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História A Mulher que ela Ama Odiar - Dez anos depois


Escrita por: QueenShipper

Notas do Autor


Oi gente...
2º Cap espero que gostem....
Beijos.
K. @kellen_vasconcelos (instagram) @gaga_kellen (twitter)

Capítulo 2 - Dez anos depois


Fanfic / Fanfiction A Mulher que ela Ama Odiar - Dez anos depois

Dez anos depois

Regina Mills poderia muito bem estar carregando um corpo morto, tamanha a dificuldade envolvida. Mas não havia nada mais que pudesse fazer, portanto ela puxou e empurrou a caixa de papelão até conseguir colocá-la sobre o trenó motorizado e prendeu-a no lugar.

Era hora de ir. Já passara da hora, para dizer a verdade, mas Regina virou-se para trancar a porta da cabana. Tudo ali estava como deveria. Limpo, arrumado e absolutamente impessoal. Missão cumprida. .

Ela se acomodou no assento do motorista do trenó motori­zado e se dirigiu para o bondinho, o teleférico fechado, onde perdeu mais algum tempo colocando a caixa ali dentro. De lá, Regina seguiu para a torre de controle da estação de esqui e estacionou na vaga ao lado da porta.

O trenó motorizado era de Killian. Assim como o casaco pesado que ele insistira que Regina usasse antes de deixá-la sair para a cabana. O radiotransmissor que trazia no bolso também era dele. Killian usara o aparelho alguns minutos antes para avisá-la, com toda sua autoridade de funcionário responsável pela estação de esqui, que deveria se apressar porque o clima estava piorando. A última gôndola desceria a montanha em cinco minutos e era bom que ela estivesse lá dentro.

Cada coisa em seu lugar. Regina se lembrou da frase que Killian usava sem parar com todos que trabalhavam no alto da montanha, enquanto deixava tudo arrumado e trancava o depósito.

— Acabou? Murmurou Killian, quando ela entrou na sala de controle e fechou a porta.

— Acabei. Regina deixou as chaves do trenó motorizado no porta-chaves perto da porta e colocou o rádio no carregador, sobre o balcão. Ela também tirou as chaves da cabana do bolso e estendeu-as para Killian, — Mamãe disse para lhe entregar isto, também.

Como Killian não fez menção de pegá-las, Regina deixou as chaves sobre o balcão. No que dependia dela, jamais iria querer ver aquelas chaves novamente. Não podia culpar Killian por se sentir da mesma forma.

— Nunca engoli muito bem esse arranjo — resmungou Killian.

— Bem, você não é exatamente a minoria, nesse caso. — Ela só se permitiria ser tão sincera com Killian. Qualquer outra pessoa receberia em resposta apenas um silêncio hostil e desafiador, um mecanismo de defesa que datava de sua adolescência.

— Mas está acabado, agora.

A morte tinha um modo todo próprio de encerrar as coisas.

— Como está sua mãe? — perguntou Killian. — Ela foi ao funeral?

— Não — respondeu Regina, com a voz cansada. — É claro que não. Ela foi dar um passeio pelo lago. Acredito que vá se despedir dele lá.

— Cora vai trabalhar no bar esta noite? — quis saber Killian e Regina assentiu.

— Sim. A propósito, você está convidado a descer para be­ber em honra ao morto, esta noite. Discretamente, é claro, mas é por conta da casa.

— Ela o amava — comentou o homem, irritado. — Pelo menos isso, você precisa admitir.

— Eu sei. É só que... — Regina tentava ao máximo não ser amarga, mas acabara de passar a tarde removendo todos os traços da presença da mãe da vida auto-indulgente de Sr.Gold Swan. No processo, ficara muito claro tudo de que a mãe abrira mão por causa dele e o que recebera em troca. — Eu sei.

O mau humor de Regina não era culpa de Killian. Assim como não fora culpa dele ter tido o azar de se ver responsável por tomar conta da jovem Regina, toda vez que Cora Elizabeth Mills subia até a cabana para ficar com seu amante casado. E isso se estendera até Regina ter idade o bastante para não precisar mais de babá.

Killian a ensinara a esquiar, lhe mostrara a montanha e a man­tivera em segurança em relação a tudo que estava a seu alcan­ce. Só que isso não incluía a amarga realidade. Nada poderia manter Regina a salvo da realidade.

A vida de Regina havia mudado completamente depois que o romance entre Sr.Gold Swan e Cora Mills viera à tona. A garota perdera os amigos e não tivera disposição para fazer novos. E quando os garotos começaram a prestar atenção nela — o que não demorou a acontecer Regina descobrira que suas antigas amigas poderiam ser inimigas furiosas e invejosas que sabiam exatamente como magoá-la profun­damente.

— Você vai ficar aqui em Storybrook por um tempo? — per­guntou Killian. — Para ajudar sua mãe a se adaptar?

Regina deu de ombros.

— Posso ficar por mais duas semanas. Depois terei que voltar para o trabalho, em Boston.

— Ouvi dizer que conseguiu um emprego como desenhis­ta lá.

— É verdade. — O talento e uma ferrenha determinação ha­viam lhe conseguido um emprego como artista gráfica em uma empresa de efeitos especiais para o cinema. O trabalho garan­tia que ela não precisasse lidar com a realidade ao longo do dia. O que era ótimo.

— Você poderia fazer seu trabalho daqui?

— E por que eu iria querer isso?

— Não sei. — Killian pareceu hesitar. Ele coçou a cabeça e franziu o cenho. — Talvez você se sinta diferente aqui, agora que o Sr.Gold se foi.

— Não sei por que me sentiria. Elsa ainda está aqui. Assim como Emma. E a viúva de Gold. — A reclusa Ingrid Swan. Eles ainda são donos de metade da cidade. E nunca facilitaram nada para uma Mills.

Não foi fácil para nenhum de vocês — comentou Killian. — Talvez agora seja um bom momento para deixarem de lado antigas desavenças.

— Você está sendo racional — disse Regina. — E a relação entre os Mills e os Swan nunca foi racional.

— Não precisa ser assim — falou Killian.

— Sim, precisa — disse ela baixinho, e se abriu para ele, porque Killian era bondoso e a conhecia melhor que a maioria das pessoas. — Killian, não quero voltar para Storybrook. Aqui, estava sempre me escondendo das pessoas, usando máscaras para que os outros vissem o que queriam ver. Já em Boston...

— Ela deu de ombros. — Lá eu finalmente consegui coragem para deixar as máscaras de lado e simplesmente ser eu. E gosto de ser eu.

Estava na hora de ir embora.

— Já está pronto para mandar a gôndola lá para baixo? — Estou só esperando outro passageiro.

— Quem? — A estação de esqui estivera fechada desde a hora do almoço por causa do tempo ruim.

— Emma.

— Que Emma? — Mas Killian não respondeu. Nem a encarou. Regina sentiu o estômago queimar. — Emma Swan está aqui no alto da montanha?

— Subiu poucas horas atrás. Está no mirante.

— Fazendo o quê?

Killian deu de ombros.

— Mas... Como ela pode estar aqui? — Regina planejara sua incursão à cabana para uma hora em que nenhum membro da família Swan estaria nem perto dali. — Por que ela não está no funeral do pai?  

— Eu não perguntei. A mulher não estava querendo conver­sa, Regina. Queria espaço.

E agora elas dividiriam o espaço durante todo o cami­nho de volta, montanha abaixo. Emma Swan, Regina Mills e uma caixa cheia de evidências do caso de amor de 12 anos da mãe dela com seu pai.

— Que ótimo... — murmurou Regina. — Há alguma chance de conseguir que Emma desça em outra gôndola?

— Não — respondeu Killian. — Acabei de receber o alerta de nevasca. Vocês têm sorte por eu estar disposto a colocar esta em movimento. — Ele olhou pela janela de cabine de controle e acenou com a cabeça. — Hora de ir, garota. Lá está Emma.

Regina seguiu o olhar de Killian. E lá estava ela. Emma Swan. Andando a passos largos na direção da gôndola, os cabelos loiros soprados pelo vento e o rosto bonito abaixado para se proteger do vento forte. Uma mulher tão imprevisível, temível e sexy, que sempre a fazia se encolher por dentro.

— Que ótimo... — disse Regina, irritada.

Ela pegou um gorro velho de lã com proteção para as ore­lhas, em um gancho na parede, e colocou sobre o que já usava.

Também enrolou um cachecol preto ao redor do pescoço e co­locou óculos de esqui. Killian a encarava, impassível.

— Pelo que vejo, vai ficar com meu casaco — disse ele.

— Eu o devolverei amanhã. — Ela checou o próprio visual e ficou satisfeita ao ver que não estava nada feminino.

— Os cabelos — ajudou Killian.

— Oh. — Ela tirou os dois gorros, enrolou os cabelos no alto da cabeça e voltou a colocar os gorros. Seus cabelos negros a distinguiam ao lon­ge. Os homens ficavam fascinados por eles. Regina gostava dos próprios cabelos, mas naquele momento queria que ficassem escondidos. — Está melhor?

— Você parece uma prima do ET do Alaska — respondeu ele. Pelo que entendi, essa é a intenção.

— Sim. — Ela voltou a colocar os óculos.

— Ou você poderia ser você mesma — murmurou Killian.

— Não, eu realmente não poderia. Nesse momento sou JT. J de Josh. E trabalho para você.

— Vá logo disse Killian, revirando os olhos. E quando Regina se inclinou para abraçá-lo, ele se esquivou. — Pelo amor de Deus, não me beije.

— Como quiser. — Regina lhe deu um tapa bem masculino no braço. — Nos vemos no bar, à noite?

— Se o tempo melhorar — resmungou Killian, relanceando o olhar para a tela do computador à sua frente. — E isso não vai acontecer. Diga à sua mãe que descerei amanhã à noite.

— Farei isso.

— E diga a ela que sinto muito por sua perda. Não esqueça.

— Eu direi — falou Regina, grata pela profunda compreensão que Killian tinha da posição de sua mãe. Cora Mills, proprie­tária do Apple Bar que, pelo que diziam, havia sido um presente de Sr.Gold Swan, não receberia muita simpatia de ninguém pela morte de Gold. Ela teria que lamentar a perda do amante em um silêncio solitário.

Killian olhou para o céu, pela janela da torre.

— Boa sorte, pequena. Mantenha a cabeça baixa e feche a porta depois que sair.

Killian achava pouco provável que Regina fosse conseguir enga­nar Emma por todo o tempo da descida. Seus empregados não eram tão pequenos. Nem tinham aquela pele de oliva, ou os lábios carnudos, aquela cicatriz... E os olhos da cor de avelãs.

Sem dúvida os olhos de Regina a entregariam. Ninguém ti­nha olhos como os das mulheres Mills. Não daquela cor. Ou com aquela expressão de... Desafio cintilando no fundo. Era um fato: homens e mulheres podiam se perder em seus olhos profundos e nunca mais voltar à superfície.

Killian já vira isso acontecer. E fora testemunha da carnifici­na que causara.

Emma Swan abaixou a cabeça e apressou o passo na direção da gôndola. O tempo estava combinando com o seu humor: terrível e imprevisível, as emoções indo da tristeza à raiva e ao arrependimento. Ela não fora capaz de acompanhar todo o funeral do pai. Tantos louvores haviam embrulhado seu estô­mago, e o sofrimento genuíno da mãe alimentara sua fúria. A ansiedade da irmã pedindo para que ela, por favor, não tornasse as coisas piores, apenas cimentara sua decisão de sair correndo antes que amaldiçoasse o pai para que queimasse no inferno por toda a eternidade.

E, para isso, não haveria volta.

Naquele momento, desejara uma mulher em que pudesse se perder — e havia muitas ao redor —, mas mesmo aquele pe­queno conforto fora manchado pelo legado do pai de negli­gência, irresponsabilidade e apetites que não eram facilmente saciados.

No que dizia respeito às mulheres e às relações sexuais, Emma também não se satisfazia facilmente. E nenhuma mulher merecia o uso insensível que ela faria de seu corpo naquela noite. Era melhor para todos que ela simplesmente praticasse o que seu falecido pai nunca praticara e ficasse sozinha. Preferira ir para a montanha, para prantear o pai à sua própria maneira. Ou não.

Os teleféricos fechados, as gôndolas, eram uma novidade na montanha, que contara com seu apoio. Atualmente, os esquiadores apreciavam o conforto,

Emma levantou os olhos para a torre de controle das gôndo­las e acenou para Killian. Não sabia por que o homem não com­parecera ao funeral, já que sempre fora completamente leal ao Sr.Gold Swan.

Um jovem muito agasalhado saiu da torre e se encaminhou na direção da gôndola que aguardava. Emma sacudiu a neve do casaco e passou a mão pelos cabelos assim que se viu sob a co­bertura da estação de embarque. A porta da gôndola se abriu, e havia uma caixa fechada com fita adesiva logo na entrada da porta, Emma foi até o lado oposto e se apoiou contra a parede, as mãos nos bolsos do casaco para aquecê-las, enquanto esperava o garoto chegar. Emma não usava roupas de esquiador. Por baixo do, sobretudo de lã pesada, ela estava vestida para um funeral. A única concessão que fizera à montanha tinha sido trocar os saltos por botas de neve.

E não fora o bastante. Não para aquele tempo.

O jovem finalmente entrou na gôndola, espalhando neve enquanto fechava a porta atrás de si. Era pequeno para ser um dos empregados de Killian, pensou Emma, distraída. O garoto se acomodou ao lado da caixa, com os pés separados, os joelhos levemente dobrados, apoiado contra a parede e a janela, do mesmo modo que a própria Emma fizera. Pelas roupas e pelo jeito, devia ser um snowboarder, e parecia ser do tipo que aproveitava ao máximo o prazer de cada manobra, sem ter que provar nada a ninguém, apenas a si mesmo.

Emma o invejou.

Os próximos meses dela, Emma, seriam passados com ban­queiros e acionistas, tentando provar que era tão bom quanto seu pai fora, no que dizia respeitosa tocar as empresas da família. Afinal, havia sido criada desde o berço exatamente para isso.

Dois anos atrás, Sr.Gold Swan descobrira que não teria mais muito tempo de vida. Desde então, vinha passando o controle dos negócios para Emma, ensinando o que fazer e o que não fazer. Levando a filha admirá-lo e, mais, fazendo Emma passar a se importar com os negócios que estavam em suas mãos e com as pessoas que empregavam.

Gold Swan estava sempre dois passos à frente em tudo, exceto quando achou que sua esposa bem-nascida e sua aman­te sensual poderiam coexistir pacificamente naquela cidade. Nesse caso, o homem fora um tolo.

Emma sabia o que o pai vira em Cora Mills, não era cego quando menina, assim como não era agora. Era uma sensua­lidade que parecia ferver em fogo brando e que atingia, um homem como um soco no estômago, despertando sem piedade seus desejos mais profundos. E Cora se dispusera a satis­fazer plenamente esses desejos, o que provavelmente à mãe puritana e bem-criada de Emma não fazia.

E o pai resolvera ter tudo, o tempo todo, sem se importar com o sofrimento que causaria aos que estavam a seu redor.

A gôndola saiu da proteção das paredes da estação e foi sacudida com força pelo vento forte, enquanto a neve batia nas janelas. Emma e o garoto, em um reflexo automático, le­vantaram os olhos para checar o cabo. O garoto relanceou o olhar para o interfone em uma das paredes, como que para se certificar de que poderia entrar em contato com Killian em caso dc necessidade.

— A tempestade ainda está distante, de acordo com a meteo­rologia — disse o garoto, com a voz abafada pelo cachecol.

Emma assentiu. E, pelo jeito de o garoto falar, por sua postura, imaginou que ele devia ser alguns anos mais velho do que pensara a princípio. Não era possível julgar a idade dele pelo rosto, afinal a única coisa visível era o nariz.

Deus, que nariz...

Emma afastou os olhos. Rápido.

Que diabos estava acontecendo com ela?

Outro golpe de vento sacudiu a gôndola com força, fazendo com que, mais uma vez, seus dois ocupantes levantassem os olhos para o cabo que os sustentava.

Mais uma vez, o garoto olhou para o interfone.

E Emma voltou a examinar o que podia ver do rosto do garoto sob o chapéu, os óculos e o cachecol. E afastou os olhos, inquieta.

O vento pareceu acalmar e a gôndola já não balançava tanto, não havia nada com que se preocupar em relação a isso. Mas havia muito com que se preocupar no que dizia respeito à reação dela ao suposto empregado de Killian. Aquele realmente não estava sendo um bom dia. Por muitas razões...

Mas faltavam apenas 11 minutos de descida.

Não adiantava olhar pela janela, à visibilidade era zero.

Também não parecia recomendável ficar olhando para o garoto.

Restava a caixa.

Estava úmida, mas bem lacrada. Mais preocupação com a eficiência do que com a elegância, assim como o jovem a seu lado.

O garoto parecia inquieto. Emma controlou a vontade de olhar para ele e manteve os olhos colados à caixa.

Agora faltavam apenas dez minutos. A gôndola começou a subir quando se aproximou do primeiro dos sete cabos de conexão da torre. Emma sentiu os cabelos da nuca se arrepia­rem quando percebeu que agora era o jovem que a estava examinando.

E seu corpo ficou quente ao sentir o olhar do outro.

A gôndola estremeceu, deu um solavanco e parou.

O coração de Emma saltou no peito e continuou a bater ace­lerado. Provavelmente Killian só diminuíra a velocidade do te­leférico por causa do vento e da proximidade da torre. Mas a gôndola não se moveu nem mais um centímetro, ficou exata­mente onde estava balançando com força.

Emma manteve a mão levemente apoiada no corrimão e foi até o interfone.

— Killian, você está aí?

Mas Killian não respondeu. Aquilo não era bom. O rapaz não disse nada, continuou apenas observando Emma por trás daque­les malditos óculos de esqui, enquanto mordia o lábio inferior.

— Killian — grunhiu Emma. — Pode me ouvir?

Quando novamente não houve resposta, ela devolveu com força o fone à base e pegou o telefone celular no bolso do ca­saco. Estava sem sinal. Não que Emma tivesse muito esperança a respeito.

Droga.

O rapaz também tirou um celular de dentro de suas várias camadas de roupas e pressionou alguns botões com as mãos enluvadas.

— Também não consigo sinal — murmurou ele.

— Vou tentar falar com Killian novamente daqui a pouco — resmungou Emma.

Dez minutos de um silêncio desconfortável se passaram, pontuados pela fascinação que Emma continuava a sentir pelo rapaz e que não queria nem tentar entender.

— Alguém já deveria ter entrado em contato conosco — disse o jovem, por fim.

O que o rapaz não disse foi que o fato de Killian não estar seguindo o protocolo padrão provavelmente significava que ele estava enfrentando problemas lá em cima e só Deus sabia o que acontecia em baixo. O protocolo padrão de operação deixava claro que deveria haver alguém na base, ou a gôndola não poderia estar em movimento.

— O radiotransmissor está funcionando — disse o jovem. — Vou tentar outras freqüências. Pode ser que alguém responda. — Qualquer uma serviria.

Mas nas outras frequências não houve resposta alguma, apenas estática.

Outros cinco minutos se passaram. O rapaz manteve a mão apoiada no corrimão e continuou a olhar para cima, para o cubo que os sustentava. Emma conseguiu ver a pele oliva sob o cachecol e o queixo que com certeza jamais vira uma lâmina de barbear.

Pele de marfim? Em um operário da estação de esqui?

— Quantos anos você tem? — As palavras saíram antes que Emma conseguisse se conter. — Quatorze? — Se fosse assim, então o garoto nem sequer chegara à puberdade. — Quinze?

Mais velho — disse o rapaz.

— Quanto mais velho?

— Bastante.

— Bastante? — Que tipo de resposta era aquela?

— Dezenove anos — disse o rapaz rapidamente.

— É mesmo? — comentou Emma, desconfiada.

Ela voltou a examinar o garoto, como se buscando por... O que exatamente? Respostas? Uma razão para o fascínio que sentia? Porque ela nunca sentira o que sentia naquele momento. Não por um homem que dirá um rapaz. E não gostava nem um pouco da idéia de come­çar agora.

Mais alguns minutos se passaram no mesmo silêncio des­confortável.

Então Emma voltou a checar o relógio. E relanceou o olhar para o rapaz que continuava usando os óculos de esqui. Por que, se estava preso na gôndola?

— Você mora na cidade? — perguntou Emma.

O garoto assentiu.

— Mora sozinho? — Emma precisava esclarecer aquela situa­ção. Com urgência. — Alguém vai perceber sua ausência e dar o alarme?

— Eu não contaria com isso. Minha... — O rapaz hesitou. — Minha Colega de quarto não está na cidade esta tarde e vai trabalhar até a noite. Estou por minha conta.

Emma suspirou e enfiou as mãos nos bolsos do casaco. Tal­vez o garoto realmente tivesse 19 anos, fosse de baixa estatura, namorasse uma garçonete também baixinha e estivesse muito feliz com a própria vida.

Bom para ele.

— E quanto a você? — perguntou o rapaz. — Tem algum com­promisso?

— Sim.

— Então... Sentirão sua falta?

— Duvido — murmurou Emma. E se a mãe e a irmã dessem por falta dele, provavelmente se sentiriam aliviadas com sua ausência. — Eu diria que é melhor não contar que alguém dê o alarme por causa da minha ausência.

Mais silêncio, quebrado apenas pelo barulho dos flocos de neve batendo no vidro da gôndola.

— Ao menos temos abrigo — disse Emma. Só era uma pena que estivessem a tantos metros de altura e pendurados por um cabo... No meio de uma nevasca. — O que há na caixa? — perguntou ele.

— Como? — retrucou o garoto, parecendo surpreso e assus­tado ao mesmo tempo.

— A caixa — repetiu Emma mal-humorada. — O que há nela? Alguma coisa que possamos usar?

— Como o quê, por exemplo? — perguntou o rapaz, a voz abafada e o rosto ainda escondido.

— Como comida e cobertores — respondeu Emma. — Com um pouco de sorte, poderia haver uma garrafa de uísque também.

  — Não há uísque ali dentro — murmurou o jovem. — São só coisas minhas. A maior parte pronta para ir para o lixo. Estou indo embora da montanha hoje.

— Você foi demitido?

— Não.

— Recebeu uma oferta melhor?

— Sim.

— Algum lugar aqui por perto? — Agora a estação de esqui era de responsabilidade de Emma e ele precisava saber se estava havendo algum problema com os empregados, ou se eles estavam pedindo demissão para ir trabalhar em outras estações de esqui próximas.

— Em Boston — falou o garoto.

Não havia estações de esqui em Boston.

— Fazendo o quê?

— Nada parecido com isso — respondeu o jovem.

A conversa morreu novamente. O rapaz sentou sobre a caixa e pegou novamente o celular no bolso. A julgar pelo modo como franziu o nariz, ainda não havia sinal. Não podiam fazer nada além de sentar e esperar. Ou ficar de pé e suspirar.

— Tem certeza de que não há nada na caixa que possamos usar? — perguntou Emma, por fim. Não era do feitio dela bisbilhotar, mas já estavam presos ali há quase uma hora, cada vez ficava mais frio e ela precisava de uma distração. — Até lixo pode ter algum uso.

— Não neste caso respondeu o jovem. — Acredite em mim, não há nada nesta caixa que você queira ver.

— Se você acha que essa resposta vai diminuir a minha curiosidade, está muito enganado — comentou Emma.

O rapaz deu de ombros e não respondeu nada. Emma conti­nuou a cismar sobre o conteúdo da caixa.

— Escute garoto. Imagine que alguma coisa como uma bar­ra de chocolate, por exemplo, tenha ido parar na caixa sem querer. Ou cinquenta barras. Ou um computador que ninguém usa. Ou até mesmo equipamentos de esqui que não lhe perten­cem. Você acha mesmo que, sob essas circunstâncias, eu me importaria com isso?

— Você acha mesmo que não se importaria? — retrucou o rapaz. — Levando-se em consideração que seria de sua família que eu estaria roubando... De qualquer modo, não há nada rou­bado na caixa. São só tranqueiras.

— Se isso é verdade — murmurou Emma, com a voz suave e perigosa —, porque está tão relutante em me mostrar? — Quan­do o garoto não respondeu, ele continuou. — Então... Você sabe quem eu sou.

O garoto, adolescente, jovem, ladrão filósofo, o que quer que ele fosse, assentiu.

— Eu deveria saber quem você é?

— Não.

— Porque você me parece familiar.

— Não sou.

— Mas você cresceu em Storybrook, não foi? — O rapaz nem se dignava a olhá-lo nos olhos e, por algum motivo, isso irritou Emma. Era pedir demais poder encarar uma pessoa nos olhos?

— Você não me conhece — falou o garoto obstinadamente. — Você não precisa saber quem eu sou.

— Se levarmos em consideração que estamos presos aqui, discordo. — Emma não achava que estava bisbilhotando, só queria saber o que o garoto tentava esconder. — Ninguém lhe deu um mínimo de educação? Não lhe ensinaram que é de bom tom se apresentar?

— Não.

— Já está na hora de aprender. — Eles não precisavam nem trocar um aperto de mãos. Aliás, não queria toques de nenhu­ma espécie. — Sou Emma Swan. Emma para a maioria. Swan, se você preferir. Agora é sua vez.

— Josh — falou o rapaz com relutância.

— É de praxe dizer também o sobrenome.

—Não de onde eu venho.

— É justo. — Emma concedeu aquilo ao garoto. Afinal, não seria difícil puxar o arquivo dele depois que saíssem da gôndola. Mas queria outro tipo de informação. Queria ver os olhos do garoto. — Vai tirar esses óculos de esqui, Josh?

— Não estava planejando fazer isso — disse o rapaz, os lábios agora descobertos e com uma sexy cicatriz se curvando em um sorriso que fez Emma ofegar. Espera sexy cicatriz???!!!! Ofegar??!!!. A postura do garoto havia mudado sutilmente e Emma ficou confusa.

— Swan, se quiser me despir, basta dizer — sussurrou o garoto. Embora se formos observar as regras de educação, você deveria me pagar um drinque antes.


Notas Finais


Espero que tenham gostado comentem !!!!!!!!


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