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História A luz que brilha em teus olhos - Por vinte anos


Escrita por: k-neechan

Notas do Autor


Assim, era para ser somente um epílogo, mas acontece que já tem muito ais de vinte páginas no word escritas e eu ainda nem comecei a contar sobre o que eu queria mesmo contar no epílogo, sei lá, mas na minha cabeça epílogos não deveriam ter tantas palavras. Então como tem se tornado um hábito nos últimos capítulos, peguei as duas primeiras partes e publiquei como um capítulo independente. Lado bom é que isto faz a fic ser atualizada, estou postando apenas oito páginas destas vinte existentes e isto me faz crer que ainda possa haver mais um capítulo antes de trazer verdadeiramente o epílogo.
Mas o motivo maior para publicar isto é que eu ficava lá escrevendo e pensando apenas em como o texto estava ficando grande demais e isto estava resultando em uma história mal contada lá na ponta deste iceberg que vcs ainda não tem em mãos, e que eu vou poder modificar por ter escolhido quebrar o texto.
Agora, vão ler e por favor não me matem por algumas coisas que serão meio que contadas nesta primeira parte e que podem deixar algumas defensoras de certos ships brabas, mas que eu juro que vai ter sentido mais para frente.

Capítulo 47 - Por vinte anos


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Sem POV

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As mãos bem adornadas seguravam com firmeza o volante do carro, cantando uma música qualquer junto com o som do carro enquanto seus olhos não se desconcentravam por nada. A não ser talvez quando precisava parar em algum semáforo e podia conferir seu visual por um dos espelhos. Ou por todos, um de cada ângulo.

Mas já estava há algum tempo na rodovia e o último semáforo em seu caminho já tinha sido deixado para trás há muito tempo. Quase uma hora. Os músculos de seu pescoço doíam, bem como sua coluna, com certeza pararia no próximo posto de gasolina nem que fosse apenas para tomar um café e esticar as pernas.

Suspirou. Aquela viagem parecia tão menos tensa quando era um adolescente que não dirigia, ou simplesmente quando Reita dirigia e ele podia apreciar a bela vista da paisagem. Ah dirigir até o sítio da família Uke não era tão divertido quanto era nos velhos tempos, sentia saudades de estar no banco de trás falando besteiras com Kai, rindo de coisas idiotas.

Especialmente indo sozinho. O caminho longo parecia triplicar.

– Eu devia ter trazido pelo menos o cachorro. – disse para o carro vazio. – Só o Kai também... – reclamou em um suspiro longo.

Ruki acreditava que nunca fosse realmente superar a distância física que seu amigo mais antigo tinha escolhido para viver. Já aceitava muito melhor do que quando o das covinhas anunciou sua decisão, mas superar de verdade era mais difícil. Claro que já era previsto que quando crescessem cada um seguiria o próprio curso da vida, eram cinco pessoas diferentes com diferentes personalidades e diferentes expectativas na vida.

Takanori simplesmente gostava de imaginá-los tendo suas próprias vidas sem deixarem de lado aquele sentimento fraterno que já tinham dividido a maior parte da vida. Para ele, a distância deveria ser apenas aquela que havia entre um bairro e outro, mas alguns de seus amigos tinham escolhido cidades, até mesmo países tão distantes para chamarem de lar.

Nenhum daqueles garotos sabia exatamente o que queria “ser quando crescer”, mas as escolhas de Kai com certeza foram as que mais surpreenderam, mesmo que ele nem fosse o mais fisicamente distante de si. Todas elas, desde que eles tinham terminado o ensino médio.

O início de tudo estava em Akira com certeza. Reita cumpriu seu acordo com Joe. O mais velho pagou um curso técnico de administração e metade da faculdade de Ciências Contábeis para Akira, para que ele fosse suas mãos, pernas, braços e cérebro burocrático. O gestor de todos os seus negócios.

No começo parecia ser unir o útil ao agradável, Reita sabia que talvez não conseguiria pagar uma faculdade até o final sozinho, e firmar uma estabilidade profissional com Joe era um ótimo negócio para si também. No fim, Akira realmente se apaixonou pela matemática perfeita dos balancetes e pela gestão metódica de uma boa administração. Combinava com o jeito todo certinho dele, o que lhe tornou diversas vezes alvo de piadas de Aoi, mas o da faixa simplesmente não ligava.

Com Akira formado e totalmente responsável pelas decisões no lugar de Joe, o mesmo pôde se dedicar ao que mais gostava de fazer. Era Joe quem melhor sabia vender a casa de shows e os colocar na rota de bandas grandes, era ele quem viajava para todos os quatro cantos do mundo vendendo o negócio bem supervisionado por Akira. Aquela era a importância para si de ter alguém de tanta confiança na liderança dos seus negócios.

E de todos à sua volta, foi Miyavi quem logo o seguiu. Não chegou nem a terminar o curso de Publicidade e Propaganda no qual tinha ingressado na faculdade, viajava para todos os lugares com Joe. E o mais novo não foi apenas um bom aprendiz, Takamasa tinha um talento nato para o bom Merchant. Mesmo se o que Joe tivesse para oferecer não fosse tão bom quanto de fato era, Miyavi conseguiria vender como se fosse a melhor coisa do mundo. E este talvez fosse o início de todo o problema, mas havia mais.

Contrariando aos concelhos que ouviu de todos, Kai se matriculou no curso de publicidade e propaganda junto com Miyavi. Um bom curso, mas escolhido pelos motivos errados.

O namoro dele com Miyavi não reagia bem à distância. Isto já tinha sido demonstrado várias vezes desde seu início, Kai e Miyavi só funcionavam grudados um no outro.

A relação já havia sofrido brigas quando Myv começou a trabalhar às tardes com Emi, ou nos breves dias em que o mais alto pediu para que moderassem no namoro dentro do colégio. Sempre era Kai quem iniciava brigas por não conseguir superar a ausência causada pela distância.

Então não foi nenhuma novidade o moreno das covinhas não ter reagido bem quando Miyavi anunciou que sairia para conhecer o mundo com sua mãe assim que o colégio foi concluído. Era um sonho que a mãe de Takamasa nutria desde que teve de abrir mão do filho, e finalmente havia se tornado possível. Naquela ocasião Kai e Miyavi terminaram, reataram e juraram amor eterno. Até combinaram de fazer o mesmo curso na faculdade, Kai inclusive esperou um ano até Miyavi voltar para poder começar o curso junto com o namorado.

Mas quando Ishihara mostrou interesse em trabalhar viajando com Joe para conseguirem shows para a casa, Kai interpretou mal. Viu aquilo como uma forma de se afastarem propositadamente e não gostou nada.

Miyavi tentou argumentar que as viagens sempre durariam apenas alguns dias e ele sempre voltaria para casa. Mas isto não foi o suficiente, não adiantou em nada. Separaram-se em definitivo.

E Kai escolheu mudar exatamente tudo em sua vida, começando não apenas pela mudança no curso, mas também de faculdade; foi cursar medicina veterinária em uma faculdade que ficava mais perto do sítio de sua família.

Tanto o fim daquele namoro, que parecia tão bem sustentado por amor, quanto todo o resto da mudança de Kai pegaram todos de surpresa, principalmente Ruki. No fim o menor entendeu quando Yutaka disse que era aquela profissão que queria desde o começo, e não disse nada que pudesse o deixar pior referente ao fato que era a isto que todas as pessoas que o aconselharam a não escolher um curso apenas porque era o mesmo escolhido pelo namorado queriam dizer. Mas as justificativas dele não lhe soaram verdadeiras quando Taka lhe perguntou por que estava mudando também de cidade naquele momento, afinal poderiam ter passado mais alguns anos fisicamente próximos um do outro. Fisicamente, pois nunca deixaram de ser quase como irmãos.

Talvez fosse por esse elo especial entre a amizade de ambos que permitiu ao de covinhas um dia ter coragem de lhe explicar:

Na noite em que tinha terminado definitivamente com Miyavi, Kai saiu e acabou descontando toda irá e tristeza em álcool, abusando do mesmo. Consciente de que não estava apto a ir para casa sozinho buscou em seu celular pelas últimas semanas ligações feitas, e assim, acabou ligando para Uruha lhe buscar. Segundo ele nem cogitou me ligar, pois imaginou que era comigo que Ishihara estava; e ele estava certo, aquela foi uma noite difícil.

Por algum motivo cruel o loiro tinha esquecido seu celular em casa e quem lhe atendeu foi Aoi. O moreno nem cogitou a ideia de não ir ajudar o das covinhas, mas de alguma forma que Yutaka não sabia justificar, a carona não os levou nem para sua casa e nem para de Shiroyama, mas para um motel.

O fato de Aoi ter interesse físico em Kai não era novidade para o das covinhas, o que o fez perder o tino de suas escolhas foi se perceber acordando ao lado do corpo nu do amigo. E mesmo que naquele tempo todos ainda acreditassem que nada bom sairia entre Aoi e Uruha, era pelo que Uruha sentia pelo o outro que Kai nunca poderia ter feito o que fez.

Kai envergonhou-se por ter traído a amizade de Kouyou, e martirou-se por isto. Chorou ao conseguir dividir isto com Ruki assim como contou que chorou ao acordar ao lado do moreno.

Aoi desculpou-se pelo momento de fraqueza e garantiu que ninguém jamais ficaria sabendo sobre aquela noite impensada. Mas não era aquilo que importava para Kai, e sim o sentimento de traição que jamais o deixaria enquanto o mesmo fosse capaz de se lembrar do que tinha feito.

Para si a única redenção seria partir. Não saberia encenar em frente à Uruha. E Ruki concordava que mesmo que seu amigo idiota fingisse que não sabia que apenas ele se dedicava exclusivamente à Aoi, descobrir algo desta extensão seria demais para a amizade entre ambos resistir.

Ao que dependesse de Ruki e Aoi aquela história nunca viria à tona. Não achava errado omitir um fato que não iria acrescentar nada de bom à união do grupo. Até porque, cronologicamente falando, no tempo em que isto aconteceu, Ruki já torcia fervorosamente para Aoi deixar de ser idiota e ficar do jeito certo com Uruha, racharia a cabeça dele com um machado sem problemas para colocar isto na cabeça do beiçudo e fazê-lo parar de fazer coisas idiotas apenas não dar o braço a torcer e dar uma chance para o outro de uma vez.

Mas este não é o assunto em questão afinal o que importava verdadeiramente era o espaço que Kai havia deixado em sua vida. Mudou-se definitivamente para o sítio da família, virou especialista em cavalos e reabriu o haras da família Uke.

É. Isso mesmo. Ninguém foi capaz de prever esta atitude revolucionária e repentina de Kai.

Tá, ele querer se graduar em medicina veterinária e ter iniciado a faculdade em publicidade e propaganda era possível entender.  E seu amigo ficava muito feliz por Kai pelo menos ter tido coragem de mudar para o que realmente queria antes de estar muito avançado no outro curso, assim como respeitava o fato dele ter dado ouvidos à verdadeira vontade.

Mas virar especialista em cavalos e basear sua vida em meios de fazer famoso o haras da família, não. Essa parte era mais difícil para Ruki entender, mas aparentemente era a vontade de Yutaka e ponto.

Reita costumava chamar parte desta incompreensão de ciúme, e Ruki muito bem o admitia. Sofreu mais com o aviso de que Kai estava indo embora do que quando Miyavi chegou em sua casa aos prantos no dia em que os dois terminaram.

Em parte porque acreditou que o fim deles não era definitivo. Sinceramente achou que não tinha sido pra valer. Quer dizer, Myv e Kai, o casal grude da escola que fazia o menor ter calafrios ao pensar em paredes. Era claro que aqueles dois tinham amor suficiente para a vida toda apesar de não terem economizado nenhuma vez na dosagem no tempo de escola.

O fim deles soou como mais uma briga por birra de Kai. Logo passaria como todas as outras vezes quando Miyavi acabasse cedendo às vontades do menor.

Mas então Kai trocou de curso, de faculdade, de cidade, de vida... de planeta. E doeu, porque era a comprovação da verdade; era o fim. Não era apenas birra do cara que não queria ficar longe do namorado.

O pior foi que Miyavi não estava aqui quando ele comunicou suas escolhas aos amigos, e Kai já não estava mais aqui quando Miyavi voltou. Myv passou uns cinco meses remoendo a raiva pelas atitudes de esquiva de Kai, depois foi atrás dele pelo menos umas seis vezes para tentar lhe convencer de seu “amor eterno”. Em nenhuma das vezes Kai lhe ouviu.

Nas três últimas perguntou se Miyavi ficaria apenas aqui se ele resolvesse voltar. A resposta foi “não” em todas as vezes, Ishihara estava satisfeito e tendo sucesso na carreira que escolheu. E por causa de seus “nãos” eles nunca mais reataram.

Com o tempo cansaram de brigar, infelizmente Miyavi também acabou cansado de tentar. Estressado, reclamou para Ruki que Kai parecia interessado apenas nas lembranças físicas de seu relacionamento, que o sentimento parecia ser insuficiente para o de covinhas. E se este fosse o caso, não valeria a pena insistir.

O outro vinha com manhas e respostas ilusórias que faziam Takamasa crer em um possível retorno, faziam sexo e terminavam o encontro sempre do mesmo jeito; com o mais alto sendo rejeitado. Rejeitado claramente pelo fato de que seu trabalho exigia que ele viajasse.

E mesmo que Kai fosse o seu mais importante amigo, Ruki não conseguiu o entender e nem o apoiar nisto. A verdade era que todas as pessoas têm (e precisam ter) seus momentos de individualidade, Kai seria uma pessoa mais feliz e segura de si se entendesse e aceitasse isso.

Miyavi estava sendo tão bem sucedido, deveria ser apoiado em seu bom trabalho. Na verdade, Takamasa era o tipo de pessoa que conseguiria ser bem sucedido com qualquer desafio colocado em suas mãos. Ele é assim, uma dessas pessoas que nasceram iluminadas. Se destaca em qualquer multidão, faz haver o silêncio necessário para que o som de sua voz seja ouvida e faz qualquer ideia sair do papel e dar certo.

Só houve uma coisa que ele não conseguiu fazer dar certo; Só uma voz que ele deixava falar mais alto do que a sua própria. Kai devia ser uma pessoa tão ilumina quanto Miyavi para ter toda a atenção do nosso agente publicitário como se fosse capaz de brilhar ainda mais. Mas era burro o bastante por abrir mão disto por besteira.

Claro que depois de tantos anos ninguém mais esperava que eles voltassem a ficar juntos. Ruki não. Takanori sempre acreditará que em algum momento aqueles dois irão voltar a ficar juntos. Torcia muito por isto, e às vezes, até discutia com Kai.

Sabia que Miyavi já havia tentado várias vezes algo sério com inúmeras pessoas, mas nunca dava certo com ninguém. Aquele que era o elo de absorção de desabafos entre os dois tentava ligar o motivo disto ao fato de que pelo menos uma vez por ano ele dava um jeito de cair na cama certa, nem que fosse pelo menos por uma noite. Mesmo que ficasse cada vez mais difícil de arrumar desculpas para aparecer naquele haras.

Então Ruki facilitou as coisas inventando o “dia anual da amizade”.

Porque não era apenas Miyavi que tinha uma vida corrida, todos tinham. E não era apenas ele que desejava, pelo menos uma vez no ano, fingir que ainda tinha dezesseis anos.

 

Uruha e Ruki acabaram se inscrevendo naquele mesmo cursinho de administração que Reita fez. Foi um pedido encarecido de Emi para ver se os consumistas conseguiriam falar na mesma língua econômica que o restante da equipe. Reita foi o primeiro que aprovou a ideia, a vida agitada de quem cuidava de uma casa noturna com sua mãe, não estava fazendo nada bem para o consumismo de bom gosto de Takanori.

Fora isso os dois acabaram em uma faculdade de Design, mesmo que cada um tenha seguido seu próprio caminho no decorrer do curso. Ainda assim os dois se inscreviam sempre nos mesmos cursos de extensão e workshops dos mais variados. Fizeram curso de fotografia, design de interiores, design contemporâneo, moda italiana, design gráfico e até um curso de edição profissional de fotografias.

Claro que Uruha se saiu melhor neste, Ruki nunca teve muita paciência com este tipo de coisa. As coisas para Ruki funcionavam muito melhor quando eram intuitivas. Não se saía bem com técnicas pré-moldadas. A não ser quando chegou na cadeira de desenho, ah aprender algumas técnicas ali o ajudou muito.

Aoi ria toda vez que via um ou outro pagando o boleto de um novo curso. Ele dizia que aquele cursinho de administração ou não tinha servido de nada, ou estava sendo muito bem executado para pagar pelo excesso de coisas em que se inscreviam.

Ruki simplesmente ignorava, achava muito justo investir dinheiro em si mesmo. Gostava de ter um currículo grosso e um portfólio cheio de coisas escritas para as clientes lerem, lhe dava um bom embasamento para o tanto que cobrava por seus serviços.

Com o tempo eles tinham conseguido terminar a última parte do negócio de Emi e Joe, e começaram a usar o último salão para organizar eventos memoráveis. Organizados por Ruki e Uruha, tinham virado um o braço direito do outro e se dividiam entre a casa noturna e os eventos. Parecia muita coisa, mas problema de verdade só dava quando tinha um show grande acontecendo na casa de shows em dia de festa e na mesma data de um evento.

A casa noturna quase não dava trabalho. Ruki precisava estar à disposição nas noites de festa, mas não necessariamente naquela parte da casa. Era uma vida agitada e com horários estranhos, com certeza, mas nada que não pudessem se acostumar, a parte mais burocrática sempre acabava sendo deixada para o Reita, das três sessões da grande construção. Ele era o cara dos números, Takanori era o cara do evento, o cara que cuidava de cada detalhe.

Em certa altura, ambos se viam administrando tudo aquilo sem mais nenhuma ajuda de Joe e Emi, os mais velhos eram fielmente representados pelos mais novos. E Ruki e Reita facilmente já vestiam a camisa da casa, como se donos fossem da mesma. Como um dia, que desejavam que estivesse muito longe ainda, seriam.

Cada um dando o melhor do que tinha como ponto mais forte. Akira gostava muito dos números que Takanori lhe fazia dono. O custo médio que Ruki pedia para organizar uma festa de casamento equivaleria a compra de um carro superesportivo importado e de nível exclusivo.

Tudo em suas festas podia ser absolutamente exclusivo, feito e desenhado por Takanori para realizar o sonho de qualquer cliente disposto a pagar. Mas o que suas clientes mais gostavam, e que fazia Ruki realmente se destacar, era poder ter um desenho minimalista feito por Ruki do salão decorado para poderem sonhar com o “grande dia”. O mesmo era entregue aos clientes em uma moldura para que fosse guardado como uma lembrança tão personalizada quanto o sonho realizado.  Por ser feito à mão, remetia a lembrança prazerosa de como foi sonhar e planejar o seu dia mais esperado.

Uma obra de arte para preceder a noite dos sonhos. Depois, um belo quadro; uma linda recordação exclusiva. Ah e Takanori era detalhista no planejamento e fiel a cada detalhe na execução. E provando ter prestado atenção às aulas de gestão, Ruki se mostrou excepcionalmente bom em colocar preços nos sonhos alheios.

Reita e Aoi foram céticos no começo, mas assim que perceberam quantas pessoas estavam dispostas a pagar aquele tanto para realizar seus sonhos... Unf.. Reita já havia servido até de mestre de buffet. Aoi era quase constantemente solicitado para recepcionar convidados e leva-los à mesa certa, principalmente se o evento em questão fosse um aniversário de quinze anos.

Aoi achava realmente impressionante quantos pais pagavam cerca de cem mil reais por uma festa de debutantes. E três vezes mais por um casamento.

Uruha havia descoberto um prazeroso dom ao tirar fotografias. E ganhava bem sendo o fotógrafo exclusivo da casa. Suas fotos já eram inclusas nos pacotes de Ruki, e isto por si só não lhe dava grandes rendimentos, mas os shows sim. Apenas ele tirava fotografias das bandas dentro da casa e era o mesmo que escolhia para quem venderia estas fotos, normalmente a própria agencia das bandas eram quem melhor o pagava, mas isto não mudava o resultado final que era sempre uma boa quantia transferida para sua conta. Com o tempo o loiro acabou percebendo isto e encontrou um meio de incluir um ganho extra ao que já ganhava em cada evento de Ruki. Então às vezes fazia todo o book de uma noiva ou de uma debutante, e ele era mesmo muito criativo com isto.

Mas o que Takanori achava graça mesmo, era que quando estavam na escola o Uruha vivia tirando o Kai para “Nerd”. Mas na real tinha sido ele quem tinha feito mais cursos entre todos. Isso contando claro cursos de culinária e outras coisas domésticas que ele nunca assumiria ter feito. E se empolgava como uma criança com cada um deles. Alguns Reita ou Ruki já tinham o feito admitir e depois justificar que era para preencher as horas de créditos da faculdade; mentira.

Principalmente Takanori sabia que a maioria desses cursos aparentemente sem sentido que ele fazia era por manias perfeitinhas dele mesmo e de seu colega de apartamento. Entrava e saía ano e Ruki ouvia Uruha resmungar em seus ouvidos que iria mudar, mas cada novo ano só o via andar adestradamente em seus vícios sem nunca abandoná-los. Sim, ironicamente, Uruha e Aoi dividiam o mesmo apartamento.

Isto não atrapalhava a vida de Takashima, na verdade parecia ser apenas um hábito ele sentar ao lado de Takanori nas horas vagas e reclamar de Aoi. Vinte anos depois, Aoi ainda não o amava; Vinte anos depois ele ainda não havia largado do pé do moreno.

Há esta altura já estava claro para todos, menos para eles mesmos, que ele não o largaria. Eles não se largariam. Não importava a forma como vissem aquilo que tinham sem dar nome, e que viviam dia após dia sem vontade de levar em frente.

Não era nada além de comodismo. Um comodismo bom que pela primeira vez na história da humanidade fez um amor unilateral dar certo. E provavelmente só dava certo porque era com aqueles dois.

E claro, porque eles não estavam juntos, apenas e somente apenas dividiam o apartamento que era de Aoi, diga-se de passagem. Servia para fazê-los feliz, e de piada em piada sobre este assunto, acabava fazendo todo o grupo de amigos feliz também.

O que compunha outro motivo para Takanori insistir todos os anos para que aquele final de semana da amizade não deixar de acontecer, afinal, não eram apenas Kai e Miyavi que precisavam de algumas horas de trégua, mesmo que a coisa entre Uruha e Aoi fosse totalmente diferente. Ah e claro, mesmo que Kai estivesse longe todos ainda queriam da sua comida, ou pelo menos as suas sobremesas.

Aliás esta era a desculpa que Ruki tinha dado ao telefone para justificar o fato de estar dirigindo até o que já estava rebatizando hoje de "fim do mundo". Este era o final de semana anual da amizade. E o senhor veterinário disse que não iria porque tinha levado o coice de uma égua em trabalho de parto, estava com o antebraço quebrado e não conseguia dirigir.

Drama sempre foi o ponto forte de Kai. Então o pequeno fez questão de ressaltar que sem a sua ilustre presença o grupo não ficava completo, e que por isto o mesmo iria busca-lo.

 

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Reita

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Reita desceu as escadas suspirando alto enquanto sentia os batimentos acelerados e a respiração ofegante. Uma mão balançava insistentemente o copo grande de plástico com o suplemento proteico enquanto passava a toalhinha pelo seu rosto por uma última vez.

A conversa animada no andar logo abaixo o fez olhar além enquanto bebericava a bebida adocicada. Emi e Hanabi discutiam animadamente sobre algo. Era em momentos assim que ele temia que a sua avó não fosse uma boa influência, pois Emi estava deixando algumas jovens mulheres envergonhadas ao contar alguma piada sobre o uso devido do clitóris; piada que ele sabia já ter ouvido de sua avó.

O problema era ter sempre que ser o adulto que levava as duas desbocadas do lugar cheio, apesar de saber que mesmo deixando as pessoas mortas de vergonha, aquelas duas eram os seres mais amados daquele lugar. Quase duas celebridades. Fazer seu treino no mesmo horário em que as duas tinham aula de Pilates, - por intermédio da mais velha - era apenas unir o útil ao agradável.

– Por que toda vez que eu desço vocês duas estão aprontando algo? – Perguntou com humor enquanto atravessava a catraca.

– Porque você é lerdo e a gente fica entediada! – Disse sua avó. – Na minha idade eu já não tenho mais tempo para perder. – Palavras animadas da senhora que para a felicidade de seus netos – o original e o agregado – já havia completado seu nonagésimo aniversário no início daquele ano.

Reita e sua mãe tinham planejado uma grande e espetacular festa que não aconteceu. Hanabi havia colocado na cabeça que cada dia depois do presente poderia ser o seu último depois que alguma de suas amigas havia falecido dormindo, e com isso preferiu comemorar seus noventa anos fazendo algo memorável; ela queria saltar de asa delta.

Claro que todos foram contra; todos menos Emi.

A mãe de Ruki e a avó de Akira tinham se tornado grandes amigas desde o primeiro encontro, um jantar simples com os dois ainda adolescentes e as três mulheres em suas vidas, na casa de Ruki. As sogras também tinham se dado bem e ocasionalmente até saiam juntas como amigas, mas a afinidade entre a mais jovem e a mais velhas das três tinha sido algo muito mais além. Emi e Hanabi descobriram uma na outra uma amizade muito mais profunda do que se poderia explicar; Reita achava que sua avó seria na verdade um espelho do que lhe aguardava no futuro distante de Emi.

Ruki discordava, as duas viviam em contato e faziam mais coisas juntas do que se fossem mães e filha. Para ele Hanabi estava preenchendo um buraco dolorido na vida de sua mãe.

O problema era que vinte anos depois eles já eram adultos muito bem criados. Elas é que pareciam duas adolescentes; duas adolescentes bem encrenqueiras por sinal.

Claro que Emi deu seu jeito para que Hanabi tivesse o que desejava no dia do seu aniversário; elas fugiram. A mãe de Ruki parecia sofrer do mesmo mal que sua avó, e perdia a noção do senso da vergonha e do bom senso com o passar dos anos.

As duas realizaram o salto com sucesso. Emi foi por primeiro e Hanabi por segundo para aprender a lidar com câmera maravilhosa acoplada no capacete que registraria todo o passeio de vista única.

Mas é claro que para Emi e seus quase cinquenta e dois anos o salto não passou de uma corajosa aventura. Hanabi quebrou o quadril com o impacto do pouso.

Emi ligou do hospital dizendo que não tinha sido nada; Hanabi saiu do hospital quarenta e cinco dias depois com uma prótese trocantérica no quadril esquerdo.

Sem dar o braço a torcer e assumir a culpa, Emi sugeriu balonismo para o aniversário de noventa e um. Mas é claro que desta vez Reita já ia estar preparado.

Ele concordava totalmente com Takanori quando o mesmo reclamava que a idade estava deixando sua mãe sem juízo, mas também considerava a influência de Hanabi em seus cálculos. Não que a amizade das duas não fosse bonita, ele só não sabia se ele e Ruki sobreviveriam a isto.

– Podemos ir embora, então? Ou as moças querem deixar as meninas mais constrangidas.

– Ah esse recalque ainda vai deixar esta geração de meninas secas. – Reclamou a avó.

– E vocês duas ainda vão me atrasar. Tem gente naquela família que trabalha sabia. – Reclamou em um tom animado de brincadeira.

– Ah Akira, você trabalha por sua mãe e avó. Como isto é lindo! – Uma das garotas se intrometeu em meio a fala sorridente, referindo-se às duas estrelinhas.

Era comum as pessoas que apenas os viam juntos pensar que Emi era a sua mãe, apesar dela ser o alvo de mãe coruja super fã número um do filho que tem e ficar mostrando fotos do perfil profissional do Ruki nas redes sociais para todo mundo. Algumas pessoas simplesmente ainda não haviam sido atingidas pelo furação Emi e realmente achavam que se tratavam de filho, mãe e avó.

De fato com o passar do tempo e a estabilidade batalhada e conquistada dos jovens, sua mãe e sua sogra haviam sim entrado para o time das aposentadas ao qual Hanabi já pertencia. Não que Emi conseguisse parar de dar assistência na casa de shows ou parar de vender o trabalho maravilhoso e o talento de Ruki. Até mesmo sua mãe lhe pedia vez ou outra o portfólio de Ruki para mostrar para as filhas de suas amigas. E elas eram boas vendedoras.

– Minha avó e minha sogra. – Corrigiu com educação, não era fã daquele monte de dentes à mostra em sua direção, mas isto não o impediria de ser educado com a moça.

– Espera meu filho ver este sorriso cheio de dentes pro Akira, que você vai se aposentar também. Só que vai ser por invalidez. – Resmungou Emi enquanto se levantava da cadeira em que esperava pelo genro.

Hanabi riu e imitou o ato de se levantar, logo em seguida enganchou seu braço no de Akira para descer o último lance de degraus da recepção até o estacionamento. O apoio extra para o quadril fraco.

– Ruki devia vir para a academia antes de ficar com aquela bunda redonda que ele tem, flácida assim. – Disse a mais velha dos três balançando o braço livre no ar para demonstrar a ‘pelanca flácida’ e fazendo-os rir.

– O inferno congela antes de o Taka colocar os pés dele em uma academia. – Concluiu Reita se adiantando para abrir a porta de vidro antes da passagem da avó e de Emi.

Saíram sem prestar atenção nos murmurinhos que ecoavam pelo prédio de pé direito alto. O alvoroço era sempre igual quando alguém ligava a relação entre si e o filho que Emi tanto babava. Uma vez uma garota tinha lhe abordado durante o treino, lhe chamando de Taka. “Sua mãe fala tanto de você” ela tinha dito. Era normal, porque Emi e sua avó eram queridas naquele lugar, ele era apenas o cara quieto que levava as duas e não tirava o pano da cara nem para treinar.

Isso porque, depois da quantidade de fotos sobre o trabalho e de fotos do nosso cachorro, – outro, Sabu e Koron já não existiam mais infelizmente – foto de nós dois juntos era o que ele mais tinha no perfil. E Emi vivia mostrando este perfil para deus e o mundo.

Talvez estivesse na hora de tirar mais fotos exibicionistas com seu pequeno. Ah com certeza faria isto neste final de semana. É.

– Takanori já ligou para você? – perguntou-lhe a sogra.

– Ainda não. Ele disse que ia ligar quando chegasse lá, pela hora ele deve estar quase lá já.

– Não devia ter deixado ele ir sozinho. Estrada demais para uma pessoa apenas dentro do carro. – Emi pareceu introspectiva sobre ter deixado o filho fazer uma longa viagem sozinho, uma vez que ela não tinha nenhum compromisso irremediável naquele dia.

– Fique tranquila. Ele logo vai ligar e dizer que chegou bem.

– Akira você vai aparecer lá em casa hoje? – questionou-lhe a avó.

Era comum o loiro voltar para casa pelo menos duas ou três noites da semana para passar mais tempo com a mãe e avó, mas já era sexta-feira e a semana tinha se passado com uma velocidade que Akira não tinha sido capaz de acompanhar. E aquele também não era um dia como outro qualquer, naquele dia completava-se o vigésimo aniversário de morte da mãe de Aoi, e como a mesma havia sido cremada, Yuu gostava da sua companhia para voltar até a velha paineira da antiga residência para concentrar suas orações.

– Desculpe vó, hoje é o dia em que vou com Aoi até a antiga casa em que ele morava.


Notas Finais


Gostaria de repetir tudo o que disse nas notas iniciais, beijo /corre
Não vou explicar nada ainda, vou usar este tempo para escrever mais e poder postar os textos de forma que eles se expliquem para vcs /corre

Reviews são lindos, eu amo e leio todos mesmo que eu ainda não esteja conseguindo responder (e eu vou responder todos, to devendo resposta desde o capítulo 43) e vc podem me brigar comigo tanto por Kai ter ido afogar as mágoas com o Aoi quanto por fazer o Aoi deixar o Kai se afogar /corre
e por mais que Kaoi seja o meu ship preferido e fazer os dois se pegarem não seja nada difícil para mim, eu juro que vai ter sentido aí tá...
só desta vez, pq lá em "Passos" eu vou fazer o Kai levar Aoi pro motel bem lúcido e pra abusar mesmo /corre
bjs
até a próxima que não deve demorar mto não


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