O pai de Harry ficou, como era de se esperar, satisfeito com o anúncio do filho de que decidira se casar com o conde de Wiltshire. Hermione também achou a notícia tremendamente empolgante. A madrasta de Harry, entretanto, pareceu menos feliz.
Ainda que Ninfadora desejasse toda a felicidade para o enteado, como era de bom-tom, seu rosto ficou marcado por um leve franzir de cenho. Ela pegou a mão de Harry, olhou em seus olhos e perguntou seriamente: — Você tem certeza de que é isso o que deseja fazer? Tiago pode encontrar outra casa, outro aristocrata, tenho certeza.
— Não. Decidi que é esse aristocrata que eu quero — respondeu Harry, com um sorrisinho secreto. — Não se preocupe comigo, Dora. É muito gentil de sua parte estar preocupada com minha felicidade, mas, de verdade, estou bastante certo de que é isso o que quero fazer. Você já me viu vacilar?
— Não — respondeu Ninfadora, honestamente. — Você é sempre muito confiante.Mas às vezes... bem, o conde de Wiltshire é muito mais... sofisticado que você. Ele é mais velho e tem levado uma vida devassa. Estou com muito medo de ele o ter ludibriado e de que você esteja acreditando que ele é um homem diferente do que realmente é. Estou com medo que você se magoe.
Harry sorriu para a mulher mais velha com afeição e se aproximou para dar-lhe um abraço.
— Madrasta... Acho que tenho uma percepção bastante clara de como é o conde de Wiltshire. Não entrarei nesse casamento às cegas. Nem estou fazendo isso para o bem de meu pai. É isso o que quero. Acredite em mim e não se preocupe.
A madrasta aquiesceu, ainda parecendo um pouco perturbada.
Como imaginara, Tiago entrou imediatamente em ação, indo até seu advogado em Londres e marcando uma reunião com o advogado de Draco.
Harry deixou os detalhes do negócio com o pai, porque estava bastante ocupado com a quantidade de tarefas associadas ao casamento, mesmo sendo uma cerimônia familiar, como determinara que fosse. A mais importante delas era fazer um terno de noivo e preparar tudo em tão pouco tempo.
Era essencial que estivesse absolutamente fabuloso no casamento e nos primeiros dias de casado. Mesmo já tendo comprado vários ternos novos ao chegar em Londres — e tendo antes visitado os melhores costureiros de Paris —, não possuía nada de estilo adequado e adorável para cada momento do dia por duas ou três semanas.
Pansy ficou mais do que feliz em ajudá-lo nessa tarefa, da mesma forma que Hermione e sua madrasta, que deixou de lado suas reservas em relação ao casamento em nome da diversão em escolher roupas novas e lindas. Havia também os vestidos que deveriam ser feitos para cada uma delas para o evento.
Passaram horas no ateliê de madame Malkin, debruçadas nas ilustrações de modelos em seus livros e debatendo sobre tecidos e cores. Madame Malkin ficou tão excitada com a oportunidade de criar tantos ternos e vestidos para uma cliente que pagava bem e pontualmente que em vários momentos seu sotaque francês se transformava em um sotaque puramente britânico. Uma vez escolhidos os ternos e vestidos para as damas, madame Malkin pôde ocupar-se atazanando as costureiras para que os aprontassem no prazo.
Dois dias após Harry ter dito a Draco que pretendia se casar com ele, lady Malfoy deu uma festa para anunciar o noivado. Tratava-se, por força das circunstâncias, de uma celebração íntima; por um lado, porque não tinha tempo de preparar uma festa grande e, por outro, porque esperava que um evento com as pessoas mais próximas ajudaria a conter a boataria.
Seria impossível esperar que a sociedade não comentasse sobre o casamento, é claro, mas queria limitar esses comentários a um mínimo. Então a festa foi pequena, elegante e extremamente entediante. Harry,espremido entre lady Malfoy e seu filho, que parecia estar ainda mais entediado do que ele, sorria de maneira educada e cumprimentava as pessoas a quem lady Malfoy o apresentava, desejando estar em outro lugar. Quando os convidados pararam de chegar e lady Malfoy permitiu que saíssem da fila de cumprimentos, Harry teve uma idéia.
Virando-se para Draco e sussurrou: — Você acha que alguém daria falta de nós se saíssemos?
Draco lançou-lhe um olhar, as sobrancelhas arqueando-se na primeira expressão de interesse que vira durante toda a noite.
— Eles vão achar que morremos de tédio, imagino. Por quê? Você tem algo em mente?
—Já ouvi muito a respeito de Vauxhall Gardens desde que cheguei aqui —Harry começou, colocando a mão entrelaçada a de Draco. Eles começaram a se afastar dos convidados. — Dizem que não se pode deixar de ir.
— Sim o jardim é lindo. Tem uma design maravilhoso . Você como arquiteto iria amar. — concordou Draco.
Então o que estamos esperando! — Harry olhou para Draco, sorrindo com os olhos.
Draco lançou um olhar para trás, para o salão. Ninguém parecia estar prestando a menor atenção neles. A maioria dos amigos de lady Narcisa estava agrupada à sua volta.Draco escapou com Harry para fora do salão e percorreram o corredor até aporta da rua. Um lacaio impassível, já bastante acostumado ao comportamento típico do filho de lady Malfoy, abriu a porta para eles. Rindo como crianças que burlavam aula, Draco e Harry desceram correndo os degraus até a rua, onde Draco chamou uma charrete que passava.
— Você tem de ter uma capa e uma máscara e eu também— disse-lhe Draco, mas essas necessidades foram facilmente satisfeitas com uma parada na casa dele antes de continuarem em direção a Vauxhall.
Vauxhall Gardens era tudo o que Harry ouvira a seu respeito — espalhafatoso,animado e colorido. Camarotes ladeando o largo corredor, cheio de freqüentadores, a maioria mascarada, assim como eles. Mulheres de um tipo que Harry deduziu serem tudo, menos virtuosas, passavam por ali, sendo cortejadas pelos jovens nos camarotes e retribuindo seus chamados com risadinhas, piscadas e acenos. Harry viu mais de uma dessas moças ser atraída para um camarote e ser beijada descaradamente.
Harry assistia a tudo aquilo fascinado. Casais escapavam para outros corredores mais escuros e menos movimentados para propósitos que Harry não tinha dificuldade em imaginar. Vauxhall Gardens era claramente cheio de encontros secretos.
Draco procurou um camarote do qual pudessem assistir ao desfile e aos fogos de artifício da meia-noite. Harry lhe fez perguntas sobre as pessoas que viam e sobre as coisas que estavam fazendo, a maioria das quais o fez rir .
Ele virou-se e olhou para ele num determinado momento, dizendo: — Você me surpreende, Sr.Potter
— Por favor, me chame de Harry. Parece o mais apropriado, já que vamos nos casar, não acha?
— Está certo, Harry. Você me surpreendeu esta noite.
— Por quê? Porque quis sair da festa de noivado?
Ele anuiu com a cabeça.
— Pensei que era exatamente por esse tipo de coisa que você estava se casando comigo.Harry riu. —Nem de longe nossa festa foi a mais entediante que já participei. Pois já estive em um número infinito de ocasiões sociais entediantes em Vancover. Já lhe disse, o que me interessa é a liberdade que o casamento oferece.
Ele olhou para ele ponderando, e então inclinou-se e beijou-o.
— E quanto a isso? Faz parte da sua idéia de casamento?
Harry conseguiu dar um sorriso jovial, determinado a não deixar que ele percebesse que o beijo havia arrepiado todo seu corpo.
— Por quê? Deveria? — argumentou ele, e ficou de pé. — Gostaria de dar outro passeio. Vamos?
— É claro. — Ele se levantou, não falando nada sobre a forma rápida com que ele interrompera aquela cena romântica.
Percorreram mais uma vez o amplo corredor por entre os camarotes. Dessa vez, ao chegarem ao fim e ao estarem prestes a virar e andar para o outro lado, um homem surgiu da escuridão e veio na direção deles. Não estava mascarado. Harry viu claramente seu rosto sob a luz vinda do corredor. Mas foi o que ele carregava na mão enquanto avançava na direção deles que a fez tomar um susto — uma pequena faca que reluziu à luz das lanternas.
Draco viu a faca ao mesmo tempo que ele, e desviou-se do homem, puxando Harry para trás. A faca cortou o tecido da capa de Draco sem atingi-lo. Draco soltou a mão de Harry e avançou para o homem, segurando-lhe o pulso. Mas o camarada girou o corpo e fugiu.
Draco começou a persegui-lo, mas então olhou para trás, para Harry, e parou, o rosto um modelo de frustração. Harry sabia que ele queria seguir o patife para puni-lo,mas não poderia deixá-lo sozinho já ele não conhecia o lugar.
— Acho que é hora de voltarmos — disse Draco, sobriamente, ao pegar a mão dele e conduzi-lo para fora de Vauxhall.
— Esse tipo de coisa acontece sempre com você? — perguntou Harry, com calma, enquanto entravam na charrete que Draco chamara.
Ele olhou para ele, e deixou escapar um riso, balançando a cabeça.— Qualquer outra pessoa que conheço estaria nervoso agora.
— Você quer que eu fique nervoso? Porque meu futuro marido sempre é ameaçado? — perguntou Harry, educadamente. — Acho que poderia ficar, se o deseja-se.
— Não. Assim é muito melhor, acredite.
— Você não respondeu à minha pergunta — Harry observou. — Você tem o hábito de ser atacado por ladrões?
— Nem sempre. Talvez tenha algo a ver com você. Harry olhou para ele com um quê de ironia.
— Você não vai se livrar assim tão facilmente. Acha que era um de seus credores? Nós poderíamos dizer ao meu pai que pague a esse primeiro.
Draco caiu na gargalhada ao ouvir suas observações ponderadas. — Teria sido mais útil se ele houvesse nos dito a quem representava. Desse jeito, não tenho como saber.
— Então suponho que seja bom mesmo você estar indo para Malfoy Maior em alguns dias.
— Sim. — Ele olhou para Harry. — Você acha que consegue se manter longe de encrencas enquanto eu estiver fora?
— Meu caro lord, acredito que sim, já que aparentemente é você quem me bota em tais situações.
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