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História A Morte e as Memórias de Gellert Grindelwald - Capítulo Único


Escrita por: PoppinMari

Capítulo 1 - Capítulo Único


O dia parecia ter amanhecido como outro qualquer por detrás das paredes de Nurmengard. Não havia o canto dos pássaros, não. Há cinquenta e três anos que não os ouvia. O silêncio daquela cela era tudo o que lhe restava. Olhar pela janela pequena e ver o céu limpo lá fora era tudo o que podia fazer além de esperar pela morte.

Mas não naquele dia. Gellert estendeu a mão para pegar uma página de jornal que mantinha sob sua velha cama, uma ação corriqueira nas últimas semanas. Lera e relera aquele obituário tantas vezes... Lembrava-se de rir histericamente por alguns segundos no dia em que recebera seu jornal diário com a notícia estampada na capa.

Albus Dumbledore estava morto. "Tão morto como um prego de porta", parafraseando Dickens, e seu funeral se daria na tarde daquele dia, nos terrenos da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. 

Gellert não sabia dizer exatamente o motivo pelo qual havia guardado aquele obituário, publicado tanto tempo atrás. Lia-o todos os dias, às vezes mais de uma vez, guardando cada palavra em sua mente. Era difícil de acreditar... Albus estava morto. Havia partido daquele mundo.

Ele se enroscou melhor em seu fino cobertor quando chegou ao final do último parágrafo pela milésima vez. Uma sensação quase triste tomou conta do seu peito, e ele começou a pensar... Pensar em tudo o que havia acontecido até aquele momento.

 

"E pensar que nos conhecemos há tanto tempo... Albus, eu soube que queria conhecê-lo no momento em que coloquei os pés em Godric's Hollow. Muito se falava sobre o brilhante ex-aluno de Hogwarts entre os ínfimos bruxos daquela vila. Um feiticeiro incrivelmente talentoso que havia suprimido suas habilidades e renegado seu brilhante futuro em prol de cuidar da família que lhe restara depois de uma série de tragédias, um desperdício em termos mágicos, foi exatamente o que pensei da primeira vez em que o vi.

Seus intensos olhos azuis pareciam tristes naquela tarde, mas o sorriso, o sorriso sempre calmo não se apagava de seus lábios de jeito nenhum. Ainda me lembro de nossa primeira conversa. Andando pelo povoado, trocamos poucas informações além de nomes, idades e o que nos levara até ali. Albus, uma espécie de refugiado, escondia-se entre os Trouxas de Godric's Holow, tentando afastar-se do fantasma de seu finado pai que morrera em Azkaban por um crime que eu nem sequer considerava digno de punição. Já eu, apesar de fugir também de um passado, de certa forma, "condenável", estava ali por um motivo mais nobre.

- As Relíquias da Morte? – Albus perguntou-me em tom de surpresa enquanto nos sentávamos na mureta do cemitério, ao fim da tarde.

- Sim. Nunca ouviu falar delas?

- Claro que sim! Ouço sobre isso há anos, sempre quis saber se existiam de verdade...

- Fico feliz em dizer-lhe que, sim, elas existem, e estão por aí em algum lugar. – disse-lhe com um sorriso, vendo, pela primeira vez, alguma alegria na face de Albus – Vim até Godric's Hollow para fazer uma pesquisa sobre isso. Minha tia-avó Batilda disse que o último dos três irmãos, Ignotus Peverell, viveu e foi enterrado aqui. Queria ver o túmulo dele.

- Bem... Acho que podemos dar uma volta pelo cemitério... – Albus comentou, com alguma hesitação. Eu sabia o motivo disso. Mas, mesmo assim, decidi perguntar.

- Você tem hora para chegar em casa?

- Hm... Não exatamente... Bem, é que tenho irmãos me esperando. – respondeu-me um tanto envergonhado.

- Entendo. Tudo bem, não vamos demorar.

Eu desci da mureta e entrei no cemitério. Albus me seguiu com um sorriso animado e continuamos a conversar enquanto procurávamos pela sepultura do antigo detentor do Manto da Invisibilidade. Trocamos ideias, desejos. Aquele primeiro contato foi o suficiente para que o meu interesse pelo notável bruxo de olhos azuis se acentuasse ainda mais. Eu consegui perceber em pouquíssimo tempo que ele era muito mais do que aquilo que se comentava. Ele não era apenas brilhante – era tão brilhante quanto eu.

- Aqui, Albus. – chamei-o e Albus aproximou-se encantado para ver a tumba de Ignotus Peverell. Era apenas uma lápide simples, muito gasta e coberta de limo, onde as únicas inscrições visíveis eram o nome do cadáver que ali jazia e um símbolo, um pequeno símbolo... O símbolo das Relíquias da Morte.

- O símbolo... – ele murmurou.

- Sim... É o símbolo delas. Minha tia-avó Batilda estava certa, afinal. 

E aquele foi o primeiro sorriso cúmplice que trocamos. Certo de que minha busca finalmente estava evoluindo e decidido a ter Albus como meu aliado, levei-o para sua casa naquela noite. Despedi-me dele sob o olhar desconfiado de Aberforth, seu irmão mais novo, e rumei para minha própria casa ainda com os pensamentos fervilhando de novas idéias.

Eu precisava tirar Albus daquele domínio de medo e insegurança em que ele vivia. Não me parecia certo e muito menos justo que um bruxo tão talentoso precisasse se esconder do mundo e fingir ser apenas mais um Trouxa sem qualquer habilidade especial. 

Encontramo-nos novamente na manhã seguinte. Desta vez, conversando um pouco mais, enfim descobri a versão de Albus para a trágica história de sua família. Como seu pai havia sido condenado e preso por querer defender sua filha, e como essa mesma filha, perturbada depois de sofrer abusos indizíveis nas mãos de Trouxas, acabou matando acidentalmente a própria mãe, deixando para Albus a responsabilidade de sustentar e cuidar dos dois irmãos mais novos. Contou-me sobre seus planos frustrados, sobre como gostaria de poder viajar pelo mundo, conhecer coisas novas, sobre como sonhara em, um dia, alcançar o patamar de grandes bruxos e ser mundialmente reconhecido por seus feitos. Como gostaria de apagar a sombra de seu pai, de não ter mais vergonha ou medo de ostentar o próprio sobrenome. Como sonhara em ter sua família novamente completa, longe da maldade dos Trouxas que os colocaram naquela horrível situação...

- Mas você pode, Albus. Basta querer. Com o poder das Relíquias da Morte, tudo é possível.

Disse-lhe com entusiasmo. Albus ficou olhando para o céu limpo por um minuto inteiro, quase parecendo que não me ouvira. Seu corpo, deitado ao meu lado sobre a grama verde, virou-se um pouco na direção do meu e finalmente seus olhos focaram o meu rosto.

- Você acha, Gellert? Acha que podemos fazer isso?

- Tenho certeza, Albus. – respondi-lhe confiante – Imagine... Um mundo onde você não tenha mais de abaixar a cabeça para ninguém. Onde sua família poderá viver em paz, onde Ariana nunca mais será considerada uma aberração... Onde ela será bem cuidada, onde poderá ser realmente feliz. Com a ajuda das Relíquias, poderemos construir esse novo mundo, Albus. Um mundo governado por bruxos benevolentes e sábios, que cuidarão da segurança e bem-estar de todos para que nunca mais os Trouxas possam fazer o que fizeram com a sua irmãzinha. Um mundo de liberdade para todos nós.

- Isso parece um sonho, Gellert.

- Sei que parece. Mas vai ser uma realidade em pouco tempo. Você vai ver.

Um sorriso se formou nos lábios de Albus. Ele tornou a se deitar e, juntos, continuamos em silêncio a observar os desenhos que as nuvens formavam no céu. Uma coisa que eu gostava nele era que nunca falava demais. Era nos nossos longos silêncios que desenvolvíamos nossas melhores ideias e onde tudo parecia se encaixar. Mas naquele momento eu achava que podia dar algo mais para Albus pensar.

Inclinei-me sobre ele e o beijei. Foi um beijo curto, durou apenas o suficiente para que eu pudesse provar um pouco de sua boca e, em seguida, me afastei, tornando a deitar ao lado de Albus sem nada dizer. Não olhei diretamente para ele. Não precisei. Podia ver pelo canto dos olhos que Albus piscava freneticamente com uma expressão confusa no rosto que ardia rubro de vergonha. Eu apenas continuei sorrindo e esperei pela reação.

- Gellert... Por que fez isso? – perguntou-me finalmente, depois de alguns segundos.

- Porque eu quis, ora. – dei de ombros, rindo.

E ele não me perguntou mais nada. Riu baixinho, suas bochechas estavam coradas, mas ele não parecia nem um pouco incomodado. Eu sabia que era bem-vindo, afinal, Albus retribuíra ao meu beijo. De uma maneira desajeitada, mas retribuíra.

- Vai dizer que é a primeira vez que alguém te beija? – perguntei risonho, sem conseguir evitar exteriorizar o meu pensamento.

- C-claro que não! Eu já fui beijado muitas vezes! – Albus gaguejou um pouco, corando ainda mais. Não pude deixar de rir da expressão indignada dele. Não era difícil envergonhá-lo. Ele era muito tímido.

- Tá, esse é o momento em que eu finjo que acredito? – gargalhei.

- Idiota. E porque alguém não me beijaria? Eu sou muito bonito.

- Eu nunca disse que não era.

Albus sorriu novamente. Imagino que aquilo tenha soado como um elogio para ele. Àquela altura eu já sabia que o queria comigo. Albus seria uma parte essencial do meu plano. Meu braço direito.

- Eu gosto disso, Gellert.

- Do que?

- De atenção, carinho.

- Ninguém aqui falou em carinho.

- Eu falei, oras.

Rimos juntos e, depois disso, mais um longo silêncio se seguiu. Sei que alguém nos viu juntos naquela manhã. Os comentários sobre a nossa estranha amizade não demoraram a correr aquela vila. Se eu me importava? Claro que não. Nunca neguei a ninguém que sentia uma grande atração por ele. Por seu talento. Albus tinha um imenso potencial escondido. Apenas necessitava de atenção, de alguém que o incentivasse a desenvolver seu poder. E eu era essa pessoa. Eu podia explorar todo o potencial de Albus e dar a ele tudo o que ele precisava para se tornar um grande bruxo. Eu sabia que poderia torná-lo um aliado incrivelmente poderoso. E eu faria qualquer coisa para ver isso se concretizar.

Nossa busca secreta seguiu por mais de uma semana enquanto construíamos nossos planos e laços cada vez mais fortes nos uniam. O interesse de Albus por mim ficava cada vez mais evidente. Se sentíamos a mesma coisa um pelo outro? Acho que não. O sentimento de Albus com certeza era muito mais puro, transparecia em seus olhos sempre que ele sorria para mim. De meros desconhecidos com interesses em comum a melhores e inseparáveis amigos, e daí para algo mais íntimo, não demorou muito. Eu sabia que podia usar os sentimentos de Albus a meu favor. Não era sacrifício nenhum lhe dar toda a atenção que ele queria. Naquele momento, Albus já havia entendido minhas ideias e eu já havia descoberto que ele partilhava de todas elas com intenso entusiasmo. O desejo de estar sempre com ele surgiu naturalmente.

Em uma tarde, Albus e eu nos encontrávamos mais uma vez em meu quarto para discutir algumas novidades e revisar as imensas listas e apontamentos que havíamos feito durante aquela semana. Sentados sobre a cama há mais de três horas, cercados de rolos e mais rolos de pergaminho, não havíamos dito uma palavra sequer desde o momento em que chegamos ali. Era um trabalho cansativo. Eu sabia que era, mas Albus nunca reclamava. Parecia cada dia mais ansioso para ver o nosso novo mundo se tornar realidade. Era realmente animador.

- Albus. – chamei-o, deixando meus papéis de lado por um momento.

- Sim?

Selei seus lábios no momento em que Albus se virou para mim. Eu já não tinha mais nenhuma reserva quanto a isso. Beijava-o sempre que sentia vontade e nunca era repelido. Não foi diferente daquela vez. Ele permitiu que eu aprofundasse aquele contato sem hesitar, deixou que se prolongasse um pouco mais do que quando estávamos em algum lugar onde pudéssemos ser vistos. O sabor da boca de Albus sempre me fazia sentir desejo por algo mais.

Afastei-me devagar, dando o beijo por encerrado antes que pudesse ceder a uma tentação maior, e voltei aos meus apontamentos deixando apenas um sorriso por resposta à expressão de Albus. Surpreendi-me quando senti a mão dele segurar a minha novamente.

- Gellert... – ele sussurrou meu nome e, pela primeira vez, tomou a iniciativa para mais um beijo profundo. Aquilo me fez pensar que ele também queria ir mais longe. E eu claramente não podia deixar de atendê-lo.

Eu havia me comprometido a manter Albus sempre satisfeito. A cumprir todos os desejos dele para que ele cumprisse com os meus. Às vezes, por diferenças de caráter, nossas vontades conflitavam; mas não naquele momento. Não quando meus lábios devoravam os dele. Não enquanto eu jogava todos os pergaminhos para fora da cama e o acomodava no lugar deles. Não quando finalmente conseguia tocá-lo.

- Suponho... Que se eu dei o seu primeiro beijo... Você também não faça a mínima idéia do que é sexo, certo...?

Perguntei-lhe em um tom debochado nas pausas que fazia entre um beijo e outro que depositava em seu pescoço, vendo o fogo consumir o rosto de Albus mais uma vez. Ele se encolhia sob o meu corpo. Era claro que se sentia nervoso. Tão óbvio quanto o azul do céu diurno.

- Imbecil. – ele desviou o olhar – Claro que eu sei o que é.

- E já fez?

- Isso importa?

Eu ri e neguei com a cabeça, tomando-lhe os lábios apenas com o intuito de acalmá-lo. Não estava nem um pouco preocupado. Eu sabia perfeitamente como dar prazer a alguém, e Albus não era o primeiro virgem que eu possuía. Não precisei dizer mais uma única palavra para relaxá-lo e fazê-lo confiar em mim.

Explorei o corpo de Albus minuciosamente, conhecendo cada detalhe, fazendo-o descobrir zonas de prazer que ele nem sequer poderia ter imaginado até ali. Provei-o sem pudor algum, sem me conter. Sem negar nada a ele, lhe dei tudo o que eu poderia oferecer. E ele aceitou. Surpreendeu-me mais uma vez ao me acolher tão bem dentro de si. Não ofereceu resistência, nem me disse "não". Tão obediente que eu mal pude acreditar. Mais devagar, com mais força, eu atendia a cada pedido que ele me fazia com sua voz lânguida de desejo. Ouvi-lo gritar meu nome fazia com que arrepios me percorressem a espinha.

Devo admitir que nunca me senti tão dominante sobre Albus quanto naquele momento. Ele pedia por mim como um cão abandonado pede por carinho. E eu o devorava como um lobo faminto, extraindo dele cada gota de prazer que podia até que nossos corpos já não agüentassem mais. Somente então me permiti separar dele e, deitado ao seu lado, desfrutar dos últimos arrepios de um orgasmo estranhamente intenso.

Um longo silêncio se seguiu enquanto eu me recuperava daquelas sensações. Albus se aninhou sobre meu peito sem nada dizer e eu, entendendo o pedido mudo, acariciei-lhe os cabelos. Todo animal de estimação precisa de um pouco de carinho, afinal. Não que fosse algum tipo de sacrifício para mim. Quanto mais carinho eu lhe demonstrasse, mais obediente ele seria. 

- Gellert?

- Sim.

- Eu... Posso dormir aqui hoje?

- Claro. Quer tomar um banho?

- Não... Não agora.

Eu não parei para pensar no que aquilo significava naquele momento. Albus havia me entorpecido, sim. E isso se repetiu em todas as vezes em que o levei para a minha cama, sem precisar dizer uma palavra, ele se entregava sem pestanejar. Sexo e poder. Uma linda combinação.

Algumas semanas se passaram e, depois daquela noite, foram muitas outras em que Albus permaneceu em minha casa até o dia raiar. Seu comportamento se tornava cada vez mais dependente. Isso começou a me preocupar quando, em um final de semana particularmente agitado que tivemos, ele simplesmente não quis ir embora. Depois de muito trabalho e uma rápida visita a Ariana, Albus retornou comigo para mais uma longa sessão de sexo e, em seguida, deitado sobre meu peito como sempre fazia, suspirou longamente.

- Eu te amo... – disse num tom estranhamente feliz.

Eu não soube bem como reagir àquilo. Foi engraçado ouvi-lo dizer isso. Não consegui deixar de rir, rir alto como se ele tivesse contado uma piada muitíssimo engraçada.

- Por que está rindo?

- Porque foi engraçado.

- Mas não era pra ser.

- Ah, Albus, para de brincadeira.

Albus ergueu o corpo e ficou me olhando, parecendo bastante frustrado. Suas sobrancelhas estavam franzidas. Parei de rir na mesma hora.

- Gellert, é sério!  Eu... Eu realmente sinto isso. Eu amo você. De verdade.

Fiquei olhando para o rosto de Albus por algum tempo, buscando uma maneira de respondê-lo. Caso me perguntassem se, um dia, eu cheguei a amar Albus Dumbledore, eu seguramente poderia dizer que sim. Se o amor é posse e poder, se estar apaixonado significa desenvolver uma forte obsessão e desejar possuir tudo o que aquela pessoa é e tem, se é desejar seu corpo e sua alma para si, então, certamente, eu o amava, não tenho dúvidas quanto a isso. Mas era algo estranho para se pensar naquele momento, estranho demais para se pensar em qualquer momento. Inclusive agora.

- Albus... Obrigado. – sorri para ele e o puxei para um beijo lento e carinhoso. Aquela resposta parecia apropriada e Albus não pareceu se incomodar. Depois de encerrado o beijo, ele suspirou novamente e me abraçou para dormir. Mas eu não pegaria no sono assim tão facilmente.

Eu havia estabelecido com Albus um tipo de relação muito mais profunda do que pretendia. Ele se tornava cada dia mais apegado a mim e eu, sem pensar, o retribuía à medida do possível para não entristecê-lo. Eu estava incentivando aquele comportamento. O quão perigoso isso poderia ser? Eu não fazia a mínima idéia, e de repente, manter Albus como uma parte fundamental do meu plano não parecia ser mais tão genial assim.

Mas foi aí que eu comecei a pensar: eu o dominava facilmente. Albus era ao mesmo tempo meu escravo e amante, na verdade, o melhor que eu poderia ter: ele me atendia sem questionar, sem hesitar, e tudo o que eu precisava dar em troca era um pouco de atenção. Demonstrar-lhe carinho era fácil e isso apenas o mantinha ainda mais preso a mim. Eu poderia governar não apenas sobre bruxos e Trouxas, mas sobre ele também. Eu com certeza saberia usar melhor o talento de Albus. Melhor do que ele mesmo.

Mas havia aquela maldita pedra no caminho... Aberforth. O pequeno endiabrado, me odiava com todas as forças! Sempre tentando convencer Albus a se afastar de mim. Naquele dia a discussão foi longe demais... Aberforth temia que a nossa busca acabaria deixando Ariana abandonada, que nossa ambição não deixaria espaço para que meu companheiro pensasse no bem da irmã. E Albus começou a acreditar nesse absurdo... Mas quem poderia prever o que aconteceria?

- Albus, não há meio de Ariana acompanhar você nessa sua louca busca por poder, será que não entende isso?! - ele gritava, e a raiva me subia como veneno pelas veias. - Sua ambição não tem limite, nem mesmo que isso custe abandonar a sua irmã?!

- Mas que garotinho estúpido você é. - rebati, não queria que Albus ficasse confuso, tinha que calar a boca de Aberforth. Não podia deixá-lo interferir, não... O nosso objetivo estava tão bem definido, tínhamos tantos planos... Tínhamos tudo! - Tentando ficar entre mim e Albus... Ele é um bruxo brilhante demais para ficar escondido! Você não percebe, garoto, não consegue ver? Depois que mudarmos o mundo, quando os bruxos saírem da escuridão e ensinarem ao trouxas o seu devido lugar, Ariana não precisará mais se esconder, ela estará segura!

Eu podia sentir o ódio me consumindo, Aberforth estava se colocando no meu caminho e nada poderia ficar entre mim e Albus, nada... Nem mesmo ele.

Se alguém me perguntar hoje, não sei dizer em que ponto da discussão Aberforth ergueu sua varinha. Eu apontei a minha para ele, e Albus para mim. Nos encaramos... E foi de mim que partiu o primeiro ataque. Aquele era um duelo de três lados, impossível que qualquer um de nós vencesse, mas eu estava cego de raiva... Nada me pararia. Nem mesmo o som dos feitiços ricocheteando, nem mesmo os gritos que cortaram meus ouvidos logo em seguida. 

- Não briguem!

- Ariana, não...!

Eu me lembro bem da sensação de estar debaixo da água por um longo tempo quando tudo o que eu podia ouvir era o som de um corpo caindo no chão. Em câmera lenta o belo rosto de Albus se distorceu em uma careta de pavor enquanto Aberforth segurava nos braços o corpo sem vida da irmã mais nova, e em seguida, foi como se emergisse da água fria; eu respirei desesperadamente. 

Nunca vou me esquecer da sensação de medo que tomou conta de mim naquele instante. Medo de sofrer as consequências legais por estar envolvido na morte de uma bruxa. Medo que Aberforth se levantasse e de fato unisse forças com o irmão para me matar. Mas, acima de tudo, o meu medo mais profundo era que Albus jamais fosse capaz de me perdoar. Que nossa amizade acabasse ali.

Eu fugi como um covarde, sem saber o que fazer ou quem de nós havia disparado o feitiço que levou a vida da pequena Ariana. O olhar no rosto de Albus ainda está guardado no fundo da minha mente. Mesmo depois de todos estes anos.

Sei que intencionalmente nos evitamos durante anos. Enquanto Albus começava sua medíocre carreira de professor em Hogwarts, eu pensava que estava conseguindo o meu objetivo. O Bem Maior estava se concretizando. Eu me tornei viciado no poder. Havia perdido a chance de dominar sobre aquele a quem eu dedicava meus mais profundos desejos, mas mesmo assim eu ainda podia dominar o mundo bruxo. Subjugar os trouxas. Ser o maior de todos os tempos.

Novamente, não poderia prever o que viria. Derrotado por Albus, vim parar neste lugar. Minha fortaleza se tornou minha própria prisão e a noite já está caindo, e da felicidade que senti semanas atrás ao ler esse obituário pela primeira vez não sobrou nada. Albus Dumbledore está morto e não sinto nenhum prazer nisso. Décadas esperando por este momento... E nem sequer consigo apreciá-lo.

Ouço um estalo vindo da janela e de repente não consigo ver nada além de um manto negro e um par de olhos que brilham num tom de vermelho profundo. Uma face macilenta se projeta em um sorriso doentio, a face de uma cobra quase humana ou o contrário. Diante dos meus olhos já cansados na escuridão, está ninguém mais, ninguém menos, que o auto-proclamado Lorde das Trevas. Não contenho o riso. Eu sabia que ele viria.

- Então, você veio. Eu imaginei que viria... Um dia. Mas a sua viagem foi inútil. Eu nunca a tive.

- Você mente!

Posso sentí-lo tentando entrar em minha mente, mas não há como Voldemort vencer essa batalha. Ele é só um idiota com poderes e que não faz ideia do que é importante... Talvez, como eu também um dia fui.

- Mate-me então, Voldemort! - ordeno. Não temo a morte. Já passou da hora de acertar as contas com o meu passado. - Mas minha morte não lhe trará o que busca... Há tanta coisa que você não compreende...

Rio-me mais uma vez, o quão tolo aquele arremedo de homem poderia ser... Tão tolo quanto eu um dia fui, mas não mais. Nunca mais.

Vejo a fúria de Voldemort crescer diante dos meus olhos e eu me sinto cada segundo mais perto da morte. Não importa. Ele jamais terá o que deseja.

- Mate-me então! Você não vencerá, você não pode vencer! Aquela varinha jamais, em tempo algum será sua...

E enquanto eu sinto a risada explodindo em meu peito diante da expressão de Voldemort, posso ver um lampejo de luz verde enchendo minha cela. Não sinto medo, mas quietude; meu último voto de lealdade é seu, Albus.

A escuridão vai me levar de volta para você."

 

Gellert Grindelwald morreu em sua cela em Nurmengard, a prisão que ele mesmo construiu para abrigar seus inimigos, em 1998. Alguns dizem que seu ato de coragem diante de Voldemort se deve ao profundo desprezo que ele sentia pelo bruxo, mas somente ele sabia o quanto havia esperado por aquele momento. O momento em que poderia ficar em paz consigo mesmo. Se redimir por seus atos. E com seu melhor amigo.
Talvez, pudesse encontrar Albus mais adiante... E quem sabe, pela última vez, pegar o trem.



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