História A Oração - Regras

Thomas estava estranho. Estava sério e dando patadas. Bom, eu fiz a besteira de ficar perguntando se estava tudo bem, mas ele era muito fechado para me dizer a verdade. Mas isso não foi o pior! O pior foi descobrir que ele não tinha a reserva no hotel. Ruth, se estivesse comigo, já diría para eu aproveitar a oportunidade para transar sem compromisso. Dividir o quarto com ele não estava mesmo nos meus planos, mas eu tentei manter a calma, afinal, eu já dividi uma vida com ele, então, dividir um quarto por alguns dias não seria um problema. 

Peguei mais cobertores na recepção e arrumei no chão do quarto. Pelo menos ele não ia morrer de dor na coluna no outro dia.

-Obrigado, ficou ótimo! – ele agradeceu visivelmente envergonhado

Fiz minhas coisas como se Thomas não estivesse no quarto, mas ao pegar o meu pijama na mala eu comecei a me desesperar. Minha camisola era praticamente transparente!

-Thomas, você tem uma camiseta velha para me emprestar? – pedi
-Camiseta? Não! Eu só trouxe roupa para trabalhar e um pijama, porque?
-Eu esqueci meu pijama! – menti
-Hum…

Aquele “hum” dele quase me deu uma síncope!

-Não quer sair para comprar um pijama? – ofereceu
-A essa hora? Eu durmo de roupão… - falei bufando e entrei no banheiro

Eu precisava me concentrar para não fazer uma besteira!

-Anna, vamos descer para jantar?

Thomas gritou do lado de fora e eu ainda no banheiro tentava não surtar. Eu tinha vontade de chorar! Chorar porque eu queria beija-lo, queria transar com ele e ele não dava a mínima! Ele era meu chefe caramba! E além disso era o VP da BBO, ou seja, quais seriam as minhas reais chances? ZERO! E além de tudo isso eu tinha ódio de mim mesmo por ainda me sentir atraída por ele!

Antes de sair do banheiro eu pensei, porque não sexo sem compromisso? Eu estava há dois anos sem transar e eu precisava disso, quer dizer, eu sentia falta poxa! E Thomas era um pecado de lindo! Era definitivamente meu tipo de homem!

Lavei o rosto e saí do banheiro aceitando o convite para jantar. No restaurante do hotel conversamos sobre tudo, mas Thomas ainda parecía bravo com alguma coisa.

-Porque você está tão sério últimamente? – perguntei
-Como assim sério? – perguntou sem entender
-Sei lá, está sem paciência, parece bravo… - respondi
-Desculpe… é que… sei lá… - ele disse sem dizer nada
-Sei lá? – sorri

Ele continuava sério.

-Posso te fazer uma pergunta? – ele disse
-Pode… - respondi
-É uma pergunta pessoal… - avisou

Eu me ajeitei mais na cadeira, mas deixei ele perguntar.

-Você e o Brian estão juntos?

Coloquei a mão na boca e quase gargalhei. Thomas me olhava sério.

-Eu e Brian? – perguntei para ter certeza do que ele falava
-É, você e o Brian…

Resolvi provocar. Eu já tinha tomado duas taças de vinho, então, eu estava no ponto certo da loucura.

-Não sei o que dizer…

Eu sabia que ele ia se incomodar com essa resposta e dito e feito. Ele se remexeu na cadeira e ficou vermelho como um tomate.

-Eu recebi o comunicado da saída dele da BBO, foi por isso não é?

Deus do céu! Eu queria gargalhar!

-Ele vai abrir uma empresa e não tem nada a ver com publicidade… - respondi em partes o que ele queria saber
-Bom para ele… - falou sério

Ele estava com ciúmes de mim? Será que eu estava indo longe demais? De repente lembrei que a BBO não permitia relacionamentos e que Thomas estava achando que eu burlei as regras!

-Não estamos juntos… - finalmente respondi

Thomas estava distraído, mas quando eu terminei essa frase ele me olhou assustado.

-Como assim não estão juntos? – perguntou
-Não estando oras! – respondi indignada
-Mas… vocês terminaram então? – perguntou
-Thomas, eu e Brian nunca tivemos nada! Que tipo de pergunta é essa!? – falei
-Eu tinha certeza que estavam juntos! – exclamou
-E você acha que eu ia desrespeitar as regras da BBO? – ironizei
-Ah, sei lá, muitas pessoas não respeitam… - deu de ombros
-Eu não sou “muitas pessoas”! – respondi séria
-Desculpe… - falou envergonhado
-Não acredito que pensou que eu estava burlando as regras! – bufei
-Achei! – admitiu
-E não ia fazer nada? Quer dizer, não ia chamar minha atenção ou me despedir? – perguntei
-Claro que não! Eu não ia acabar com a sua vida amorosa pela segunda vez!

Quando ele disse isso me remexi na cadeira.

-Eu não tenho vida amorosa! Muito menos no trabalho… - resmunguei
-Deveria ter!

O olhei com cara de espanto e ele completou:

-Deveria ter fora do trabalho…
-Estou bem como estou, obrigada! – retruquei
-Eu também não tenho, então, estamos quites! – ele disse
-E a Suzan?

Eu sabia tudo o que tinha acontecido, mas eu nunca perguntei a ele diretamente e já que ele se intrometia na minha vida pessoal eu me dei o direito de me intrometer na dele.

-Nós terminamos…
-Você terminou? Ela terminou? Ou os dois?

Eu estava indo longe demais. Eu sabia a resposta, mas queria saber se ele ia mentir.

-Ela…

Wow! Ele foi sincero pelo menos e eu decidi continuar a provocação.

-Ah então você deve ter ficado triste, me desculpe por perguntar…
-Eu não fiquei triste. Nem um pouco. E desculpe por falar assim, mas estou sendo sincero…
-Tudo bem… - respondi continuando a tomar meu vinho

Ficamos em silêncio e eu decidi subir. Thomas me acompanhou e eu ainda não acreditava que ele achou mesmo que eu estava com o Brian!

Tomei um banho e coloquei o roupão. Ao sair do banheiro dei de cara com ele e fiquei envergonhada. Ele abaixou o olhar e entrou no banheiro.

Quando ele saiu eu vi que ele estava com um pijama delicioso, quer dizer, ele era delicioso, não o pijama! Eu já estava delirando e minhas vistas estavam turvas. Eu estava suando dentro daquele roupão e ao mesmo tempo tremia de frio. Lá fora nevava e o aquecedor do hotel deveria dar conta, mas não estava dando.

Comecei a ficar com pena do Thomas deitado naquele chão frio, amparado apenas por alguns cobertores. A cama era gigante, então caberia mais uma pessoa ainda e sobraría muito espaço.

-Thomas? – o chamei
-Oi!
-Deita aquí na cama! Está muito frio e tem espaço aquí! Sai desse chão frio! – ofereci
-Ahm, não precisa Anna, eu estou bem! – ele respondeu

Ai que idiota! Imbecil! Brian tinha razão! Ele era um covarde! Nem se eu o chamasse para transar ele aceitaria!

Eu não respondi. Me virei e tentei dormir. Eu me virava de um lado para o outro tentando me esquentar, mas o frio só aumentava. Então, de repente, eu sinto a cama balançar. Virei para olhar e vi Thomas se ajeitando na ponta da cama.

-Ahhhh você estava tão bem que resolveu dormir aquí! – provoquei
-Pois é, mais um pouco e eu congelaría! – ele disse rindo
-Eu não estou conseguindo dormir! Está muito frio! – reclamei
-Amanhã eu reclamo na recepção, esse ar quente não está funcionando! – ele disse
-Olha meu pé! – falei esfregando um dos pés nele
-Ai! Caramba! Você está morta!? – brincou
-Desculpe… - falei
-Olha a minha mão! – ele disse tocando uma das mãos em meu rosto
-Aaai! Credo!!! – reclamei
-Viu? E olha que eu costumo ter as mãos quentes! – ele disse e eu gargalhei
-Ai Thomas, você é tão metido! – brinquei
-Eu? Metido? Falei a verdade! Você sabe que minhas mãos…

Ele ia continuar mas parou.

-Continua! Fala o que você ia falar e eu ia desmentir! – provoquei
-Desmentir? Ah Anna! Você sabe que eu sempre tive as mãos quentes! – bufou
-Eu não sei de nada! – menti
-Olha, estou aquí só alguns minutos e já esquentou! – ele disse tocando em meu rosto de novo
-Wow! Que super quente! – revirei os olhos
-Não me provoca! – ele disse rindo
-Eu não tenho essa intenção… - respondi
-Que pena… - ele balbuciou
-Olha só, Thomas Mackenzie querendo burlar as regras da BBO! – brinquei
-Eu burlaría por um bom motivo… - ele disse
-Eu não! Nem pelo melhor motivo do mundo! – falei e ele me olhou sério

Ele ficou quieto e eu idiota continuei:

-Você já burlou as regras Thomas?
-Não.
-Não vale mentir… - falei
-Não estou mentindo.

Ele parecia estar falando a verdade.

-Bom, pelo menos as nossas consciencias estão limpas! – falei
-É, consciencia limpa e coração na merda! – ele disse e eu me surpreendi com a resposta
-Hum… você gosta de alguém de lá? – provoquei ainda mais

Ele riu e se mexeu debaixo dos cobertores.

-Eu não gosto, eu amo…

Quando ele respondeu isso eu já não queria mais brincar.

-Boa noite Thomas…

Falei e virei para o outro lado.

-O que foi? Está com ciúmes?

Ele perguntou e eu não acreditei!

-Como é que é? – perguntei virando para olha-lo
-Eu digo que amo uma pessoa de lá e você mostrou ciúmes! – explicou
-Ah Thomas, por favor… - bufei
-Eu amo essa pessoa, mas ela me odeia… - completou
-Thomas, eu não quero saber! – falei me virando de novo para o outro lado
-Ela me odeia, eu a amo, trabalhamos juntos na BBO e nunca poderemos ficar juntos , fim! Essa é a história… - falou

Eu fiquei com tanto ódio que completei:

-É o fim porque você é um covarde!

Falei sem me virar. Fechei os olhos e pensei na cagada que eu tinha feito, afinal, ele era meu chefe!

Continuei com os olhos fechados e sentí a cama se mexer. Ótimo! Ele tinha voltado para o chão de onde não deveria ter saído!

Mas o estranho é que eu não sentí a cama vazia. Senti algo bem perto de mim. Abri os olhos de repente e comecei a ficar nervosa. Thomas não tinha voltado para o chão! Ele estava bem atrás de mim! Eu sentia a sua respiração no meu cabelo! Puta que pariu!

-Pode sair daqui… - falei tentando não virar
-Não sou covarde, quer dizer, talvez, mas não hoje, não agora… - ele disse sussurrando
-Isso não me importa! – reclamei
-Importa sim! Eu sei que importa! – continuou
-Thomas, por favor, precisamos dormir… - pedi
-Precisamos mesmo? – ele perguntou e eu me virei
-Ficou maluco!? – perguntei
-Estou maluco desde o dia que eu descobri que você era a candidata Anna! Eu amo você e você sabe disso! – exclamou

Pisquei algumas vezes para entender o que ele dizia.

-Você não me ama Thomas e você tem uma linda carreira! Não estrague isso! – falei
-Eu já estraguei a minha vida há dois anos atrás…

Ele falava tão perto que mais um pouco nos beijáriamos.

-Eu não perdoei você!
-Eu sei…
-E não podemos!
-E se pudéssemos? – perguntou
-Eu não sei! – respondi
-Se não sabe é porque eu teria uma chance, não é?

Fiquei olhando naqueles lindos olhos ordinários. Ele me fez tão mal e eu só queria beija-lo. Eu precisava dele. Eu precisava dele naquele momento.

-Não sei Thomas… - respondi

Ele não disse mais nada, mas também não se afastou. Ao contrario disso ele se aproximava mais e quase encostou os lábios nos meus.

-Não podemos nos beijar… - falei atordoada
-Sei que não podemos…
-Boa noite! – falei ainda olhando para ele

Ele se aproximou mais e beijou meu pescoço delicadamente. Eu queimava e o frio que eu sentia desapareceu.

-Eu disse que não podemos! – falei
-Eu não beijei você, beijei? – perguntou

Eu só podía estar maluca, mas o que quer que ele tivesse em mente para todo aquele blá blá blá eu estaría disposta a aceitar.