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História A Medida do Sonho - Café e Rosas


Escrita por: Northernstar

Notas do Autor


Essa fic é do mesmo universo que a Medida do Poder.
https://www.spiritfanfiction.com/historia/a-medida-do-poder-22013759

Nos vemos nas notas finais?
Espero que esteja a contento.
Boa leitura!

Capítulo 1 - Café e Rosas


Fanfic / Fanfiction A Medida do Sonho - Café e Rosas

A madrugada estava alta no Santuário, enquanto dois amantes desfrutavam do suave calor das águas que envolviam seus corpos nus. A pele alva encontrava a bronzeada, contrastando em perfeita harmonia. Após partilharem a cama com paixão e entrega, Afrodite e Saga encontravam-se na confortável banheira nas dependências da Décima Segunda Casa. O Cavaleiro de Peixes sentou em um dos degraus com seu corpo parcialmente submerso pela morna água. Saga, por sua vez, encontrava-se devidamente aninhado entre as belas pernas do pisciano, sentado em um degrau abaixo, de costas para seu amante.

As mãos de Afrodite trabalhavam com esmero e carinho escovando os macios fios ocres do geminiano. Vez ou outra, estes eram afastados para o lado, descortinando o pescoço do mais velho, que era prontamente coberto com suaves beijos tão quentes quanto seus lábios rosados. Saga não resistia aos estímulos de Afrodite, deixando escapar um suave gemido, enquanto deleitava-se com as carícias de seu homem. Uma atmosfera de sensual aconchego permeava o ambiente.

Mesmo dedicado à função de acarinhar o homem que amava, o pisciano não furtou-se em notar que Saga estava estranhamente calado e introspectivo. Era fato que, tão logo encontravam-se, seja na Casa de Peixes ou no Décimo Terceiro Templo, pouco era dito entre os amantes. No momento em que os olhos cruzavam-se, havia somente a vontade de estarem um nos braços do outro. Era inconcebível para o casal não satisfazer de forma passional toda a necessidade que tinham de ficarem juntos. Amavam-se por horas a fio, até que seus corpos e corações estivessem satisfeitos.

Após aplacarem com fervor todo o desejo que os consumiam, Saga passava a discorrer com empolgação sobre os tantos assuntos que dominavam sua curiosa mente. Afrodite o observava, admirado com sua eloquência, e facilidade de se comunicar. Contudo, o Cavaleiro de Gêmeos estava curiosamente calado, distante em seus pensamentos.  

– Algo te aflinge, meu amor? – Afrodite indagou de forma direta, mas ainda sim permeado por candura.

Saga deixou um sorriso anasalado escapar, ao constatar novamente o que já sabia, Afrodite havia desenvolvido uma aguçada percepção sobre si. A menor alteração de humor ou comportamento era imediatamente identificada pelo Cavaleiro de Peixes, que sutilmente inquiria-o, a fim de descobrir sua origem e motivação. A delicadeza de Afrodite era erroneamente confudida com fragilidade, pois era em sua sutileza que ele conseguia o que queria, na grande maioria das vezes.

– Nada me aflinge por assim dizer. Tive um sonho noite passada, e fiquei pensativo. Somente isso. – Saga acariciou as pernas do pisciano, que envolviam seu quadril denotando toda a intimidade que permeava aquela relação. Ambos tocavam-se como se um corpo fosse a extensão do outro.

– Confesso que fiquei curioso para saber mais sobre o seu sonho. Se quiser compartilhar, tem minha total atenção. – Afrodite seguia escovando as longas madeixas do Cavaleiro de Gêmeos com dedicação e carinho, que por sua vez sentia-se completamente relaxado por ter seus cabelos cuidados de forma tão afável.

Por um segundo, Saga fechou seus expressivos olhos verdes e pode rever com total clareza as cenas de seu sonho. Um sorriso levemente melancólico adornou os bem feitos lábios gregos, quando finalmente recostou sua cabeça no peito de seu homem, esfregando-a em um ato manhoso, como um bichano que busca afeto de seu dono. Afrodite beijou o topo de sua cabeça, inspirando o seu característico odor de anis. O calor do corpo do Cavaleiro de Peixes era reconfortante, e Saga não sentia-se seguro em nenhum outro lugar do mundo.

– Eu sonhei que não éramos Cavaleiros, e sim pessoas normais. Nós morávamos em uma casa espaçosa, com um grande jardim e vista para o mar. Foi tudo tão real, todas as sensações...eu podia sentir o cheiro de maresia misturado com o perfume das rosas que você cultivava. De onde eu estava, que parecia ser uma espécie de escritório, eu podia vê-lo pela janela, andando pelo jardim que rodeava toda a casa. O sol batia no seu rosto, enquanto você mexia nas roseiras compenetrado. Seu semblante sereno. Você estava ainda mais lindo, se é possível.

Saga fez uma breve pausa, antes de continuar, respirando profundamente, denotando um certo pesar. Afrodite encorajava-o silenciosamente, afagando e beijando os ombros fortes abaixo de si. O Cavaleiro de Gêmeos sorriu em contentamento, e prosseguiu.

– Como eu disse, eu estava em uma espécie de escritório. A mesa estava completamente tomada por papéis empilhados, e livros abertos. Tudo na mais perfeita desordem. Eu lembro que sentia um cansaço mental forte, e por isso parei de ler os documentos. Você entrou no escritório sorrindo, segurando uma xícara de café e uma rosa branca. – Saga sorriu de forma quase nostálgica – Você beijou meus lábios levemente, deixando o café na mesa, e a rosa em um pequeno vaso.

– Foi um lindo sonho, meu amor. Gostaria de pensar que teríamos uma vida plena assim. O que ainda me intriga, é por que ouço um tom de melancolia em sua voz?

Saga respirou fundo antes de responder. – O que mais me marcou foi o sentimento de paz que eu tinha. Não havia incertezas, nem guerras, nem a ideia de que amanhã poderá ser o nosso último dia vivos. Eu estava completamente em paz, vivendo uma vida normal e tranquila ao seu lado. Talvez minha melancolia seja por saber que nunca poderemos ter a nossa casa, nossa vida, só eu e você.

Afrodite abaixou os olhos e ficou pensativo. Sabia que Saga estava certo. Não havia espaço para esse tipo de realidade para Cavaleiros de Ouro. Matavam e morriam, para que suas missões fossem cumpridas. O mais novo estava quase rendendo-se à melancolia, quando decidiu mudar ligeiramente o foco da conversa, na tentativa de aliviar o coração de seu amor. 

– A nossa realidade pode até ser imutável, mas isso não quer dizer que não possamos viver a melhor versão do que temos ao nosso alcance. – Afrodite tentou exprimir alguma animação em sua voz – Além do mais, eu fiquei intrigado, com a razão por trás de tantos papéis. Você se lembra da sua profissão?

– Pelo o que recordo, acredito que era algo sério, pois eu estava cansado. Infelizmente não consegui decifrar qual profissão eu desempenhava...

– Advogado. Com toda certeza. – Afrodite foi assertivo, quase interrompendo Saga, tamanha era sua convicção.

– E posso saber de onde vem tanta segurança na sua afirmação? – O Saga simulou uma falsa indiganação em uma entonação levemente divertida.

– Ora, meu amado geminiano, você possui a melhor lábia de todas as 12 Casas. Isso é público e notório. Nem o próprio Hérmes seria páreo para você durante uma discussão. Você convenceria Hades a ceiar com o próprio Zeus! – Afrodite falou energeticamente, gesticulando, como se fosse ele a estar perante a um Tribunal.    

Saga soltou uma espontânea e deliciosa gargalhada, pendendo sua cabeça para trás. Afrodite observava a cena admirado e preenchido pela mais profunda adoração. Como ele amava vê-lo descontraído e sereno, pois o pisciano sabia melhor do que ninguém, que esses momentos eram finitos. Há tempos, havia percebido que as oscilações do mais velho estavam bruscas, e indomáveis. Por isso, instantes como esse eram preciosos, e Afrodite fazia questão de cultivá-los com a mesma dedicação que destinava às suas rosas.

Saga virou-se para encarar o Cavaleiro de Peixes diretamente, esboçando um sorriso no canto dos lábios, em um misto de malícia e ironia.

– Então, será que devo à minha lábia, o privilégio de ter o afeto do mais belo Cavaleiro dentre os 88 Defensores de Atena?

Afrodite mirou dentro dos olhos verdes com raios de ocre, e suspirou sem esboçar qualquer reação. Ainda sustentando o olhar do homem que tanto amava, deixou a escova que usava para pentear os longos fios loiros do geminiano na borda da banheira, em movimentos propositalmente lentos. O Guardião da Décima Segunda Casa sabia muito bem que silêncios prolongados geravam uma certa inquietação no homem a sua frente. A mente ávida do geminiano precisava de diálogo, por isso silêncios eram desconsertantes.

– Lamento te decepcionar, Cavaleiro, mas não foi a sua lábia que me cativou. Eu me apaixonei pelo homem que nunca desistiu de mim, quando eu não passava de um ser insignificante e solitário. Eu me apaixonei pelo homem que me ensinou sobre lealdade e valor, e me mostrou o que é amor. Então não, Saga de Gêmeos, não foi a sua lábia que me convenceu, mas foi a sua pessoa que me conquistou. 

Saga foi tomado por um forte sentimento de pertencimento, como nunca antes experimentado. Soube, naquele instante, que a sua vida estaria atrelada à de Afrodite até o fim. O pisciano seria o seu companheiro, seu amante, e amor. O Cavaleiro de Gêmeos estava irremediavelmente apaixonado, e assim desejava permanecer. Passou os seus dedos pelo belo rosto do mais novo, sentindo em suas digitais a pele macia e aveludada, como se reconhecesse nela o seu lugar no mundo.

Se os olhos são o espelho da alma, as orbes azul-celestes de Afrodite refletiam toda a adoração que sentia pelo geminiano. Não havia nada, nem ninguém que pudesse fazê-lo amar de maneira tão profunda. Fechou os olhos azuis, deixando-se levar pela sensação de ter as mãos de Saga percorrendo seu corpo, mapeando o seu território. Sentiu sua nuca ser apertada juntamente com alguns fios de seu cabelo, e sua boca ser tomada ávidamente. Ambos entregaram-se ao beijo com ardor e necessidade. Afrodite apartou o contato, ainda mordendo o lábio inferior do Cavaleiro de Gêmeos, mirando-o sedutoramente, sussurou com a voz rouca.

– Obviamente, não posso esquecer de mencionar o quanto você me satisfaz...

Saga sorriu malicioso. O olhar que antes era de ternura, agora era tomado por um brilho de desejo. Apertou suas mãos contra os quadris de Afrodite, beijando seu pescoço vendo o arrepio em sua pele.

– Eu quero seu corpo mais próximo do meu, para te mostrar toda vontade que eu tenho de você – Murmurou rente aos ouvidos do pisciano.

O som da voz de Saga, aliado ao calor de seu hálito fizeram um delicioso calafrio percorrer o mais novo. Afrodite serpenteou seu corpo junto ao de Saga, até que estivessem sentados frente a frente. As bocas buscaram-se sedentas por contato, misturando suas essências em um bailado erótico. Os amantes encararam-se com a cumplicidade inerente daqueles que conhecem profundamente o seu parceiro. Afrodite mexeu os quadris de forma insinuante, indicando o que queria.

- É impressionante como um simples toque seu tem o poder de me tirar do eixo. Quanto mais tenho você, mais eu te quero. – O geminiano já estava completamente tomado pela ânsia de possuir seu homem para si.

- Vem, Saga. Eu quero ser seu novamente. – Afrodite suplicou em um fio de voz.

Amaram-se intensamente mais uma vez, dando vazão a todo sentimento que tinham um pelo outro. Gozaram, fundindo seus íntimos, partilhando os corpos em uma comunhão de sexo e rendição.  

Secaram-se ainda imersos no bem-querer que a noite havia deixado em ambos. Seguiram para o quarto do Cavaleiro de Peixes de mãos dadas, ainda nus. Estavam completos, em total harmonia. Deitaram, aconchegando-se até que adormeceram tranquilos e plenos. Tinham um ao outro, e isso bastava.

Na manhã seguinte, Saga abriu os olhos lentamente sem saber ao certo que horas eram. Olhou para a janela, o sol já estava alto, o que significava que havia dormido mais do que o habitual. Esticou o braço em direção ao lado esquerdo da cama, procurando pelo seu homem, achando somente o travesseiro vazio. Antes que pudesse começar a procurar por Afrodite, o seu olfato foi capturado por um reconfortante aroma de café. Virou-se para sua mesa de cabeceira, achando uma xícara com o líquido fumegante, uma rosa branca e um pedaço de papel dobrado ao meio, abrindo-o, passou a ler o que estava escrito:

"Saga,

Desculpe por ter saído antes que tivesse acordado. Era a minha vez de render Camus na ronda das 6 da manhã.

Infelizmente as estrelas não nos permitiram ter uma casa com um grande jardim e vista para o mar. Não poderei cultivar minhas rosas debaixo da janela de seu escritório, para que sentisse seu perfume enquanto sua brilhante mente trabalhava. Não poderei acordar ao seu lado em um domingo qualquer, e viver os prazeres simples de uma vida normal, te abraçar ainda deitados na cama, sentindo seu corpo junto ao meu enquanto assistimos o dia passar. Não poderei fazer planos para o nosso futuro, adotar um gatinho (sim, nós teríamos um gato) ou programar as nossas férias de verão.

Mas ainda sim as estrelas permitiram que eu divida a minha vida com você, seja ela curta ou longa. E se não posso tê-lo como companheiro em uma circunstância dita normal, eu o tenho como meu amor, e por isso estarei com você até meu último dia. Se não posso viver esse sonho por completo, eu ainda posso deixar uma xícara de café e uma rosa ao lado de sua cama, para que comece o seu dia.

Quem sabe o que as estrelas guardam para nós quando renascermos novamente? A única certeza que tenho é que estarei ao seu lado, nessa vida e na próxima.

Eternamente seu,

Afrodite."

Saga fechou seus olhos e uniu a carta e a rosa deixada por Afrodite apertando-as contra seu peito. Um tranquilo sorriso adornou o seu belo rosto. Inspirou o quente aroma do café, tomando a delicada xícara entre seus dedos longo e fortes cuidadosamente. Deixou-se levar mais uma vez por seus devaneios, perdido em uma realidade que cruelmente nunca poderia ser a sua. A medida do sonho é elevar o espírito para um estágio de plenitude permeado por esperança. O sonho é a mais sincera projeção de desejos secretos, que correm escondidos como uma nascente d´agua. Sonhamos para extravazar o que fica enterrado, guardado a sete chaves, pois nem sempre o solo é fértil para que projeções virem realidade. E mesmo assim somos levados pela mão a um mundo de infinitas possibilidades.

E quem há de dizer que uma pequena dose de ilusão não pode tornar-se um bálsamo acalentador para dias de penúria? Quem condenaria um coração que busca alívio momentâneo no que deveria ser, pois a realidade é por demais sofrida? Um breve encantamento, um sopro de alívio. Nada mais.  

Ainda confortavalmente deitado, o geminiano segurava a xícara de café em uma das mãos e a carta do homem que tanto amava na outra, relendo-a pela milésima vez. Fechou os olhos e fez uma prece, pedindo aos deuses que cumprissem as palavras escritas por Afrodite. Naquele momento, não havia Cavaleiro de Gêmeos. Ali existia somente Saga, um homem preso à realidade, mas brevemente sonhador.    

     


Notas Finais


Muito obrigada aos que leram até aqui!

Depois de escrever a Medida do Poder, eu me senti em dívida com o nosso casal. A outra fic foi permeada por um sofrimento tão forte, que eu tentei inseri-los em um momento menos pesaroso.

É fato que viver sabendo que a sua existência corre no fio da navalha bota tudo em perspectiva. Mesmo assim, o meu objetivo era proporcionar um momento de "normalidade", dentro do possível.

Sobre o sonho...ah o sonho...já dizia o poeta "Tenho em mim, todos os sonhos do mundo".
Fernando Pessoa.


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