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História A perdição dos deuses - Capítulo 18 - Atlântida


Escrita por: JSommer

Notas do Autor


Oii, divinissimos!
Só queria mencionar que a partir deste capítulo a forma de escrita vai ficar um pouquinho diferente.
Ela vai se basear num formato de narrador-personagem que eu tentei inspirada em Os Instrumentos Mortais (maravilhoso, a propósito, super recomendo!).
Ou seja, as descrições, impressões e pensamentos vão ser focados em um personagem por vez em um centro mais fechado e particular dele.
Espero que tenha ficado bom :)

Capítulo 19 - Capítulo 18 - Atlântida


O DIA HAVIA NASCIDO há pouco quando Yara Bishop, a bruxa nomeada por Poseidon como Rainha dos Reinos do Oeste, foi contatada por um dos seus — Bruxos-dividos, abençoados pelos próprios deuses de Olympus com um dom — lhe contatou. Era Michael, Rei dos Reinos do Sul.

  Eles tiveram uma longa conversa naquela manhã, na qual Michael contou-lhe sobre acontecimentos que Yara não fazia idéia de que haviam ocorrido. Sempre achara Queen DeRan um tanto quanto introvertida e extremista, fora o fato de sentir um poder forte e sombrio vindo da bruxa; mas fazer prisioneiro o reino que Zeus lhe concedeu? Isso era mais do que podia imaginar.

  Yara era uma Bruxa da Luz – agora Bruxa-divina – de 49 anos de idade que crescera ali mesmo, em Atlântida, onde não haviam muitas bruxas devido à isolação da região. Quando Poseidon dominou o lugar, no início da Era dos Deuses, há 27 anos atrás, Yara tinha apenas 22 anos e foi nomeada representante de Poseidon e Atena, tornando-se Rainha de Atlântida.

  Assim como ela, outros sete bruxos foram escolhidos como representantes e agora desempenhavam funções reais em nome dos deuses que os escolheram.

  Yara era uma bela e gentil mulher, tendo olhos verde-amendoas e curtos cabelos castanhos. Suas atitudes eram compreensivas e afetuosas, possuindo sempre um sorriso no rosto. Ela apreciava agradecida o fato de ter sido escolhida pela própria Atena, a deusa da Sabedoria, como sua representante.

  Encontrava-se na Sala do Trono no momento, onde aguardava seus Protegidos para informar-lhes que receberiam visitantes. Yara estava disposta a recusar o pedido feito por Michael quanto a visita do grupo de jovens deuses à Atlântida, pois pelo contexto, eles iriam tentar convencer seus Protegidos a participarem de uma guerra. Não podia permitir que aqueles que fora designada para proteger partissipassem de uma guerra.

  Mas Michael insistiu tanto que ela acabou cedendo. Ele disse que seus Protegidos também estavam envolvidos nisso agora que fariam parte da guerra e garantiu que não haveriam tantos danos, levando em conta que o exército de Queen — que a propósito, teriam suas almas trazidas de volta por Hela — era mortal e o exército de Hela era formado por deuses.

  As portas do salão foram abertas pelos guardas do lado de fora da mesma, revelando quatro jovens. Dois rapazes caminhavam a frente, ambos de cabelos castanhos, mas um possuía a pele branca e olhos azuis, enquanto o outro possuía a pele pouco mais bronzeada e olhos castanhos. Atrás deles seguiam um casal, ambos de cabelos negros e olhos azuis.

  – Majestade. – Saldaram fazendo uma reverência quando pararam frente ao trono e as portas duplas foram fechadas.

  A Sala do Trono era espaçosa e bem iluminada, com três grandes lustres de cristal enfileirados no centro, emanando luz branca para todo o cômodo. Haviam ainda pequenos quadrados em suportes metálicos nas paredes que emanavam a mesma luz enfeitiçada branca, geradas de feitiços feitos por Yara e espalhados em todo o castelo, já que os atlantis evitavam fogo.

  As paredes do salão eram pintadas em um tom de verde-água, claro e bem iluminado pela luz branca. No teto jaziam pinturas de seu deus-líder, Poseidon. Narrando momentos de sua vida, sua chegada à Atlântida, seu relacionamento com a deusa Atena, o momento que abençoou Yara com a divindade, entre outras coisas.

  O Castelo Real de Atlântida era o único que possuía um padrão diferente dos outros ao redor do mundo: ele era submerso. Os Reinos do Oeste se estendiam pela ilha principal — que possuía um formato circular —, denominada Atlântida, as ilhas menores e todo o Oceano Sombrio. Para chegar à Atlântida era necessário realizar o trajeto feito pelos navios, que realizavam a entrega de mantimentos; da terra para a ilha e vice-versa. E a entrada de visitantes só acontecia com a permissão da rainha, previamente avisada; caso contrário estariam quebrando as normas e seriam considerados inimigos.

  O maior oceano de Først, nomeado de Oceano Sombrio, pertencia aos Reinos do Oeste. Ele abrigava inúmeras espécies aquáticas, entre elas sereias. As sereias eram criaturas semi-humanas, possuindo o tronco humano e uma longa e escamosa cauda de peixe, de diferentes cores para cada um. Estes belos e persuasivos seres se encontravam no fundo do oceano, na Atlântida Submersa, também conhecida como Reino das Sereias.

  Estas criaturas eram belíssimas, tanto homens quanto mulheres, e possuíam uma habilidade persuasiva impressionante sobre os humanos, assim como as fadas. Possuíam ainda habilidades que lhes permitiam se comunicar telepaticamente uns com os outros e com os animais aquáticos com quem conviviam, e ainda podiam adquirir a forma humana caso viessem a sair da água.

  As sereias eram hierarquizadas assim como os humanos, possuindo um rei, o atual Rei Tritão, e uma rainha, a Rainha Ariella. Parte de sua espécie vivia em uma cidade que havia afundado há séculos e se encontrava a uma profundidade imensa da superfície, esta era a Atlântida Submersa comandada por Tritão. Mas existiam também as Sereias das Sombras, que davam nome ao oceano. Elas viviam na parte mais profunda dele, onde apenas elas conseguiam chegar e onde deveriam viver.

  Vez por outra, quando humanos ficavam à deriva no Oceano Sombrio ou mesmo sozinhos na costa, as Sereias das Sombras — que possuíam um gosto particular por carne humana — os persuadiam a entrar na água e se alimentavam deles. Isto, é claro, era proibido; e caso ocorresse o Rei Tritão deveria entregar tal criminoso para a Rainha Yara, que o condenaria à forca por transgredir a Lei.

  Atlântida era cercada por uma alta muralha de pedras cinzentas, impedindo a entrada de mortais comuns. Haviam torres de vigilância pautadas na muralha, de onde guardas que se revezavam em turnos observavam o movimento nos mares. E a única entrada para o reino eram os Portões, que eram dois altos portões de madeira com suporte metálico, abertos apenas pelo lado de dentro com a permissão da rainha.

  Dentro dos muros haviam as casas da população, distribuídas em todo o lugar. A Feira, onde eram vendidos peixes e orgânicos negociados com os outros reinos, ficava no centro da ilha, possuindo um formato circular. Toda a Ilha de Atlântida era cortada na horizontal por um rio, chamado de Rio Satull, que adentrava o muro e tinha final no lado oposto. Haviam vários canais por todo o reino e ainda vários poços de água doce — cada um com aproximadamente dois metros de diâmetro —, de onde a população tirava água para uso doméstico.

  No centro do rio, exatamente no centro da ilha, haviam duas portas de madeira que tomavam uma pequena parte do rio — que tinha aproximadamente cinquenta metros de largura. As portas formavam um círculo de quatro metros de diâmetro, elevadas há quase dois metro de altura do nível do rio. Para chegar até elas — que ficavam a vinte e três metros de ambas as margens do rio —, era necessário passar por uma ponte de madeira de um metro e meio de largura com grades de mesmo material.

  Quando as portas eram abertas, davam acesso à uma escadaria em caracol feita de metal preto, que se seguia metros abaixo da superfície da terra, até finalmente desembocar em um pequeno espaço aberto, com um lustre de cristais acima e duas escadarias metálicas curvadas em lados opostos até um outro espaço dois metros abaixo, com piso liso e lustroso nas cores verde-turquesa, azul-marinho e cinza-escuro. Entre as escadarias havia um pequeno poço, onde a água era profunda e brilhante como os lago-portais para o Reino das Fadas (1).

  No espaço aberto onde a escada de caracol terminava haviam duas portas altas feitas de madeira e pintadas de verde-água com detalhes em branco e dourado, representando os formatos das ondas que se realizavam nas águas. Aquelas portas, onde sempre ficavam postos dois guardas fardados com trajes prateados, davam para a Sala do Trono, onde agora a Família Real se encontrava.

   – Convocou-nos? – questionou o rapaz de cabelos negros.

  – De certo que sim, Percy. – Confirmou a rainha.

  Yara estava sentada em seu trono, que era talhado em Pedra Branca com formato de concha; mais confortável do que aparentava ser. Ela usava um longo vestido marrom-claro que combinava com a cor de seus cabelos, que estavam soltos sobre seus ombros estreitos.

  – Tenho algo a lhes comunicar. – Disse ela.

  – E o que seria? – perguntou a única garota do grupo.

  – Alguns de seus primos virão para Atlântida fazer-nos uma proposta.

  – Fantástico! – exclamou o mais novo dos quatro, entusiasmado. – Nunca recebemos primos antes.

  – Que proposta é essa? – questionou o mais velho, apreensivo.

  Yara suspirou.

  Nathaniel, o primogênito de Poseidon e Atena havia puxado todas as características intelectuais de sua mãe e por isso foi nomeado o deus da Sabedoria. Yara sempre soubera da dedicação e interesse do rapaz perante assuntos de extrema relevância e estava preocupada em qual poderia ser a reação dele ao saber sobre tal proposta, já que abominava conflitos e afirmava que eles poderiam ser resolvidos de forma pacífica e verbal.

  – Sua prima, Hela, virá para cá com um pequeno grupo pedir o apoio de vocês para uma guerra que está por vir.

  Houve um breve silêncio no salão até que a garota o quebrou:

  – Hela, a deusa da Morte?

  Annabeth, a deusa da Estratégia em Batalha tinha a personalidade diferente da do irmão. Ela era impulsiva e ansiava por guerra, era a melhor guerreira de Atlântida e sempre vencia suas batalhas. Mas já demonstrara desgosto.desde que soubera sobre a reputação da prima. Anna acreditava que Hela gostava de chamar a atenção para si, de subjugar os outros e governar Hel com orgulho e superioridade. Tais características a fizeram detestar a mais velha do âmago de sua alma imortal.

  – Uma guerra? – questionou o moreno.

  Perseu, o segundo filho — mais novo que Nathan e mais velho que Anna —, puxara a personalidade do pai: pacífico, compreensivo e buscava sempre ajudar aqueles que precisavam. Por tais aspectos, foi denominado o deus das Mares. E mesmo nunca tendo conhecido seu pai, acreditava que gostaria de conhecê-lo se um dia isso fosse possível.

  – É, pelo visto a visita não é pelo melhor dos motivos. – Comentou o caçula, menos empolgado.

  Tyson, o deus dos Terremotos era o mais novo e puro dos irmãos. Tendo as características físicas de seu pai e a bondade da mãe, era visível que compartilhava um pouco de ambos. O rapaz era desastrado e não era muito bom em combate, mas era alegre e vívido em todos os momentos e gostava de descobrir coisas novas e fazer novas amizades. Por morar em um dos reinos mais isolados de Først, não recebia nem fazia muitas visitas, e saber que seus primos iriam visitá-los — fosse qual fosse o motivo — lhe deixava animado com a ideia de conhecê-los.

  O jovem príncipe, Yara sabia, era o tipo de pessoa alegre e otimista. E em um reino onde homens eram treinados como guerreiros, ele era considerado bobo e sem utilidade. Era desprezado por praticamente todos a sua volta, com exceção do irmão mais velho, Nathan. Uma alma pura em meio à ganância e traição, ela tinha ciência, era mais raro que as pedras mais preciosas que pudessem existir.

  – Qual o motivo da guerra? – perguntou Nathan, intrigado.

  – A Rainha Queen, dos Reinos do Norte – explicou Yara –, aprisionou seu reino com uma barreira mágica muito poderosa. Toda a população de Altiorem está isolada do resto do mundo e ninguém pode entrar ou sair de lá.

  – E como pretendem que lutemos? – ironizou Anna, cruzando os braços frente ao corpo esguio.

  – Hela e os outros estão criando um plano para libertá-los.

  – E desde quando Hela se importa com o sofrimento das pessoas? – protestou a deusa. – Pensei que ela o causasse.

  – Anna – repreendeu Nathan. – Não seja rude, não a conhece ainda.

  – Quando chegarão? – perguntou Ty.

  – Parece ansioso pela vinda deles – observou Percy.

  – Não vejo problema algum em fazer amizades novas – declarou o caçula –, eles parecem legais!

  – Chegarão ao anoitecer. – Informou Yara.

  – Negar a visita não passou por sua cabeça, passou, Majestade? – disse Perseu, com um tom quase cômico.

  – Sabem que não os pediria para fazer isso se não fosse necessário, não sabem? – argumentou Yara com a voz calma e fraterna. Anna suspirou, suavizando a intensidade e soltando os braços. – Aquelas pessoas estão sofrendo. Não podemos permitir que continuem assim.

  – Faremos o possível para colaborar. – Declarou Percy, pacificamente.

  – Quem irá recepcioná-los? – questionou Ty.

  – Imaginei que, para que se conhecessem melhor antes da reunião – sugeriu a rainha –, vocês pudessem se encarregar disto.

  – Decerto que sim! – Confirmou Tyson, animado. – Partiremos em menos de uma hora.

  – Irá deixar-nos responsáveis pela assassina e guardiã de Hel, Majestade? – Reclamou Anna.

  – Anna – suplicou Nathan, indo até a irmã e segurando suas mãos de forma delicada, acariciando-as suavemente. – Por favor. Ao menos tente.

  Annabeth suspirou.

  – Certo – cedeu ela. – Farei isso por ti.

  – Obrigado – sussurrou beijando a bochecha da irmã.

  – Muito bem – pronunciou-se a rainha. – Preparem-se, meus Protegidos. O navio vos aguarda.

* * *


  – Tinha que ter mexido com a cabeça de Nick, não é mesmo, Loki?

  Há poucos minutos atrás um portal havia sido criado por Hela e assim que o quarteto o atravessou aterrissaram na Estrada de Pedras Cinzentas, há apenas alguns metros da Costa do Oceano Sombrio.

  Loki e Hela haviam tomado frente, discutindo desde que o portal se fechara atrás deles. Hela parecia furiosa, mas Héstia desconhecia o porquê. Aparentemente, tinha algo a ver com Nick.

  – O que garante que o mortal não tirou as conclusões por si próprio? – Sugeriu Loki, com um tom presunçoso.

  Hela suspirou como se realmente necessitasse de oxigênio. Seu rosto, geralmente claro e delicado como porcelana, estava vermelho de raiva.

  – Podem não brigar durante a viagem? – pediu Héstia, incomodada. Estava logo atrás, ao lado de Thor, que apenas observava a discussão com certo interesse. Ela lamentava profundamente não ser acostumada a usar roupas como as de Hela, pois caminhar com salto e um vestido maior que seu próprio corpo sobre uma estrada de pedras não estava sendo nada fácil.

  – Deveras – pronunciou-se Thor. – Não teremos para onde ir caso a discussão torne-se caótica.

  – Vocês têm a floresta. – Reclamou a morena, irritadiça. – E sugiro que não se intrometa, a menos que queira que eu mesma lhe mande para lá.

  Ele levantou as mãos em rendição e se calou, sorrindo com certo divertimento.

  – Pelo fato de ser mortal ele confia em ti mais do que qualquer outro, até mais do que sua própria família. – Observou Loki, ignorando a discussão entre os mais novos. – Diferente de seus irmãos e até de seus primos – lançou um olhar por cima do ombro para Héstia –, que questionam, por vezes, se você é realmente confiável e se não irá matar todos nós.

  – Eu confio em Hela! – protestou Héstia, surpreendendo a todos. – E acredito que ela saiba o que está fazendo. Se tem problemas com ela, primo, aprenda a resolver por si só. Mas não ouse colocar palavras na minha boca.

  Houve silêncio. O espanto era evidente na feição dos três. Nunca pensaram que veriam alguém tão pacífico e quieto quanto Héstia se expressando de tal forma. Até ela própria se sentia surpresa por ter se alterado quanto a algo relativamente indiferente. Talvez a influência de Hela a estivesse encorajando para se pronunciar? Ou talvez ela pudesse estar despertando seu próprio poder?

  Loki se calou e voltou seu rosto para frente, percorrendo o resto do caminho em silêncio.

  – Impressionante, prima! – exclamou Thor, animado, fazendo-a sentir as bochechas queimarem levemente.

  Ao desviar seus olhos vermelhos do rapaz para sua prima, Héstia pôde ver que os olhos castanhos de Hela estavam sobre ela. Agora ela não parecia irritada, mas sim orgulhosa. Orgulhosa de Héstia. E a prova para tal suposição foi o sorriso que ela lançou para a mais nova, um sorriso sincero e ingênuo. E seus lábios produziram um "obrigado" mudo, fazendo a loira retribuir o sorriso com satisfação.

  Héstia, de repente, sentiu-se poderosa. Sentiu-se forte, corajosa e independente de uma forma que nunca havia se sentido antes. Não menosprezada por ser fraca, como Aleto costumava fazer, ou recebendo pena de Macária por sua ingenuidade, ou ainda sendo protegida de ataques verbais e físicos por Christian e agora também por Jason. Se sentiu capaz.

  – Creio que tenhamos chegado. – Comentou Thor quando a Estrada de Pedras Cinzentas chegou ao fim, dando espaço para a areia branca que se estendia horizonte à frente.

  Isto tudo deve ser belíssimo à luz do dia, pensou Héstia, lamentando a diferença de horário existente no mundo.

  Ao adentrarem mais na praia, andando sobre a fria areia da costa e estreitando sua visão para enxergarem na negritude da noite, eles puderam ver uma enorme silhueta escura contra os fracos raios lunares que caíam sobre a praia. Um navio, supôs Héstia, impressionada. Nunca havia visto um navio antes, muito menos um oceano; com exceção do Oceano Cataratas, em Asgard.

  Ela podia escutar o barulho das pessoas se movimentando sobre o imenso meio de transporte, conversando e mexendo nos aparelhos que manuseavam. As velas estavam içadas e eles pareciam prontos para partir, como se estivessem esperando a chegada deles há um bom tempo.

  Héstia pôde ouvir uma certa movimentação na água a vários metros da costa. Estranhando o fato de o navio estar parado e sem causar ondulação alguma sobre a água, estreitou o olhar em direção ao som. Forçando um pouco mais a vista, conseguiu ver silhuetas na água.

  – O que é...? – perguntou para ninguém em específico, mas se interrompeu ao se aproximar com cautela.

  Havia um mortal dentro de um pequeno barco de madeira a alguns metros da praia, próximo às pedras onde as águas do oceano batiam de forma quase agitada. Ele estava olhando agraciado para algo que estava dentro da água, quase de forma boba e hipnotizada, ela notou. Ao se aproximar mais, pôde notar uma presença humana no oceano, naquele exato lugar — bom, não tão humano assim.

  Uma sereia estava em frente ao mortal, com seus cabelos negros flutuando sob a superfície azul-marinho do oceano e os olhos verdes, que pareciam brilhar à luz da lua, fixos nos do homem. A pele branca da mão deslizava sobre o rosto dele enquanto ela lhe murmurava algo. Os deuses sabiam, já ouviram as histórias: sereias da Atlântida Submersa não possuíam permissão para falar com mortais, mas as Sereias das Sombras, sim.

  – Ela vai... – Héstia se viu pronunciando e ao perceber a morte iminente do homem, se alarmou. – Não, espere! – gritou começando a correr na direção do homem, na esperança de salvá-lo de uma terrível e dolorosa morte. Mas não precisou.

  De repente, a água ao redor da sereia foi puxada para trás e formou uma onda mediana, mas não em movimentos normais de um oceano. O ser aquático se viu exposto e sua verdadeira forma foi revelada, fazendo Héstia estacar, confusa: a pele da sereia se mostrou ainda mais pálida, agora totalmente iluminada pela luz prateada do luar, e com veias verde-azuladas visíveis logo abaixo da derme; os dentes se mostraram todos pontudos como o de um tubarão, os cabelos caíram sob seus seios assim que a água se retirou e o mais impressionante se tornou visível, sua cauda escamosa em tons verde-escuro.

  A sereia chiou como um Gatuno ao ver um Makimera e então olhou em direção ao navio, vendo alguém que lhe desagradou e que ela não percebera antes. Alguém no navio fez isso? perguntou-se Héstia, surpresa, e logo uma voz surgiu.

  – Mortal tolo – disse uma voz masculina vinda do navio. O pescador no barco estava agora assustado, havia se jogado para trás com o susto ao ver a verdadeira face do que antes era a encantadora sereia. – Não sabe que não se deve falar com as criaturas do mar?

  O grupo de deuses se aproximou da beira do oceano, olhando para o interior do navio em busca do detentor da voz. Era um rapaz não muito mais velho que Héstia, talvez dois anos a mais. Sua silhueta era visível, alta e enegrecida pela luz lunar que atingia suas costas de ombros largos, projetando sua sombra na areia pálida.

  – Por que perder tão preciso tempo com os mortais? – uma voz atrás de Héstia se pronunciou, passando ao seu lado para se aproximar do navio. Era Hela. – Eles são bons em causar a própria morte, afinal. – O rapaz no navio se voltou para o pequeno grupo com uma feição sombria.

  – Deve ser Hela. – Supôs ele com um tom de voz alto para que fosse ouvido pelo grupo. – Fomos informados esta manhã de que receberíamos vossa visita e viemos escoltar vosso grupo até a Ilha de Atlântida. – Enquanto ele falava, um grupo de três marinheiros desceu as escadas do grande transporte e ajudou os deuses a subirem pelas mesmas para dentro do navio. – Sou Perseu – se apresentou assim que todos os quatro entraram.

  Agora, de perto, Héstia pôde identificar melhor a fisionomia do rapaz. A luz era fraca, mas conseguiu identificar os cabelos negros bagunçados e um rosto pálido. Possuía porte atlético e era alto, bem mais alto que ela. Não parecia muito mais velho, talvez fosse até mais novo que Hela e os outros. E não parecia muito contente pela visita.

  Perseu, observou Héstia. O deus dos Mares, Filho de Poseidon. Aquele que, ao contrário dela — que controlava o fogo —, tinha domínio sobre as águas. Isto, pelo menos para ela, não impediria que pudessem se dar bem.

  – E esta – prosseguiu, apontando para uma linda garota de longos cabelos negros e feição inflexível – é minha irmã, Annabeth.

  – Salve! – exclamou um garoto atrás deles. – Sou Tyson.

  Ele surgiu atrás da irmã mais velha e olhou para o grupo. Sua pele era pálida à luz do luar e mesmo na escuridão densa da noite, Héstia pôde ver os olhos tão azuis quanto os da irmã. Seus cabelos pendiam em cachos castanho-claros, cobrindo as orelhas e parte da testa. Possuía um sorriso amigável no rosto e sua mão estava acenando para o grupo.

  – Salve, Tyson. – A inferina foi a única que lhe deu atenção. – Sou Héstia.

  – Muito prazer em conhecê-la, Milady Héstia. – Ele fez uma reverência acentuada, ainda sorrindo de forma simpática e a loira retribuiu o sorriso.

  – O prazer é meu. – Ela fez uma reverência igualitária. – Me chame apenas de Héstia, eu insisto. – O moreno sorriu alegre.

  - Saudo-vos, primos. – Uma voz masculina surgiu por trás dos três, ganhando espaço entre estes e se colocando à frente. – Sou Nathaniel, deus da Sabedoria. Primogênito de Poseidon e da deusa Atena. Responsável por guiá-los e recepcioná-los até a Ilha de Atlântida, assim como meus irmãos.

  Ele era alto, Héstia notara, mas não tanto quanto Perseu. Seus cabelos eram do que parecia um castanho-claro, assim como os olhos. A pele era mais bronzeada que a dos outros irmãos, os ombros eram largos e possuía porte atlético — algo que, Héstia supunha, era comum na maioria, se não em todos os deuses devido ao treinamento de combate —; mas diferente de Tyson, Nathaniel emanava algo peculiar em seu jeito e personalidade, algo que Héstia jamais presenciara antes. Não conseguia dizer o que era.

  – É um prazer conhecer todos vocês, meus primos! – Declarou Hela exageradamente, emergindo frente ao grupo e sorrindo para os atlantis. – Como Perseu mesmo disse e permitam-me nos apresentar... Sou Hela, a deusa da Morte – sorriu de forma cruel e fez uma reverência. – Esta é Héstia, primogênita de Hades – apontou para a loira, que sorriu e se curvou, segurando a saia do vestido. – E estes são Loki e Thor, Filhos de Odin. – Apontou para os rapazes, que fizeram uma breve reverência. – Agradecemos o carinho por nos receberem em seu prestigiado reino.

  – Sem tantas formalidades, Filha de Zeus. – Pronunciou-se Annabeth. Héstia já havia ouvido falar brevemente sobre ela e ainda assim tudo o que sabia era que a garota portava uma personalidade forte, repleta de coragem e ímpeto. Agora, diante dela, notava que as histórias eram verdade e que, muito provavelmente, ela e Hela não se dariam bem. Não que Hela se importasse em fazer amizades. – Sabemos que não está aqui apenas por diversão.

  – Vejam só! – exclamou Hela, parecendo verdadeiramente animada. Mas ela era tão boa em esboçar imagens irreais, ilusões e personalidades perfeitas e carregadas de veneno que Héstia duvidava que fosse real. – É tão especial para minha pessoa saber que há outra donzela, e ainda mais uma princesa, que se veste como uma guerreira pronta para a batalha.

  Apenas naquele momento Héstia pareceu notar nas vestes de sua prima. Annabeth não estava trajando um vestido formal como a etiqueta de mulheres e, em especial, princesas.deveriam usar. Pelo contrário, a Filha de Atena estava utilizando roupas um tanto semelhante às de Hela: uma blusa azul-marinho de mangas compridas, um colete que modelava seus seios vantajosos e descia por sua fina cintura; as calças eram de couro preto e usava botas. Havia ainda uma bainha no lado esquerdo de sua cintura e era visível, refletindo a luz da lua, uma faca na bota direita.

  Héstia não se via sendo capaz de trajar roupas assim, mas baseado em uma conversa que tivera com Hela há pouco tempo atrás, não teria muita escolha quando a hora chegasse.

  – Uma pena não poder dizer o mesmo. – Respondeu Annabeth e sorriu friamente.

  – Gostei dela – comentou Thor, esboçando um sorriso divertido. – Ela não tem medo da morte.

  – Não seja estúpido. – Interveio Loki. – Ela é uma deusa, não pode morrer.

  – Enfim – prosseguiu Hela, tranquilamente. – É uma honra que a Rainha tenha mandado seus próprios Protegidos para nos escoltar.

  – Ela queria que nos conhecêssemos melhor antes da reunião – explicou Tyson, visivelmente animado.

  – E foi um pedido considerável – observou Perseu em um tom conservador –, levando em conta quem iríamos receber. – Hela sorriu à provocação.

  – Estão aqui para garantir que não irei matar alguém – explicou em um tom quase casual.

  – São apenas precauções. – Advertiu o moreno. – Podem ser nossos primos, mas isso não significa que vamos nos dar bem.

  – Não há com o que se preocupar, eu não o faria. – Defendeu-se a mais velha, entretida. – O máximo seria apenas machucar alguém para conseguir informações e, sinceramente, nem precisaria fazê-lo para conseguir.

  – É um ponto se vista um tanto peculiar, não? – Provocou o deus dos Mares.

  – Atos um tanto indignos para uma princesa que carrega sangue divino nas veias, não concorda? – Desafiou Annabeth com os braços finos cruzados frente ao corpo.

  – Saberão os motivos de meus atos indignos – enfatizou Hela, olhando para a mais nova – durante a reunião. O único motivo pelo qual viemos aqui, caso não estejam recordando. Confiem em mim, não estaria aqui se não fosse necessário.

  – Sabe, não costumo confiar em alguém que é denominada deusa da Morte. – Declarou a atlanti.

  – Então não confie, prima. Faça o que acreditar que seja melhor. Não sou responsável por seus atos. – Desviou o olhar para Nathaniel e sorriu como se não houvesse tensão entre as duas. – Podemos ir?

  – Hã... Decerto que sim – disse parecendo incomodado. – Sejam bem-vindos à bordo! Percy? – olhou para o irmão de forma que indicasse que ele já sabia o que fazer.

  – Prima? – Héstia ouviu alguém chamá-la e olhou em direção à voz. Era Tyson. Sua voz era sussurrada para não chamar a atenção. ‐ Gostaria de conversar em outro lugar? Imagino que ficar em meio à desavenças durante a viagem de um dia não seja de seu agrado?

  Ela olhou ao redor, vendo Hela desafiar Annabeth com um olhar presunçoso, Thor apreciar a garota como os mortais ao empoderá-la como deusa, Loki presenciar tudo aquilo com visível tédio, Nathaniel analisar discretamente seus visitantes e ainda podia ver todos os homens mortais presentes no enorme navio de madeira. Tyson estava certo, ela não gostaria de presenciar as discussões que sabia que seguiriam entre suas primas e a possível intervenção de Perseu e Nathaniel, o encorajamento de Thor e o desinteresse de Loki.

  – Adoraria. – Decidiu e seu primo lhe estendeu gentilmente a mão, ao qual ela pegou e permitiu que ele a guiasse até a cabine do capitão enquanto escutava a voz de Perseu exercendo comandos antes de sentir o navio se movendo abaixo deles:

  – Levantar âncora! Soltar as amarras, içar as velas! – Dizia e os homens começaram a mover-se apressadamente, realizando os comandos de seu aparente capitão. E por um breve momento, antes de adentrar na cabine, Héstia supôs ter ouvido um murmúrio de lamentação do primo que dizia: – Temos um longo caminho pela frente. 


Notas Finais


1- Interior do Castelo de Atlântida: https://pin.it/1D5lPDm

Personalidade forte é pros fracos, né, Anna?
Haha divaaa
Não tem mesmo medo da morte rs
Primeira impressão dos Filhos de Poseidon sobre o grupo não foi lá das melhores, né?
Acham que isso pode melhorar? rs


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