História A menina que roubava livros. - ...eu ainda te amo.

~ RUDY ~

"Onde está essa garota?" - Meu coração batia rapidamente ao imaginar trilhões de coisas que poderiam ter acontecido com a Liesel. 

Eu me pergunto: Será que eu sou digno de ser o amor da vida da Liesel? A Lis é uma mulher maravilhosa... linda, inteligente, engraçada, sábia, amorosa, bondosa... Com certeza, eu não chego nem aos pés da pessoa que ela merece. Não tenho dinheiro, não tenho muitas qualidades, muito menos motivos para ser amado por alguém. Mas, a única certeza que eu tenho, é que eu posso fazer ela a pessoa mais feliz do mundo, pelo resto da vida dela. Aliás, quando se trata do tempo em que eu quero acordar do seu lado pela manhã, a eternidade, com toda sua imensidão, vira pouco. 

Nunca fui um rapaz namoradeiro. A Liesel apareceu cedo em minha vida, e desde então, meu coração só bate por ela. Antes dela chegar, eu nunca havia me apaixonado por ninguém, achava que o amor não existia, que não passava de uma besteira que os fracos inventaram... Até que ela chegou. Discretamente, serenamente, de mansinho. Sem bater na porta do meu coração. Como uma ladra, ela conseguiu invadir o meu lugar mais fechado. Sem pedir, tomou tudo aquilo que eu tinha. Raios... as únicas coisas que eu tinha eram; a certeza que eu nunca me apaixonaria por ninguém, e o enorme vazio dentro de mim, pedindo escandalosamente para que alguém o preenchesse. 

~

Agora são 22:21. Ainda não tenho nenhuma notícia dela. 

Com o celular do lado, espiando durante todos os segundos na esperança dela mandar alguma mensagem, eu tocava alguma música em meu violão. Mas, todas as músicas que eu tocava, me lembravam ela...

"Got me looking so crazy right now, your love's got me looking so crazy right now..."   *

Meus dedos passavam devagar pelas ásperas cordas, enquanto eu admirava a noite bela em que fazia. Levantei, peguei um cobertor, e fui sentar embaixo da grande janela empoeirada. O céu estava lindo, coberto de estrelas extremamente brilhantes. A fumaça do meu chocolate quente se misturava com o forte vento que fazia, e minha boca queimava a cada gole que eu dava. Eu comecei a lembrar dela novamente. Dos seus lindos cabelos loiros quando balançam com o vento, da sua boca vermelha sussurrando "eu te amo, Rudy", de como nossas mãos se encaixavam perfeitamente bem... Ah, Liesel, o que raios você fez comigo?

Quando, de repente, o celular toca.

- Alô? - Perguntei, esperançoso.

- Rudy... sou eu. - Uma voz doce disse em meio aos chiados da péssima ligação.

- Liesel????? Oh, graças a Deus, você não tem noção do quanto eu estava preocupado com voc... - Ela me interrompeu.

- Rudy, nós precisamos conversar urgentemente. 

- O que aconteceu? - Perguntei preocupado. - Onde você está?

- Eu estou no hospital. Tem como se fosse um parque aqui na frente... Vem me encontrar nele. Agora, por favor.

- Hospital?????? O QUE HOUVE??? - Perguntei, mas ouvi apenas ruídos de choro. - Ãh... Estou indo amor. Aguente firme minha princesa, logo logo estou aí. Te amo muito. 

E ela desligou. Fiquei muito preocupado, então apenas peguei um casaco, deixei um bilhete para meus pais e parti rumo ao hospital. Era aproximadamente uma hora e meia de trajeto, então eu acelerei o máximo que podia, para poder chegar logo. No rádio, tocava Rubel - Quando Bate Aquela Saudade **... Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu dirigia trêmulo. Ela foi extremamente seca comigo. Tudo bem que algo horrível deve ter acontecido com ela, ela está chorando e está no hospital, mas eu conheço ela muito bem. E esse é o problema, eu conheço ela até demais. 

Passei por alguns caminhos apertados, alguns caminhos desertos, lamacentos, até que eu cheguei na avenida do hospital, onde estava MUITO deserto. Os faróis iluminavam o meu caminho, até que visualizei Liesel sentada em um banco, sozinha, chorando demasiadamente. Estacionei o carro em um lugar qualquer, e fui correndo em direção a garota loira dona do sorriso mais lindo do mundo.

- Rudy... Ainda bem que chegou. - Disse, me abraçando forte. Ela era tão pequena que eu a cobria com meus braços. Meu abraço a abrigava em meio o caos... e isso era tudo o que eu queria. Que ela fizesse em mim, o lar que ela sempre sonhou ter.

- Oh meu amor, você está chorando, o que houve? - Disse enxugando suas lágrimas e olhando profundamente nos seus olhos azuis. Ela estava chorando tanto que teve que sentar novamente no banco de madeira envernizada.

Quando surge uma figura irreconhecível em meio as escuras árvores. Era um rapaz. Ele se aproximou e abraçou Liesel, nesse momento, eu já não entendia quase nada.

- Liesel... Quem é ele? - Perguntei. E ela começou a chorar ainda mais.

- Eu sou Peter. Você deve ser Rudy. - Disse, com um sorriso irônico.

- O que está acontecendo aqui? - Perguntei novamente.

- Max precisou de um doador. A mãe da Liesel doou seu fígado para ele, e consequentemente, faleceu. 

- Deus... - Comecei a chorar. Fui abraçar Liesel, mas Peter me afastou.

- Você é uma pessoa legal. Mas, ela não gosta mais de você. 

- Como assim? - Ri. - A gente se ama, cara... quer dizer... você ainda me ama, né Lis?

- Você é uma pessoa extremamente incrível, Rudy. Eu sou muito grata por tudo que já fez por mim, por ter me levantado e apoiado nos momentos difíceis, por ter sido o meu abrigo, por ter sido esse namorado perfeito que tem sido, que me fez feliz durante todos os momentos da minha vida, e me amou do jeito que eu sou, acima de tudo. Você nunca saiu do meu lado, nunca desistiu de mim... de nós. E eu te agradeço muito mesmo por isso. - Ela soluçava de tanto chorar. - Eu tô muito confusa, por favor, me entendam... vocês dois são sensacionais, não sou capaz de escolher entre um dos dois.

Meus pés não tocam mais o chão. Perdi totalmente o rumo da minha vida. Ela era a luz que guiava a minha alma, e de repente, em apenas um segundo, eu me encontrei em um túnel escuro e sem saída. Dessa vez, não havia luz no fim do túnel... a luz resolveu se apagar sozinha.

Liesel saiu correndo e ajoelhou no chão. Fui imediatamente atrás dela, e Peter também. Minha vontade era de dar um soco nesse filho da puta, mas não podia fazer isso, ele não tem culpa dela não sentir mais nada por mim.

- Escuta... - Disse, olhando novamente para aqueles olhos azuis tão intensos quanto o azul do mar. Eu pressentia que aquela seria a ultima vez em que eu veria aqueles olhos tão de perto. - Você não tem culpa de absolutamente nada. Você me amou profundamente enquanto foi possível, tenha essa certeza. Cara... não tenho palavras pra agradecer por você ter sido a namorada dos meus sonhos. Bom, parece que acabou, né? Eu sabia que um dia isso acabaria, e me desculpe não saber o que dizer, eu não esperava que esse dia chegasse tão cedo. Dizem que quando a gente ama, a gente deixa a pessoa livre, e é isso que estou fazendo contigo. Estou te libertando de mim. Se você o ama, se você encontra sua felicidade nele... Eu fico feliz por você. E saiba que, apesar de tudo, eu sempre estarei aqui. Para ouvir seus desabafos, suas alegrias, ou que você cortou o cabelo, ou que odeia a comida que o seu pai faz... Em todos os momentos da sua vida eu estarei presente, você querendo ou não, pois eu te prometi isso e estou sendo homem o suficiente para cumprir. Eu ainda te amo, com todas minhas forças. Mas aprendi que não adianta chorar e sofrer por algo que não é mais seu e que não voltará a ser. Se vou sentir sua falta? Pra caralho. Mas prefiro me esforçar a amar um outro alguém que também me ame. 

Ela olhou diretamente em meus olhos e sussurrou:

- Eu te amei, Rudy... eu iria até o inferno por você. Apesar de tudo, você foi a coisa mais incrível que aconteceu na minha vida. Talvez ainda ame, isso só o tempo será capaz de dizer. Me perdoa por não ser a pessoa que vai acordar do seu lado durante toda a sua vida. Eu queria que fosse, mas o destino, Rudy... ele existe. E ele colocou o Peter na minha vida. Você vai encontrar alguém que te ame incondicionalmente, e quando isso acontecer, você vai ver que tanto tempo sozinho valeu a pena.

Não disse nada. Apenas enxuguei todas as lágrimas do meu rosto, e entrei no carro. Enquanto o ligava, vi os dois se abraçando, e Liesel chorando como se não fosse parar mais. Dói muito a sensação de ainda amar essa garota. E saber que eu nunca deixaria de amar.