História A m y a h - "I will never forgive you" (Justin's point of view)

Lentamente, dolorosamente era como passavam os meus dias. Apagar a imagem daquela noite da minha cabeça, não era de todo possível. Vê-la a levar dois tiros, embora um de raspão, foi angustiante. E o pior, foi não ter conseguido chegar a ela, tentando impedir a bala de lhe perfurar.

Uma semana a faltar ás aulas, para estar com ela todos os minutos possíveis. A preocupação cobria parte da desilusão. Sentia-me tão desiludido, tão magoado por não me ter incluido nos seus planos. Por ter agido nas minhas costas, encontrando-se agora adormecida numa cama de hospital. Cada vez que pousava o meu olhar nela, era como uma facada, como se parte de mim estivesse adormecida com Amyah.

A sua pele estava mais pálida que o normal. Notava-se o quão desidratada estava, também. E magra, bastante magra.

Continuava sentado na cadeira ao lado da cama, embora com a cabeça pousada nos braços e os mesmos pousados na cama dela, ao lado da sua cintura. Fechei os olhos, tentando adormecer, visto que pouco ou nada havia dormido durante esta semana.

Estava prestes a adormecer, quando sinto algo entrelaçar-se nos meus cabelos.

Levantei a cabeça lentamente, encontrando uns olhos azuis tão conhecidos. Não sabia como reagir. Amyah, acabara de acordar. Os nossos olhares prenderam-se um no outro, até que reparei que os seus olhos se encheram de lágrimas.

A sua mão deslizou até à minha, entrelaçando os nossos dedos.

- Se te tivesse acontecido alguma coisa... - Sussurrou, bastante fraca.

- Estás preocupada comigo, quando tu é que estás numa cama de hospital há uma semana? – Retorqui, um pouco bruto. Não percebi bem o porquê de ter sido tão rude com ela, mas não consegui evitar.

- Uma semana?! – Tentou sentar-se, mas os fios ligados ao seu corpo e o peito envolvido numa ligadura não lhe deixaram. Para além, da fraqueza. – O que aconteceu ao Frank?

- Foi morto, no momento em que disparou contra ti.

- Teve aquilo que merecia.

- Eu nunca te vou perdoar pelo que fizeste. – Admiti, apanhando-a um pouco de surpresa. A sua expressão satisfeita com o que aconteceu a Frank tornou-se desanimada e confusa com as minhas palavras. – Nunca mesmo.

- Justin?

Antes que fosse capaz de lhe responder, a enfermeira entrou no quarto, procurando examiná-la agora que estava acordada. Os olhos de Amyah continuavam postos em mim, até ao momento em que saí do quarto, deixando-a com as minhas palavras rudes, embora sinceras.

Ao passar pela receção, reparei que os pais de Amyah perguntavam pela mesma. A minha primeira reação foi chamar a sua mãe, visto que no nunca lidara com o seu pai.

- A Amyah acabou de acordar. – Dei-lhe a notícia e um sorriso rasgado apoderou-se do seu rosto, tal como algumas lágrimas de felicidade. – A enfermeira está a examiná-la.

- O meu turno começa agora, talvez consiga avaliá-la também. – Sorriu, dando-me um beijo na bochecha. – Obrigada por tudo o que tens feito por nós, principalmente pela minha filha.

- Não tem que agradecer. Eu preciso de ir. – Murmurei, deixando-a um pouco confusa.

Abandonei o hospital, tentando controlar as minhas emoções. Por um lado queria voltar atrás, confortá-la e dizer-lhe que 'agora' estava tudo bem. Por outro, não conseguia sequer pensar em encará-la novamente. A desilusão era tão grande, que não me permitia aproximar-me dela.

Precisava de espaço, de me afastar.

(...)

Amyah's point of view

Interiorizara as suas palavras. A convição com que as dissera. E o facto de me olhar nos olhos, enquanto as palavras lhe escapavam com propósito da boca, só me entristeceu ainda mais. Agora que, finalmente, tudo se estava a acertar, o Justin decide virar-me as costas. Será que é tão dificil perceber o porquê de o ter feito em silêncio?

Abstrai-me dos meus pensamentos, quando a minha mãe entrou no quarto com a bata e os típicos objetos de médica. Um sorriso cresceu no seu rosto, tal como no meu.

Entretanto, uma outra pessoa apareceu atrás dela e só ai percebi, que tudo acabou como era necessário. O meu pai estava livre da cadeia, mesmo com todos estes anos, ele estava do outro lado das grades.

Todo o esforço valeu a pena.

- Nunca pensei que te tornasses numa gangster. – Comentou, sendo repreendido pela minha mãe. – Não tinhas que o fazer, Amyah.

- Tinha, e tu sabes disso. – Ele assentiu, aproximando-se da minha cama.

- Estou tão feliz por estares bem. – A minha mãe aproximou-se também, beijando a minha testa. – Não consigo acreditar que foste capaz de fazer isto nas minhas costas, Amyah! Tu não pensas, pois não?

- Mãe, por favor. – Murmurei. – Desculpa, ok?

- Quantas vezes mais vou ouvir as tuas desculpas, depois de te visitar no hospital ou receber cheia de hematomas?

- Mais nenhuma, prometo. – Agarrei na mão dela. – Tudo o que sempre quis foi vingar a morte do Andrew e acabei por fazer muito mais que isso.

- Amyah, isso não justifica o facto de te teres posto na linha do comboio, mesmo depois do sinal! – Arqueei a sobrancelha e ela revirou os olhos. - Precisas de descansar e eu de trabalhar.

- O Justin?

- Foi-se embora... Aconteceu alguma coisa?

- Ele disse que nunca me ia perdoar. – Encolhi os ombros, aconchegando-me na almofada.

- O rapaz passou a semana a visitar-te. Ele desesperou todos os minutos, até saíres da cirurgia com vida.

- Merece melhor que eu.

- De facto, merece. – Concordou comigo.

Não consegui ficar chateada com a sua resposta. Ela estava certa e eu tinha noção disso. Depois de tudo o que lhe fiz passar, ele continuou a querer estar comigo e eu decidi deitar tudo a perder. Não pensei nas consequências, talvez por parte de mim acreditar que ele ia compreender o porquê de o ter feito, mas agora percebo que estava enganada. Bastante enganada e isso, custou-me bastante.

Após alguns exames, estiquei-me para agarrar o telemóvel. Precisava de saber como estavam as coisas. Como estava Brandon, como estava Alexa. Principalmente, Mike e o grupo que tanto me ajudou.

Mandei uma mensagem geral, escrevendo uma particular para o Justin. Era o que me importava agora, desculpar-me pelo menos.

Mensagem para: Justin McCann
- Sei que não estou na posição para te pedir alguma coisa. Provavelmente nem vais ler esta mensagem, mas quero que saibas que fiz o que fiz a pensar em ti. Na tua proteção. Jamais podia deixar que te envolvesses e que algo te acontecesse. Tal como aconteceu ao Brandon. Preciso que compreendas. Não te peço que me perdoes, só que compreendas que nunca te quis excluir. Apenas proteger alguém que amo, pois não iria conseguir lidar com outra perda.

(...)