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História A Morte de Karla - Capítulo sete


Escrita por: alemaya

Capítulo 7 - Capítulo sete


Fanfic / Fanfiction A Morte de Karla - Capítulo sete

Camila

 

Parece que passou uma eternidade desde a última vez que tomei uma ducha quente assim. Eu tomava chuveiradas ocasionalmente na fortaleza — eu era a única que tinha esse luxo —, mas nunca assim. Lá era sempre com água morna, no máximo, mas nunca tão quente a ponto de arrancar minha pele. Eu nem abro a água fria, inicialmente, me dando ao luxo de curtir o calor, até que fica quente demais e sou obrigada a abrir. Quero ficar debaixo do chuveiro para sempre, sem pensar no que me espera do outro lado daquela porta, mas a realidade de tudo acaba ganhando, e é só nisso que penso. Eu me sento no chão do box e ergo os joelhos para o peito, abraçando-os fracamente e deixando a água correr pelo corpo.

Penso muito em Demi, me perguntando se ela está bem ou se Izabel bateu nela bem mais do que de costume, só por minha causa. Sei que sim. E, embora eu não pudesse ter feito nada para impedir, prometi algo a Demi que pretendo totalmente cumprir. Não vou deixar que se repita para sempre.

Mas se eles descobrirem que ela sabia que eu ia fugir...

Depois do que parece uma hora, a água quente começa a esfriar e eu saio, enrolando o cabelo em uma toalha que encontro dobrada sobre o reservatório da descarga. Eu queria ter roupas limpas, uma calcinha pelo menos, deixei minha fronha de roupas no carro de Lauren quando o abandonamos e não quero ter que pedi-la roupas emprestadas. Visto meu short de ginástica imundo sobre a calcinha e a camiseta azul sobre os seios nus. Javier me proibia de usar sutiã.

Quando saio do banheiro, Lauren ainda está sentada no mesmo lugar de antes. Mas a maleta não está mais no pé da cama.

Quando me aproximo da cama onde estava a maleta e começo a me sentar, Lauren levanta a cabeça e me olha nos olhos. Ela não diz uma palavra, mas sinto que algo nela está diferente.

Por um momento fico desconcertada com sua expressão estranha, mas aquele seu olhar silencioso, que de certa forma duvido que ela saiba que consigo perceber, desperta completamente meu interesse. Parece quase... Trágico.

— Fale da sua mãe — diz ela.

Lauren vira a poltrona de frente para mim, me dando sua atenção total, apoiando os braços na lateral da poltrona, deixando os dedos casualmente para fora das extremidades. Ela arregaçou as mangas da camisa branca quase abaixo dos cotovelos.

Completamente surpresa com sua pergunta, eu apenas a encaro com um olhar vazio.

— Por quê? — pergunto apenas, sem saber o que ela pretende fazer com a informação.

Eu me sento no pé da cama, esfregando a toalha no cabelo com as duas mãos para enxugá-lo.

Mas é tudo uma farsa; cada fibra da minha consciência está concentrada em Lauren e em cada movimento seu.

Ela não explica. E, temendo que ela decida mudar de ideia e volte a se lixar para mim, pergunto, antes que seja tarde demais:

— O que quer saber?

Esfrego a última parte de cabelo com a toalha e a jogo no chão.

Ela vira a cabeça suavemente para o lado e cruza os dedos das mãos à sua frente, os cotovelos ainda apoiados nos braços da poltrona.

— Como ela conheceu Javier?

Penso nisso por um momento.

— Não sei — respondo. — Isto é, sei que teve a ver com drogas e sexo. Como todos os outros homens que ela levou para casa. Eu não conversava muito com minha mãe.

Ela inclina a cabeça para o outro lado, pensativa. O que está esperando? Eu a avalio por um momento, tentando fazer alguma ideia do que causou seu interesse pela minha mãe, e finalmente decido contar a ela tudo o que posso. Talvez porque há muito tempo precise que alguém me ouça. Demi e as outras garotas estavam traumatizadas demais por seus sequestros e experiências na fortaleza para servirem de confidentes. E a vida delas era muito mais caótica do que a minha, muito mais... Injusta. Eu jamais conseguiria falar com as outras garotas dos meus problemas insignificantes enquanto elas eram espancadas, estupradas e torturadas mental e emocionalmente.

Eu estava no paraíso, em comparação a elas.

Afasto esse pensamento e volto a olhar para Lauren.

— A primeira vez que vi Javier, já sabia que ele era diferente dos outros homens que minha mãe levava para casa. Mais poderoso, de certa forma. Ele andava com um ar imponente. Destemido. Confiante. Os outros homens, e foram muitos, eram uns cafajestes. Nem conseguiam esperar sair da nossa sala de estar minúscula e de perto de mim para começarem a apalpar minha mãe. Eram nojentos, patéticos.

— E Javier não era? — pergunta ela.

Balanço a cabeça, olhando para a parede, agora.

— Era nojento pelo que era e pelo modo como usava minha mãe, sim, mas era profissional demais para ser patético.

— Profissional? — Ela me olha com uma leve curiosidade.

— Sim — confirmo, assentindo. — Como falei, ele era poderoso. Embora eu não soubesse disso na época, não soubesse o que ele era, sabia que era diferente. Parei de me preocupar com minha mãe e com as situações em que ela se metia quando eu tinha 12 anos. Já estava acostumada com tudo, àquela altura. Ela sempre conseguia voltar para casa. Apesar de chapada e às vezes espancada, nunca chamou a polícia, nem parecia ter medo de nada, então acho que comecei a acreditar na segurança dela tanto quanto ela acreditava. — Olho para a parede de novo, com as mãos pressionadas na beirada da cama, uma de cada lado, meu corpo afundando entre os ombros. — Mas, quando vi Javier, voltei a temer por ela. E a temer por mim.

Olho nos olhos de Lauren.

— Assim que ele me viu, percebi que minha vida tinha acabado. Não sabia como nem por quê, naquele momento, mas percebi e pronto. O modo como ele me olhava. Eu sabia...

Meu olhar baixa para o chão acarpetado.

— Por que você está me perguntando essas coisas, afinal? — Eu me viro para ela de novo. — Por que tanto interesse, de repente?

Eu a vejo olhar para o tablet na mesa à sua frente. Também olho para o tablet por uma fração de segundo, imaginando todos os segredos que contém. Lauren se levanta da mesa e meus olhos a seguem enquanto ela se aproxima de mim.

— Vire de costas — manda ela, de pé diante de mim.

Viro a cabeça o suficiente para ver seu rosto; ela está perto demais, invadindo meu espaço, e isso é assustador.

— Quê? — pergunto, confusa e com uma péssima sensação.

Ela se curva, enfia a mão na bolsa entre as camas e pega outra corda como a que usei para amarrar Izabel à cadeira.

— Vire de costas — repete ela.

Balanço a cabeça freneticamente.

— Não — digo, e começo a recuar em cima da cama.

Ela me agarra pela cintura e me vira de barriga para baixo.

— Preciso dormir um pouco — diz ela, apertando o joelho, ainda que cuidadosamente, no meio das minhas costas. — Você vai ter que se conformar. Sinto muito.

— Não me amarre! Por favor! — Tento me desvencilhar, mas ela me segura por um pulso com a mão livre e o prende às minhas costas. Eu luto, esperneio e me agito, mas ela é mais forte, e eu pareço uma corça sob a pata de um leão. — Você sente muito?! Então não faça isso! Por favor, Lauren!

Seu aperto ao redor dos meus pulsos, agora os dois amarrados às costas, fica mais violento, e não posso deixar de crer que isso tem tudo a ver com o fato de eu tê-la chamado pelo nome, e não com minha relutância. Com um lado do rosto pressionado contra o colchão, sinto a corda se enrolando em meus pulsos, e então ela a amarra com vários nós firmes.

Depois de se certificar de que não vou conseguir soltar as mãos, ela se levanta da cama e pega meus tornozelos. Eu encolho uma das pernas e consigo acertar um pontapé em cheio na barriga dela, mas isso não a abala. Ela apenas me olha, agarra minha perna no ar na segunda tentativa e amarra meus tornozelos com uma das mãos.

Lágrimas escorrem dos meus olhos. Mas eu paro de resistir.

Ela me vira cuidadosamente de lado, de frente para a parede, com as costas voltadas para a cama onde sei que ela vai dormir. A ideia dela atrás de mim desse jeito a noite toda, sem que eu possa vê-la, me deixa uma pilha de nervos.

A lâmpada entre as camas se apaga, deixando o quarto imerso na penumbra. Ainda está cedo, o sol acaba de se pôr, mas estou tão exausta que parecem duas da manhã.

Choro baixinho no travesseiro por algum tempo. Pensando em minha mãe e em todas as coisas que Victor me obrigou a lembrar. E penso em Demi e na Allyson Brooke, que morava a dois trailers do nosso; as duas são tudo o que realmente tive de família na vida. E quando a posição desconfortável dos meus braços fica dolorosa demais, viro desajeitadamente o corpo para o outro lado. Olho através da escuridão e vejo Lauren na outra cama, deitada de lado, de costas para mim. Ela ainda está vestida dos pés a cabeça. Noto que ao menos tirou os coturnos, mas seus pés estão vestidos em finas meias brancas. Eu me pergunto se ela ainda está acordada.

— Lauren?

— Durma — diz ela, sem mover um músculo.

— Quando você me levar de volta para Javier, vai me dar uma arma, pelo menos?

O silêncio preenche o espaço entre nós.

— Vai? — pergunto de novo, quebrando esse silêncio. — Isso vai me dar uma chance de lutar. Eu mesma vou matar Javier, ou vou morrer sabendo que tentei.

O ombro de Lauren sobe e desce devagar, como se ela tivesse acabado de inspirar profundamente.

— Vou pensar. Agora durma.

 


Notas Finais


Lauren cedendo?


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