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História A Nova Rosa - O sol se põe em seu olhar


Escrita por: Koini

Notas do Autor


Hellooo!
Vim cedo essa semana, eu acho haha Estou pensando nessa história quase 24h por dia, não tô conseguindo cumprir meu EAD de quarentena porque quero escrever, mas às vezes não sei nem por onde começar. Enfim! Mais um capitulo pra vocês!
Ai gente, ao final desse capitulo, escutem essa música que me inspirou <3 : https://www.youtube.com/watch?v=5pyk-DmkBsA
(se quiserem escutar como trilha sonora também... fiquem à vontade!)

Capítulo 8 - O sol se põe em seu olhar


Fanfic / Fanfiction A Nova Rosa - O sol se põe em seu olhar


Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai, que bom que isso é, meu Deus
Que frio que me dá
O encontro desse olhar

(Pela luz dos olhos teus -Tom Jobim)

: :

Albafica acordou assustado com o som de panelas e vidro espatifando ao chão. Saiu do quarto correndo para a cozinha, sem nem mesmo pentear os cabelos, pronto para enfrentar quem fosse que estivesse invadindo sua casa. E o que encontrou, no entanto foi o cômodo revirado do avesso e uma Alexia estatelada no chão, com potes e tampas ao seu redor. Respirou quase aliviado e sentiu vontade de rir, por um momento, esquecera-se de que não estava mais sozinho em casa, na verdade, teria de se adaptar àquela não-solidão, que lhe era completamente inédita.

- Alexia o que houve aqui? Se machucou? – perguntou, ajudando-a a se levantar e tomando cuidado com os cacos de vidro que se espalharam pelo chão.

- Eu não consegui dormir direito, acho que fiquei ansiosa, acordei cedo e queria fazer um café... Mas esses armários são muito altos! – reclamou.

- Sente-se, deixa que eu faço. – disse ele, e Alexia se perguntava de onde vinha a calma e paciência daquele homem, sua mãe estaria gritando – Vou colocar as coisas onde você possa alcançar.

Depois de ajudá-lo a recolher os utensílios que havia derrubado, Alexia sentou-se, sentindo-se como uma criança boba. Ficou observando o mestre com seus cabelos bagunçados – o que o deixava charmoso, de qualquer forma – perguntando-se qual milagre ele faria para transformar a grande atrapalhada que ela era em uma amazona.

Em seu silêncio habitual, Albafica pôs a mesa para o café da manhã. Nunca teve companhia nenhuma além do falecido mestre Rugonis, então realmente não tinha experiência com muito contato. Além disso, sua cabeça dava voltas e mais voltas enquanto ele fitava Alexia disfarçadamente, perguntando-se que diabos faria. Não tinha um plano preparado, não sabia sequer por onde começar. Talvez devesse ter conversado com Hasgard e pedido ajuda, ele devia ter muita experiência visto que tinha três discípulos, mas agora já era tarde – sua aprendiz estava sentada à sua frente tomando café e ele não sabia o que fazer.

- E então, por onde começamos? – perguntou ela quando a caneca de café por fim se esvaziou.

Albafica engoliu em seco, pensando rápido em uma alternativa.

- Bem, acho que precisamos de um plano. – disse, sentindo-se patético e redundante. É óbvio que precisamos de um plano, oras. Perguntava-se porque aquela mulher o desestabilizava àquele ponto.

- E qual é o plano? – indagou ansiosa, e sem dar tempo para a resposta do cavaleiro, continuou – Olha, eu não faço muitos exercícios além de caminhar, meus braços são mais flácidos que um balão velho e eu não levanto pesos acima de um quilo... E não quero mais fazer plantas mudarem de cor ou nascer em lugares indevidos! – disparou, e pela primeira vez ele agradeceu o fato de Alexia ter a língua maior que a boca, graças a isso conseguira pensar num plano bom.

- Por óbvio, devemos começar pelo básico. Planejaremos exercícios para o seu condicionamento físico e controle inicial do cosmo. – concluiu.

Ela o olhou como se ele fosse um grande gênio que tivera a maior ideia do mundo, com os olhos brilhando, quando ele mesmo continuava se achando patético por falar mesmo o óbvio. Terminou o próprio café e respirando fundo, chamou-a até a sala espaçosa da casa de Peixes. Os dois sentaram-se de pernas cruzadas, um de frente para o outro, e ela o fitava esperando ansiosa por instruções.

- Como se sente hoje? – perguntou ele.

- Como um vulcão em atividade, eu acho. – respondeu ela, fazendo um gesto de explosão próximo do peito, arrancando um riso tímido de Albafica.

- O que aconteceu nesses últimos dias, além da rosa negra?

Então Alexia fez o que mais gostava de fazer: desandou a falar. Contou tudo para ele, como se estivesse em uma conversa com sua melhor amiga. Falou da tragédia com as plantas da senhora Élia, dos tremores, de ter estourado as garrafas de cachaça na taverna e de como suas mãos ficavam quentes nessas situações de risco, tensão ou nervosismo. Albafica escutava a tudo muito atento, notando o quanto ela estava aflita com toda aquela situação. Fazia um comentário ou outro entre as pausas dela, então quando finalmente terminou, ele pegou as mãos dela e virou as palmas para cima, apoiando-as nas dele, que eram ligeiramente maiores.

- Como amazona de peixes, você usará muito cosmo concentrado nas mãos, para poder utilizar as rosas. Mas não queremos acidentes. – começou, calmo como sempre, o que deixava tudo muito confortável para a novata – Por isso, sempre fique muito atenta ao fluxo de seu cosmo. A energia que começa aqui – explicou, apontando a mão direita para centro do peito dela – Deve vir para cá... – continuou, traçando um caminho, com o indicador, do braço até a palma da mão dela, causando um arrepio suave na morena que lutou para disfarçar – de forma fluída, como se fosse seu próprio sangue correndo suavemente pelas veias.

- E como eu faço isso, Albafica? Até ontem eu nem sabia o que era ter um cosmo. – ele conseguia sentir a ansiedade daquela moça, e sabia perfeitamente que não ajudaria em nada.

- Existem técnicas para isso, e vamos ver a qual você se adapta melhor. Fique calma, você vai conseguir.

Ela fez um bico frustrado, como se dissesse que não tinha certeza daquilo. Albafica percebeu que ainda apoiava uma das mãos ela, então se afastou, sentindo o rosto esquentar. Decidiu-se a contar tudo que julgou necessário para esclarecer o mundo dos cavaleiros e amazonas para Alexia. Começou falando sobre Atena e seus 88 cavaleiros, as hierarquias entre as armaduras; depois falou sobre o cosmo e sua essência, das técnicas que existiam para seu controle – que iam de meditação à formas mais práticas como a própria luta – e também falou um pouco sobre as rosas. Neste ponto, Alexia já encontrava-se deitada no tapete, com as pernas para cima, apoiadas no sofá rústico, ainda prestando muita atenção.

- Nossa, é muita informação! – exclamou – Me sinto até meio tonta.

- Tem muito mais. – respondeu Albafica – Mas por enquanto acho que isso a ajuda ter uma noção.

Ela fez que sim com a cabeça, absorvendo as informações. Ainda se perguntava o que significava tudo aquilo, ter sido escolhida – por que ela? O que a fazia diferente? Alexia sonhava alto, mas já havia se conformado que sua vida seria comum: uma casa rústica, com um marido, filhos e quem sabe uns bichinhos. Agora, isso parecia um pouco distante. Viveria para uma deusa e por sua causa, teria apenas a si mesma e à sua força. Tudo mudava muito mais rápido do que ela conseguia acompanhar.

- Como se sentiu quando chegou aqui, Albafica? – perguntou, a voz mais baixa, enquanto seu olhar se perdia nas rochas firmes e cinzentas do teto. Será que ele também sentira-se perdido e impotente?

- Pra ser sincero, eu não tenho ideia. – ela o fitou, sem entender – Fui deixado no jardim de rosas diabólicas, e o mestre Rugonis me encontrou. Eu era um bebê.

- Você vive aqui desde sempre... – concluiu ela, surpresa.

Albafica estava habituado àquele tom de choque, e realmente não fazia mal. Sabia que não havia tido uma vida comum, uma família ou amigos, mas podia dizer que aprendera a viver bem no Santuário e que, vá, era feliz com sua realidade. Vez ou outra, porém, pegava-se em devaneios com uma vida normal. Viajar por lugares diferentes, poder se aproximar e conhecer pessoas, ter uma pessoa, uma companheira. Mas tudo não passava de devaneios, ele sabia. Principalmente com o caminho que escolhera para si.

- Eu acho que estou um pouco assustada, Albafica. - confessou ela, com a voz mais baixa que seu habitual.

Ele a fitou, e sentiu-se estranho ao constatar que podia imaginar perfeitamente o que ela estava passando. Não sabia sequer nomear que sentimento era aquele, mas era algo novo para ele. Na verdade, o déficit social ao qual Albafica viveu desde a infância dificultava muito o reconhecimento de emoções tanto as próprias, quanto as das pessoas ao seu redor. Não sabia denominar e diferenciar a maioria das coisas que sentia, o que era muito complicado - ele sabia que sentia, e às vezes muito, mas não sabia como se expressar, por não saber do que se tratava, por não ter aprendido tais habilidades sociais. Com Alexia por perto, isso ficava cada vez mais nítido e começava a incomodá-lo, inconscientemente, ele queria que ela o entendesse e queria ser tão claro e assertivo quanto ela. Admirava a forma como ela se expressava tão bem e totalmente desinibida, e não entendia como ela própria não enxergava a força da natureza que era.

- Eu posso imaginar. Mas eu também percebi que você não é nada medrosa. Não deixe que esses pensamentos tomem conta de você e te limitem. – disse.

Foi como se ele tivesse ligado uma luz no cérebro daquela jovem mulher. Ela colocou-se sentada no tapete, e o olhando com os olhos selvagens queimando, respondeu determinada.

- Tem razão, Albafica. Chega de lamentar, a partir de amanhã, quero que me ensine tudo que sabe, sem ter pena!

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- Albafica! – exclamou a morena, com a voz manhosa e arrastada enquanto o seguia para sabe-se lá onde – Porque precisávamos acordar tão cedo?

- Ora, você me disse para começarmos e para eu não ter pena de você. Ou já se esqueceu? – respondeu ele sem olhá-la, concentrado em não tropeçar nas pedras e galhos daquele atalho do Santuário.

- Mas podia esperar mais umas horas de sono, mal amanheceu! – rebateu ela.

- Faz parte. – disse ele – Chegamos.

Alexia quase trombou em suas costas quando ele parou repentinamente, então observou aquele lugar desolado e vazio. Que diabos era aquilo? Parecia com uma arena de treinamentos, que devia ter sido abandonada há algum tempo.

- Que lugar é esse? É meio sinistro. – ela definitivamente nunca iria ali sem a companhia de um cavaleiro.

- É onde eu costumava treinar, alguns anos atrás.

Albafica sentia-se nostálgico, não imaginava que fosse utilizar aquele local para alguma coisa e em companhia. O descobrira por acaso, depois que parara de treinar na nova arena, construída por ordens de Atena em um local mais próximo e de fácil acesso, onde todos poderiam se encontrar. Depois de iniciar o elo-carmesim, não era bom que tivesse muito contato com os outros aprendizes, pois poderia se machucar perto deles – o que seria perigoso. Então, aquela arena abandonada, muito menor se comparada à atual, era seu pequeno refúgio, e agora seria o de Alexia, enquanto ela não pudesse pisar no jardim de rosas.

- Muito bem, vamos começar.

Após mais alguns resmungos de Alexia, ela começou a correr dando voltas na arena para se aquecer. Depois, o mestre exigiu um alongamento intenso, o qual ele mesmo a ajudou corrigindo sua postura e mantendo braços e pernas bem esticados – e claro que ela não podia deixar de fazer seus comentários ácidos em protesto a cada vez que sentia uma dorzinha.

Albafica reparou que, realmente, seriam necessários semanas ou alguns meses para condicioná-la fisicamente. Tinha pernas fortes, mas os braços... Era o que mais precisaria e onde menos tinha força, eram magrelos e sem nenhuma tonificação. Recomendou que fizesse umas cinquenta flexões por dia – talvez estivesse exagerando.

- Meu Deus, a morte seria melhor! – gritou ela quando estava apenas na décima segunda flexão, enquanto ele observava sentado nas ruínas da arquibancada tomando um bom suco gelado.

Após terminar a sequência, Albafica a chamou para tomar um lanche, que corresponderia ao café da manhã. Estavam ali há umas três horas, e o sol das dez começava a esquentar. Depois de lanchar, ela esticou o corpo no chão de rocha empoeirada, perguntando-se que tipo de morte era aquela que o destino lhe impôs.

Depois do breve descanso, continuaram o treinamento até o sol se pôr, quando o mestre dissera que já era o bastante. Alexia encontrava-se completamente esgotada, sentia o corpo todo queimando e as roupas pareciam verdadeiros panos de chão, mas no fundo sentia-se orgulhosa, pois sabia que havia dado o máximo de si. Deixou-se descansar na arquibancada e tomou o restante do suco, que já não estava gelado, mas serviu para se hidratar.

Albafica também estava satisfeito, pois apesar de reclamona, ele podia ver o quanto ela havia se esforçado, e mesmo estando muito cansada, seguiu todo o caminho para casa de cabeça erguida, como se não sentisse dor alguma – e ele sabia que estava sentindo muita. Admirável, pensava. Risivelmente admirável.

E assim foi por dias seguidos: Albafica a acordava logo cedo, ouvia suas reclamações sonolentas, iam para a pequena arena isolada e treinavam até o final do dia. E apesar da rotina, cada dia era único com Alexia: ela conseguia fazer cada momento ser engraçado e cheio de vida. Ele próprio havia se envolvido nas flexões e sequências que a ensinava, constatando com surpresa que encontrava-se um pouco enferrujado.

E ela gostava de ver o pôr do sol. Albafica havia perdido esse costume de contemplação, sua vida parecia ter entrado num autômato. No entanto, a presença de sua aprendiz mudava tudo, e ele podia jurar que de todas as risadas sutis que Alexia lhe arrancava, a melhor parte daqueles dias, e a que ele sempre se lembraria, era do final da tarde: quando ela, mesmo cansada e coberta de poeira, sentava-se com genuína alegria na arquibancada mais alta para assistir o sol se retirar em descanso, como se agradecesse por mais um dia. Há tempos ele não agradecia por mais um dia, eles apenas passavam.

Mas sempre que via a luz alaranjada do crepúsculo refletir no rosto dela, ele agradecia.  

 



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