Bruno estava cansado.
Cansado só do caos que açoitava o mundo e de tudo aquilo acontecer por pessoas terem mentes pequenas o bastante para não aceitar diferenças entre eles. Cansado da “pureza”.
A fúria que vinha a si quando pensava na sua terra natal virara algo comum já era tempo.
Já era tarde da noite, e as estrelas brilhavam pálidas no céu de outubro. Já faziam dez anos desde que fora embora da Alemanha e morava na América. Agora tinha uma namorada bonita, amigos e tudo o que um rapaz de vinte anos poderia verdadeiramente desejar. Exceto a paz. A paz que a guerra frustrou.
Sentado na grama do jardim da base, ele fechou os olhos para lembrar de quando não tinha ideia ainda das coisas que aconteciam, de quando era inocente e alheio do que cercava-lhe. A nostalgia de pensar nos feriados com os avós, peças que a avó planejara para ele e a irmã; seus três amigos que já não lembrava os nomes; a mudança para Haja-Vista.
Ele teimava em ainda chamar aquele matadouro pelo nome que conheceu pela primeira vez, como se não quisesse acreditar que morava ao lado de um lugar cruel como aquele.
Então, lembrou-se de Samuel: as tardes que passaram juntos, as histórias que trocaram e a comida que ele trouxera para o amigo. Seu primeiro grande amigo. Entretanto, para Bruno, ele mesmo não havia sido um amigo tão bom no final.
Teve um devaneio de seu maior arrependimento: não ter voltado para visitar Samuel. Se ele não tivesse dormido tanto; se ele não tivesse pensado tanto; se ele não tivesse prometido, talvez não doesse tanto assim.
Se Bruno tivesse encontrado Samuel, talvez, só talvez, nada disso teria acontecido. A fúria não teria convencido a Alemanha e a Europa, o mundo não estaria virado de cabeça para baixo e preenchido pelo caos, e a luta pela igualdade não estaria prestes a morrer.
Bruno poderia ter segurado suas borboletas na barriga naquele dia, impedido suas asas de bater e, no fim, elas não embaralhariam sua história com o furacão com qual romperam na sua vida.
Mas Bruno estava feliz naquela noite. Feliz por estar vivo e ser capaz de mudar a realidade. Sonhava que suas escolhas tivessem o mesmo poder que já tiveram um dia, para poder montar um futuro justo para aqueles que ama.
A paz não poderia mais ser frustrada pelo ódio, mas conquistada por sua esperança.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.