Acordei um pouquinho melhor no dia seguinte, não 100%, mas melhorzinha. Virei na cama e levei um susto. Nashi estava acordada e com o rosto bem próximo ao meu.
— Que susto, garota. – ela soltou uma risadinha. — Dormiu bem?
— 'Xim. – deu um beijinho em minha bochecha. — Mamãe 'tá 'meió?
— Acho que eu preciso de um beijão 'pra me sentir bem melhor.
Ela riu e me deu um beijo estalado.
— 'Tá 'meió?
— Sim. 'Tô sentindo minhas forças voltarem.
Levantei e ela veio atrás. Abri a porta do quarto, olhei para o sofá e Natsu não estava. Procurei na cozinha e também não. Entramos no banheiro e fizemos nossa higiene matinal. Quando saímos, ele estava chegando na cozinha.
— O 'Nashu já 'chego?! – falou surpresa e ele riu.
Dei um tapinha em sua cabeça e ela me olhou sapeca.
— É assim que se cumprimenta quando vê alguém pela primeira vez na manhã?
— Bom dia... – murmurou fazendo biquinho e eu dei outro tapinha. — Bom dia! – agora foi normal e andou até o sofá.
— Bom dia, fi-Nashi. – ele só usa "filha" quando ela não está, pensa que essa palavra pode assustá-la.
Já disse que é besteira, para não dizer burrice, mas ele é teimoso. Eu falo "seu pai" o tempo todo e quando estamos sozinhas, ela às vezes o chama de "papai". Ainda não falou diretamente com ele, não sei por qual motivo. Tal pai, tal filha.
— Bom dia, Natsu. Pensei que tivesse ido embora. – falei entrando na cozinha.
— Bom dia, amor. – me deu um selinho. — Eu fui comprar algumas coisas leves 'pra você comer agora de manhã e durante o dia.
Na sacola tinha: cream cracker, chá, verduras e mais coisas.
— Por quê? – massageei as têmporas.
— Apesar de todo seu esforço 'pra não me acordar, eu ouvi você vomitando várias vezes durante a madrugada. – realmente me esforcei para ele não ouvir. — Podia ter me chamado.
— 'Pra quê? Segurar meu cabelo? Não precisa, aprendi muitos truques na época da gestação. Aquilo sim que era vomitar, passava vários minutos sentada no chão do banheiro com a cara no vaso. – fiz careta ao lembrar.
— Deve ter sido difícil passar por aquilo sozinha. – falou com o semblante triste.
Revirei os olhos e bufei.
— Ah, não começa com isso de novo.
Saí da cozinha e sentei no sofá com Nashi, que olhava para a televisão desligada.
— Por que você não me chamou 'pra ligar a tv? – deu de ombros e eu revirei os olhos, ligando o aparelho. — Vocês, hein... Começaram cedo.
Lembrei do meu trabalho. Corri até o quarto, mesmo não podendo, peguei o celular e vi mensagens do Makarov.
***
Chegar mais cedo não me ajuda. Vai fechar mais tarde.
21h30.
***
Dos males o menor, porque se fosse para chegar mais cedo, eu já estaria atrasada.
Saí do quarto e andei até a cozinha.
— 'Tá tudo bem? – perguntou ele enquanto fazia café.
— Sim. – suspirei. — Makarov pediu 'pra eu sair mais tarde, 'pra compensar ter saído mais cedo ontem.
— Esse velho é um idiota. Até parece que a loja vai dar mais movimento. – revirou os olhos. — Eu vou te buscar.
— Você tem tanta sorte de não precisar trabalhar no sábado. – fiz bico e ele deu um selinho.
Nashi soltou uma risadinha e eu tive uma ideia. Bom não custava tentar.
— Você fará algo hoje à tarde e noite?
— Não, por quê? – peguei Natsu pela mão e o levei para a sala.
Por sorte, quando sentei no sofá, o episódio acabou. Desliguei a televisão e a menina se virou para mim.
— Mamãe, eu 'tava vendo. – fez biquinho, cruzando os braços.
— Nashi, a mamãe vai sair do trabalho muito tarde hoje, depois do novo episódio do "Bob Esponja".
— Eu não 'vo 've? – segurei sua mão.
— Você prefere ficar o dia todo em casa, assistindo desenho?
— 'Xim!
— O que você acha de ficar em casa hoje…
— Acho bom. – abriu um sorriso.
—… com seu pai. – o sorriso sumiu.
Olhei para ele como se pedisse que dissesse algo, mas Natsu estava com uma expressão de surpresa e desespero. Ótimo, estou sozinha nessa.
— Não 'queio! Mamãe vai 'boia. – os olhinhos lacrimejaram.
— Embora 'pra onde, se eu moro aqui? Vou trabalhar no mesmo lugar de sempre. Na loja, você conhece. Aí, quando chegar à noite, eu vou estar tão cansada e vocês podem me buscar de carro.
— É-É, vai ser legal! – ele disse nenhum pouco confiante.
Revirei os olhos.
— Não 'xei. – falou olhando para baixo, mexendo na barra da camisa.
Ela queria ficar, óbvio, até eu queria. Só precisava de mais um empurrãozinho.
— Além do mais, Natsu disse que vai te levar na pracinha e depois te levar 'pra comer sorvete de... de... chocolate!
— Eu gosto de 'sovete de 'chocoiate. – sorriu para ele. — Mas mamãe vai 'fica 'soziia?
— Não. Eu 'tô sempre pensando em você e por isso nunca vou ficar sozinha.
— Então eu 'vo 'fica com 'Nashu.
— Tenho certeza que vocês vão se divertir muito! Né, Natsu?
— Com certeza a gente vai. – falou sem muita confiança.
Levantei indo até a cozinha e ele veio atrás.
— Você tem certeza disso? E se eu não conseguir? E se eu precisar de ajuda? Nunca fiquei com ela sozinho por tanto tempo.
— Você não quer? – perguntei séria.
— Claro que eu quero.
— Então 'tá resolvido. Uma hora ou outra, você teria que ficar com ela sem mim.
— Eu não sei se 'tô preparado.
— Para, Natsu, você é um homem adulto e esperto. Passou dias me vendo cuidar dela. Vai dizer que não aprendeu nada? Olha, se você realmente se sente inseguro, eu contorno a situação e esquecemos isso por hora.
— NÃO! – fechei os olhos pela pontada que senti na cabeça. — Desculpa. Não, eu… eu vou ficar.
— Ótimo. Essa vai ser uma ótima oportunidade 'pra vocês se aproximarem mais e será fácil, você vai ver.
Voltamos para a sala e dessa vez trazendo o café da manhã deles dois e meu chá com biscoitos. Após a refeição, tomei outro remédio para a dor de cabeça. Peguei uma roupa no armário e entrei no banheiro, tomando um banho rápido.
Depois de arrumada, era hora da dolorosa despedida.
— Bom, eu já vou.
— M-Mamãe… – ela chorava e me abraçava forte.
Era a primeira vez que ficaríamos longe por tanto tempo, então aquilo era normal. Tinha que me manter firme e não chorar, isso precisava dar certo.
— Lembra do que eu disse? Vocês é que vão me buscar. Não se atrasem, hein? E comporte-se, mocinha!
— Não 'vamo 'atasa! Mamãe, eu te amo! – agarrou mais forte meu pescoço.
— Oh, meu amor, eu também te amo! – enchi seu rosto de beijinhos. — Agora eu tenho que ir. Até mais tarde. – dei um último beijinho e abri a porta para sair.
Já estava do lado de fora quando olhei e vi os dois parados no batente da porta: ela chorando silenciosamente e ele com o olhar desesperado, a balançando no colo. Sorri e voltei.
— Não esquece de me buscar. – dei um beijinho nela e ela assentiu. — E você, cuida bem da nossa filha. – lhe dei um selinho.
Segui acenando pelo corredor, até não vê-los mais. Meu coração estava apertado por me separar da minha princesa, mas era necessário.
Só espero que meu apartamento esteja inteiro quando eu voltar.
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