História A Melodia do Coração - A fúria de Saori

Dois dias depois, o pequeno grupo volta para o santuário e é muito bem recebido pelos amigos que os ajudam com as malas. Todos tentavam quebrar aquele clima tenso que tinha tomado conta do santuário, mas os quatro sentiam perfeitamente que tinha algo muito errado ali e para piorar tudo, Saori se recusara a ir recebê-los quando chegaram no templo principal.

Mas como tinham muita coisa pra fazer, eles apenas ignoraram aquela falta de educação de jovem deusa e foram para as suas casas, já a pisciana foi direto para o seu quarto desfazer a sua mala.

Mas poucos minutos depois quando Hélyn finalmente termina de tirar as suas roupas da mala e decide ir encontrar as amigas que estavam doidas pra saber como tinha sido a sua viagem, uma das servas a avisa a pisciana que Saori a estava esperando no jardim e que o assunto era urgente.

Aquele recado fez Hélyn ficar um pouco receosa pois o seu pai tinha lhe contado tudo que acontecera ali durante o tempo que esteve longe e tinha detestado a forma que a sua amiga estava agindo e se comportando.

Quando estivera ali no natal, Saori tinha lhe ignorado como se tivesse cometido algum crime, mas para não estragar o clima da festa apenas ignorou aquela comportamento ridículo da sua amiga.

Como não queria nenhum problema e muito manos aborrecer aquela deusa mimada, decide ir rapidamente para o jardim enquanto se sentia aliviada por estar sem o seu colar especial naquele momento. Era melhor ela não saber da sua armadura ou iria enlouquecer.

Quando a pisciana entra no jardim, vê que Saori estava sentada em um dos bancos de madeira e sente o seu coração quase parar ao receber um olhar frio da jovem deusa.

— Eu estou aqui como você pediu. O que você quer conversar comigo?
— O seu sorriso é muito cínico, mesmo não estando com a escama em forma de cordão já percebo que o seu cosmo claramente não é de uma amazona, não posso aceitar uma inimiga dentro do meu santuário. Não quero conversar com uma traíra como você. A partir de hoje está proibida de colocar os pés no meu santuário, sequer poderá vir aqui para visitar alguma de suas amiguinhas.
— Como você descobriu?! Poucas pessoas sabiam da verdadeira natureza da minha armadura. Eu não estou usando o pingente pois não queria te aborrecer, mas não sou nenhuma inimiga e estamos todos em paz. E você não pode me expulsar dessa forma, aqui é a minha casa!
— Não, aqui é a minha casa e sou eu quem decido quem pode ficar perto de mim. Eu sou uma deusa. Acha mesmo que não consigo sentir o cosmo de uma escama? Mesmo que não esteja usando aquele pingente só a permanência dele no meu santuário é o suficiente para ficar decepcionada pois confiava em você, lhe chamava de melhor amiga. Jamais estarei em paz com o canalha do deus que você protege.
— Você ficou louca?! Eu nunca mais tive nenhum contato com o Julian e nem quero saber dele! Não estou servindo ao deus dos mares e não tenho culpa se aquela escama me escolheu. Iriamos te contar a verdade quando estivesse mais calma, mas vejo que o plano do Saga deu errado. Ele não sabe dessa escama e espero que nunca descubra. E eu não vou sair daqui e pode ter certeza que os seus cavaleiros ficarão do meu lado.
— Não importa se tem ou não contato com aquele canalha, essa escama pertence ao exército dele. Não tem mais nada a fazer no meu santuário, vá atrás de quem você deve servir. Percebo que todos os meus cavaleiros são traidores, eu não mereço tanta falta de respeito vinda deles, é um absurdo quererem proteger alguém que nunca foi uma guerreira do meu exército no lugar de me proteger. Mas não importa o que esses traíras pensam, eu sou a deusa desse lugar e te quero imediatamente longe daqui.
— Não foi a intenção de nenhum deles lhe trair, foi um enorme choque para todos nós descobrirmos que a escama de leviatã me escolheu. Não tenho nenhuma vontade de servir ao deus dos mares e eles só queriam me proteger. Por que tem tanto ódio de mim se não te fiz nenhum mal? Eu não tenho pra onde ir e se me expulsar eles ficarão com muita raiva. Nem eu sei o que vou fazer com essa escama e não quero saber daqueles dois canalhas.
— Se realmente não tivesse intenção de me trair, deveria ter sido a primeira a saber, confiava tanto em ti, era a minha melhor amiga, a sua traição foi em dobro. E todos que sabiam dessa escama e não me contaram também traíram a minha confiança. Agora não importa mais os seus problemas, se não tem para onde ir deveria ter pensando nas consequências da sua traição. Tem duas horas para deixar o meu santuário.
— E o que você faria se soubesse disso antes?! Nós todos acreditávamos que me expulsaria de qualquer jeito pois você não quer nada aqui que esteja ligado com o deus dos mares. Nós erramos sim, mas também pensamos que pudesse passar muito mal. Eles não pensaram somente em mim, os seus cavaleiros são pessoas maravilhosas e estavam tentando encontrar uma solução. Eu até posso sair do templo principal, mas não vou sair do santuário enquanto eu não encontrar um lugar pra mim. Não vou ir atrás daquele canalha e se ele me procurar poderá ficar com a escama.
— Se tivesse confiado em mim podíamos simplesmente mandarmos essa maldita escama para o seu maldito deus. Não quero saber das falsas intenções de ninguém, todos são mentirosos, já disse que te quero longe do meu santuário, se não fizer isso imediatamente terei que tomar outras medidas que realmente serão ruins para ti.
— E o que pretende fazer, me matar?! Você andava tão nervosa e surtada que ninguém tinha coragem de falar com você. E essa porcaria de escama ainda pode ser devolvida e certamente é isso que será feito mesmo alguns cavaleiros querendo que a gente tire proveito dela.
— Eu não sou assassina, apenas selaria o seu cosmo permanentemente. Eu não sou surtada, apenas estou sofrendo muito e a traição de todos só piora a minha dor. Não importo com o que fará com essa escama, só te quero longe de mim e já chega dessa conversa inútil.
— Mas que gritaria é essa?! Achei que estivessem conversando de forma civilizada.

Ao ouvirem aquela voz carregada com um sotaque francês, as duas olham em direção a entrada do jardim e veem Camus se aproximando com uma expressão muito séria.

— Minha deusa, por que está gritando desse jeito? Isso poderá te fazer muito mal.
— Você é um dos que traíram a minha confiança?
— Os únicos que não participaram foram Shura e Kanon. Nós realmente erramos muito ao escondermos a verdade, mas não foi por mal. Todos nós tivemos medo da sua reação e estávamos esperando o melhor momento para te contarmos sobre a escama. Entendo que se sinta traída, mas você não foi a única aqui que sofreu uma desilusão amorosa.
— Todos me traíram. Fui uma deusa tão ruim para vocês? Estou no meu santuário, eu confiava em vocês, mas nunca pensaram nos meus sentimentos.

Saori

Nesse momento sinto uma enorme tristeza em meu coração, nunca pensei que todos seriam tão ruins para mim, sei que não sou perfeita, mas não sou tão horrível assim, até aceito que todos os dourados morem com suas namoradas mesmo não sendo casados, nunca reclamei da despesa que foi aumentada por causa delas que há alguns meses não faziam nada para ajudarem nas contas.

O meu ódio é tão grande que sinto passar pelo meu corpo um cosmo que nunca senti antes, ele me faz levitar suavemente e todo o santuário treme com o meu poder.

Shion

Estou na minha sala quando sinto o cosmo da Saori se elevar absurdamente e vou correndo até o jardim e vejo uma cena que me deixa apavorado.
Nunca imaginei que ela perderia o controle dessa forma, sei que erramos ao esconder a verdade dela, mas essa egoísta não nos deixou outra saída pois do jeito que andava surtada poderia ter enlouquecido da mesma forma.

Em seguida elevo o meu cosmo e sinto uma enorme dificuldade para acalmar a Saori, nunca imaginei que ela ficaria com tanto ódio, sei que erramos com ela, mas não era preciso chegar a esse ponto. Mas vejo que como sempre o egoísmo sempre fala mais alto.

Saori

Quando vejo o Shion se aproximar, o meu ódio aumenta, o tinha como um pai mas claramente prefere essa mentirosa, pensando melhor eles se merecem pois todos são traidores.

O meu ódio aumenta mais e do meu corpo saem inúmeros feches de cosmos, uso eles para atacar todos os traidores que felizmente se encontram no meu santuário. Não importo se alguns dos meus alvos nem possuem cosmos. Mas após essa dissipação de poder, sinto a praga dentro de mim conectar com o meu cosmo, imediatamente sinto uma forte tontura e caio no chão.

Shion

Sinto um enorme pavor ao ver a nossa deusa usar os poderes dela para se vingar com aquele golpe, agora entendo o motivo de Hades e Poseidon dizerem que ela é uma deusa fria e egoísta.
Mas felizmente o cosmo do bebê consegue a impedir de surtar ainda mais e vejo ela perder a consciência e rapidamente a seguro em meus braços.

Momentos depois olho para a minha filha e sinto uma enorme preocupação ao ver que ela foi atingida por um dos ataques e acabou tendo uma boa parte do braço direito queimado.
Infelizmente não posso a ajudar agora, é melhor que Camus a leve embora para que essa louca não cause mais nenhuma tragédia.

— Camus, leve a minha filha para o vilarejo e a deixe em um lugar seguro. Não podemos deixar ela aqui ou essa maluca vai causar uma tragédia.
— Está bem. Venha comigo Hélyn.
— Eu preciso pegar a escama.
— Está bem, te encontrarei na entrada do templo. Seja rápida e pegue somente a escama e os seus documentos pessoais. Nós cuidaremos do resto.

Ao ouvir aquelas palavras do aquariano, Hélyn corre em direção ao seu quarto e pega somente a escama a e coloca na sua bolsa onde estavam os seus documentos e uma pequena quantia de dinheiro.

Sentia muita dor em seu braço por causa da queimadura, tinha sido atingida de raspão e se sentia péssima por ter causado aquele surto da sua amiga.
Tinham errado ao esconder a verdade dela, mas tinham tido bons motivos pois Saori sempre estava surtada ou muito nervosa. Mas infelizmente o plano tinha sido um fracasso e agora ela odiava a todos.

Como combinado a pisciana encontra Camus na entrada do templo e o aquariano usa os seus poderes para a levar diretamente para o vilarejo.
Felizmente o dono de uma pensão aceita fazer um preço especial para a pisciana ficar em um dos quartos até o dia seguinte.

Antes de ir embora, Camus usa o seu cosmo gelado para amenizar a dor que ela sentia no braço por causa da queimadura, mas como não tinha poder de cura só podia dar aquele pequeno alívio para a castanha que ainda estava chocada e muito triste.

— Isso tudo é culpa minha.
— Todos nós erramos, mas não tinha como saber que a maluca ia surtar desse jeito. Mas ela só pensou no lado dela, continua a mesma egoísta de sempre.
— Camus, ela vai odiar todos vocês, eu só causei uma desgraça.
— Não se preocupe, nós vamos dar um jeito nisso e cedo ou tarde ela verá que ninguém a quis trair, nós tentamos proteger vocês duas. Agora descanse, mas tarde um de nós virá te ver.

Depois que o aquariano saiu do quarto, Hélyn finalmente se permite desabar em um choro cheio de dor e remorso.
Nunca imaginara que a sua amiga fosse ficar tão furiosa com aquele segredo, todos estavam com medo da reação dela e no final o resultado foi o pior possível.

Por sua causa agora ela estava com muita raiva de todos os cavaleiros e pra piorar tudo tinha sido expulsa da sua única casa e teria que ficar naquela pensão.
Não queria ter causado aquela quase tragédia, entendia que Saori estava sofrendo, mas ela também tinha sido muito egoísta pois em nenhum momento tentou ver o lado dos seus cavaleiros, tudo que fez foi se vitimizar e pensar na própria dor.

Tudo que podia fazer era torcer para que as coisas se resolvessem no santuário, depois pensaria no que faria para arrumar algum lugar fixo para morar.
Não queria dar aquele problema para o seu pai e para os cavaleiros, mas agora o estrago já estava feito.

Movida pela raiva a pisciana joga a sua bolsa contra uma das paredes sem saber que dentro dela a escama também estava sofrendo pois sentia toda a dor da sua portadora e a vontade dela de quebrar aquele vínculo que tinham.

Hélyn estava tão nervosa e angustiada que não percebe que a sua escama também sofria e como não tinha nenhuma experiencia com aquele tipo de armadura, em nenhum momento pensou que o deus dos mares poderia descobrir a sua localização ao sentir o sofrimento dela.

Julian

Estou no meu escritório em Atenas quando sinto o cosmo de Atena descontrolado, tenho vontade de ir no santuário para saber o que está acontecendo mas não posso fazer isso pois a deixaria com mais raiva.

Algum tempo depois sinto o cosmo de uma escama diferente, faz tantos séculos que não sentia a sua presença que achava que nunca a reencontraria.
Ela sofre muito, a sinto chorar mesmo estando longe de mim, imediatamente uso o meu teletransporte para chegar até ela, fico surpreso quando encontro a Helyn, ela está com os olhos muito tristes mas mudam ao me ver.

— O que você quer aqui Poseidon? Veio me punir por ter traído aquela que um dia foi a sua esposa?
— Eu não sei do que você está falando. Sequer sabia quem encontraria nesse quarto, pois não estava reconhecendo seu cosmo. A escama se comunicou com o meu cosmo, ela sofre muito.

Vejo um pingente caído no chão, toco nele e a escama desaparecida volta a sua forma original.

— Pode levar essa maldita escama de volta, não sei porque ela me escolheu. Saori estava tão surtada por causa da sua traição que achamos melhor esconder a verdade dela. Mas o plano deu errado e a maluca teve um enorme surto de ódio.
— Eu senti o cosmo dela descontrolado, é a primeira vez depois de séculos que sinto o cosmo de Atena totalmente desperto. E essa escama não me pertence, todas elas escolhem o seu portador de acordo com o seu coração e mesmo sendo um deus não posso mudar isso. Mas fala-me o que aconteceu e como encontrou essa escama que não esperava a ver novamente, também posso curar o seu se quiser.
— Foi um enorme susto para todos nós ela ter ficado descontrolada, ela ficou com muito ódio por não termos contado a verdade pra ela. Sei que erramos, mas não foi por maldade pois ela estava sempre nervosa e surtava por qualquer coisa. Agora o santuário deve estar cheio de pessoas feridas e até mortas por causa do ataque dela. Sobre essa escama, eu a encontrei quando comecei a treinar na Suécia um mês antes do seu casamento. Eu estava caminhando por uma trilha quando ouvi algo me chamar. Nós a encontramos dentro de uma caverna e ela estava presa dentro de um cristal. Faz pouco tempo que descobrimos a sua verdadeira natureza. Pode a levar, pois eu não a quero, essa praga já me causou muito prejuízo em apenas um dia.
— Eu sinto muito que tenha sofrido indiretamente por minha culpa. Se pudesse iria ao santuário e curaria todos, não sei que agora lá todos me odeiam e com razão, mas posso fazer isso por ti. Quanto a essa escama realmente estou muito surpreso que tenha sido encontrada e jamais a tira de você, se ela quer lhe proteger e não atrapalharei.

Seguro a mão da pisciana mesmo contra a sua vontade, mas ao fazer isso sinto que outra parte do seu corpo também está ferido, deixo o meu cosmo envolver o seu corpo por inteiro e após alguns minutos percebo que não há mais ferimentos para serem curados.

— Agradeço por ter me curado, mas leve essa escama de volta ao templo do mar. Eu não preciso dela e por causa dela fui expulsa do santuário. Sinceramente eu não sei quem eles odeiam mais, a Saori tem feito a vida de todos um inferno.
— Não posso fazer isso, ela está sofrendo por senti o mesmo que você, se eu a levar sofrerá ainda mais. Não te obrigarei a seguir-me, mas se aceitar a minha ajuda, pode procurar-me.
O seu cosmo ainda não apto para usar essa escama, então lhe peço que não tente a vestir por nenhum motivo, caso contrário, lhe causará danos físicos.
— Entendo que ela esteja sofrendo, mas eu não posso ficar com ela e depois dessa tragédia os cavaleiros certamente vão querer destruir ela. Por favor, fique com ela e a guarde muito bem. E agradeço por me deixar livre, eu vou seguir a minha vida e essa bela escama deve voltar para o lugar dela.
— Acho que ainda não entendeu, seu lugar nunca foi no meio dos cavaleiros, mesmo que sejam seus amigos, sempre foi o seu destino ser uma marina. Não deveria nunca a ter deixado sair da minha mansão, isso teria evitado muito sofrimento. A escama permanecerá do seu lado como ela deseja, a transformarei novamente no colar e peço que cuide bem dela.
— Está bem, eu ficarei com ela e segurei a risca o seu conselho de nunca a vestir. Nós todos erramos e agora estamos sofrendo as consequências das nossas péssimas escolhas e atitudes.
— Peço que perdoe-me por ser o causador de tanto mal. Todo humano erra e mesmo tendo cosmo divino continuo sendo humano. Se precisar se qualquer pode pedir-me, agora a deixarei em paz.

Faço a escama voltar a forma de pingente mas dessa vez fica com uma cor azulada. Volto para o meu escritório, sento-me na cadeira e deixo os meus pensamentos viajarem pelos acontecimentos dos últimos meses. Meu coração está muito triste porque sou o único causador de tanto sofrimento a várias pessoas, o pior é que não posso fazer nada para amenizar as suas dores.

Enquanto isso no pequeno quarto da pensão...

Hélyn se sentia um pouco melhor depois de ter conversado com Julian. Via perfeitamente que ele estava arrependido da péssima atitude que teve com Saori e em nenhum momento lhe culpara por ter escondido a verdade dela.

Julian podia ter errado, mas era um deus muito diferente de Atena que só pensava no seu próprio sofrimento e em nenhum momento tentou entender o lado dos seus cavaleiros e que eles só queriam o melhor pra ela.

Mesmo ainda estando um pouco magoada, o seu coração consegue perdoar aquele deus tão gentil e atencioso. Naquele momento se lembrou das palavras do seu amado Utgard e finalmente consegue separar as coisas e perdoar Julian, o erro dele tinha sido com Saori, mas a sua ligação com a escama de Leviatã e com Poseidon era outro assunto totalmente diferente.

Já estava na hora de parar de misturar as coisas e pensar mais em si.
Sabia que cedo ou tarde precisaria tomar uma decisão, mas primeiro queria organizar a sua vida para depois decidir se aceitaria a ajuda de Poseidon e se o serviria como um dos generais marinas.