Capítulo oito — Lembranças de um tigre (parte 1 de 3)
"As pessoas se tornam mais fortes, porque elas têm memórias que não podem esquecer."
Anteriormente
— Eu vou me apaixonar sempre por você em qualquer circunstância nessa e em outras vidas... e você sempre será minha, Lucy Heartfilia.
(...)
... Foi então que a vi.
(...)
Conhecia Sting Eucliffe desde que se entendia por gente e sabia de sua relação com Lucy...
(...)
Nada, absolutamente um grande vazio nas memórias do amigo.
(...)
— E por que esse assunto lhe diz respeito? Aliás, Sting é um tigre e Lucy não é uma fada.
(...)
—... O que você sabe que nós não sabemos?
(...)
Muito mais do que Lucy Heartfilia gostaria que eu soubesse, pelo visto.
(...)
Atualmente
Narradora
O moreno continuou ignorando-os. Não responderia. Estava decidido. Já tinha recebido informações demais e mais do que precisava.
Sentiu algo o puxando para trás e segurando sua camisa pela gola, Erza o olhava com fúria e ódio.
— Repete – ela rosnou.
Rogue somente tocou-a delicadamente e soltou-se se suas mãos fortes.
Não se renderia assim, não mesmo. Prometeu à Sting que jamais falaria daquilo sem seu consentimento... Mas agora, pensando o bem, o loiro não se lembrava de nada e... De jeito nenhum que abriria a boca.
Natsu estava pronto para acertar o moreno com fogo e socos, quando ouviram um grito.
Era a voz de Lucy.
Os magos interromperam sua briga e sem nem pensar duas vezes correram para dentro da cabana, sem olhar ao redor, seguindo diretamente para os fundos... E quando chegaram aos poucos, conseguiram ver a cena melhor.
Sting acabara de pegar a loira no colo, a mesma estava toda cheia de ataduras e cortes, e ele a ninava, para frente e para trás. Lucy gritava de dor, com as mãos na cabeça, enquanto o loiro tinha algumas lágrimas nos olhos.
Aproximaram-se e viram o tigre colocar uma mão sobre o rosto de Lucy e cantarolar baixinho.
A mesma acalmou-se quase que de imediato após o gesto do outro, parando de gritar e de suar.
Ninguém conseguia acreditar que Sting havia feito aquilo sozinho, nem Loke conseguira essa proeza... e ele estava chorando? Isso sim era uma surpresa.
— Me perdoem... Proteger... Rainha... – a loira murmurava.
Rogue olhou de relance para o amigo, que o olhava confuso e visivelmente magoado, então assentiu e se aproximou. O moreno pegou a garota dos braços de Sting, o mesmo colocou as mãos no colo ofegante.
— A magia dele a acalma. – foi a única coisa que Rogue disse antes de começar a andar para fora dali com Lucy nos braços, seguido por um Sting cansado, deprimido e perturbado, deixando para trás seis magos estáticos e surpresos.
— X —
Rogue não se lembrava da expressão que a Fairy Tail fez ao ouvir que a magia de Sting acalmava Lucy.
Pensando sobre isso, até ele achava estranho, mas talvez por ambos terem magias boas e calmas... Ah, tanto faz. O importante é que eram compatíveis.
Rogue sabia disso pois o amigo já havia feito aquela mesma coisa um milhão de vezes para acalmar a maga, antes de... piorar.
Falando em maga, o moreno olhou para ela em seus braços e percebeu que estava ferida e ainda murmurava coisas sem sentido.
A mente do tigre trabalhava à mil por hora... Encaixando e retirando informações do lugar a cada segundo... Mas sabia que não chegaria à lugar algum caso não conversasse a sós com Lucy... Apesar de tudo, sentia que também fora amigo dela algum dia... E pelo visto, magia de esquecimento funcionava igual a encantamentos feitos por objetos: quando se percebe, os sentidos vão recobrando, mesmo que aos poucos.
Eles voltaram sem fazer o menor barulho ou chamar atenção. Rogue sabia que Sting queria ficar sozinho com Lucy, e o mesmo também.
Entraram no quarto dela, no acampamento, após uma hora e meia de caminhada, e o moreno a depositou em sua cama. Sting logo se jogou ao lado da moça, mexendo freneticamente em algo no bolso e olhando para o teto.
— O que foi que você descobriu? – Rogue o conhecia melhor do que ninguém e sabia que o loiro tinha algo a falar.
Sting nem pareceu surpreso, somente se sentou, observando o amigo a limpar e trocar as ataduras da loira. Ele tomou fôlego e pôs-se a falar:
— Não tô entendo mais nada, cara... – voltou a olhar para o teto. – Não conheço essa garota, nem sequer tenho alguma lembrança dela... Mas sinto como se ela fosse parte de um pedaço muito importante da minha vida. – o loiro torceu o nariz. – Cara, isso vai soar tão gay... Mas dane-se.
Sting se sentou e tirou uma caixa de veludo do bolso, encarando Rogue e Lucy com uma expressão séria e distante.
— Não sei como diabos fui parar naquela cabana, não sei como sabia onde estava a chave, ou porque tinha roupas minhas lá... Mas... – o tigre branco levantou a caixinha para Rogue, que o olhou curioso. – Quando toquei nesse negócio, tive algo parecido com... Um flashback... Entende? – ele pausou, esperando a resposta do moreno, que apenas assentiu com a cabeça. – Eu estava com ela... – apontou para Lucy. – E estava muito feliz... A gente se beijou... E eu me declarei pra ela e... – Sting corou. –... A pedi em namoro.
Ao terminar sua fala, Sting abre a caixinha e revela uma aliança prata com um diamante pequeno na mesma, em seguida leva a mão novamente ao bolso e tira de lá uma aliança idêntica à outra, porém de tamanho maior.
— Cara... Tenho certeza que isso aconteceu. – a voz do loiro tremia enquanto se lembrava. – E lá estava eu, tento alucinações e tentando salvar essa garota.
Aquela era a prova final de que Rogue precisava para confirmar que Sting havia realmente perdido as memórias para Lucy.
O moreno encarou seu amigo por alguns segundos e suspirou, guardando o kit de primeiros-socorros, sentou-se ao lado dele e encarando as orbes azuis do loiro, começou a falar:
— Cara, você já pensou que pode ter perdido a memória?
Sting arregalou os olhos e ficou sem reação.
— Não... – respondeu com um sussurro.
Ver seu amigo assim fez Rogue voltar à lembranças da época em que Sting mais sofreu pela perda da loira... E agora... Parecia que voltaria a acontecer.
— Sting – Rogue o chamou, com o timbre sério. – Eu sei de muita coisa sobre você e Lucy Heartfilia – continuou, dando uma pausa para que o outro absorvesse. – Na verdade, sei mais coisas do que ela gostaria que eu soubesse. Mas...
— Não quero saber por você. – Sting o cortou rapidamente, esse com o mesmo timbre de voz de Rogue.
O Slayer das sombras já esperava essa reação de Sting, só queria ter certeza.
— Tudo em seu tempo então, mas quero que você saiba de uma coisa – Rogue afirmou. – Lucy não é má. Se ela está por trás disso tudo ou não, não interessa. Tudo que vocês passaram juntos... Cara, é tão complicado.
Sting não esperava essa confusão vindo de Rogue, que era sempre seguro e extremamente gênio. O loiro queria que Lucy acordasse logo para colocar a limpo toda a história.
Rogue ficou em silêncio novamente, apenas olhando para o sol caindo pela janela.
Depois de um tempo, Lucy se remexeu e entreabriu os olhos.
Rogue pôde ouvir o coração de Sting disparar e seu rosto corar quase que de imediato... e deu um sorrisinho de canto, pensando: Esse idiota não muda mesmo.
A loira coçou os olhos e se espreguiçou, ainda não notando a presença dos dois... quando abriu totalmente os olhos e deu de cara com Sting fitando-a profundamente, foi a vez do coração dela disparar. Sua feição ganhou uma expressão assustada e seus olhos variavam de Sting para Rogue. Ela se encolheu sob o lençol e começou a tremer.
Sting não fez menção de se mover... aliás, estava tão assustado quanto a garota.
Rogue foi quem se moveu primeiro. Levantou-se, puxou o lençol de Lucy e a colocou sentada, olhando-a nos profundamente.
— Nós não vamos te machucar. Queremos apenas conversar. – o moreno disse com um tom firme e autoritário.
Lucy afirmou levemente com a cabeça, seu coração batendo tão rápido que poderia saltar sem nenhum esforço para fora do peito e dar algumas voltas pelo acampamento.
— O que... Vocês querem?– ela perguntou tão baixo que se eles não fossem Dragon Slayers, jamais teriam escutado.
Só então a ficha do tigre branco caiu.
— Blondie... – foi a única coisa que ele disse antes de abraçá-la com força.
Lucy arregalou ainda mais os olhos castanhos, sentindo a respiração falhar e o corpo travar.
Ele... se lembra?
Rogue percebeu a reação da menina e logo tratou de afastar o amigo, que tinha lágrimas nos olhos.
Sting levou as duas mãos à cabeça e sem qualquer aviso, pulou a janela e saiu correndo, levando a caixinha junto.
Ele estava assustado e confuso, tão confuso que não sabia o porquê de estar chorando ou o porquê de ter tido aquela reação, foi o pensamento de Rogue.
O moreno suspirou e vendo que Lucy também tinha lágrimas nos olhos, sentou-se ao lado dela e esperou que se acalmasse.
Ouviu-a chorar por quase meia hora, até que ela se acalmou e tremendo, falou:
— Por que ele se lembra?
Rogue se assustou com a pergunta, afinal, era para Lucy achar que o moreno ainda tinha a memória apagada... Havia se esquecido que Lucy era ótima em ler a alma pelos olhos da pessoa, e quando ele a encarou meia hora antes, ela o leu por completo. Maldita gênio.
— Sting não se lembra. – Rogue começou, olhando para fora. – Você sabe como funciona essa magia. – em seguida, a olhou. – Aliás, creio que não funcionará por muito mais tempo.
Lucy engoliu em seco e colocou as duas mãos na cabeça.
— Você se lembra, não é? – ela olhou-o nos olhos, impossibilitando-o de mentir. – Por que não funcionou?
Rogue suspirou derrotado.
— Funcionou, na verdade. Por um tempo. Não sei porque deixou de fazer efeito... Mas quando percebi, eu sabia de um monte de coisas que sei que você não quer que eu saiba. – o moreno tentou desviar o olhar, porém não conseguiu. – Lucy, não recuperei tudo ainda. Aliás, nem sei você realmente chegou a apagar toda minha memória... Mas tem uma parte de mim, que quer se lembrar de você... Da nossa amizade talvez. – admitiu. – Nós tínhamos alguma amizade?
Foi a vez de Lucy suspirar derrotada. Conhecia Rogue e sua mente extraordinárias bem o suficiente, mas antes queria garantir algumas coisas.
— Você contou o que sabe para alguém? – ela perguntou receosa, Rogue apenas balançou a cabeça de forma negativa. – Posso... Confiar?
O moreno percebeu que ela não se referia somente à pergunta anterior, mas também referia-se à confiar nele, para o que quer fosse acontecer.
— Pode. – respondeu rapidamente, após encaixar novamente algumas peças.
Lucy assentiu sem desviar os olhos dele e se sentou de frente para o moreno.
—Deite-se – ela mandou e ele obedeceu.
— O que você vai fazer? – o moreno perguntou.
— Vou colocar minhas duas mãos na sua cabeça e devolver suas memórias. Sei que você está pronto para isso... Preciso da sua ajuda. – sorriu para ele abertamente.
O moreno sentiu muita convicção na frase dita pela garota, e daquele momento em diante decidiu que faria tudo para ajudar Lucy a sair dessa... Dessa situação complicada. Começaria a partir do momento que recuperasse suas memórias, que ele sabia que eram poucas, porém, eram as peças principais de seu quebra-cabeças.
—Então comece. – Rogue pediu.
— Talvez você fique apagado por um tempo enquanto se lembra de tudo que roubei... Pois ficou muito tempo sem essa parte de si... E também eu nunca usei essa magia para devolver memórias...– esclareceu a loira, colocando ambas a mãos na cabeça do moreno.– Voltem doces lembranças, restaurem minha existência...
Ele apenas fechou os olhos e pensou: Ela disse 'roubei'? Quer dizer que não apaga a memória... Ela armazena dentro de sua própria mente.
Não pôde continuar seu raciocínio, pois uma forte dor atingiu sua cabeça e o tigre perdeu a consciência, caindo então em um poço de lembranças.
continua...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.