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História A Neve. - Capitulo Único.


Escrita por: Oiegabs

Notas do Autor


Aprecie o conto, pois nossas vidas não são nada além de contos juntos, misturados e entrelaçados.
Gabriele^^

Capítulo 1 - Capitulo Único.


Fanfic / Fanfiction A Neve. - Capitulo Único.

 

A neve caia estonteante ao lado de fora. A cada momento que eu respirava contra o vidro, o mesmo embaçava. Com meus dedos eu desenhava, mas em seguida apagava.

Fazia meses que eu não o via, seu rosto borrado em minha mente lembrava-me constantemente da saudade que sentia. Através de algumas fotos, seu sorriso doce ainda vivido alegrava meu coração triste. Onde estaria agora o homem bronzeado que me abandonara na esperança de sua volta?

Sem bebericar nem mesmo uma gota de meu café já frio, fito o liquido escuro que guia-me naturalmente aos olhos escuros dele. Tão escuros que mais parecia um poço sem fim. Um poço de ternura e aconchego que eu encontrava apenas em seus braços. Apenas nele.

Volto minha atenção para o quintal todo branco. Em meio aos flocos intensos que cai, tenho a impressão de vê-lo. Meu coração acelera com a impossibilidade. Eu sabia que não era Ricardo, ele havia partido há quase dois anos rumo a Portugal. Ricardo era poeta e seguiu seu sonho de apresentar-se em palcos estrangeiros, e por algum tempo deu certo. Ricardo fora assassinado meses depois de sua viagem por águas agitadas do mar pertencente à Algarve, sul de Portugal. Deixou-me assim, sem despedir-se.

Visto todos os casacos que necessito para enfrentar o frio rigoroso que caia ao lado de fora de minha casa. Calço o par de botas que ganhei de meu irmão mais velho assim que mudamos para cá. Resistente.

O ar gelado acerta em cheio meu rosto e consigo até mesmo visualiza-lo todo corado. Ricardo gozava por ser tão branca enquanto bagunçava meus cabelos castanhos. Ricardo não estava aqui.

Caminho até as arvores brancas pela neve e sento-me aos pés da mais próxima. Não ligo para o fato de minha bunda estar gelada contra o chão húmido.

A neve. Sempre gostei da neve, do clima gelado e aconchegante que o inverno trazia. Vim de São Paulo, um dos mais populares estados do grande país tropical, Brasil. Basicamente nunca havia visto a neve, até vir para o Canada. Estou a morar neste país há seis anos, vim aos dezenove, acompanhada de minha família que desejava tentar uma vida melhor no exterior. Após longos e angustiantes sete meses, Ricardo também veio.

Conheci Ricardo em uma prova de vestibular. Estava perdida dentro da grande faculdade, não sabia para onde ir, até que ele apareceu. Um garoto alto, ombros largos e exalando tranquilidade. Seu sorriso tão cativante e disposto a ajudar-me. Ricardo tinha um sonho de concursar artes cênicas, passava por sua cabeça até atuar em telonas de grandes polegadas.

- Em que estas a pensar? –A voz repentina de meu pai afasta-me das lembranças que assombram-me todos os dias.

- Apenas na vida. –Respondo-lhe. Sorrio e encaro seus olhos verdes. Meu pai era novo. Bonito e moreno. –Não ouvi desta vez seus passos pesados contra a neve.

- Queria pegar-te desprevenida. –Ele ri e se senta ao meu lado no chão frio. –Escreveu em seu livro hoje? Como ele esta?

Recheado de tristezas é o que quero dizer. Quero contar-lhe que desde a perda do amor de minha vida não consigo escrever coisas felizes. Faz um tempo que desconheço o significado da palavra felicidade.

Mas invés de despejar em cima de meu pai todas as minhas frustrações, apenas mantenho meu olhar fixo em nosso sobrado branquinho.

- Está bem, pai. –Respondo em voz baixa, quase que a sussurros, com consciência de que ele sabe que não estou sendo sincera.

- Sabe Alice, você precisa viver. Sobreviver. Você não pode desistir da vida desta forma. –Ele suspira e parece olhar além de nossa casa. Além da fina neblina que a envolve. –Não acho que Ricardo iria gostar disso.

- Sei disso, eu estou realmente tentando sair desse mundo todo branco. –sinto um arrepio em minha espinha, mas ignoro e sorrio para ele. Seu olhar suave faz-me sentir culpada. Não é justo com ele e com minha família, mas não posso fingir que está tudo bem. Não está tudo bem.

- Tomou os remédios hoje? –Questiona-me preocupado. Oh sim, os malditos antidepressivos que os médicos anseiam para ver-me colocar para dentro de meu organismo.

- Sim, falta apenas o da noite. –Ao responder-lhe fico em silêncio. Uma musica bonita toca, fico curiosa para descobrir seu nome. Olho para meu pai que parece não ouvir o ritmo calmo que logo se transforma em agitado.

- Que bom. –Diz ele, com suas palavras a musica para e o único som além de nossas respirações é o do vento soprando em meus ouvidos. Dois flocos caem em minhas mãos protegidas por uma luva branca grossa. Três e quatro. –Vamos, está muito frio aqui fora.

Meu pai se levanta e estende as mãos para mim para poder ajudar-me a levantar. Caminhamos em silêncio para dentro de casa.

 

Em meu quarto, olho para o teto branquinho. No inverno rigoroso do Canada a impressão que tenho é que absolutamente tudo fica mais... Branco. Branco como a neve.

Abro a gaveta de minha pequena estante que fica ao lado da cama. De dentro pego meus antidepressivos e giro a caixinha em minhas mãos. Ricardo ficaria desapontado comigo. Ricardo não tem direito algum de desapontar-se comigo, quem deixou-me sem nenhum aviso prévio foi ele. Sem dar-me conta, adormeço.

O sonho era assim, calmo como a brisa que soprava no verão. Calmo como Ricardo assim que acordava ao meu lado. Como podia um homem tão bom? Tão bom, ao ponto de fazer-me pensar se era mesmo merecedora de tanto amor vindo dele. O sonho não se parecia com um sonho, parecia-se com uma antiga lembrança, uma lembrança tão distante ao ponto de tudo ficar embaçado e com ecos.

Estávamos dentro de um carro, rumo a uma festa. Éramos cinco. Eu estava de motorista e Ricardo ao meu lado, rindo das besteiras que compartilhávamos. Como passageiros estava Miguel, meu irmão mais novo. Olivia, irmã de Ricardo. Christina, uma colega da faculdade. O som estava alto, só não mais alto que nossas risadas histéricas.

O sonho por algum motivo torna-se angustiante. Estávamos todos felizes, então porque enquanto eu me assistia, sentia-me tão triste? A musica fica mais alta. Mais gritante. E eu acordo com Olivia me ligando.

- Alô? –Pergunto ainda sonolenta.

- Oi Alice, tem compromissos para hoje? –Olivia soa com animação. A garota assim como todos ficou muito abalada com a morte prematura de Ricardo, mas diferente de mim, ela deu a volta por cima.

- Nunca tenho muitos compromissos. –Dou um breve sorriso por Olivia me lembrar tanto Ricardo.

- Que maravilha, pois estou aqui na sua sala esperando por você para podermos patinar no gelo. –Tamanha a rapidez com que ela diz à frase que até me preocupo com a possibilidade dela não ter respirado.

Como Olivia era capaz de guardar tanta alegria dentro de si? A invejo por isso. A invejo por conseguir suportar a vida sem seu irmão. Ricardo era como gasolina e eu como o carro.

- Tudo bem, vou descer. –Respondo a ela. Eu precisava sobreviver. Se não por mim, por Ricardo. Por minha família.

Com minha bota branca de patinação em mãos, paro no meio da escada e a encaro. Fisicamente ela não era parecida com Ricardo. Exceto pelos cabelos escuros. Ao contrario do irmão ela era branquinha e tinha olhos de um tom tão claro de castanho que chegava a ser amarelado. Olivia estava toda de branco, com exceção dos patins vermelhos como sangue que trazia em suas mãos. Sinto um calafrio. Termino de descer as escadas e sorrindo para ela a abraço.

- Então vamos, mas eu dirijo dessa vez. Da ultima que você dirigiu, causou problemas. –Ela revira os olhos e da risada. Não entendo a piada interna que parece que eu deveria ter a obrigação de entender. Ignoro.

Dentro do carro, ligamos o som. A musica soa novamente familiar, era a mesma musica das outras vezes, mas não consigo recordar-me de seu nome ou de quem a canta. Nos últimos dois anos, tomando remédios controlados, sai poucas vezes de casa, quando saia era com meus pais ou com Pedro, meu irmão mais velho.

- O que está fazendo ultimamente? Faz um tempo que não te vejo. –Pergunto, na tentativa de puxar assunto com a única amiga que restou-me.

- Tentando cuidar de você e fazer você acordar para a vida. –Olivia diz rindo, aquela mesma risada contagiante de sempre.

- Tudo bem, desculpe-me pelo incomodo. –Digo carregada de sarcasmo. Fazia tempos que não me sentia assim, um pouco mais viva.

Ao meio de tantas risadas e musica programada para repetir levemente alta, um carro branco de repente nos acerta em cheio, fazendo nosso carro derrapar na pista escorregadia e logo em seguida capotar. Sinto-me nauseada. Vejo tudo branco, maldito inverno pertinente. Se não fosse meu amor pela neve, ah, a neve.

- Acorda! –Escuto a voz distante e abafada de Olivia, abro meus olhos e vejo-me em um leito hospitalar. A sala era meio escura e eu podia ouvir o constante “bip” dos aparelhos que mantinham-me viva.

Com dificuldade, olho para o lado e assusto-me com o que vejo. Ricardo. Ricardo está dormindo com um rosto pacifico. Pacifico como sempre foi em minhas lembranças. Meus olhos se enchem de lágrimas. Será que finalmente Deus teve piedade e trouxe-me para junto de meu amor no céu?

Tento o chamar, mas a voz não quer sair, enrola-se em minha garganta e prende-se em um nó, que faz-me engolir em seco. Tento mais uma vez. E outra. Até conseguir ao menos as primeiras silabas.

- Rica... –Não consigo chamar mais alto, então continuo no mesmo volume repetidas vezes, até que ele acorda. Sonolento ele esfrega os olhos e suspira cansado. Ao ver-me leva as mãos à boca, em gesto de surpresa, logo grita por enfermeiras.

Ricardo se aproxima de mim e passa as mãos por meus cabelos. Tamanha saudade sentia de seus toques suaves. Mas o céu parecia diferente com o que passei todo esse tempo idealizando. Eu não deveria estar em um leito hospitalar.

- Finalmente acordou, amor meu. –Diz ele com lágrimas nos olhos.

Fico sem entender. Como assim acordar? Porque sinto minha cabeça girar ao invés de sentir a paz divina?

- Onde... –Quero perguntar-lhe onde estou. Onde ele está. Onde estamos.

- Por favor, fique calma. –Pede preocupado.

Duas enfermeiras aparecem e começam a comemorar e arrumar coisas que não entendo nos aparelhos, falando sobre coma. Mas o que Diabos estava acontecendo? A enfermeira loira abre meus olhos e os clareia com uma pequena lanterna, deixando-me incomodada.

- Coma? –Pergunto a Ricardo, completamente perdida. Era como se alguém tivesse feito uma piada e eu fosse à única pessoa em meio de tantas outras rindo, que não tivesse entendido. Ricardo engole em seco e diz:

- Não acho que você se lembre. –Sussurra cauteloso. Cauteloso demais. Olha para as enfermeiras como se pedindo permissão para contar-me algo destruidor. –Você passou os últimos três anos em coma, Alice.

- Como? –Pergunto novamente confusa. Não, eu não passei todo esse tempo em coma. Eu fui ao enterro de Ricardo, fui ao medico, sai poucas vezes com minha família e acabei de sofrer um acidente com Olivia.

- Éramos cinco aquela noite. –Assim que começa seu relato, sou enviada para o sonho que tive e alguns flashbacks voltam em minha cabeça. –Estávamos a caminho de uma festa, e você era a motorista do veiculo. Não que seja a culpada pelo o que houve. –Diz apressado, trocando a todo o momento olhares ansiosos com as duas enfermeiras que ainda examinavam-me. –Um carro desgovernado apareceu de repente e bateu em nosso carro, fazendo-o derrapar e logo em seguida capotar.

Porque a forma desse acidente que Ricardo diz que provoquei se parece tanto com o acidente que acabei de vivenciar com Olivia? Eu não podia estar todo esse tempo em coma, presa em ilusões.

- Miguel? Olivia? –Pergunto aflita e ouço os aparelhos avisando que meus batimentos cardíacos aumentaram. As enfermeiras avisam que vão chamar um médico e saem da sala, deixando-me sozinha com Ricardo.

- Acalme-se meu amor, caso não o fizer não poderei contar. –Avisa Ricardo paciente e cuidadoso. Acato seu pedido. –Miguel está bem, assim como aquela sua colega de faculdade. –Ricardo começa a fitar o chão, em uma batalha interna.

- E sua irmã, Ricardo? –Exijo saber de meu companheiro.

- Olivia... –Ricardo limpa os olhos e suspira. –Olivia não resistiu.

Não, isso não pode ser verdade. Isso deveria ser apenas mais um efeito colateral dos malditos antidepressivos.

- Mentira! –Grito com ele, sofrendo com a realidade dolorosa. –Você que está morto! Morreu há quase dois anos atrás.

O homem que viveu por tanto tempo apenas em minhas lembranças parece confuso e continua a acariciar meus cabelos.

- Quero ver meu pai, onde ele esta? Deveria estar aqui já que acordei de um coma de três anos, certo? –O encho de perguntas. Meu pai deveria estar aqui, esperando eu acordar. Esse era o correto.

Ricardo arregala os olhos e começa a entrar em uma crise de tosse. Não entendo o porquê de sua reação. Será que era tão surpreendente eu querer ver meu pai? Ricardo se acalma e encara meus olhos de forma tristonha.

- Meu amor, seu pai morreu afogado quando você tinha dois anos.


Notas Finais


Se chegou até aqui, muito obrigada!
Espero que tenham gostado da leitura.
Adoraria saber o que acharam sobre "A Neve"


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