História A profecia - A lutadora - Parte III

Pousada                   

Suspirou irritada. Estava cansada e morrendo de sono, mas simplesmente não conseguia dormir. Shi não saía de seus pensamentos, o olhar frio dela, "morte", a falta de hesitação ao tirar a vida daquele homem... e havia também a preocupação com Kurenai, Kiba e todos do Templo. Precisava encontrar um jeito de convencer a rosada a ir consigo, mas como convencer uma pessoa que te dá medo e mata sem piedade a ir com você numa jornada em busca de outras garotas pra cumprir uma profecia que ninguém sabia da existência? 

Suspirou mais uma vez se remexendo na cama e virou para a janela para encarar a lua.

- Kurenai, Asuma, Kiba... espero que estejam bem... - Murmurou antes de fechar os olhos e finalmente, deixar-se levar pelo sono.

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Que barulho irritante era aquele? Barulho de algo batendo em vidro... bicadas?

Levantou da cama num salto e olhou para a janela. Uma coruja toda branca estava lá, bicando o vidro, com algo preso em suas patas. Foi até a janela correndo e a coruja pousou na escrivaninha quando a mesma foi aberta, tirou o pergaminho das patas da ave e começou a ler:

"Querida Hina, as coisas aqui no templo estão muito bem, eu e Akamaru estamos cuidando de tudo, você sabe como somos invencíveis juntos!

O bebê de Kurenai é um menino, seu nome é Yuki, e você é a madrinha dele, e esse tal Shikamaru é o padrinho dele. Todos dizem que ele se parece com o Asuma, mas na minha opinião, ele não se parece com nada, como um bebê que completa dois dias de idade pode se parecer com um adulto de uns trinta anos?

Ontem no Templo pouco tempo depois de você ter ido, um garoto apareceu aqui, ele deve ser parente do Asuma, não tenho certeza, mas eles são muito parecidos. Ele que é o Shikamaru, nós não nos falamos muito mas ele parece ser legal, adora olhar as nuvens, como o Asuma, e parece estar sempre entediado, é do tipo preguiçoso... mas é legal. Ele cuida de uma biblioteca de profecias, sabe o que é isso? Se souber, por favor, me diga!

Não tenho muito o que falar já que não fazem nem dois dias direito que você partiu para sua jornada, então, como vão as coisas por aí? Encontrou alguém da profecia? O que está achando de Konoha? Eu estou morrendo de saudades da Vila, espero que goste daí tanto quanto eu.

Espero ansiosamente sua resposta.

Da pessoa mais legal, mais corajosa e mais bonita do mundo,

Kiba"

Riu com a última parte, com certeza Kiba era a pessoa mais convencida que conhecia. Pegou um pergaminho, tinta e uma pena e escreveu rapidamente sua resposta. Prendeu a carta na pata da coruja, que saiu voando pouco depois de tê-la alimentado.

Logo Shi veio a sua cabeça e soube o que faria agora: iria para o clube de luta.

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Clube de luta                     

Revirou os olhos observando seu oponente, mais um homem que se dizia lutador, daquela vez era um que tinha muito orgulho de seus braços, dizia que nunca havia perdido uma luta graças a eles.

Olhando para ele, podia dizer pouco, mas o suficiente. Um cara convencido como vários outros com quem lutara, que na verdade não entendia nada de luta, se vangloria, mas apenas luta com caras muito mais fracos que ele e por isso sempre se achou muito forte.

- E é por isso - O moreno terminou - Que mulheres não lutam, são frágeis e não aguentam nem um soco direito. E você Shi, é só uma que...

O interrompeu.

- Vai ficar falando mal das mulheres ou vai lutar? Está tentando atrasar sua morte?

- Minha morte? Olhe bem para esse clube de luta, Shi, pois ele é seu túmulo.

- Veremos.

- Essa luta vai durar trinta segundos.

- Sim - Concordou vestindo suas luvas - Trinta segundos muito dolorosos para você.

O moreno avançou, pronto para socá-la, mas desviou com facilidade, pois ele era muito lento. Seu oponente se desequilibrou, mas não caiu.

Dois segundos.

Virou para ele sorrindo com escárnio. Ele tentou mais um soco, mas desviou novamente, em seguida pulou, deu um giro no ar e chutou com a perna direita a face de seu oponente. Disse que a luta duraria trinta segundos, então pegaria leve.

Cinco segundos.

O homem cambaleou, quase caindo. Com uma velocidade impressionante, apareceu na frente dele, e deu um soco em sua face. O moreno caiu no chão, do outro lado do clube, todos que assistiam a luta abriram espaço.

Oito segundos.

Caminhou lentamente até o moreno, que parecia procurar forças para levantar.

Onze segundos.

O levantou pela gola da camisa, deu mais um soco e soltou-o. Sangue jorrou de seu nariz, agora quebrado.

Treze segundos.

O moreno levantou com muita dificuldade, seu corpo tremia, mas ele permaneceu em pé. Shi inclinou um pouco a cabeça para a direita, reconhecendo que ele ao menos tinha fibra. Seu oponente tentou um chute contra si.

Quinze segundos.

Segurou no ar o chute dele pelo tornozelo e com uma força descomunal, girou-e e o jogou mais uma vez no chão.

Dezoito segundos.

- E você se auto denomina lutador... - Resmungou pra si mesma.

Caminhou até ele e o levantou pelo pescoço, o mantendo de costas para si. Segurou os braços dele atrás do corpo. Percebeu como todos que assistiam a luta prenderam a respiração.

Vinte e três segundos.

Chutou suas costas e o corpo dele foi para a frente, seu peso era sustentado por Shi, que segurava seus braços. O moreno estava ajoelhado no chão e seu pé continuava nas costas dele.

Vinte e cinco segundos.

Colocou o pé direito nas costas dele, forçou um pouco e pôde quase sentir o corpo dele implorando para que parasse ali.

Vinte e sete segundos.

Permaneceu naquela posição, depois forçou mais um pouco sua perna direita ao mesmo tempo que puxava seus braços para trás. Ele gritou.

Vinte e nove segundos.

- Mulheres não são frágeis - Disse - E.... trinta segundos.

Puxou os braços dele e forçou a perna, colocando grande parte de seu peso na mesma. O moreno gritou ainda mais que antes então soltou-o, ele gemeu e gritou de dor quando seu corpo encontrou o chão. Shi o chutou fazendo seu corpo ficar de barriga para cima, não sentia sequer uma gota de dó. Agachou ao lado do rosto dele.

Uma luz atingiu seus olhos e viu uma corrente dourada no pescoço do homem, puxou-a e abriu o pingente, possuía o desenho de uma garotinha de cabelos castanhos e olhos verdes, ela sorria no desenho com aquele ar de inocência e aquela alegria que só as crianças tinham.

- É sua filha? - Perguntou sem tirar os olhos da imagem.

- Você vai me matar - Ele afirmou, entre urros de dor - De que te interessa saber?

Desviou os olhos do desenho para o moreno.

- Não vou matá-lo. Sua filha não merece ficar sem pai porque ele é um idiota convencido, então continue com sua vidinha mediúcre.

- Não quero sua piedade.

- Não tem minha piedade, tem uma nova chance - Jogou o colar no rosto do moreno e se levantou.

Começou a andar.

- Não conseguirei viver com uma derrota... prefiro a morte.

Parou de andar, mas não virou para ele. Que otário. Preferir deixar sua família, deixar sua filha, do que aceitar que tinha perdido uma luta.

- Você não entende o quão dolorosa é a morte. Mas se prefere... treine, fique forte, viva sua vida pacata com sua filha... e quando quiser e se achar pronto, me procure por vingança.

O ambiente se encontrava em extremo silêncio, ninguém entendia por que Shi não matara um oponente que perdera, ela era o que era justamente por nunca deixar um adversário vivo. Mas para a rosada não importava o que pensavam, que não entendessem ou não concordassem, ela sabia seus motivos e isso bastava.

Os homens abriram caminho conforme ela andava, concentrada em tirar suas luvas e vestir sua capa, ignorando os olhares confusos de todos. Suspirou quando finalmente se viu fora do Clube de luta, balançou os cabelos e levantou a cabeça para encarando o céu.

- O que você quer novamente, perolada?

Virou para trás e olhou a garota do dia anterior.

- Você sabe, quero que você...

- Achei que tivesse deixado bem claro que não estou nenhum pouco interessada nessa profecia idiota.

- Não é idiota! É o futuro de todo o mundo!

- Eu não me importo.

- Mas você tem que entender que a vida de todos está em perigo e nós...

- Você acha que eu sou do tipo que salva a vida dos outros?

A garota abaixou a cabeça, Shi sabia que ela estava lembrando da vida do homem que havia tirado no dia anterior.

- Mas você poupou o cara de hoje! - Ela insistiu - Eu vi como você é forte, só precisa direcionar isso pra coisas boas! Você tem que vir comigo. Eu preciso de você.

Encarou a garota dos pés à cabeça. Rosto angelical, cabelo longo e brilhante, olhos claros, as mãos pequenas e delicadas, o vestido claramente feito à medida para ela... aquela garota obviamente não tinha noção do que estava fazendo, por que ela iria junto?

- Deixe-me perguntar, perolada - Disse - Por que você quer tanto assim acreditar nessa profecia? Que diferença isso fará à você, proteger pessoas que nem sabem de sua existência?

Hinata abaixou a cabeça envergonhada.

- Eu não sei. Só que essas bruxas que atormentam todos... foram as bruxas que tiraram meus pais de mim e...

- Então você quer vingança.

- O que? Não! É só que... - Ela levantou a cabeça e Shi viu uma determinação nos olhos dela que até a surpreendeu - Foi pra isso que eu nasci. Pra isso que você nasceu. Cada passo que eu dei foi pra este dia, cada decisão que meus pais tomaram muitos anos atrás foram pra que eu te encontrasse - Ela deu um passo e se aproximou. Shi lançou um olhar de aviso quando a perolada segurou sua mão esquerda, mas não a afastou. Algo dentro dela remexeu - Tudo nos trouxe até aqui - A garota continuou - Você não sente? Então por que veio para Konoha? Por que veio pra cá justamente quando eu vim? Não sentiu como se algo te chamasse pra cá? Eu sei que sim - Ela fitou o fundo de seus olhos. A rosada não desviou o olhar - Mas se não sente, me fala. E aí eu sumo e vou cumprir a profecia sozinha.

Puxou sua mão, pensando em quando fora a última vez que havia sido tocada por alguém fora de alguma luta. Pensou em como estava apenas de passagem por Konoha, seu objetivo era outro lugar, e em como algo dela gritou para que ficasse um dia a mais. E ela ficou.

- Você continuará vindo aqui todos os dias, né? - Perguntou depois de um suspiro pesado. Odiava ceder.

- Sim!

- Se eu disser que vou, você para de me encher?

Hinata abriu um sorriso. Shi pensou em como há tempos não via um sorriso puro verdadeiro como aquele, muito menos direcionado a si.

- Sim!

Não acreditava que faria aquilo.

- Então eu vou.