História A lua mais brilhante - Quebra-Cabeça

Meus ouvidos não queriam acreditar no que estavam ouvindo, enquanto minha mente rodava e latejava três vezes mais que minha perna. Pata da Noite...estava sendo...exilada? É isso mesmo?

Chacoalhei minha cabeça com força e olhei para o chão buscando alguma solução entre a terra molhada e as pequenas pedras de estavam entre ela. Acreditaria mesmo no que minha amiga manchada havia dito? Sempre soube que Vento Frio era rígido e calculista mas...matar? A nossa líder? E sobre Pata da Noite? Eu tinha certeza de que ela nunca faria mal a uma mosca. Há algo que falta nesse quebra-cabeça, algo que não se encaixa! Se Vento Frio realmente matou Estrela de Granizo, por qual razão ele teria feito isso? Apertei meus olhos em meio a minha confusão e enxurrada de perguntas ainda ouvindo os burburinhos e cochichos do lado de fora da árvore oca. Meu pai se encontrava em cima de Tronco Caído, reunindo os gatos fofoqueiros. Senti um olhar esverdeado me queimando, o que me fez ficar alerta. Minhas orelhas giraram e meus bigodes se remexeram como radares. Passei os olhos pela multidão de felinos procurando o dono do olhar. Logo percebi que quem me observava de longe era Pata Arrepiada. Em suas órbes verdes claras pude perceber que ela compartilhava os mesmos sentimentos confusos que eu. Naquele momento tudo o que desejava era que minha perna não estivesse machucada para poder correr até minha irmã e confortá-la com uma calorosa lambida e um ombro amigo. Ela me deu um último olhar antes de se juntar a Passo Apressado e seguí-lo até a base de Carvalho Caído. Resolvi que me aproximaria mais para ouvir melhor o que o meu genitor falava. Com dificuldade fui mancando até a toca de pedras de Passo Apressado. Logo fui recebido com o cheiro das ervas e raízes que se encontravam arrumadas dentro de pequenhas rochas achatadas. Então me posicionei para ouvir o discurso de Vento Frio.

_Sei que muitos de vocês estão abalados com essa notícia, principalmente você Pé Manso, eu imagino- miou com sua voz rouca e grave. A mãe adotiva de Pata da Noite, Pé Manso, juntou as sobrancelhas e serpenteou a cauda felpuda, visivelmente irritada, no entanto, nada comentou. Meu pai continuou seu discurso ridículamente bem estruturado.- Entretanto vou partir hoje mesmo para Gruta Azul para receber minhas nove vidas. Passo Apressado, Pata Arrepiada e Presa de Puma irão comigo. E vou nomear agora mesmo o novo representante. Garra de Carvão será o novo representante.- minhas orelhas giraram em uma fração de segundos, enconstando na minha nuca. 

Garra de Carvão era um grande amigo de Vento Frio, essa era uma escolha óbvia. Logo após o anúncio os gatos do Clã começaram a uivar e ronronar, parabenizando o guerreiro negro. Dando lambidas em suas orelhas e piscando os olhos com gentileza. Até mesmo os anciãos ronronaram felizes. Garra de Carvão parecia surpreso e contente, ficando sem jeito para responder tantos elogios e parabenizações de todos. O novo representante se dirigiu para a frente do tronco, pronto para um discurso. Em seus olhos amarelos apenas se via o orgulho. Ele pediu silêncio em um movimento de cauda e limpou a garganta antes de começar a miar.

_Nunca esperaria alcançar esse cargo tão importante, mas agora que estou aqui, prometo ser leal ao Clã das Nuvens e ajudar à todos.- Mais um coro de miados, uivos e ronrons. Vento Frio acenou respeitosamente com a cabeça para o amigo e dirigiu a palavra ao Clã mais uma vez.

_Bem, com Garra de Carvão no comando, eu irei hoje mesmo até Gruta Azul.- ouvi alguns murmurios de preucupação e negação- Quanto mais rápido eu receber as nove vidas, mais rápido o Clã estará protegido. Partirei à noite, depois da vigília de Estrela de Granizo. Estão dispensados e liberados para as homenagens da nossa antiga líder.- ao terminar seu discurssinho patético, os gatos do Clã das Nuvens caminharam até o corpo de Estrela de Granizo. Decidi me aproximar. A nossa antiga líder não era muito próxima a mim, mas eu tinha respeito para com ela. 

Mancando e fazendo caretas por conta das dores, me aproximei do corpo cinzento e gelado. Pelas marcas feias, podia se ver que Estrela de Granizo foi violentamente atacada. Também se via marcas de dentes em sua garganta, porém seu rosto estava sereno, como se estivesse dormindo e tendo lindos sonhos. Era de gelar os ossos. Chegou a minha vez, eu me aproximei vagarosamente e lambi seu ombro respeitosamente.

_Espero que esteja feliz, caçando com o Clã das Estrelas.- sussurei em sua orelhas gelada. Dei espaço para outros gatos e aproximarem e voltei para a toca de Passo Apressado. Sentei no chão e suspirei. Ouvi garras batendo no chão e chegando perto de mim. Plec, Plec, Plec. Girei meu pescoço e relaxei assim que vi minha irmã, Pata Arrepiada. Ela parecia muito abatida. Fiz um sinal com a minha cauda e ela chegou mais perto, com a cabeça baixa. Sentou ao meu lado e enconstou a cabeça em meu ombro. Suspirei e lambi o topo de sua cabeça, tentando confortá-la.

_Não quero ir...- ela murmurou baixinho e rouco quase não deu para escutar.

_Hã?

_Não queria ter que fazer uma viagem até Gruta Azul depois de tudo que aconteceu hoje. Minha melhor amiga foi exilada e nossa líder morta! E eu... eu não sei no que acreditar!- miou com voz chorosa. Então senti as lágrimas quentes molharem o pelo do meu ombro e os soluços de Pata Arrepiada ecoar pela pequena caverna. Mais uma vez lhe dei uma lambida no topo da cabeça. Senti ela sorri no meio dos meus pelos curtos.

_Vai dar tudo certo... Apenas haja como uma aprendiz de curandeiro normal, tá?- sussurei lhe dando uma lambidinha na ponta de sua orelhas.

_Obrigada, Pata de Alecrim...- suspirou.- Irmão, foi só minha imaginação ou essa história está mais bagunçada que um ninho de raposa?- perguntou mudando completamente de assunto. Ri sem separar meus lábios e concordei com a cabeça.

_Não, você tem toda a razão. As peças desse quebra-cabeça estão espalhadas, nós só podemos fazer uma coisa.- Miei com determinação. Pata Arrepiada desencostou de meu ombro e me olhou com duvida.

_O quê?

_Resolvê-lo.