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História A morte de Eliza - Capítulo Vinte


Escrita por: MarciRocha

Notas do Autor


Boa tarde....

Capítulo 21 - Capítulo Vinte


— Eu tenho mais quatro balas nesta arma — diz Javier para Samantha em algum lugar da casa. — E vou meter uma em você a cada dois minutos que minha doce Eliza continuar escondida.

Minha mão se move involuntariamente na direção do coração.

— Alexandra está voltando — diz Samantha em uma voz fraca, aguda.

Fico apavorada só de pensar onde Javier já atirou nela.

— Você está mentindo, puta! Você fede a mentira. Agora me diga onde está Eliza. Porque eu sei que ela está aqui.

Como ele soube que eu estava aqui?

Então, em espanhol, Javier grita:

— Vasculhem a casa! Todos os quartos. Virem tudo de cabeça para baixo e achem a garota!

Dois segundos depois, o som de móveis sendo revirados, vidro se quebrando e pés marchando pelo chão ecoa pelas paredes.

— Ela não está aqui — diz Samantha, como se estivesse forçando as palavras entre os dentes. — Alexandra passou aqui mais cedo. Com uma garota. Uma garotinha de cabelo preto que ela chama de Clarke. Mas ela a levou embora quando partiu.

Thwap!

Mais um tiro se ouve e Samantha grita de dor, mas então seus gritos ficam abafados, e só posso imaginar que é pela mão de Javier. Ou talvez haja mais alguém no quarto. Lágrimas correm pelo meu rosto quente. O ar está frio, por estar tão perto do chão gelado lá fora, mas minha pressão arterial está tão alta pela tensão nervosa que sinto minha cabeça pegando fogo.

— Eu sei que ela está aqui — diz Javier friamente. — Sei que ela não saiu com a mercenária, porque eu estava vigiando. Agora você tem mais seis minutos. A última bala eu vou meter na sua cabeça.

Então a voz de Javier fica mais alta:

— Ouviu isso, Eliza? — grita ele para mim. — Daqui a seis minutos, você vai matar essa vaca. Do mesmo jeito que matou Octavia. Eu só quero levar você para casa. Nunca machucaria você, sabe disso.

Minhas pernas estão tremendo.

Depois que os barulhos de destruição finalmente cessam, passos de outros pés, dois pares,a julgar pelo ritmo, voltam para o quarto com Javier.

— Vocês dois, para fora — ordena Javier. — Procurem em todo lugar, busquem na vizinhança, mas sem chamar atenção. Andem!

Não posso deixar Samantha lá em cima com ele para morrer.

— Já falei que não tem ninguém aqui! — grita ela.

O barulho que ouço desta vez sei que é a mão de Javier batendo no rosto dela, e depois seu corpo caindo no chão. As vigas do assoalho tremem acima de mim com a força de sua queda.

Viro para trás e começo a andar pela passagem estreita sentindo o caminho com as mãos, esperando que me leve para fora dali. Porque eu não vou deixá-la assim. Javier pode me levar de volta. Pode me matar, se quiser, mas não vou me esconder aqui embaixo como uma covarde e deixar que ela morra por mim.

Thwap!

Eu perco o fôlego e meus ossos travam, mas continuo avançando até que chego ao final.

Não há nada ali, nada além de mais paredes e a mesma passagem de onde vim. Apalpo o forro acima da minha cabeça, procurando outro alçapão de metal. E realmente há outro. E quando penso que não tenho como levantar aquela tampa o bastante para sair sem fazer barulho e chamar a atenção de Javier para onde estou, dou uma topada em uma escada móvel de quatro degraus encostada no canto.

Carrego a escada, em vez de arrastá-la pelo chão, para não fazer nenhum barulho desnecessário, e a coloco abaixo do alçapão. Subo até o terceiro degrau e preciso me curvar para não bater com a cabeça no teto. Levanto as mãos, encostando as palmas no alçapão e fechando os olhos para empurrar, esperando que ele não esteja bloqueado por nada, e que dê em algum lugar onde Javier não possa me ver.

O alçapão se abre, rangendo um pouco, o que me faz parar, horrorizada, segurando-o parcialmente aberto acima de mim. Empurro de novo, subo para o quarto degrau e minha cabeça emerge dentro de um closet. Vejo que um colchonete de espuma foi dobrado e colocado em cima da porta do alçapão para escondê-la, e que ela é revestida de um carpete igual ao do chão do closet; eu o sinto com a ponta dos dedos ao terminar de levantar a porta e apoiá-la na parede do fundo do closet.

Saio e abro caminho silenciosamente entre as roupas penduradas em uma barra.

Thwap!

— Mais dois minutos, Eliza! — ouço Javier avisar da sala.

Abro a porta do closet e ando mais rapidamente agora, através do quarto de Samantha, pelo corredor e até a sala, onde Javier está esperando por mim; cada osso e músculo do meu corpo está tremendo.

— Ah, aí está ela!

Javier ergue as mãos para o lado, segurando a arma na direita. Ele sorri e parece genuinamente empolgado em me ver. Ele é louco...

Suas mãos caem ao lado do corpo.

— Senti sua falta, Eliza. — Ele inclina a cabeça para um lado para parecer sincero. — Se você estava infeliz, por que não disse? Eu teria feito tudo o que você quisesse, você sabe.

Não me importa o que ele tem a dizer, só o que me importa é garantir que Samantha esteja bem. Tentando não deixar de vigiar Javier, meu olhar varre cuidadosamente a sala à minha frente, procurando por ela.

Finalmente, vejo seus pés descalços saindo de trás da espreguiçadeira do outro lado da sala, a pele suja de sangue.

— Samantha, você está bem?

Ela não responde, por isso sei que está gravemente ferida.

Eu me viro de novo para Javier, implorando com o olhar.

— Vamos embora. Por favor. Javier, por favor, não faça mais nada com ela.

Ele sorri para mim, parecendo pensativo mas divertido.

Está vestido de preto dos pés à cabeça: camisa preta de mangas compridas, cinto preto, calça preta, sapatos pretos. Coração preto. Ele levanta a arma para mim e manda que eu me aproxime com um gesto.

Ele me chama com o dedo.

— Me deixe ver você.

Eu me aproximo, meus pés descalços pisando nas revistas femininas espalhadas pelo chão.

O tique-taque do alto relógio de pêndulo no canto, atrás de mim, é ameaçador.

— Javier, ela vai morrer se a gente não chamar uma ambulância — imploro ao me aproximar. — Vamos ligar para a emergência. Depois a gente pode ir.

Vejo os joelhos dela agora, mas é só o que consigo enxergar, pois o resto do corpo está escondido pela poltrona e pela escuridão.

Javier estende a mão.

— A mercenária comeu você? — pergunta ele, me puxando para mais perto pelos dedos. — Deixou aquela mulher comer você, ou ainda é minha? — Ele se inclina para a frente e inala o meu cheiro enquanto brinca com uma mecha solta do meu rabo de cavalo.

— Não — digo, ofegante. — Eu vou ser sempre sua.

Ele está usando colônia, o mesmo tipo que sempre usava quando vinha me procurar à noite.

E seu cabelo, um pouco comprido na frente, está limpo e penteado, como ele sempre usava quando me produzia e me levava com ele para as casas dos ricos.

— Não minta para mim — diz ele, baixinho, e sinto seu hálito no meu pescoço. — Você não sabe o que fez comigo. Não devia ter ido embora.

Levanto a mão esquerda e fecho os dedos suavemente em sua nuca. Eu me curvo para a frente, a lateral do meu rosto passando pelos botões abertos no alto de sua camisa, até sentir seu peito contra minha face.

— Eu sei, me desculpe. — Beijo de leve sua pele. — Estou muito arrependida de tê-lo deixado assim... — acrescento em espanhol.

Estremeço de prazer e nojo quando ele enfia a mão na minha calça e mete dois dedos em mim. Não importa se ele é louco ou um assassino que pode me matar a qualquer instante, o toque me deixa molhada mesmo assim. É meu corpo me traindo, a natureza humana me traindo, não minha mente nem meu coração. Eu me disciplinei há anos a reagir a ele dessa forma. Um perverso instinto de sobrevivência que não é ensinado nos cursos de defesa pessoal. Javier precisava acreditar que me deixava excitada, senão saberia que tudo em mim era mentira também, e, assim, meu corpo aprendeu a reagir de uma forma que sabia que me manteria viva.

Ele tira os dedos e os leva aos lábios, inalando profundamente, de olhos fechados, como que para degustar o cheiro. Então ele os enfia na boca.

Dou um passo para trás enquanto ele está distraído, para interpor o máximo possível de distância entre nós, ainda que pequena.

— Não sei se ainda quero você — diz ele.

Meu coração se endurece. Se ele não me quer, então sei que vai me matar, especialmente depois de tudo o que fiz, de todos os problemas que causei.

— Javier — digo, tentando disfarçar o nervosismo na voz —, vamos embora. Eu estou pronta para voltar.

Seu lábio superior se contrai e ele balança a cabeça.

— Izel está morta — diz ele, sondando, provavelmente se perguntando se fui eu que a  matei. — Sei que você odiava Izel. Não a culpo. Mas ela era minha irmã.

Balanço a cabeça e começo a recuar um pouco mais.

— E-eu não matei Izel — digo. — Eu não sabia.

Javier ri.

Dou mais um passo para trás e dois para a direita, pisando em um pedaço pontudo de plástico de algum objeto, mas ele não fura a pele. Encosto as mãos na parede atrás de mim.

E então a vejo, Samantha, bem mais claramente deste ângulo. Abandono a necessidade desesperada de vigiar cada movimento de Javier enquanto ele se aproxima de mim lentamente, provocativamente, e só vejo Samantha. Ela não está se mexendo. Está sentada, inerte, com as costas na parede. Suas pernas ensanguentadas estão abertas no chão. Seus braços estão imóveis e flácidos dos lados do corpo, os dedos abertos.

Seus olhos. Estão abertos. E estão mortos.

A bile revira meu estômago, minhas mãos começam a endurecer, rijas como metal, nos meus quadris. Estou tremendo de raiva, ódio, culpa e, porra, medo.

— Você a matou — digo, com os lábios tremendo.

— Matei — admite Javier orgulhosamente. — Com o quinto tiro.

— Mas você disse... — Meus olhos vão e vêm entre ele e o corpo de Samantha. Meu coração parece que vai implodir. — Você disse que se eu não...

Javier levanta a arma para mim, e agora sei por que não usou a última bala nela.

Fico parada, com a mão ainda encostada na parede atrás de mim enquanto a outra, de alguma forma, chegou à barriga, como se pudesse impedir o vômito de sair. Tropeço em mais destroços e então apoio as costas na parede para não cair. Porque meu corpo ainda está metraindo, minhas pernas estão fracas e instáveis, ameaçando ceder a qualquer momento.

Olho através do pequeno espaço que me separa de Javier. Olho para seus olhos frios, escuros e sem fundo. Não para o cano de sua arma apontada diretamente para mim, mas para seus olhos. Ouço um clique, só um clique, e nós nos entreolhamos sem expressão, ambos confusos pelo que acaba de acontecer. Então se ouve um tiro, e minha cabeça bate na parede.

Sinto meu corpo escorregando para baixo, até que estou sentada no chão, como Samantha.

Inerte e apagada, como Samantha. O cômodo gira no meu campo de visão como uma espessa névoa cinza.

Fecho os olhos e deixo que a escuridão tome conta de mim.


Notas Finais


Até o próximo <3


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