Relembrava constantemente a noite anterior. Os olhos vazios, a raiva sob controlo, os murros sem piedade e o sangue a escorrer. Se não a tivesse impedido, até que ponto iria?
Balancei a cabeça, tentando livrar-me das imagens da noite anterior. Ryan e Ashley estavam na minha sala de estar, a disputar um jogo de corridas. Arqueei a sobrancelha, perante a vitória da loira. Obviamente, que não deixei de implicar com Ryan, visto que ele era um fraco em relação a jogos.
A loira apenas festejava a vitória, voltando a sentar-se. Beijocou os lábios do namorado, tirando o telemóvel do bolso.
Um sorriso falso apareceu no rosto dela.
- Vocês sabiam que a miúda nova espancou um gajo na festa? – Virou o telemóvel para mim. Katrina enviara-lhe a mensagem e pelo que percebi, só se falava desse assunto.
- Ela devia de ser internada num hospício. – Ryan comentou e Ashley concordou, obviamente.
- O rapaz tentou abusar de uma miúda mais nova e ela apenas a defendeu. – Interrompi, captando a atenção de ambos.
- E como é que sabes isso?
- Porque a pessoa que a tirou de lá, fui eu. – Encolhi os ombros, levantando-me. Caminhei até à cozinha, tirando uma cerveja do congelador. Uma a mais, uma a menos, não ia causar grandes problemas ao meu pai.
A conversa continuou a ser a Amyah. Eles falavam dela como se a rapariga fosse uma psicopata ou algo do género. Ashley, tinha-lhe um ódio enorme. Pelo que percebi, ela não ia desistir de provocar a Amyah.
Se soubesse sobre as capacidades da rapariga.
Por um lado, não lhe queria alertar, visto que necessitava de uma lição. Perguntava-me o que cativava Ryan para estar com ela. Por outro, era minha obrigação dizer-lhe, visto que a conhecia há bastante tempo e não tencionava ir visitá-la ao hóspital. Ou talvez, não achasse correto as suas ações.
De qualquer maneira, tinha plena noção que Amyah não era as típicas raparigas que se encolhiam, sempre que Ashley estava presente.
- Devias de pôr esse assunto atrás das costas, Ash. – Interrompi novamente a conversa delas. – A Amyah luta boxe. Acho que já tiveste a prova disso.
Ao referir o murro que havia levado, os seus olhos transbordaram raiva.
Pouco depois, ouvi o carro dos meus pais chegar. Avisei Ryan e Ashley que tinham de ir, visto que os meus pais não sabiam que cá estavam. Quando eles sairam, apressei-me a ir para o meu quarto, deixando a cerveja a um canto, pois não tencionava que o meu pai descobrisse.
A porta de casa fechou-se causando um estrondo enorme. Os gritos da minha mãe chegaram-me aos ouvidos, assim como os do meu pai.
Desci as escadas, porcurando saber o que estava a acontecer. A minha primeira visão foi a mão do meu pai prestes a ir de encontro à cara da minha mãe, o que me fez gritar o nome dele, para lhe chamar à atenção.
Ele baixou a mão virando-se para um. Um sorriso provocador surgiu no rosto dele e logo percebi que o álcool já atuava no corpo dele.
E ainda, eram sete da tarde.
- Tu não ouves o que digo? – Aproximou-se de mim, cheio de raiva, embora com uma expressão divertida. – Eu não quero os teus amigos cá em casa, custa muito respeitar?!
- Eles vieram trazer-me apontamentos. – Menti, para não piorar a situação.
- Jeremy, deixa o teu filho em paz. – A minha mãe caminhou até mim, pedindo que fosse para o meu quarto. Algo que não fiz.
Uma troca de palavras entre os meus pais sobre o acontecido, tornaram-se mais agressivas, visto que o meu pai achava que não era valorizado por nós e que as suas palavras não tinham qualquer significado.
Depois, pôs em causa o facto da minha mãe trabalhar até tarde no hóspital e cobrir os turnos noturnos no hóspital, sempre que lhe era pedido.
E depois, acusou-lhe de traição.
- Tu e as tuas bebedeiras estão a ultrapassar todos os limites! Quero-te fora desta casa, imediatamente!
- O quê? – Questionou, rindo-se ironicamente.
Antes que me apercebesse do que tinha acontecido, a mão do meu pai provocou um som enorme contra a cara da minha mãe. Os seus olhos arregalados, cheios de lágrimas, enquanto o meu pai apenas gargalhou e voltou a sair de casa.
Olhei para ela, chocado com o que acabara de acontecer.
(…)
Eram quase onze da noite, esperava pelo Michael e pelo Ryan à porta de casa, visto que Ryan garantiu que me vinha buscar de carro.
Esperei pelo menos quinze minutos, até que eles apareceram. Ao baixarem a janela do carro, uma nuvem de fumo saiu pela mesma. Michael e as suas ganzas. Entrei no carro, reparando num outro rapaz, com quem Michael partilhava a ganza. Reconhecia-o do bar da festa da noite anterior, mas não costumava sair com ele.
Pelo que Ryan me explicou, íamos a uma espécie de convívio num túnel algures em Los Angeles, onde o pessoal do ginásio costumava encontrar-se ao fim de semana.
Convite feito pelo Michael e o ambiente em casa estava péssimo, para rejeitar.
Michael explicava que era um lugar um pouco pesado, embora o pessoal fosse acolhedor e boa onda. Pesado, em relação a drogas e derivados. Um pouco irónico, para quem está num ginásio.
Alguns minutos mais tarde e estávamos no túnel. Era um lugar escondido e parecia abandonado, uma ótima escolha para o tipo de coisas que fazem.
Assim que sai do carro, os meus olhos voaram até duas raparigas que se aproximavam de nós. Logo, reconheci uma delas. Os nossos olhares cruzaram-se e a sua expressão tornou-se um pouco surpreendida.
Amyah Johnson.
- Amyah Johnson, certo? – Michael questionou, apertando a mão dela.
Ambos treinavam no mesmo sítio, mas em dias diferentes. O mesmo acontecia com Christian. A outra rapariga, era um pouco radical, embora bastante atraente. Kaya, era como se chamava.
Juntamos-nos a um grupo de pessoas, dos 18 aos 30 talvez. Uma lata de cerveja foi-me oferecida e obviamente que não recusei. Sentei-me nuns pneus velhos amontoados, entre Ryan e Michael. Ao olhar para o outro lado do túnel, encontrava Amyah com uma ganza entre os dedos e uma lata de cerveja perto dela.
Os nossos olhares cruzaram-se durante meros segundos, até que uma cotovelada me foi dada por Michael.
- Quem diria que a revoltada da escola anda neste tipo de vida. – Gargalhou, dando longos golos da cerveja. – Ouvi dizer que começou a treinar há duas semanas no Black House.
- Espero que a Ashley desista da ideia de lhe infernizar a vida ou está fodida.
- Eu avisei-te esta tarde, Ryan.. A miúda tem tolerância 0. – Pronunciei-me, voltando a encará-la. – Eu bem vi o que fez ao gajo que se meteu com a outra miúda.
- Ela lutou fora do ginásio? Isso não é proibído?
- É uma das regras, sim Ryan. Mas há coisas que não se podem evitar e na segunda, é com James que vai ter problemas.
- A miúda é qualquer coisa… - Murmurei e ambos me encararam.
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