Obviamente Emma sentia-se culpada. Ainda estava atordoada com o sonho que tivera com seu pai quando acordou e viu Regina. Ninguém nunca irá te amar, disse ele. Ela levara um mero pesadelo em consideração, ainda não acreditava o quão estúpida havia sido com Regina — sendo ela, a própria Emma, a verdadeira cretina da história.
A dor em seu abdômen estava matando-a e a dor de cabeça pós desentendimento veio de bônus. A loira sentia-se um lixo inútil em cima daquela cama e agora para completar, estava sozinha na UTI por ser extremamente babaca com alguém que só queria o seu bem.
— Emma Swan, você merece o prêmio de burra do ano
Emma estava pronta para lançar o controle remoto da tv na cara de quem quer que fosse por falar com ela daquele jeito. Ela merecia, mas não ia deixar ninguém ferir o seu ego daquele jeito. Quando virou a cabeça, viu Lacey em uma cadeira de rodas usando as mesmas roupas de hospital que ela com um curativo na cabeça, retorcendo a cara em uma careta horrorosa e levando a mão a nuca. Seu cabelo castanho que causava-lhe inveja agora estava uma merda completamente embaraçada.
— Aí meu Deus — assustou-se Emma levando as mãos a boca
— Calma, eu não to paraplégica — disse ela com o humor de sempre — Mas você está prestes a ficar — disse séria
Emma olhou confusa para ela sem entender nada. Meneou as mãos em um gesto de "eu não sei do que você está falando" e recostou-se na cama. Lacey se aproximou e ficou ao lado dela.
— É verdade o que as enfermeiras estavam falando? Que você chamou Regina de cretina na cara dela?! — perguntou
— Eu não sei o que deu em mim — Ela enterrou o rosto nas duas mãos
— Aquele caminhão além de levar seu baço, levou também sua sanidade mental — debochou — Ela devolveu sua pulseira! Dizem as más línguas pelo corredor que ela quase enfiou um bisturi em um médico pra ele deixa-la te operar! É como se ela fosse seu cavaleiro da capa branca, Emma!
— Você não precisa ficar me lembrando disso, não tá me ajudando... — bufou a loira — Droga! — socou a cama
Lacey perdeu a o olhar reprovador e sua expressão suavizara quase ao nível da pena ao ver lágrimas brilhantes escorrerem dos olhos da amiga. Ela aproximou-se com a sua cadeira e secou as lágrimas insistentes com as costas dos dedos; sentia-se mal por sua amiga. Ela a salvara da morte e a August também, estava disposta a se sacrificar — o que para Emma fora uma for de desistência, mas os amigos não sabiam — e o mínimo que Lacey poderia fazer em sua impotência era ficar ao lado da amiga até que as enfermeiras notassem o seu sumiço.
Emma estava com a mão direita sobre os olhos pressionando os dedos contra eles para que as lágrimas não descessem e reprimia um soluço dolorido na garganta — ela odiava chorar na frente de quem quer que fosse.
— E... Eu não to enxergando nada — disse Emma em meio aos soluços — Eu perdi minhas lentes no acidente e agora só vejo um monte de borrão na televisão! — descambou em um choro surdo — Eu fui uma idiota!
Lacey permitiu-se ficar em silêncio enquanto esfregava a mão nas costas dela por respeito enquanto esta chorava por causa de suas lentes e sabe lá Deus o que mais assolava seu coração além de seu desentendimento com Regina. Ela viu o braço da amiga engessado ate o cotovelo — deveria ter uma cicatriz enorme debaixo daquilo mas tinha certeza que sua mão ficaria boa logo. Segurando a mão boa de Emma, deu um longo aperto reconfortante que fez a loira encarar-lhe e oferecer-lhe um sorriso fraco e sofrido.
Nada como a culpa, não é mesmo?
— Eu odeio deixar você sozinha — disse Lacey penteando os cachos loiros com o dedo — Mas tenho que voltar pro leito antes que a enfermeira de falta
— Eu vou ficar bem — disse Emma um pouco mais calma — Vai antes que ela te pegue aqui!
Lacey sorriu e virou a cadeira. Na saída, atrapalhou-se e bateu contra a parede xingando-a baixinho logo em seguida fazendo com que Emma desse uma risada fraca. A loira encostou a cabeça no travesseiro e depois de um longo tempo, sentiu o braço esquerdo latejar — a fisgada projetava-se da carne até o osso em um espaço de tempo curto e regular que lembrava a Emma uma martelada.
Obrigando-se a dormir para não sentir dor, ela fechou os olhos e os apertou para controlar as fisgadas em vão. Enquanto tentava achar uma posição confortável no leito, alguém bateu à porta e colocou a cabeça entre a porta e o alisar — era Ingrid. A mulher tinha um olhar preocupado porém calmo, alguém havia avisado-a sobre o acidente antes de chegar ao hospital.
— Querida?! — chamou Ingrid
Emma virou o rosto para o lado da porta e sorriu. Levantou o braço bom convidando-a para um abraço quente. Os olhos azuis-gelo de Ingrid acompanharam os movimentos de Emma que foram respondidos com um leve rompido e um confortável choque de corpos — o cabelo também loiro de Ingrid exalava um cheiro maravilhoso de lavanda que fazia Emma lembrar de casa, o abrigo.
Afundando o rosto na curvatura do pescoço da mulher, Emma permitiu-se ficar no abraço de Ingrid por um longo tempo até que esta desfez o aperto caloroso e terno para sentar-se ao lado dela na cama.
— Como soube que eu estava aqui? — perguntou Emma
— Uma moça me ligou e disse que trabalhava nesse hospital — contou — Disse que você tinha se arrebentado toda mas de um jeito todo formal que eu quase não entendi e você sabe como eu sou né! — gesticulou como normalmente fazia — Quase tive um infarto ao telefone mas ela disse que já você estava estabilizada e pediu que eu viesse
Emma ouvia atentamente a história enquanto seu cérebro trabalhava processando e juntando as informações em seu subconsciente o quanto a dor em seus membros a deixavam pensar.
— Então eu disse que estava em Austin e não teria como chegar tão rápido de carro
— Austin? Que diabos foi fazer no Texas?! — cortou-a com um gesto
— Hã... fui resolver umas coisas, nada demais — mentiu e arrumou os cabelos atrás da orelha — Então voltando, ela se ofereceu para comprar a passagem de avião e ainda disse que os pais dela me buscariam no aeroporto assim que eu desembarcasse. Não é um amor?! — disse jogando os cabelos sobre os ombros
— E quem seria esse anjo salva-vidas?! — perguntou Emma com os olhos brilhando, ela sabia que pessoas boas existiam mas não que estavam tão próximas à ela
— O nome dela é Regina — disse Ingrid sorrindo — Mills. Você sabe se ela está por aqui hoje? Gostaria agradece-la pessoalmente por ter se importado tanto
Emma não respondeu, estava surpresa demais para isso. Seu semblante a minutos atrás que era não de felicidade, mas grato por ter Ingrid por perto, tornou-se murcho e vazio. Ela não acreditara no que ouviu — Regina tinha pagado a passagem para que ela tivesse alguém que conhecia e amava do lado do leito quando não estivesse lá para vigia-la. Importunou os pais para que Ingrid não tivesse com que mais se preocupar a não ser com ela própria e Emma. E isso fez com que seu coração pesasse mais cem quilos de pura culpa e arrependimento.
— Emma — chamou Ingrid a despertando do transe com um estalar de dedos — Há algo errado meu patinho?
Emma mentindo, fez que não com a cabeça jogando o cabelo para trás da orelha como sempre fazia quando mentia e recebeu um olhar inquisitivo da loira mais velha. Dando por vencida, Emma relaxa os ombros e diz:
— Eu fui um pouco grossa com uma médica hoje mais cedo... — coçou o pescoço com a mão boa
— Emma! — repreendeu Ingrid — Não foi isso que eu te ensinei!
— Eu sei mas-
— Mas, mas — imitou-a — Nada de 'mas'! Trate de se desculpar mais tarde — passou um olhar atravessado
Com os ombros encolhidos, Emma assentiu. Ela não ousou discutir, pois estava errada e reconhecia isso e a primeira coisa que ela iria fazer quando Regina aparecesse no hospital seria pedir desculpas a ela nem que tivesse que se rastejar pelos corredores.
A mulher levantou-se do leito e foi até a bolsa que jazia na cadeira vazia ao lado da porta e de lá puxou um estojo roxo — um estojo de óculos
— Eu imaginei que fosse querer eles de volta — disse esticando a caixinha para ela — Toma, coloque.
***
Durante a volta para casa, Regina se debulhava em lágrimas que desciam quentes pela bochecha até cair em seu colo molhando a calça azul marinho do uniforme do Staff. O jeito como Emma dirigiu-se a ela, a pegou de surpresa — ela esperava tudo, menos isso. Regina achava que a loira havia visto nela algo a mais além de suas posses matérias, pensou que ela tinha visto um ser humano.
A cada vislumbre da cena que rodava como um filme de terror em sua mente, uma lágrima triste e solitária pingava munida de um soluço surdo e doloroso.
Quase havia surrado a cara de Sidney, correndo o risco de perder seu emprego e prestígio por causa dela; como eu fui burra... eu poderia ter sido expulsa do hospital, ter sujado minhas referências e tudo isso a troco de quê? Para ser chamada de cretina no final das contas, pensou.
O choro cessou, estava em casa. Usando o controle inteligente da garagem, Regina abriu a porta e entrou com o Mercedes. Após estacionar e fechar a garagem, a morena ficou inerte no banco do motorista depois de desligar o carro e tirar a chave da ignição — não pensava em nada, não olhava nada.
Estava se sentindo perdida.
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