrim por um curto período, já que era mais velho, logo se tornou guerreiro.

_Vamos logo, Pata de Lírio!- uivou o guerreiro para a felina dourada. Ela chacoalhou a cabeça lustrosa e saltitou até os dois gatos. Sem trocar um miado se quer, os três caminharam até Três Pulos. Três Pulos eram três grandes pedras chatas e largas que cortam o rio e ajudam na travessia. Era perto de Planície e isso encurtou bastante o caminho.

Pata de Alecrim se pôs a cheirar uma moita e marcá-la com o cheiro do Clã das Nuvens. Um cheiro nojento atingiu o nariz avermelhado do aprendiz. O odor acre não lhe era nada estranho.

Clã das Rochas.

Suas orelhas pontiagudas giravam como radares, suas garras cavavam o solo macio, seus pelos eriçavam e um rosnado se formava em sua garganta. Olhou para Coração de Noz e Pata de Lírio. Os dois também tinham sentido o cheiro. Com um sinal de cauda, os dois aprendizes rastejaram silênciosamente atrás de Coração de Noz. Logo o felino marrom claro avistou uma grande cabeça prateada dentre a vegetação. A raiva tomou conta de seu corpo e ele acabou por agir por impulso.

_Ei!-sibilou, assustando até mesmo Coração de Noz- O que você pensa que faz no território do Clã das Nuvens?!- O gatão prateado soltou um ronron zombateiro e chamou mais dois colegas que saltaram duma moita.

_Seu território?- debochou- Não. Apartir de hoje, Três Pulos vai pertencer ao Clã das Rochas!- com o sibilo do grande invasor, os outros dois começaram o ataque. Pata de Alecrim silvou e pulou nas costas de uma gata alaranjada que arranhava Coração de Noz. Mordeu o pescoço da inimiga, sentindo o gosto de sangue. Embaixo do aprendiz, a gata cor de gengibre se debatia, tentando se soltar.

Fazia muito tempo que o aprendiz listrado não participava de uma batalha, e com o mentor envelhecendo, não praticava muita luta com ele. Mas aquela batalha reativou os instintos do aprendiz, deixando a adrenalina se apossar de seu corpo.

Porém, com tanta adrenalina, o gato não conseguia pensar muito, fazia tudo por instinto então foi uma brecha para a estranha alaranjada, que o derrubou no chão úmido, o imobilizando. Pata de Alecrim silvou, cuspiu, se debateu e arranhou a barriga macia da gata estranha, mas nada a fez soltá-lo. Ela apenas o empurrou mais, batendo a cabeça dele contra o solo.

_Quietinho aí!- ela uivou. Pata de Alecrim, atordoado, começou a miar, pedindo ajuda. Mas com seus companheiros ocupados, dificilmente ele seria ouvido. A felina estranha apertou o pescoço do aprendiz, o fazendo perder o ar. Ele se engasgou, tentando puxar o ar desesperadamente. Se debateu mais, arranhando o flanco da gata cor de gengibre. Logo sentiu o corpo amolecer e sua visão se tornar turva.

Talvez estivessr morrendo...