História A paixão é uma loteria. Mas o amor é uma escolha. - Uma entrada triunfal

O dia da festa junina tinha finalmente chegado, e Benê estava absolutamente irrequieta.

- Filha, calma! Se você não ficar quieta eu não vou conseguir terminar de arrumar o seu cabelo!

- Mãe, eu tô tão nervosa! Eu não sei se eu consigo fazer isso! Só de pensar em todas aquelas pessoas me olhando...

Josefina terminou a segunda “maria chiquinha” da filha e se ajoelhou em frente a ela, que estava sentada em uma das cadeiras de seu quarto.

- Meu amor, fica tranquila. Nós já conversamos sobre isso, não? Vocês ensaiaram muito, estão mais do que preparadas! Vai dar tudo certo, não tem porque ter medo. Além disso, as meninas estão contando com você! Você não pode simplesmente abandoná-las, pode?

Benê olhou para a mãe, e balançou a cabeça negativamente.

- Você é muito forte, Benê. Você pode fazer isso, eu tenho certeza! – a zeladora respirou fundo e colocou sua mão no queixo da filha. – Muito bem, hora de irmos!

As duas se levantaram e se juntaram a Julinho, que as esperava na sala. Os três desceram os andares do pequeno prédio, dando de cara com Guto quando alcançaram a rua.

- Boa tarde, gente!

- Fala, playboy!

- Boa tarde, Guto querido.

- Guto? O-o que você tá fazendo aqui?

- Eu vim acompanhar vocês até o Cora! E aproveitar pra te dar isso aqui!

Nisso, ele tirou a mão que estava escondida atrás de suas costas, revelando um lindo lírio rosado. Benê corou.

- É... é pra mim?

- Claro, linda! – ele respondeu, com um sorriso.

Ela corou fortemente. – Eu... eu nunca ganhei flores.

- A primeira de muitas, eu garanto. – e piscou para ela.

Ela, muito envergonhada, aceitou a delicada flor e sentiu seu suave perfume.

- Gostou?

- M-muito!

- Aqui, tive uma ideia. Posso?

- O que você vai fazer?

Ele tomou o lírio de suas mãos e o ajeitou docemente nos cabelos de Benê, sob os olhares atentos de Josefina e Julinho.

- Ficou lindo, filha! Você tem muito bom gosto, Guto!

- Obrigado, dona Josefina!

- É. Ficou bom. – concordou Julinho, meio enciumado. – Podemos ir?

- Acho que sim. – respondeu Josefina.

Os dois se puderam a andar, enquanto Guto oferecia seu braço a Benê. Ela o olhou um pouco espantada, mas o garoto lhe lançou um olhar passando segurança. Assim, a corredora segurou o braço do pianista suavemente e os dois também se encaminharam ao colégio.

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- Lica, Tina! Bem vindas ao Cora Coralina!

- Muito obrigada, Key! Mas nós já estivemos aqui, esqueceu?

- Eu sei disso, Tina! Só que hoje o clima é bem diferente! E é desse dia que eu quero que vocês se lembrem! – disse a mãe de Tonico, abraçando as amigas do Colégio Grupo.

- Mas e aí? Cadê a Ellen e a Benê? – questionou Lica.

- A Ellen tá comandando o som, junto com o Anderson. A Benê ainda não chegou, mas eu espero que não demore muito. Ela tem que cuidar da barraca da pescaria...

Nisso, Keyla olhou por cima dos ombros das amigas e viu Josefina chegando, acompanhada dos filhos e de Guto.

- Ah, olha ela lá! Não morre mais!

Josefina e Julinho cumprimentaram as meninas e sumiram arraial adentro, enquanto Guto e Benê se detiveram no portão.

- Boa tarde, gente!

- Oi Guto! Oi Benê! – as três disseram, em uníssono.

- Oi meninas!

- Benê, que lírio mais lindo é esse aí no seu cabelo? Nossa, eu consigo sentir o cheiro dele daqui! – arguiu Lica.

- F-foi presente. Do Guto. – a corredora respondeu, olhando para o pianista com um sorriso.

- Você tem muito bom gosto, Guto! Ficou ótimo nela! E você, Benedita, tem muita sorte!

- Não, Tina. Sorte tenho eu, acredite. – Guto rebateu, deixando Benê envergonhada.

- Escuta aqui, vocês querem ficar parados aqui no portão a festa toda? Tem muita coisa pra ser feita lá dentro! – Keyla exclamou. – Inclusive, dona Benedita, a sua barraca tá te esperando!

- Ah, é verdade! Desculpa, Key, eu tô indo pra lá agora!

- Precisa de ajuda, linda?

- N-não precisa se incomodar! Vai curtir a festa...

- Incômodo nenhum! – assim, Guto pediu licença e foi com Benê até a barraca da pescaria, deixando três meninas boquiabertas para trás.

- Vocês viram isso? Como eles estão mais íntimos? O Guto deu uma flor pra ela, e até a chamou de linda! – comentou Keyla com um sorriso.

- Sim, Key. Eles são mesmo muito fofos juntos. E o Guto só tem feito bem à Benê. Eu nunca a vi tão feliz! – concordou Lica.

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Samantha e Felipe chegaram ao Cora Coralina e pararam na frente do portão principal.

- É. É aqui.

- O que foi, Sam? Tá nervosa, por acaso?

- Claro, né?! Por acaso você já entrou em uma escola pública? Porque eu não! Eu não faço a menor ideia do que esperar!

- Nossa, Samantha, que preconceito! Não vai acontecer nada de mais, ué! A gente vai aproveitar a festa e fazer o nosso som. E, de quebra, ainda vamos ajudar a mulher do Bóris a reconstruir a escola dela!

- Eu tô ligada, mas ainda tô nervosa! Vai saber se esse povo aí vai gostar da gente, do nosso som! Tem tanta coisa que pode dar errado...

- Sam, deixa de ser encanada e entra logo! Eu falei com a Keyla mais cedo e ela e o Roney já trouxeram todos os nossos instrumentos. Já deve estar tudo arrumado, só falta a gente passar o som.

- Aliás, falando em passar o som, você sabe do MB? O Guto me avisou que ia nos encontrar aqui. Disse que tinha umas coisas pra fazer antes de vir pra cá. Mas o MB não me atendeu e nem respondeu as minhas mensagens.

- Nem as minhas. Também não sei dele.

- Ai ai ai! Tô vendo o nosso guitarrista deixar a gente na mão, isso sim!

- Relaxa, Sam! O MB é meio doido, mas ele é responsável! Ele nunca esqueceria da apresentação da banda. Agora mexa esses pés e ENTRA LOGO!

Samantha e Felipe entraram no pátio do Cora, que estava todo decorado com bandeirinhas de papel e cestos de palha. Havia barracas de comidas típicas, além dos hambúrgueres do Tato e das coxinhas da avó da Ellen. Em um dos cantos mais afastados estavam sendo vendidas as bebidas, e por todo o lado era possível ver opções de brincadeiras.

Os dois andavam pela multidão, conhecendo o lugar e analisando as pessoas, quando Samantha avistou Guto e Benê dentro da barraca da pescaria.

- Guto?! Mas o que é que você tá fazendo aí dentro?! E com essa... menina?

- Ué, Sam, não tá claro? Eu tô ajudando! E a “menina” – ele fez sinal de aspas com as mãos. – tem nome. É Benê, lembra?

- Guto, pelo-amor-de-Deus! Olha o micão que você tá pagando aí dentro! Sai daí! AGORA!

- Não, Sam. Eu não vou fazer isso. Eu tenho muito orgulho de estar aqui, ajudando a Benê e o Cora! Não tenho vergonha não! Se você pensa assim, eu só posso lamentar.

- Felipe, me ajuda aqui! Daqui a pouco a gente vai subir no palco, e ele aqui nessa barraca!

- Desculpa Sam, mas o Guto tem razão. Também não vejo nada de mais nele ajudar a Benê.

- VOCÊS SÓ PODEM TER PERDIDO O JUÍZO! NÃO É POSSÍVEL!

A discussão entre Samantha e os dois rapazes continuava, e Benê se limitava a olhar a cena calada e encolhida. Ela não podia deixar de se sentir feliz em ver Guto a defendendo, mas ela não queria que a banda brigasse por sua causa. Ainda mais naquele dia, quando eles teriam que se apresentar em algumas horas.

Samantha ainda estava inconformada com a situação de Guto, tentando fazê-lo entender que era importante que ele zelasse por sua imagem, quando viu MB por sua visão periférica. Acenou para ele e aumentou o tom de voz, para que ele a escutasse.

- MB, que bom que você chegou! Me ajuda a colocar um pouco de bom senso na cabeça desses dois, porque-

Mas ela parou de falar quando o menino se aproximou deles e desferiu um soco forte e preciso no queixo de Felipe, fazendo-o ir ao chão.