História A Noite Escura da Alma. - Os últimos passos.

   Ao longe já avistava a casa de Adma e meu coração afoito  já estava em disparada com  presa de chegar, assim que Argo se pôs perante a fachada da casa, Adma já saia pela porta.
            "- Já estava preocupada, por que demorou?"
            "- Bom dia pra você também Adma... " sorrindo sem jeito desci de Argo indo ao seu encontro. "- É que eu dormi de mais e acabei me atrasando, desculpe por isso."  Dei-lhe um abraço terno beijando-lhe a bochecha.
            "- Sei... vou fazer que acredito, que foi só o sono que te atrasou..." deu-me um sorriso matreiro juntamente com uma batidinhas no ombro, senti meu rosto enrubescer deixando-me sem jeito.
            Adma percebendo começou a rir copiosamente meneando a cabeça e olhando pra mim vendo que meu rosto estava ainda mais vermelho.
            "- Não tem do que se envergonhar Samya, você é uma mulher feita um dia teria que passar por isso..." Colocou-se ao meu lado pousando a mão em minhas costas guiando-me em sentido da porta.
            "- Vamos entrar minha querida, pelo que vejo você tem muitas novidades e uma torrente de duvidas as acompanhando..." respirou fundo e continuou.  "- E pretende ficar até quando comigo, huum..."
            "- O tempo que for necessário pra terminarmos o aprendizado que iniciamos!" 
            "- Bem... vou ser sincera contigo Samya, basicamente o que tinha para lhe ensinar está quase concluído, sinto que você só precisava ser despertada e foi o que eu fiz, o restante da caminho basicamente terá que ser trilhado por você."
            "- Eu achei que seria mais complexo daqui pra frente... mas pelo jeito o mais difícil foi o despertar como você disse..."
            "- Não diria que o seu reavivar espiritual fora difícil, você tem uma alma antiga Samya, provavelmente você deve ter passado por várias vidas e todas elas se fizeram ligadas ao lado místico, por isso está facilidade ao lidar com o oculto.
            "- Então... você não tem mais nada a me ensinar?"
            Adma ponderou um pouco com os olhos franzidos e respondeu.
            "- Pensando bem... tenho sim minha querida, e pode ter certeza que com o que vou lhe ensinar muitas das suas perguntas serão respondidas!"     

  Assim que Adma e eu entramos pela porta a  mesma pediu pra me sentar a mesa, ela seguiu em direção de um antigo  baú de madeira revestido de couro que pelo tempo enegreceu-se o mesmo ficava em um canto da casa longe das vistas de curiosos, sobre ele tinha uma grande toalha de crochê que caia por suas laterais e um vaso, ela segurou o vaso e  retirou a toalha colocando-a de canto, emborcou  o vaso sobre sua mão direita  e de dentro caiu uma chave velha, após inserir a chave na fechadura e vira-lá um click auto fez-se audível e com dificuldade abriu o pesado tampo encostando o mesmo na parede, ajoelhou-se e começou a revirar o conteúdo do mesmo a procura de algo, ao que em rompante ergueu o tronco que debruçado estava sobre o baú  com um livro em mãos o mesmo era um pouco grande  de capa negra já desgastada pelo tempo, aparentava ser pesado.
            "- Encontrei... tinha me esquecido que coloquei embaixo dos outros livros." levantou-se e veio em sentido da mesa depositando o grosso livro sobre o móvel.
            "- Bem..." respirou profundamente. "- Aqui tem algo que quero que você leia com muita atenção, o que está escrito aqui é a teoria de uma técnica conhecida como projeção astral, talvez assim que começar a ler você  vá achar confuso, mas dúvidas vão aparecer mesmo e a elas vou elucidar conforme você for aprendendo o passo a passo!"
            "- Vou ter que ler este livro todo Adma?" Falei me atentando na grossura do livro que tinha quatro dedos de espessura.
            "- Claro que não sua boba... este é meu Livro das Sombras ou Grimmorio se preferir,  todas as experiências e aprendizados que eu vivenciei  estão escritos aqui!" Pousou delicadamente as mãos por sobre o livro olhando-o com carinho, como se sua vida estive-se enraizada ali.
            Abriu-o no meio e começou a escrutinar com o ponta do dedo as palavras escritas, folheando com cuidado as amareladas folhas que tinham suas bordas escurecidas em um tom de ocre clareando conforme adentravam para o interior do livro, virou mais umas duas folhas ao que finalmente com a ponta do dedo tiritando por sobre o papel indicou-me o início de minha leitura.
            "- Quero que leia a partir daqui, a teoria aqui descrita vai ajudar-te a compreender a parte prática  que vou lhe ensina Samya!"
            Me levantei aproximando-me do grande livro por sobre a mesa, olhei atentamente para Adma e desviando meu olhar em seguida para as delineadas linhas sobre o papel, toquei roçagando meus dedos a sentir uma textura  áspera por sob os mesmos, aproximei um pouco mais meu rosto e senti uma sutil fragrância  de mirra, as letras eram bem traçadas com nanquim e nitidamente se via que as mesmas foram escritas com o uso de  uma pena feita artesanalmente, as primeiras instruções eram bem precisas e descreviam mais um exercício de meditação e encontro do poder pessoal o centro.
            "- Pelo que estou vendo, o inicio e basicamente a base de toda magia, concentração e alto conhecimento!? "
            "- Sim é isso mesmo... mas a partir daí  pequenas mudanças vão acontecer, você vai aprender a expandir sua consciência...  quando você medita e se concentra fica limitada ao seu interior e aos sons ao seu redor, vou ensinar-lhe a ultrapassar esta barreira expandindo sua consciência para além de seu corpo.
            "- Então vamos começar estou ansiosa!"
            "- Calma criança... primeiro quero que leia o conteúdo que lhe indiquei compreendendo cada passo que vamos seguir... ah, e mais uma coisa,  ansiedade e magia  não combinam, por isso procure dar um passo de cada vez e afaste de seu coraçãozinho toda e qualquer ansiedade e preocupação com o futuro, é  no hoje que quero que se concentre, está bem!?" Falou calmamente com um sorriso nos lábios, e foi naquele momento que senti que se eu quisesse obter mais respostas a respeito de meus anseios teria que  ser paciente e perseverante.
             Logo após o término da manhã que fiz questão de passar junto a Adma conversando sobre o que me ocorrerá no dia anterior, pedi para a mesma que me deixa-se levar o livro até a floresta pra que pude-se ler com mais calma a assim absorver com clareza o seu conteúdo, a mesma consentiu somente pedindo um certo cuidado ao manuseá-lo pois o mesmo era antigo e a folhas podiam se soltar, disse-me que o mesmo pertenceu a sua avó depois a passou para sua mãe e agora estava com ela, três gerações de conhecimento e magia estavam sob meus cuidados.
            Coloquei-me a caminhar pelo caminho que passava por entre o bosque que levava até próximo do riacho, segui até a beirada das calmas águas e sentei-me por sobre a relva cruzando minhas pernas e depositando o livro sobre as mesmas, observei-o por um tempo ainda fechado e sentia um manar de energia provir dele e conclui que o tesouro que tinha em mãos era de valor inestimável.
            Escorreguei meus dedos até a fita que marcava o ponto inicial da leitura, abri o livro fazendo-o ficar aberto por sobre minhas pernas, comecei a ler as primeiras linhas da parte teórica me familiarizando  com as instruções  descritas, até que cheguei ao um trecho que descrevia a exteriorização, que consistia em visualizar-se em pé atrás de si e observar a parte de trás de sua cabeça, sua altura, sua postura tudo que pude-se ver de si mesma, após se auto avaliar deveria projetar à consciência para o corpo exteriorizado o tornando consciente .
            Ao que olhando atentamente ao final desta explicação vi uma seta indicando uma nota  escrita com letras miúdas no canto da página que descrevia o seguinte.
            " Isso quer dizer que você não  e mais a pessoa observando, mas a pessoa sendo observada."
            Meneei minha cabeça e pensei em quem poderia ter colocado está nota aqui, olhei com mais atenção as delineadas letras e constatei que as mesmas se assemelhavam com a escrita de Adma, soltei uma risada alta, parecia que não era só eu que teve um engasgo de compressão neste trecho.
            Continuei lendo e averiguei que após conseguir abandonar a internalização  exteriorizando-se os próximos passos eram praticar se familiarizando a cada exercício e explorando o ambiente ao seu redor.
            Após terminar de ler, levantei minha cabeça suspirando profundamente de modo contemplativo, quando dei por mim estava a pensar alto.
            "- Na teoria não é tão difícil assim... bem... não  custa tentar por conta própria, se eu falhar pelo menos ninguém vai ver!"  Dei de ombros fechando o livro e o colocando ao meu lado.
            Permaneci sentada com as pernas cruzadas deixando meus braços relaxados por sobre as coxas, iniciei respirando profundamente de modo contínuo a relaxar meu corpo, limpei meus pensamentos me fazendo voltar-me para meu interior encontrando meu centro, com apenas um vislumbre de intenção já estava de pé atrás de meu corpo a me olhar, senti uma coisa estranha parecia que o processo de conscientização foi imediato, eu estava me sentindo leve como se todas as amarras tivessem sido desatadas era uma sensação única.
            Comecei a olhar ao meu redor e a floresta tinha um porejar de energia maravilhoso ao qual quando estava em meu corpo nunca havia sentido, caminhei até o riacho abaixando-me próximo a margem, olhei pra o espelho d'água e vi meio que distorcido por causa do balançar da água  meu rosto, virei minha cabeça e vi por sobre o ombro meu corpo em completo estado de torpor, respirei fundo surpresa com o que estava me ocorrendo.
            Desviei meu olhar para o outro lado do riacho e vi um movimento por trás dos arbustos quando vi surgir um pequeno ser já conhecido aos meus olhos.
            "- Tinim..." falei surpresa ou melhor pensei e ele ouviu pois de imediato desviou seu olhar para mim.
            "- Menina Samya, que bom te encontrar... e pelo que vejo Adma está fazendo você treinar projeção, não é!?"  Falou mentalmente a mim seguindo em direção ao um tronco caído por sobre o riacho que estava mais a diante. "- Ah... e não precisa se preocupar em quere ficar mexendo a boca para falar, deste modo que você está se comunicar através dos pensamentos e mais rápido e claro!" Elevei minha mão até minha boca a tocando, ao que em resposta a sua pergunta pensei.
             "- Na verdade... ela me pediu para somente  ler a parte teórica de seu Grimmorio, colocar em ação a parte prática ficou por minha conta!"  Sem jeito passei a mão em meus cabelos o olhando ao que o mesmo começou a rir alto, arregalei meus olhos sem entender o seu gargalhar copioso.
             "- Desculpe..." tomou fôlego levantando seu corpo que antes estava curvado por causa de tanto rir. "- Adma e você têm muito em comum, ambas tem a mesma gana em adquirir conhecimento só que você obtém sucesso mais facilmente!" 
            "- Eu não sabia disso, ela nunca me contou, bem... ela me disse que eu tinha facilidade em aprender, mas foi só...!"
            "- Ela deve ter ocultado também que como você tinha o hábito de burlar ordens e tentar praticar magia por conta própria, só que com ela as primeiras tentativas nunca davam certo, aí ela desistia e ia pedir ajuda pra mãe que sempre falava que, ansiedade e magia não combinam!"  Quando demos por nós  estávamos pronunciando simultaneamente este último trecho, rimos copiosamente, ao que pensei.
            "- Pelo jeito ela aprendeu a lição, hoje mesmo ela falou isso pra mim... acho que ela tem razão em me pedir mais calma, sempre fui assim afoita em querer ou fazer seja lá o que for!"
            "- Nesse ponto ela está certa Samya, se você não parar com está ansiedade vai perder muito na vida, tudo e Geas, por isso que observar e primordial à magia!"
            "- O que é Geas Tinim? Adma nunca me falou a respeito!" Franzi  meu sobrolho confusa.
            "- Ah Adma, sempre esquecendo das coisas...” falou meneando a cabeça com uma das mãos a tapar o rosto. “- Bem Samya, Geas literalmente significa “O corvo que pousa em seu ombro e sussurra ao seu ouvido”,ou seja, sinais, premonições ou presságios que o mundo nos mostra, pode ser coisas simples que não vai nos fazer diferença outras podem ser de extrema importância, tudo depende da sensibilidade do observador que interpreta!"
            "- Então... provavelmente por causa de minha afobação deixei de notar alguns sinais que poderiam ser-me úteis... não acredito que provavelmente as respostas para as minhas perguntas já poderiam estar sanadas... só que por causa de minha ansiedade deixei passar!?" Grunhi desgostosa comigo mesma, ao que Tinim se aproximou falando.
            "- Não de culpe Samya, lembre-se que cada coisa tem seu lugar e tempo para acontecer, talvez as respostas que você tanto deseja ainda estão por vir!"  Deu uma piscada de olho pra mim com um sorriso de canto.
            "- Obrigada Tinim, você me ajudou muito ao me..." de repente senti uma tontura repentina acompanhada de uma repentina fraqueza que me fez quase tombar por sobre a relva, apoiei-me em meus braços ao que Tinim falou.
            "- Você precisa voltar para seu corpo  Samya, está tempo de mais projetada, vamos se concentre de forma inversa se interiorizando!"
            Anuiu minha cabeça a fechar meus olhos me visualizando retornar, quando dei por mim já estava de volta a meu corpo, meus olhos estavam pesados difíceis de serem abertos senti como se estivesse acordando de um longo sono, meu corpo estava pesado e sentia a pontas de meus dedos dormentes, com olhos semi abertos olhei a minha frente e vi Tinim a me observar atentamente, o mesmo com olhos arregalados de preocupação perguntou falando através de sua boca.
            "- Está tudo bem?"
            "- Sim... eu acho...!"
            "- E assim mesmo Samya, como foi sua primeira vez e você ficou por demasiado tempo projetada, quando volta se sente assim mas vai passar só precisa comer algum coisa pra se aterrar novamente em seu corpo e descansar."
            "- Pra ser sincera... do nada me deu uma fome voraz como se eu estive a dias sem comer! "
            "- E só comer que está sensação vai passar, mas já a fadiga e só dormindo mesmo!" Com um sorriso nos lábios agradeci pela ajuda e conselhos dados pelo meu amigo.
            Após ficar mais um tempo comigo até que pude-se me levantar para seguir de volta a cada de Adma, Tinim mais aliviado por saber que estava bem despediu-se seguindo seu caminho em direção do interior da floresta.