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História A Maldição do Amor - Memórias


Escrita por: Wither_x

Notas do Autor


Esse capítulo talvez seja um dos mais aguardados por vocês, e dá para saber o do porque. Gostei muito de escrevê-lo e quero que apreciem o máximo que puderem. 🥰

Obrigada as que comentaram no capítulo anterior, principalmente uma em especial que sempre comenta em todos eles. Você é um anjo!! Fico agradecida pelo seu carinho @AnaL_16 💫💖🌟
É uma leitora muito querida. 💋

Deixo avisado que esse capítulo contém temas sensíveis que podem fazer mal. Mas eu nem preciso dizer, certo? Pois é uma história +18 destinada ao público adulto. Mesmo assim, deixo aqui o aviso! 🙏🏻

Me perdoem por qualquer erro ortográfico, sempre passará despercebido.

Tenham uma boa leitura. 😘

Capítulo 41 - Memórias


                 ~ HADES POV ON ~

Ela não desistiria de saber tudo sobre mim, na primeira oportunidade que teve fomos atrapalhados na mesa de jantar, lhe forçando infelizmente a esperar a segunda oportunidade que agora teve. 

Não via motivos para eu não dizer, era a minha imperatriz, merecia saber sobre tudo de mim, eu seria um livro aberto para as suas dúvidas e curiosidades. S/N era uma garota curiosa, ambiciosa por conhecimento, e claro, eu iria falar. 

Mas o peso dessa curiosidade, ou dessa pergunta, me afetava de alguma maneira insuportável, sendo difícil para eu continuar com a tranquilidade que sempre transparecia. 

Encontrei seus olhos suplicantes, recordando de tudo que iria dizer, até o momento que eu achasse necessário. Não suportaria ver S/N com o estômago embrulhado de nojo. Toda a minha história era repulsiva.

– Por favor. Me diga. – Insistiu. 

– Ela foi… – Comecei a contar desde o início. 



                  ~ FLASHBACK ON ~ 

Com o meu nascimento, como todo bebê, eu não lembrava com clareza absoluta, mas tinha vestígios de ser cuidado com todo o carinho por Reia, a minha mãe. As imagens eram borradas, mas o suficiente para serem enxergadas. 

Seu rosto cansado e abatido, com o suor escorrendo de tanto esforço em me ter por eu não querer sair de seu ventre, expressava felicidade e amor. Estava feliz em me ter. Era o seu primeiro filho, o primeiro Deus a nascer naquela época. 

Sua mão acariciou meu rosto pequeno, enquanto me observava, talvez procurando marcas ou cicatrizes, mas ela estava atenta aos meus traços… Os mesmos traços similares aos de meu pai. Aquele sorriso amoroso ia sumindo aos poucos com essa visão horrível, e aquelas lágrimas que jamais iria esquecer, escorriam dos seus olhos com olheiras, sendo derramadas em meu rosto, fazendo eu chorar.  

Reia não deixou o abalo retirar o seu amor maternal. Como toda mãe, simplesmente me abraçou, dizendo palavras que eu não conseguia recordar o suficiente, mas que me acalmou do seu modo.

Ela olhou assustada para o lado, alguém tinha entrado, assustando todas as servas titãs que auxiliaram minha mãe no parto. Aquela presença maligna fez todas se curvarem e deixarem o quarto quando a ordem foi emitida para fazerem. 

– Cronos. – Seu nome foi pronunciado com amargura e medo. 

Ele que estava na altura de um humano, assim como ela, arrastou a sua veste negra no chão, caminhando em direção a cama com os lençóis encharcados de suor e sangue. Não se afetando com a sua situação. 

– Me entregue ele. – Ordenou do seu modo intimidador, o governante dos Titãs. Cronos sabia da maldição de ser destronado por um de seus filhos, passada de geração. 

– Não. – Reia me segurou em seu busto com firmeza. – Não tire o meu Hades de mim, por favor! Por favor, menos isso! – Começou a chorar. Seu choro era angustiante, mas não sendo o suficiente para mudar a decisão de seu marido. 

– Esta criança não é merecedora da vida, Reia. Me entregue ele, agora! – Ordenou outra vez, estendendo suas mãos. – Retire de você este sentimentalismo! Você sabe o que poderá acontecer. Vai permitir que aconteça? – Citou os riscos. 

– Nunca farei isso!! Terá que passar por cima de mim antes de tudo! – Não mudou a sua palavra, sendo clara. – Hades é apenas um bebê! Ele é um bebê! O nosso filho! Nem sempre as maldições acontecem! – Tentava fazer Cronos entender, mas era totalmente em vão. Não adiantava. 

– Porquê continuar com essa mentalidade ingênua? Não entende o mal que isso nos causará? Eu mandei você colocar um fim na vida dessa coisa antes de nascer!! – Começava a se irritar, e a pressão do seu cosmo nos causava mal, forçando o meu choro intenso. – VOCÊ É A CULPADA! EU PERDEREI OS MEUS DIREITOS! O MEU TRONO!

– JAMAIS FARIA UMA COISA DESSAS! – Aumentou a voz, mas grunhiu de dor. – Como eu poderia fazer mal ao meu filho? Eu.. nunca faria isso! – Soluçou. – Você Cronos, sempre foi o culpado! É por sua culpa que Hades foi colocado em mim. Agora, terá que aguentar as consequências.

A partir dali, não se ouviu palavras do titã, apenas um som grotesco de um ardente tapa violento, que eu deduzi ser ecoar pelo quarto. Minha mãe havia sido agredida. 

A presença malvada e furiosa saiu após o que fez, suspirando pesadamente, e Reia depois me observar com os lábios encharcados de sangue. 

Alguns anos se passaram, anos turbulentos e infernais de intensas discussões e violências naquele reino governado por Cronos. Poseidon havia nascido do mesmo abuso que o meu, e a situação se repetiu no quarto, o desespero e a fúria de ver mais um filho nascido. 

Estava ao seu lado na cama, talvez com os meus três meros anos de idade, observava a mesma discussão. Diferente dos mitos que contam nos livros, Cronos não nos devorou recém nascidos, Reia sempre impediu e nos protegeu. 

Eu já sabia da maldição do trono, e sentia que seria realizado. Seria por mim. 

O meu desejo de conspirar contra o meu próprio pai não deixaria a minha mente, estava farto de todas as discussões e agressões que minha pobre mãe sofria, acendeu em mim o desejo de vingança. Eu mataria o desgraçado com as minhas próprias mãos agora, mas era novo demais, o filho mais frágil. 

– Hades. – Ela me chamou, enquanto segurava Poseidon. Seu rosto cansado me fazia querer chorar. – Venha até aqui, meu filho. – Bateu na sua coxa, e eu apoiei minha cabeça nela. 

– Escute, o seu pai sempre será assim. – Fazia leves carinhos nos meus cabelos curtos. 

– Eu sei. – Disse sem emoção. Não sentia um pingo de alegria, meu amadurecimento ocorreu cedo demais devido a tudo. Tudo era um inferno. 

– Eu quero que leve isto para a sua vida como um aprendizado do que não deve ser. Não siga os mesmos passos que o tornará um Deus injusto. 

Infelizmente eu havia sido injusto séculos mais tarde com S/N. Eu agi como meu pai. 

– Ser igual a ele já não é injusto? – Cobri meu rosto com a mão, o amaldiçoando internamente por eu ser assim. Ter essa beleza amaldiçoada, esses olhos malditos que eu sentia vontade de arrancar. 

Pude ver Reia agir com surpresa e espanto, todos do Reino de Cronos e os seus servos cochichavam entre si sobre termos uma beleza idêntica. Era assustador. Saber disso me amedrontava.  

– Em que parte? – Afastou minha mão. 

– Meu rosto e meus olhos. – Enfrentei a seriedade dos seus olhos cor de vinho da mesma cor de seus cabelos. 

– Hades, todos os filhos puxam a beleza de seus pais. É tão normal. Assim como é com os seres humanos. – Mostrou seu respeito pelos seres inferiores que eu já sentia desprezo desde cedo, igual ao meu pai.

– Não precisa mentir, eu sei que assusta.

– Porquê eu mentiria? Você puxou os traços de seu pai, os cabelos, os olhos, mas e a mentalidade? Você a herdou? 

Eu não sabia responder, o peso da pergunta me fez entrar no estado pensativo, pensar e pensar, até achar uma resposta adequada sobre mim mesmo. Não deveria ser difícil. 

– Odeio os seres humanos. 

– Hades… – A sua expressão se fechou. – Quem te fez pensar assim?

– Meu pai. Ele me fez pensar assim. Me disse sobre o que os mortais fazem. – Me recordei de quando sem querer avistei um humano sendo torturado pelo próprio no palácio, uma cena que ficou marcada na minha mente.

Cronos me chamou no momento, e mostrou-me toda a tortura, ensinando a ser como ele e herdar todo o pensamento arrogante. 

– Se sente bem em ter esse pensamento maldoso?

– Eu não sei. Porque seria maldoso? 

– E se um dia encontrar alguém que ama e for uma humana? Terá o mesmo pensamento?

– Não amarei ninguém. Não acredito nisso. – Fui curto e grosseiro. – Porque acreditaria nisso? 

– Quando crescer irá entender. – Foi o que disse. 

Mais anos se passaram, e o inferno piorava. Depois de Poseidon, nasceu Zeus, e depois dele minhas irmãs, Deméter, Héstia e Hera. Cronos estava a ponto de enlouquecer, não sabia qual de nós pegaria o seu trono. Estava mais astuto e cuidadoso, colocava servos para nos vigiar, como se adiantasse. 

O surgimento da força dos seus filhos o preocupava, mas não comigo, seu foco não era no filho defeituoso de poder. Diferente deles, nenhum vestígio de poder estava no meu corpo. 

Eu era um Deus falho, um fracassado, a vergonha de todos eles, o filho mais velho frágil e inútil. Porquê eu tive que nascer? Teria sido realmente melhor a minha morte. Estou cansado de viver desse jeito.  

Diariamente recebia comentários dos meus próprios irmãos quando caminhava pelo castelo do Deus do tempo. Os mesmos comentários humilhantes. 

"Ele é um inútil"

"Que inútil"

"Porquê não morre?" 

"Inútil"

Malditos! Vocês que deveriam morrer! 

Os servos que limpavam e cuidavam de todo o castelo não ficariam em silêncio sobre mim, é claro que não, o meu nome era pronunciado em cochichos, questionando entre si o porquê de eu ser do jeito que sou. 

Inútil. 

Entediado como uma criança, eu andei pelo castelo, tendo a companhia das milhares de janelas e portas gigantes, sendo observadas por mim. Era uma excelente companhia quando eu não estava próximo de minha mãe. 

– Ficou sabendo que o filho mais velho de nosso todo poderoso não deu indícios até agora de sua força divina? – Uma serva comentou com uma outra, enquanto eu passava por perto da área que estavam limpando. – Os mais novos demonstraram serem comparáveis aos titãs, mas porquê Hades não? 

Permaneci escondido entre as paredes, escutando com atenção a conversa que era do meu interesse.

– A nossa senhora teria se deitado com um mortal? 

Sua visão desnecessária sobre Reia me deixou raivoso, a vontade que senti me fez querer ir onde estavam e repreender por suas ousadias. 

– Está louca? Cronos ficaria sabendo disso e a mataria!! – A outra repreendeu. – Mas faz sentido ele não ter um pingo de divindade. Será que é mesmo um Deus? 

– É o primeiro caso que vejo de Deuses vindo defeituosos. É a raça mais pura existente! – Colocou a mão sobre a boca, assustada. – O mais velho não teve essa sorte. Tadinho. Eu sinto pena dele. 

– Deve ser humilhante a Hades ver os irmãos se tornando divinos e ele não. O vejo sendo maltratado pelos próprios todas as vezes e correndo para os braços da mãe. É realmente uma pena. 

– Será que a maldição se realizará como tanto dizem? Um deles tomará o trono do pai? Mas uma coisa é certa, não será Hades. 

– Cronos repudia os filhos, chegará um momento onde nossa senhora não conseguirá protegê-los. – Suspirou, começando a cuidar da janela de vidro embaçado. – São umas pobres crianças sem o afeto de um pai. 

Elas estavam corretas sobre tudo, nunca tive o afeto de um pai, no lugar desse afeto, eram xingamentos e palavras marcantes, o mesmo com meus irmãos. Com eles não seria diferente, porque seria? Nós tínhamos uma vida sofrida, éramos odiados... Tudo por causa da maldição. 

Todos os dias eram os mesmos. Nada de diferente… nada, nada. Apenas um, mas pela minha ingenuidade de criança, eu pensei que fosse significativo e bom. 

Estava no campo, recolhendo as lavandas, minha planta favorita para colocar em meu quarto. Eu poderia chamar aquilo de alegria. O odor doce era realmente bom. Muito bom. Eu as recolhia com um sorriso no rosto e pretendia levar algumas para a minha mãe, mas fui atrapalhado no processo.  

– Hades, venha brincar conosco! – Zeus me chamou, de mãos dadas com Hera, a própria irmã que ele se relacionava desde cedo. Uma relação incestuosa, nojenta e repugnante que me dava nojo. Assim como Cronos e Reia, dois irmãos em um casamento forçado e violento. 

Éramos todos frutos do seu estupro. 

– Meu irmão, venha logo! – Chamou Deméter. 

Simplesmente ignorei, não querendo socializar, gostava de ficar sozinho, a solidão era boa. Porque eu teria que sair dela? Não tinha sentido. Odiava brincadeiras. 

Mas meu pulso foi puxado por Poseidon, fazendo eu suspirar e revirar os olhos com a insistência absurda por quererem "brincar" com um inútil como eu. No entanto, eu estava curioso. E como toda criança, "contente", por ter sido chamado para brincar. Talvez aquele seria o momento em que nos daríamos bem.

Que ingenuidade acreditar. 

– Feche os olhos. – Pediu Poseidon.

– Brincaremos do que? – Perguntei curioso, mantendo os olhos fechados, sendo guiado para fora do campo. 

– Uma brincadeira. – Ele riu. 

– Mas que brincadeira? E porque tenho que ficar de olhos fechados? – Os enchi de perguntas, sem entender. 

– Sem perguntas, irmão. Se não, vai estragar a brincadeira. – Disse Zeus, e eu escutei Hera rir. 

– Deveriam me dizer o que é. Como vou conseguir brincar? – Senti meus pés úmidos. – E porque estamos em um local úmido? 

– É melhor voltarmos, não é certo. – Escutei Hestia dizer, mas foi repreendida por Poseidon. 

– Cala a boca, Hestia! Vai estragar a brincadeira!

– Isso não é certo, meu irmão. Vamos voltar! – Héstia estava me deixando atento. – Ha.. – Foi interrompida quando iria me chamar. 

– Cale-se Hestia! Não consegue ficar calada?

– Abra os olhos, irmão. – Zeus permitiu. 

Quando abri os olhos, na minha frente havia um rio de areia movediça, e antes de eu dizer qualquer coisa, perguntar, mãos me empurraram em sua direção. 

Meus olhos se arregalaram com a lama marrom engolindo minhas pernas, e sujando meus braços inteiros. Inclusive meu rosto. Me deixando em uma situação constrangedora e horrível. 

– Essa é a brincadeira, seu idiota. Idiota! – Poseidon debochou. – Achou que seria o que imbecil? Pega-pega? Você é um idiota!

– Como ele é idiota! – Zeus gargalhava alto. – Ainda bem que não sou assim.  

Meus irmãos riram com a visão "cômica" que tinham do seu pobre e inútil irmão mais velho tentando sair desesperado, enquanto era engolido. Provavelmente havia sido Poseidon com seu poder divino maldito. Só ele seria capaz de fazer surgir uma área movediça naquele local. 

– Me tirem daqui!!! Não deveriam ter feito isso! – Pedia com muito medo, não sabendo como sair dali. – ZEUS E POSEIDON!!!

– Você é um Deus, é capaz de se livrar desse mero problema. – O de cabelos azuis deu de ombros. – Agora temos que voltar, nosso pai e mãe estão nos esperando na mesa de jantar. Vê se não demora, você sabe bem que nosso pai odeia demoras. 

– Estamos te esperando, Hades. – Zeus se virou, sendo acompanhado pelos outros. 

– NÃO! NÃO ME DEIXEM AQUI! – Gritei, forçando minha perna a caminhar. – HESTIA, HESTIA, ME AJUDE! ME AJUDE!! – Pedi para a menina de cabelos loiros, a única que não me maltratava. 

Ela tentou vir até mim, mas foi barrada por Hera que a puxou violentamente. 

– Me desculpe, meu irmão. – Claramente negou, com expressões tristes de culpa. 

Para piorar a minha situação e me prejudicar, o céu começou a chover intensamente. Em meio a intensa chuva, eu me debatia na lama, pensando em formas inteligentes de poder sair, mas nada me ajudava, nem mesmo os galhos das árvores que eu puxava. 

Eu era realmente um inútil, frágil, como se fosse um mero humano e não um Deus. Eu era um Deus? Onde estava a minha força divina? 

Gritei de ódio em meio às lágrimas de dor, me engasgando com as próprias no caminho. Gritei de novo, e de novo, encarando o céu com desgosto de viver. Ali não era o meu lugar. Quem deveria estar nesta lama imunda era Zeus e Poseidon, os primeiros a me fazerem mal, às próximas seriam Hera e Deméter. 

Meu corpo doía, era doloroso estar tentando sair…

Meus pés estavam sendo puxados, mas eu não desisti, batalhei contra meus próprios instintos de desistência, jurando que quando saísse mataria todos. Todos eles! 

Todos!

Cerrei os punhos com o ódio corroendo minha alma e a vingança maligna. O céu estava ficando escuro, meus olhos também, a minha volta tudo estava. Meu corpo estava sendo corroído pelas trevas, até desaparecer. 

Aonde eu estava sofrendo atritos em sair, desapareceu, com o movimento do meu braço a área movediça desapareceu como pó jogado ao vento. As árvores, o céu, o chão, estavam em escuridão. Ela era bela. 

A escuridão era bela, o mundo deveria ser assim! 

Com a sensação do poder sendo despertado, explodindo dentro de mim, me dirigi em direção ao reino de Cronos, a minha casa, com os olhos vermelhos de raiva e de lágrimas invasoras. Mataria todos! Inclusive meu odioso pai. 

Cego pela raiva e pelo rancor, destruí a entrada do castelo, afetando todos os titãs subordinados no processo, assustados com o "despertar" do mais velho filho do seu senhor. O caos aconteceu quando entrei na maldita sala de jantar, sujo de lama, encontrando todos na mesa. 

Minha mãe que ali estava me encarou assustada, mas não lhe dei tempo para responder ou questionar minha situação quando ataquei Zeus e Poseidon, os jogando longe. 

– HADES!!! – Reia gritou, sem saber o contexto da história.

Furiosos, me atacaram de volta, e eu revidei sem esforço algum, deixando a sala de jantar escura e sombria sem perceber. 

Era a primeira experiência de batalha que estávamos tendo, e não pararia até vê-los mortos. 

Cronos assistia tudo sem esboçar reação, ali eram os seus filhos que pegariam o trono do pai, um daqueles três. 

– ZEUS, POSEIDON! NÃO ATAQUEM HADES!!! – Reia, tentou apaziguar, pensando que os dois mais novos eram mais poderosos por terem despertado primeiro que eu. Mas éramos apenas crianças idiotas brigando e brigando. 

O sangue descia dos nossos rostos, e quando encarei a pessoa causadora de todo o meu sofrimento, meu ódio triplicou. 

Cronos se levantou da cadeira ao ver a minha atenção na sua direção, sabendo o que eu iria fazer consigo. Matá-lo. 

Avancei em meu pai, usando toda a minha força, pouco me importando com as duras consequências no processo. 

A violência, os abusos, a sua personalidade arrogante, os choros da minha mãe, as dores, tudo isso estava na minha mente como sinônimo de raiva, dando mais motivos para eu fazer o que estou fazendo. 

Mas a minha rebeldia não me traria frutos, disso eu sabia no fundo. Cronos com o seu nível de poder, o cosmo avançado de um titã do tempo, foi jogado contra mim. 

Não aguentando a intensidade, e ao menos conseguindo revidar, da minha boca jorrou sangue, banhando o chão do jantar de vermelho vivo. Eu era uma mera criança. 

Eu caí de joelhos, cuspindo ainda mais sangue, e escasso de poder. A fragilidade novamente voltou. 

– Atacou os seus irmãos por não aceitar o seu fracasso e depois ataca o seu pai? – Cronos sorriu, me observando de cima com superioridade. – Não esperava isso de você, Hades. – Estendeu sua mão envolvida por fragmentos de poder. 

Encarei meus irmãos, os vendo dando risada da minha situação. Desejavam a minha morte. 

– Cronos, não! – Reia se ajoelhou, me abraçando. Como sempre, me protegendo. Sempre me protegia. – Ele é uma criança! – O seu amor maternal observou meus braços e rosto sujos de lama, limpando os resquícios imundos impregnados na minha pele. 

A queimação que eu sentia no estômago, o ataque que recebi, arrancava de mim mais sangue. 

– Olha o caos que ele causou na sala de jantar! Essas coisas abomináveis são dignas de viver? Me diga, Reia. Nessa sua mente estúpida, tem noção do que vai acontecer? – Meu pai enlouquecido pela maldição dizia. 

– Como pode garantir que vá acontecer?! – Mais uma vez tentou fazê-lo mudar de ideia.

 – Está sendo ingênua mais uma vez, mesmo depois de anos, continua mantendo essa ingenuidade. Não sei o que esperar de você. Só serve para me satisfazer. É por isso que ele é frágil e indefeso, com o cosmo enfraquecido. 

Satisfazer…

 Reia era apenas uma boneca sexual com pouco poder para se defender das violências. Era uma titã enfraquecida, a mais frágil, e mesmo assim forçada a se manter com ele. Que vida era aquela? Era um castigo? 

– Não consigo ser igual a você… Você é um monstro! Abomina os próprios filhos, e os ensina a ser igual a você. Quem aqui está amaldiçoado é você, Cronos! – Me auxiliou a se levantar. 

Enfurecido, querendo nos matar. Ele iria. Seu desejo foi interrompido, talvez um milagre quando seus súditos adentraram a sala e o chamaram. 

Cronos antes de sair, estapeou a sua esposa que caiu no chão, finalmente deixando o local. Mas a dor deixada não iria embora, nunca iria, as marcas ficariam para sempre em nossas almas, como uma cicatriz marcante que seria relembrada. 

Ele era conhecido por ser o mais perturbado dos Titãs, era uma definição verdadeira e justa a ser dada, ele era exatamente assim. Seu ego é enorme como toda divindade e o seu temperamento é feroz, superando a de qualquer outro titã. Constantemente se vangloria sobre a sua posição majestosa e superioridade sobre os humanos, acreditando que os meros mortais deveriam obedecer os deuses e fazer as suas vontades. 

Esse ponto me fazia ser parecido a ele, entre muitas coisas. 

Sua personalidade era egocêntrica, calculista, egoísta e arrogante. Nunca possuiu um grau de empatia por ninguém além dele próprio, recusava-se a reconhecer outro Deus além dele. 

Uma arrogância sem limites. 

Dava ordens de forma brutal, e tratava os filhos de maneira repugnante, inclusive os irmãos que eram sempre devotos a ele. 

Reia, com dificuldade em se levantar, limpou o vermelho nos lábios que sempre estavam machucados, e sorriu para mim. Mesmo escondendo o sofrimento, era difícil de escondê-lo às vezes, como ali. Expressava a sua dor.

Os olhos brilhantes com lágrimas, escorrendo por cima da bochecha marcada de vermelho, uma cena triste. Não fui capaz de expressar os meus sentimentos através do choro, a dor que sentia me impedia de dizer algo, até mesmo chorar. Meus olhos estavam secos e raivosos. 

– Zeus e Poseidon. Ordeno que saiam dessa sala e levem as suas irmãs. Estou muito decepcionada com o que causaram ao seu irmão mais velho!

– Temos culpas se ele nasceu defeituoso? – Zeus respondeu com a sua conhecida má educação e postura superior. – É uma vergonha essa coisa ser o nosso irmão! – Se irritou. Eu sabia o porquê. Tinha inveja de eu ser o filho mais próximo e bem cuidado de Reia. 

Com dificuldades de falar, eu disse:

– Eu que deveria ter vergonha de vocês. Tenho nojo de todos vocês!! – Os encarei com ódio, cuspindo sangue em seguida. 

– ZEUS E POSEIDON, SAIAM AGORA!! – Minha mãe ordenou outra vez. – Não me façam tirá-los à força!

Ainda tendo um pouco de intimidação e ordem, meus irmãos saíram, nos deixando em paz por aquele tempo. 

– O que fizeram com você? – Murmurou, me levando para o banheiro dos seus aposentos. 

Seu olhar misericordioso e penoso me deixava com o sentimento de fraqueza. Fui colocado na banheira, e dali tive os seus cuidados, enquanto eu permanecia em silêncio absoluto. Cansado. 

– Hades, o que fizeram com você? – Repetiu a pergunta, curando os machucados em meus braços. – Me responda!

– Me chamaram para uma brincadeira, mas era para me jogarem na lama. – Suspirei. – Zeus e Poseidon tentaram me matar. 

– Que horrível! Não imaginei que chegariam a esse ponto! – A decepção por seus filhos estava descrita. – E porque você aceitou? 

– Porque eu queria brincar. – Comecei a chorar. 

– Isso nunca mais vai se repetir! – Assegurou, limpando minhas lágrimas. – Seus irmãos vão aprender a respeitá-lo. – Nem sempre se deve confiar nas pessoas, isso vale para a sua própria família. Infelizmente Zeus e Poseidon não gostam do carinho que tenho por você, mas uma mãe ama todos os seus filhos. – Acariciou meu rosto. 

– É impossível nos darmos bem, odeio todos eles! 

– Eu também odeio o seu pai. Odeio muito e queria que fosse diferente, mas a nossa família está destinada a ser corrompida pelo ódio. – Sua voz amargurada dizia que nada seria fácil. – Você não é obrigado a gostar de alguém que te faz mal e te maltrata. Mas seus irmãos um dia poderão entender e ser amaldiçoados pela culpa, talvez.

– Impossível. – Respondia com poucas palavras. – Jamais irei perdoá-los! Quero que Poseidon e Zeus se curvem perante a mim e todos os titãs! Nunca os perdoarei! Nunca! 

Naquele momento Reia viu algo em meu rosto, e aquele seu olhar era o mesmo quando enfrentava Cronos, ela me olhava como se eu fosse ele, a sua cópia. E talvez eu era, idêntico. Deveria ser assustador ter um filho igual ao homem que a espanca e a estupra diariamente. 

– Eu quero te entregar uma coisa. – Seu olhar voltou ao normal, me deixando a sós. 

Terminei o meu banho e me vesti com as roupas separadas. Reia me aguardava no quarto, com uma caixa aveludada roxa em mãos. 

– Se lembra do que conversamos de quando amasse uma mulher? – Abriu a caixinha, e ali dentro havia um colar com uma pedra vermelha no centro e a sua volta formato de rosas prateadas. Os anéis acompanhados, faziam pares, sendo parecidos. 

– Eu não vou amar ninguém. 

– Se amar, poderia presentear ela com isto como prova de seu amor? – Suas expectativas de que eu fosse aceitar eram altas. – Quando eu tinha a sua idade, foi o primeiro colar e anel que eu consegui criar. Desde então, eu nunca usei e passei a guardá-lo como recordação, mas quero que alguém o use. 

– Mãe… – Estava receoso em aceitar. 

– Como primogênito, quero que fique com você. – Me entregou. – Aceite. 

Então eu aceitei, prometendo guardá-lo e entregar para a mulher que eu amasse, mas foi preciso séculos e séculos para eu poder vê-lo no pescoço dela. 

Após Cronos ter nos devorado, numa tentativa de impedir que a maldição se realizasse, fomos libertados por Zeus, e uma guerra que durou muitos anos se iniciou. 

Estávamos crescidos, donos de nós mesmos, sem o amor de uma mãe ou o ódio de um pai que estava selado no tártaro, mas com fragmentos de sua alma pela terra, causando desastres, e quase matando minha imperatriz e minha semideusa. 

Fizemos um tratado, havia o céu, os mares e o submundo, o céu e o trono de Cronos era meu por direito , mas o irmão mais novo passou por cima de tudo, assim como Poseidon, sempre me causando problemas, me obrigando a ficar no submundo e entregando os Elíseos como um bônus estúpido. 

No entanto, a terra teria que ser minha, e eu faria de tudo para consegui-la, essa ambição me fez batalhar para consegui-la, enfrentando a maldita filha de Zeus, Athena por séculos, que também sofria atritos com Poseidon que tinha a mesma ambição que a minha, e por Ares, outro filho de Zeus. 

A minha vida era resumida por ódio e memórias dolorosas, ficaria gravado para todo o sempre, como um castigo miserável. 

                 ~ FLASHBACK OFF ~


A garota na minha frente, a quem eu desabafei pela primeira vez sobre toda a minha vida, estava sem palavras. 

S/N parecia assimilar tudo que contei, imaginando as cenas, os diálogos e os acontecimentos horríveis, muitas coisas. Toda a minha humilhação. 

– M-Me d-desculpe. – Fechou os olhos, começando a chorar. 

– S/N? – Não compreendi. Porque ela estava chorando? Estava com pena de mim? – Porque está se desculpando? O que você fez de errado?

– Em nenhum momento eu fui compreensiva com o seu passado. – Apoiou o rosto no meu peitoral. – Naquele dia, nos corredores, eu disse coisas terríveis sobre você ser igual a Cronos. 

– Eu sou igual a ele. – Abracei seu corpo delicado. – Eu fui a pior pessoa com você, assim como ele foi com minha mãe. Se eu negar essa verdade, seria um mentiroso. 

– Está se comparando a ele. – Molhava minha roupa com a intensidade das lágrimas. – Não se compare a ele! – Me encarou chorosa, deixando o coração que eu duvidava ter em pedaços. 

– Esses olhos que você sempre elogia, foram herdados dele. Como poderia achar bonito? – Não pude entender. 

– Esses olhos são seus, e não dele. – Encostou outra vez o rosto em meu peitoral. – Acabamos herdando a beleza de nossos pais, isso é normal. 

– Por sua causa estou aprendendo a odiar menos. – Suspirei. Estava satisfeito em ter contado tudo. 

– É por isso que eles são tão tristes. – Me encarou com intensidade. – Mas sempre serão belos. Sinto que Aurora terá a sua mesma beleza. 

– Só não quero que ela seja igual a mim. 

Eu desejava que a minha semideusa tivesse a mesma paz e luz da S/N, uma personalidade leve, feliz, oposta de mim, que ajudasse quem precisasse. Por mais que eu tentasse ou desejasse, não conseguiria ter a mesma bondade que a minha imperatriz. 

Ainda considerava o seu pensamento ingênuo, um grau inocente alto, mas que eu conseguia enxergar o valor do mesmo. 

– Sua personalidade é atraente, Hades, só é um pouquinho fria. – Foi positiva. 

– Você está certa, eu sou assim. – Concordei com a sua visão, ela não estava errada sobre mim. – Mas você me ensinou a amar. – Não escondia o interesse que tinha em beijá-la ali, S/N me enlouquecia. 

– Seja específico. – Sorriu, ela queria que eu falasse mais do habituado. 

– Como eu conseguiria ser frio com você sendo que te amo? O que eu sinto por você é profundo, garotinha. – Eu estava deixando meus sentimentos adormecidos falarem. – Talvez eu não esteja sendo específico demais, sinto muito, não sou bom com palavras românticas. 

– É a primeira visão que tive do senhor, e é verdade. – Brincou com os meus cabelos, mas seu olhar estava triste. 

– S/N você está… – Estranhei a sua expressão de tristeza. Se ela fosse ficar dessa forma, eu não teria contado sobre mim pelo bem do seu psicológico. 

Ela caiu em lágrimas novamente e me abraçou, me deixando sem entender, mas resolvi retribuir e tentar buscar o entendimento daquela reação sentimental. 

Trouxe uma das cadeiras disponíveis até mim e me sentei, a trazendo para meu colo, numa maneira de deixá-la confortável em meus braços. 

Fiquei em silêncio, no aguardo da sua fala enquanto acariciava o topo dos seus cabelos com os olhos fechados. 

– Será que tudo seria melhor se tivéssemos nos conhecido naquele tempo? 

Não pude deixar de ficar surpreso com a fala inesperada, meus olhos se arregalaram e eu demorei alguns segundos para reformular o que S/N se referia. 

– Melhor? 

– Eu queria ter o conhecido bem antes, nós dois, crianças, juntos, aproveitando a infância de uma maneira leve e menos dolorosa. 

Suas palavras foram o gatilho para eu imaginar como seria. A visão que tive com certeza foi linda, e achava que eu poderia ter sido menos sofrido com ela ao meu lado, me apoiando sempre. 

– Eu também gostaria de ter a conhecido bem antes, muito antes. Esperei muito tempo para te encontrar, sabia? Demorou tanto… – Suspirei, como se estivesse cansado. – Mas gostaria de me ver criança? 

– Gostaria muito de ver. Seria fofo, não seria? – Novamente me observou. Aqueles olhos profundamente ingênuos e lindos. – Teria sido evitado muitas coisas. 

– Tendo a sua visão aqui, você era uma linda menina e continua sendo. Provavelmente meus irmãos a tomariam de mim. – Não fui capaz de esconder o desconforto. – E não conseguiria te proteger sendo defeituoso. 

– Nunca mais repita essa palavra. Você não é assim!

– Tinha vezes que eu pensava que nunca seria um Deus, e vim amaldiçoado. Isso faz sentido em um ponto. 

– É horrível o que fizeram com você, Hades. Se eu estivesse viva naquele tempo… – Demonstrava formas de me ajudar. – Nós dois iríamos para um lugar onde ninguém nos encontraria, seria só eu e você!

Eu sorri, não achando uma ideia ruim de fato, tinha a confiança de que tudo seria melhor se tivéssemos nos conhecido bem antes. 

– E você sempre foi um Deus, apenas demorou para despertar. Agora consigo compreender bem o motivo de seu ódio pelos seus irmãos. Me conhecendo, eu também sentiria o mesmo. 

– Somos muito distintos, mais do que possa parecer. Podemos ter ideais similares, mas as nossas formas de pensar em outros quesitos nos difere um do outro. 

– Por ter o mesmo sangue não quer dizer que sejam parecidos, irmãos nem sempre terão vínculos fortes de amizade. 

– E eu não quero ter. – Suspirei, querendo colocar um fim naquele assunto em específico. – Nunca quero ter. Tudo é melhor do jeito que está. 

S/N não discordou da minha decisão tomada, mostrou concordar. Por mais pouco que fosse, não éramos totalmente opostos, concordamos com alguns pensamentos necessários. 

– Você disse que me levaria para a cachoeira. – Me lembrou do que prometi. – Me leve até ela! – Sua alegria estava estampada, me deixando contente por vê-la daquela forma. 



– É claro que te levo. – Me fez sorrir. 






Notas Finais


Respirem fundo... Pois esse foi o capítulo de hoje. 😅

Foram um turbilhão de coisas muito sensíveis para serem lidas, e de alguma forma, marcante. O esperado de uma autora como eu? Hahahaha as vezes é necessário, me perdoem. O sofrimento infelizmente sempre fará parte das histórias no geral. 🙁

Hades não escondeu nada como muitas de vocês poderiam pensar, disse com detalhes sobre todo o seu passado e os problemas complexos com seus irmãos, e seu pai especialmente. Muita dor e muitas tristezas. Um passado marcante, e muito doloroso.

Seus motivos, suas decisões, foram compreendidos pela personagem, que ficou sentida com tudo que ouviu. Sendo difícil até para ela. S/N é clara sobre os seus sentimentos por Hades, desejando ter o conhecido bem antes para de alguma forma, evitar todos os acontecimentos difíceis e estar ao seu lado, o apoiando sempre que precisasse.

Espero que tenham apreciado, e sentido essa dor, pelo menos um pouco. Comentem a vontade, comentários sempre serão super bem vindos por mim. Amo respondê-las. 😊❣️


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