Em uma noite gélida de outono na cidade de Munique, dois colegas tentam – de suas maneiras – consolar um amigo que enfrentava um dilema pessoal.
- Vai por mim, Eren. Você não arruma mulher melhor que ela. – O rapaz de cabelos castanhos sempre fora conhecido por ser bem direto. – Até acho que ela já é muito pra você.
- Não enche, Jean. – O loiro o repreende. Sabia que aquilo era mais uma de suas jogadas para irritar o outro. – Eren você tem que seguir seu coração, se sente que não dá mais; bom, então é melhor cada um seguir sua vida.
O rapaz ouvia tudo e não sabia o que fazer, sua única saída era a bebida, virando garrafa a dentro cada vez que se sentia impotente em relação ao problema. Aquilo acabara acontecendo bastante durante a noite.
- Eu vou pegar mais bebida, alguém aceita? – Se pôs de pé com certa dificuldade, apoiando-se na cadeira. Os amigos recusam, visto que já haviam bebido além do habitual.
- Eren você não acha que já tá exagerando? – O loiro questiona olhando para as garrafas na mesa, sendo mais da metade do homem de pé. Jean não se pronunciou, mas concordava que aquilo já era demais.
- Eu tô bem, Armin. Fica tranquilo.
Ele não mentiu. Mesmo um pouco grogue ele ainda estava são e consciente de suas ações. Vendo que os amigos não respondiam, ele dá as costas e caminha até o balcão, sentando-se – com certa dificuldade – na típica banqueta de bar.
- Oi, boa noite. – Faz sinal para o barman que logo se dispõe em atendê-lo. - Me serve dois chopes, por gentileza.
Enquanto aguarda seu pedido ele repousa sua cabeça na madeira fria, fechando os olhos e puxando bastante ar para dentro. Uma fragrância doce é fisgada por suas narinas, o fazendo se sentir mais leve por alguns segundos. Sendo guiado pelo aroma, seu olhar cai diretamente na dona do perfume, a qual ele sequer notara até o momento.
- Boa noite. – Como resposta a sua saudação a moça ergue brevemente sua bebida. Ele se incomodou com o fato dela sequer olhá-lo. – Estou incomodando?
- Sim.
O homem semi-abre a boca, um pouco incrédulo com a resposta direta da mulher. Realmente não estava em plenas condições, mas também não havia feito nada para ela agir assim.
- Aqui está seu pedido, senhor.
Virou-se para o barman e pediu para ele adicionar a conta. Após pegar os chopes ele encara a mulher de relance, notando que ela continuava com uma expressão neutra. Ignorou ela e retornou a sua mesa.
- Algum problema, Eren? – Armin, observador com era, percebeu que o amigo voltou diferente.
- Aquela mulher... – Sentou-se a mesa e olhou em direção a ela. Os amigos seguiram seu olhar. – Ela foi meio grossa comigo.
- Dá um tempo. – Jean o contradiz. – Você tá muito sentimental, cara.
Talvez fosse verdade; mas sabia que não dormiria aquela noite senão tirasse a limpo aquele desentendimento.
- Podem beber. – Afastou os copos em direção aos amigos, que o olharam sem entender. – Vou falar com ela.
- Eren, espera...
Antes do loiro levantar e impedir o rapaz ele já havia se afastado. Suspira e volta a se sentar, rezando internamente para o colega não fazer nenhuma burrice.
Já próximo, Eren para um pouco atrás dela, criando coragem para prosseguir.
- Com licença. – Sentou-se novamente na banqueta ao lado, mas dessa vez se virou diretamente para ela. – Eu fiz alguma coisa de errado?
- Sim. – E novamente sua frieza faz o moreno se incomodar. Ela ainda não o olhava.
- Posso saber o quê? – Insistiu e ela bebericou sua cerveja antes de enfim olhá-lo diretamente.
- Olha, vou ser bem direta... Eu não vou pra cama com você. Então se pensa que insistindo nesse joguinho você conseguirá alguma coisa; eu lamento. Não vai rolar.
Eren ficara boquiaberto; sem ação. Além da situação constrangedora, ainda por cima ouviu a risada contida do barman, que escutava tudo enquanto preparava um drink. A morena voltou a encarar sua bebida após deixá-lo sem jeito.
- E quem disse... – Negou com a cabeça, ainda incrédulo com o que ouviu. – Quem disse que eu quero levar você pra cama?
A morena o olhou de soslaio, analisando se ele falava a verdade ou só tentava contornar a vergonha. Mesmo um pouco cética, sentiu sinceridade da parte dele.
- Desculpa. – Tornou a beber sem dar atenção para o homem, que não se contentou com o simples pedido.
- Só isso? Você me humilha desse jeito e só pede desculpas? Simples assim? – Questionou a olhando com expectativa, aguardando por um pedido mais sincero de sua parte.
- Sim. É isso.
Eren deslizou suas mãos pelo rosto, segurando-se para não surtar com aquela mulher. Acabou não vendo a mesma sorrir minimamente enquanto bebia novamente. Ela estava começando a se divertir com aquela situação.
- Okay. – Desiste, planejando uma nova abordagem. – Posso te pagar uma rodada?
A mulher o encara pela segunda vez, surpreendendo-o. Ele sorri com sua reação a pergunta. A morena de cabelos curtos assenti e ele rapidamente faz o pedido. Assim que a bebida chega a mulher expele sua tampa com uma rápida batida na beirada do balcão. Eren não conteve o fascínio com sua destreza.
- Obrigada. – A morena abre sua carteira, retirando seu dinheiro e fazendo sinal para o bartender, que logo aparece. – Fecha minha conta. – Diz passando o dinheiro. – Essa aqui é por conta dele. – Apontou para o moreno, que voltou a ficar sem palavras. – Obrigada, novamente.
A mulher se retira, deixando o rapaz sem entender nada. Sua intenção em pagar uma rodada era iniciar uma conversa, e não ser deixado para trás. Novamente ele suspira fundo, olhando em direção a morena que já cruzava a porta.
- Só pode ser brincadeira. – Sorriu de si mesmo e da situação.
Ele não era de se surpreender fácil com as pessoas, mas aquela mulher o deixara muito intrigado. Pegou seu cartão e fechou sua conta, assim como a dos amigos e a bebida da mulher. Caminhou até sua mesa, sendo recepcionado por olhares curiosos.
- O que aconteceu? Aquela mulher saiu do nada e você ficou parado com cara de idiota. – Jean comenta.
- Esquece ela. - Desconversa olhando para seu relógio. – Já vou indo. Vou pedir um Uber.
Armin percebeu que seu amigo estava pensativo, certamente aquela conversa com a tal mulher não foi motivo para “esquecer”. Os rapazes se levantaram de seus lugares e saíram do estabelecimento. Jean é o primeiro a se despedir e seguir caminho. Enquanto Eren confirmava sua localização com o motorista, Armin se aproxima dele.
- Ei, tá tudo bem mesmo? – Eren tira seus olhos do celular e direciona ao amigo. O conhecia desde pequeno, então não se surpreendia com o fato dele sempre notar o que passava despercebido pelos demais.
- Tá sim, é só que aquela mulher... – Ficou pensativo por um segundo, lembrando-se dos trejeitos da morena. – Bom, tanto faz. Agora vou pra casa enfrentar “aquela mulher”. – Armin sorri da fala do amigo, mas sentiu um certo desconforto por saber que o mesmo estava com problemas em casa.
- Boa sorte. Nos vemos amanhã na agência.
- Valeu. Até amanhã. – Após um comprimento com a cabeça Armin se afasta, entrando em seu carro. Normalmente daria uma carona ao amigo, mas sua casa era de um lado da cidade, e a dele para o outro. Jean morava ali perto do estabelecimento, então estava a pé.
Analisando a vista enquanto espera seu transporte, ele se depara com a pessoa que tornou sua noite um tanto quanto atípica. Do outro lado da rua a morena fazia sinal para um táxi que passava, mas é ignorada. O homem não conteve um riso com a cena. Um novo veículo aparece e ela repete o gesto, dessa vez sendo correspondida. Assim que ela entra no táxi o seu Uber chega. Eren informa a localização da sua casa ao motorista, e assim que ele da partida o rapaz deixa sua cabeça cair para trás, respirando fundo. Podia ter esquecido do seus problemas por alguns minutos, mas logo eles estariam de volta para atormenta-lo.
Assim que percebe o carro estacionar, Eren acorda do seu breve cochilo e paga por sua corrida. Ao sair do carro ele caminha até seu prédio, parando próximo a entrada para pegar seu celular. Antes que adentrasse de vez ele percebe um táxi estacionando um pouco a frente. Por curiosidade, esperou a pessoa sair do veículo. Ao ver os cabelos negros saírem pela porta e se rebelarem contra o vento ele fica incrédulo.
Mais uma vez aquela noite o reserva uma surpresa.
- Só pode ser brincadeira. – Repetiu o que havia dito ao ser deixado naquele bar. Enquanto a mulher se despedia do motorista, ele a encarava ainda sem acreditar.
Ao se direcionar ao seu prédio a mulher percebe um homem a fitando, e após forçar a visão para identificá-lo sua reação é a mesma que ele tivera.
- Você tá me seguindo? – Sua pergunta soou mais como uma intimidação do que uma dúvida na percepção dele.
- Claro que não, eu moro aqui. – Afirmou apontando para o imóvel.
Ela olhou para ele, depois para o prédio. Sabia que o edifício vizinho era de classe média alta; diferente do seu, com menos andares e um pouco mais antiquado. Procurou pela sua chave na bolsa e caminhou até a entrada de seu prédio, ignorando o homem novamente.
- Eren. – Ele fala um pouco alto e atravessado, fazendo a morena parar e o olhar interrogativa. – M-meu nome é Eren Yeager.
Aguardou que ela se apresentasse também, mas a morena apenas virou o rosto e adentrou seu prédio.
E pela segunda vez na noite ele estava naquela situação: largado e com cara idiota. Novamente não conteve o riso. Por mais revoltante que fosse ele não podia negar que isto era hilário. Passado o momento, ele adentra seu prédio, cumprimentando todos no hall de entrada. Ao entrar no elevador ele vê as horas no celular, calculando mentalmente o quanto estava atrasado, já imaginando a desculpa que daria a sua mulher. Ao chegar no seu AP ele respira fundo, abrindo a porta. De início não vê sinais da esposa, então caminha até a sala, onde também não encontra ninguém.
- Onde você estava, Eren?
O rapaz se trancou ao ouvir a voz autoritária vindo da cozinha. Ele olha em direção a ela, e pela carranca da mesma ele já sabia o que lhe aguardava.
- Saí depois do trabalho pra beber com o Armin e o Jean. – Confessou, sabendo que aquela resposta não serviria com ela.
- E quer que eu acredite nisso? – Questionou caminhando até ele. – Aposto que estavam numa casa noturna fudendo todo tipo de puta.
Sua presunção equivocada não o surpreendia, sempre era dali para pior, mesmo que ele nunca tenha dado motivos para ela suspeitar de tal.
- Ache o que quiser, Historia. Não tô com cabeça pra isso.
Tomou a frente fazendo a loira bufar de ódio. Ela queria xinga-lo, mas não valeria a pena se ele a ignorasse. Caminhou atrás dele, até parar no seu quarto, onde ele se encontrava sentado à beira da cama, retirando seu sapato.
- Pelo visto a puta te chupou muito bem. – Provocou novamente, não tendo nenhuma reação por parte dele. – Por que não passou a noite por lá?
- É, talvez eu fique da próxima vez. – Ironizou, já cansado daquilo. Ele ficou pouco mais de uma hora bebendo com seus amigos após seu expediente, não tinha necessidade de tudo aquilo.
- Escuta aqui eu não sai da casa dos meus pais pra ser desrespeitada dessa forma. – Apontava para si enquanto falava, intensificando suas palavras. Eren tira suas roupas, ficando só de boxer e seguindo para o banheiro. – Você tá me ouvindo seu idiota?
Ignorando-a novamente ele adentra e fecha a porta, se trancando. Ainda ouvia suas ofensas, mas não ligou. Tirou sua última peça e entrou no chuveiro, deixando que a água quente evapore todo o stress do seu corpo. Por um instante o rosto daquela mulher, ou melhor; da sua vizinha surge em sua mente, tirando novamente um sorriso de seus lábios. Mesmo sem querer - e muito menos fazendo por onde - ela proporcionou os melhores momentos do seu dia.
No prédio ao lado uma morena se deleitava em sua banheira. Seu dia havia sido puxado e aquela banheira era seu luxo, então aproveitava cada segundo dentro dela.
- Eren... Yeager. – Encolhendo-se ela abraça seus joelhos e deixa sua mente construir a imagem do moreno. – Interessante. – Deixou escapar um riso ao lembrar-se da sua cara de cachorro sem dono. Ela gostou de provocá-lo, e gostaria de fazer aquilo mais vezes.
Tão próximos, e tão distantes ao mesmo tempo. Suas vidas já estavam conectadas, agora é só questão do acaso.
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