História A Profecia Perdida - Draco Malfoy - Livro 1 - Concluída - Capítulo 78

Sarah ainda tentava assimilar tudo que havia acontecido. A cena de Snape atingindo Dumbledore com a maldição da morte passava em sua mente repetidas vezes na esperança de enxergar algo diferente e que fizesse o mínimo de sentido, mas era inútil.

Os gritos e explosões haviam cessado, o que a levava a crer que a batalha terminara e que a escola estava segura novamente. Internamente rezava para que os amigos estivessem bem.

Tentou se levantar, mas foi novamente invadida por uma onda de dor intensa que a fez gritar. Precisava chegar à ala hospitalar, Madame Pomfrey saberia o que fazer. Devagar, alcançou sua varinha e tomou coragem para sair do chão de uma vez por todas.

Já de pé, respirou fundo e passou a mão no rosto para tentar tirar o vestígios de sangue e lágrimas. Mais uma vez os acontecimentos passaram em sua mente. A forma como Dumbledore permanecera sereno durante toda situação, a forma como Snape encarou o diretor antes de matá-lo, o olhar de desespero de Draco antes de abaixar sua varinha e Harry saindo debaixo da capa de invisibilidade. Os flashes deixavam Sarah extremamente zonza, e a quantidade de sangue que perdera devido ao corte em sua cabeça certamente não ajudava a morena a se sentir melhor.

— F-Férula… - A morena entoou com a varinha na mão esquerda, mas sem conseguir conjurar as ataduras que queria — Ótimo… - Esbravejou consigo mesma no instante em que alcançou a escadaria da torre.

Ao chegar no corredor o coração de Sarah apertou por um instante. O rastro de destruição deixado pela batalha de minutos antes era grande. Se preocupou com os amigos mais uma vez e se perguntou se sentiria caso Adam estivesse gravemente ferido.

Deu alguns passos em direção à ala hospitalar e parou para respirar, o que fez com dificuldade. Sentia uma grande opressão em seu peito que ela tinha dúvidas se era causada apenas pela dor física que sentia.

Lembrou de Draco e de como o loiro parecia perdido e aflito. Por um segundo conseguiu ouvir o grito do rapaz chamando seu nome antes de ser arrastado por Snape. Ela sabia que Draco havia deixado o castelo com os Comensais, mas tinha certeza que fora contra sua vontade. Se perguntou se o rapaz seria punido por não conseguir realizar sua missão e seu corpo estremeceu com a possibilidade.

Perdida em um milhão de pensamentos e sentindo a vista embaçar a cada passo que dava, Sarah respirou aliviada quando chegou na grande porta de madeira da ala hospitalar. Podia ouvir vozes no interior da sala, o que aumentou sua ansiedade em ver se todos estavam a salvo.

— Sarah! - Hermione exclamou no segundos depois da morena passar cambaleante pela porta — Rony, me ajude aqui!

O ruivo se aproximou e amparou o corpo da morena que estava completamente exausta. Pela primeira vez desde que tudo começara naquela noite, Sarah se sentia segura.

— Meu braço… - Ela disse com a voz fraca — Cuidado com o meu braço.

O braço direito de Sarah pendia pesadamente para baixo lhe causando muita dor. Por mais que ela não fosse experiente como Madame Pomfrey, sabia que o estrago feito pelas quedas era grande.

Rony ajudou a morena a sentar em uma das camas vazias da ala hospitalar e, assim que Sarah recostou no travesseiro, sentiu o corpo relaxar um pouco.

— Estão todos bem? - Ela perguntou sem elevar o tom de voz — Seu irmão, Rony, o que houve com ele? - Emendou ao se lembrar do corpo de Gui caído no chão do corredor.

— Madame Pomfrey está cuidando dele agora. - Rony disse com um sorriso fraco — Greyback o atacou e ainda não sabemos as consequências, mas vamos esperar pelo melhor, não é?

Antes que pudesse falar alguma coisa, ouviu passos apressados indo em direção a ela. Em segundos, os braços de Adam a tomaram em um abraço que a fez resmungar baixinho de dor, mas ainda assim se sentiu acolhida.

— Vocês está bem? - Ele perguntou aflito — Eu senti que algo estava errado, mas não dava pra saber o que era…

Sarah correu os olhos por Adam, Hermione, Rony e Lucy, que havia chegado junto com o namorado. Sorriu brevemente ao ver que todos estavam bem. Machucados, extremamente cansados e descabelados, mas estavam vivos.

— Quase não consigo voltar em um o pedaço só, me desculpe. - Sarah disse com a voz fraca apontando para o braço quebrado. Os acontecimentos da torre passando em frente aos seus olhos mais uma vez.

— Sarah, querida! - Minerva se juntou ao grupo de alunos — Graças a Merlin… - A professora avaliou a situação da sobrinha por alguns segundos e arregalou os olhos em preocupação — Céus, você ainda está sangrando! Vou chamar Papoula para cuidar de você.

— Tia, está tudo bem, eu posso esperar…. Tenho certeza que o caso do Gui é mais importante.

Minerva olhou para a sobrinha e, sem dar uma palavra, foi em direção a enfermeira deixando Sarah com os amigos mais uma vez.

— Quem fez isso com você? - Hermione perguntou preocupada.

— Bellatrix. - A morena respondeu respirando fundo.

— Nós tentamos impedir que eles subissem, Sarah… - Lucy comentou com a cabeça baixa — Mas eles foram mais rápidos…

— Depois que o primeiro deles chegou até as escadas, nenhum de nós conseguia chegar perto… - Disse Hermione — Era como se houvesse uma barreira.

— Adam foi arremessado quando tentou… - Rony disse dando tapinhas nas costas do lufano que ajeitou o óculos sem jeito.

— Sarah… - Adam começou sem saber como prosseguir — O que aconteceu na torre?

Ela sentiu a garganta apertar e seu peito apertar tanto que lhe tirava o ar. Os olhos se encheram d'água mais uma vez e ela tentava encontrar as palavras para contar tudo que havia acontecido. 

— Deixem ela respirar todos vocês! - Madame Pomfrey se fez presente fazendo com que os quatro dessem um passo para trás — A srta. Standish pode responder suas perguntas depois… Agora me deixem fazer o meu trabalho.

O quarteto assentiu brevemente e se acomodou no leito mais próximo ao de Sarah. Acompanhavam tudo que a enfermeira fazia atentamente.

Sarah conseguia ver o olhar de preocupação que a enfermeira lhe lançava enquanto examinava cada parte de seu corpo.

— Tsc tsc tsc… - Foi a única coisa que a enfermeira disse quando viu o estado da cabeça de Sarah — Por Merlin, srta. Standish… - Ela comentou quando finalmente examinou o braço da aluna.

— Está muito ruim? - Sarah perguntou preocupada fazendo uma careta por conta da dor.

— Acho que sabe a resposta para a sua pergunta. - Papoula respondeu de imediato — Preciso limpar o ferimento na sua cabeça… Lhe adianto que vai arder.

Sarah não conseguiu segurar o grito em sua garganta quando a enfermeira começou a passar um algodão no ferimento. A ardência a levou a fechar seus olhos com força e algumas lágrimas desceram pelo seu rosto.

Demorou cerca de quinze minutos para que Madame Pomfrey terminasse de cuidar dos ferimentos de Sarah. A morena não sentia mais dor, uma vez que a enfermeira lhe fizera beber uma poção analgésica. O resultado fora desastroso: Um corte profundo na cabeça, machucados pelo rosto, e além de seu braço, duas costelas estavam quebradas.

— Quanto tempo vou ficar com o braço assim? - Sarah perguntou enquanto a enfermeira terminava de imobilizar seu braço direito.

— Acredito que um mês…

— UM MÊS? - A morena repetiu em choque.

— Isso se a senhorita continuar tomando as poções que lhe passei corretamente. - Comentou a enfermeira — Seu braço se quebrou em mais de três partes, srta. Standish...

— Eu não consigo fazer magia decentemente com a mão esquerda… - Resmungou a grifinória.

— Então sugiro que siga o tratamento corretamente. - Papoula disse simplesmente — Fico tranquila em saber que sua mãe vai cuidar de você quando voltar pra casa.

— Obrigada, Madame Pomfrey. - A morena disse com sinceridade.

— Você teve sorte, Sarah. - A enfermeira disse séria — Não gosto nem de pensar o que poderia ter acontecido se seu braço não tivesse amortecido sua queda… Certamente seria muito pior do que duas costelas quebradas. Agora descanse, você perdeu muito sangue e precisa de repouso.

Sarah assentiu brevemente para a enfermeira e olhou para os amigos que continuavam ao seu lado. O quarteto recebeu um olhar ferino de Madame Pomfrey e se despediram de Sarah indo em direção aonde estavam os demais membros da Ordem.

Foi então que Harry entrou na ala hospitalar a passos rápidos. Quando viu Harry passar pela porta completamente desnorteado teve certeza que, a última coisa que faria naquela noite, seria descansar.

Harry passou correndo pelos leitos e foi direto para onde estavam os membros da Ordem. Sarah podia ver como o rapaz estava aflito e nervoso. O moreno conversava com Rony e Lupin que pareciam contar tudo que havia acontecido durante a batalha com os Comensais nos corredores. Foi então que ela ouviu a frase que fez com que todos ficassem catatônicos.

— Dumbledore está morto… Snape o matou.

Ouvir as palavras saírem da boca de Harry deixou tudo ainda mais real para Sarah. Sentiu um buraco imenso se formar em seu estômago ao revisitar a cena do corpo do diretor caindo da torre de astronomia. Não conseguia imaginar como estava sendo tudo aquilo para Harry.

Ela olhava para cada movimento do moreno deitada em seu leito. Queria ir até ele, mas seu corpo parecia ter criado raízes em sua cama. Foi então que ele finalmente a viu e foi em sua direção, sendo seguido pelos amigos mais uma vez.

— Você está bem? - O moreno perguntou preocupado a puxando para um abraço.

— Tanto quanto é possível… - Respondeu dando de ombros — E você?

— Dumbledore me petrificou e eu não pude fazer nada… - Lamentou o moreno — No que estava pensando quando subiu? Você podia ter morrido!

— Mas não morri, não é mesmo? - Sarah questionou simplesmente — Sinto muito não conseguir salvá-lo, Harry… - Disse chorosa.

Harry abraçou a morena mais uma vez. Repassou cada momento vivido sob a capa da invisibilidade em sua mente. A agonia de ver Sarah se machucar diante de seus olhos e não conseguir ajudá-la lhe apertava a garganta. A única coisa que ele queria fazer enquanto assistia toda a cena era gritar e protegê-la, mas nem aquilo o moreno conseguiu fazer enquanto estava na torre. Sentia-se completamente inútil.

Foi então que Harry se lembrou de algo que ouvira durante todo o ocorrido. Sentiu o coração pesar, mas precisava perguntar a ela o que aquilo significava, não conseguiria esperar mais.

— Sarah…

— Sim?

— O que Malfoy quis dizer quando falou que já havia te dito que não tinha escolha? - Perguntou intrigado e torcendo para estar errado — O que você estava sabendo com relação a tudo isso?

Sarah abriu e fechou a boca várias vezes tentando formular sua resposta. Seu estômago pareceu se abrir em um grande buraco negro quando se deu conta de que, se tivesse contado à Harry o que sabia, talvez, apenas talvez, a noite tivesse um final diferente para Dumbledore.

Respirou fundo e encarou os olhos verdes do moreno. Havia chegado a hora de arcar com as consequências de seus atos e ela sabia que não seria nada fácil.

— Eu… - Ela tentou organizar seus pensamentos por um segundo — Draco me mostrou a marca negra algumas semanas atrás… - Confessou sem respirar — Foi quando ele me disse que tudo que estava fazendo não era uma escolha dele…

Harry precisou de alguns segundos para absorver o que Sarah havia confessado. Olhou para Rony, Hermione, Adam e Lucy, mas todos, com exceção de Adam, pareciam tão perplexos quanto ele naquele momento. Ela sabia que ele era um Comensal, sabia que ele era responsável pelos ataques à Rony e Katie e, mesmo assim ficara calada?

— Está me dizendo que você sabia de tudo? - O moreno perguntou pausadamente.

— Você está perguntando se eu sabia que ele ia colocar Comensais dentro do castelo para tentar assassinar Dumbledore? - Sarah devolveu a pergunta de imediato.

— O que eu quero saber é o que mais Malfoy confessou pra você que você não me contou?

— Eu não sabia sobre a invasão. - Sarah respondeu com seriedade — E não, ele não me contou que tentaria assassinar Dumbledore, embora eu tivesse suspeitas com relação a isso.

— E você não me disse NADA? - Harry perguntou mais uma vez sentindo uma onda imensa de raiva ganhar seu corpo.

— Harry… - Hermione disse com a voz mais baixa — Não acha melhor vocês conversarem sobre isso depois?

— NÃO, HERMIONE! - Harry se exaltou fazendo a amiga se sobressaltar — NÓS VAMOS CONVERSAR SOBRE ISSO AGORA! PORQUE EU ACABO DE DESCOBRIR QUE FUI TRAÍDO POR ALGUÉM QUE EU CONFIAVA!

— O que está acontecendo aqui? - Madame Pomfrey se aproximou nervosa — Sr. Potter, a srta. Standish precisa descansar!

— Está tudo bem, Madame Pomfrey, existem coisas que não podem esperar. - Sarah disse com seriedade — Podem nos deixar a sós, por favor?

— Sarah… - Adam disse preocupado, mas quando Sarah levantou a mão pedindo para que ele parasse, o moreno recuou.

Rony, Hermione, Adam e Lucy olharam para os dois com tristeza e se afastaram. Harry pegou sua varinha e murmurou “Abaffiato” antes de fechar as cortinas do leito de Sarah. Queria ter aquela conversa com o mínimo de privacidade.

— Eu quis te contar tudo um milhão de vezes! - Sarah disse respirando fundo enquanto se ajeitava na cama. Precisava segurar seu choro — Mas…

— Mas não contou, não é? - Harry disse com veemência — PREFERIU PROTEGER MALFOY E DEIXÁ-LO LIVRE PRA CONTINUAR FAZENDO MERDA PELO CASTELO!

— VOCÊ NÃO PRECISA ME CULPAR POR ALGO QUE EU JÁ ME SINTO CULPADA, HARRY! - Sarah respondeu com a mesma intensidade. Sabia que havia errado e tinha ciência da consequência de tudo aquilo.

— VOCÊ ESCOLHEU PROTEGÊ-LO MESMO SABENDO QUE MALFOY ERA UM COMENSAL COMO PAI DELE! - Gritou cheio de raiva — E AGORA DUMBLEDORE ESTÁ MORTO COMO ELE E VOLDEMORT QUERIAM!

— EU NÃO SEI VOCÊ VIU A MESMA COISA QUE EU, HARRY, MAS NÃO FOI DA VARINHA DE DRACO QUE SAIU O FEITIÇO QUE ASSASSINOU DUMBLEDORE!

— ELE ARMOU A INVASÃO E CERTAMENTE ESTAVA TRABALHANDO COM SNAPE! É PRATICAMENTE A MESMA COISA!

— Então você queria que eu te contasse tudo... - Sarah começou sentindo o coração bater mais rápido — O que você faria se soubesse das coisas? - Perguntou apreensiva.

— JOGARIA AQUELE IDIOTA NA PRIMEIRA CELA DISPONÍVEL EM AZKABAN!

— VOCÊ AINDA NÃO ENTENDEU QUE ELE ERA APENAS UMA MARIONETE NAS MÃOS DE VOLDEMORT? - Sarah perguntou irritada — OU SUA BIRRA COM ELE É TÃO GRANDE A PONTO DE TE DEIXAR CEGO?

— SÃO SEUS SENTIMENTOS POR ELE QUE TE CEGARAM! - Harry respondeu sem abaixar o tom de voz — SE TIVESSE ME CONTADO TUDO, DUMBLEDORE AINDA ESTARIA VIVO, SARAH!

— O que está querendo dizer, Harry? Seja claro e fale o que tanto quer de uma vez!

— VOCÊ FOI TÃO CÚMPLICE DA MORTE DELE QUANTO OS COMENSAIS QUE INVADIRAM A ESCOLA HOJE! - O moreno vomitou suas palavras sem dó.

As palavras de Harry atingiram Sarah fortemente. Sentiu os olhos encherem d’água no mesmo momento em que a mágoa se instalou em seu peito.

— Sabe… - Ela fungou sentindo as primeiras lágrimas caindo — Dumbledore sabia de tudo.

— Do que diabos você está falando? - Harry perguntou com a respiração descompassada. Tentava se controlar para não gritar mais uma vez.

— Depois que Draco me mostrou a marca… Eu fui direto para a sala de Dumbledore. - Sarah disse com seriedade. Encarava o moreno com os olhos chorosos. A mágoa crescendo cada vez mais em seu peito — Eu resolvi ouvir o que você sempre disse a respeito de Dumbledore ser alguém em quem podíamos confiar…

— Cuidado com o que vai falar de Dumbledore, Sarah… - Harry avisou irritado.

— Pois saiba que quem falou pra que eu não te contasse nada, foi justamente ele.

— PARE DE JOGAR A CULPA DA SUA MENTIRA EM ALGUÉM QUE NÃO ESTÁ AQUI PRA DIZER O CONTRÁRIO!

— QUER QUE EU PROVE COM A POÇÃO DA VERDADE? - Sarah perguntou no mesmo tom de voz — OU É DIFÍCIL DEMAIS ACREDITAR QUE DUMBLEDORE ESCONDIA COISAS DE VOCÊ?

— EU NÃO ACREDITO EM VOCÊ!

— NÃO ACREDITAR NÃO MUDA O FATO DE QUE FOI EXATAMENTE ISSO QUE ACONTECEU! - Sarah gritou irritada, sua cabeça começava a doer por conta do nervosismo — E NÃO MUDA O FATO DE QUE ELE SE NEGOU A AJUDAR DRACO QUANDO EU PEDI POR SUA AJUDA!

— É MENTIRA!

— DUMBLEDORE SABIA QUE VOLDEMORT TINHA MANDADO DRACO PARA MATÁ-LO E FOI ELE QUEM COLOCOU SNAPE PARA FICAR DE OLHO EM DRACO!

Harry encarou Sarah com raiva, não podia ser verdade o que ela lhe dizia. Dumbledore era um homem que merecia sua total confiança, não estava errado sobre isso.

— Voldemort estava usando a minha vida e a vida de Narcisa para manipular Draco a fazer o que ele queria. - Sarah disse depois de respirar fundo — Ele achava que não tinha escolha, eu só queria ajudá-lo a ver que estava errado.

— E olha aonde seus sentimentos por esse idiota nos levaram, não é? Que surpresa! - Harry questionou com raiva.

— Não use dos meus sentimentos para destilar sua raiva. - Sarah disse com seriedade. Voltara a chorar — Eu faria a mesma coisa por você se fosse preciso, Harry.

— A diferença é que eu nunca aceitaria matar outra pessoa… Eu daria um jeito de sair dessa situação. - Disse cheio de certeza — Eu te avisei que ele era uma pessoa ruim... Você com a sua cabeça dura não me ouviu.

— E eu já disse que ele abaixou a varinha. - Sarah repetiu entredentes — Se você quer continuar descontando sua raiva, fique à vontade, mas pare de negar algo que você viu acontecer diante de seus olhos.

— Eu espero que esteja satisfeita com tudo que aconteceu. - Harry disse com desprezo — Porque nós acabamos de perder a guerra contra Voldemort, sem Dumbledore está tudo acabado.

— Você não precisa alimentar minha culpa, Harry. - Sarah disse sem conseguir parar de chorar — Eu posso fazer isso sozinha. Agora me deixe em paz… Se você está tão cego a ponto de não acreditar que Dumbledore escondia coisas de todos, não temos mais nada pra conversar.

— Você está errada.

— Assim como Dumbledore estava quando confiou em Snape… E quando negou ajuda a uma pessoa que estava em uma missão suicida - Sarah disse duramente — Agora vá embora. - Disse pausadamente.

Harry pensou em retrucar mais uma vez, mas estava cansado e irritado demais para aquilo. Sem dar uma só palavra, deixou o leito de Sarah e saiu da ala hospitalar rapidamente.

Enquanto via Harry se afastar, o choro de Sarah se intensificou. Em uma só noite havia perdido os dois, tudo graças a seus erros estúpidos.

(...)

A sala comunal estava vazia quando Harry, Rony e Hermione voltaram. Sarah havia ficado na ala hospitalar a pedido de Madame Pomfrey, o que, para Harry era o melhor naquele momento. Estava extremamente irritado com a morena, na realidade, sentia um misto de raiva e tristeza que pareciam corroê-lo por dentro. Ainda tentava se convencer de tudo que havia acontecido.

Entrara em um completo transe. Sua mente parecia repetir a mesma sequência de palavras a cada minuto: Dumbledore estava morto, Snape o matara, Sarah sabia sobre o fato de Draco ser um Comensal e quase morrera na torre.

— Harry? - Hermione chamou com a voz mais baixa depois de se sentarem perto da lareira — Será que você pode nos explicar o que aconteceu?

O moreno olhou para Rony e Hermione que pareciam completamente perdidos. Respirou fundo e pensou por onde começaria. Começou pelo mais óbvio: A saída de Hogwarts junto de Dumbledore. Narrou cada acontecimento da caverna detalhadamente, do momento em que o diretor havia tomado a poção que o enfraquecera até o ataque dos inferi. Os dois acompanhavam atentamente e ouviam cada palavra que Harry dizia.

Passou então para o retorno à escola e de como Dumbledore estava fraco quando finalmente chegaram até a torre de astronomia. Harry percebeu que os dois amigos prenderam a respiração quando escutaram que o diretor o havia petrificado sob a capa da invisibilidade e que Malfoy desarmara o diretor minutos antes de Sarah subir pelas escadas.

Conforme progredia em sua narrativa, Harry passou a sentir o peito apertar. Era extremamente difícil falar sobre Sarah naquele momento. Lembrar de tudo que a morena sofrera enquanto ele não podia fazer nada tampouco lhe ajudou, mas pensar que ela poderia ter evitado a morte de Dumbledore se tivesse lhe contado sobre Malfoy, doía ainda mais em seu peito.

Sua raiva pareceu aumentar ainda mais quando contou à Rony e Hermione sobre a fuga de Snape, Malfoy e os Comensais e de que o professor era o Príncipe Mestiço. Pensar em Snape causava arrepios em Harry, o moreno poderia jurar ser capaz de lhe lançar a maldição cruciatus se tivesse a chance naquele momento.

Por fim, inteirou os dois de toda a discussão entre ele e Sarah depois que ficaram sozinhos no leito da morena na ala hospitalar. Mais uma onda de raiva invadiu o corpo de Harry, o sentimento de traição o tomava por inteiro. Não podia acreditar que Sarah havia lhe dito que Dumbledore sabia de tudo, não podia e nem queria.

Os três ficaram em silêncio por um tempo. Rony e Hermione tentavam absorver tudo o que haviam acabado de escutar, estavam completamente estarrecidos. Se olharam sem dar uma só palavra tentando decidir qual dos dois falaria primeiro. Por fim, foi o ruivo quem quebrou o silêncio.

— Que motivos Sarah teria para esconder uma informação dessas?

— Não é óbvio? - Harry perguntou irritado — Para proteger Malfoy… - O moreno disse com veemência — E Dumbledore pagou o preço por isso.

— Me desculpe, Harry… - Hermione começou sem ter certeza do que dizer — Mas você já pensou na hipótese de Sarah estar falando a verdade?

— Não faz o menor sentido, Hermione! - O moreno exclamou soltando o ar pelo nariz — Se ele realmente sabia que Malfoy era um Comensal, por que não o mandou para Azkaban?

— Eu não sei. - A morena respondeu calmamente — Mas não vejo razão para Sarah mentir com relação a isso.

— Como eu vou saber… Ela omitiu o fato de Malfoy ser um Comensal e agora está se sentindo culpada pelo que fez… É muito fácil jogar a culpa em alguém que está morto!

— Eu preciso concordar com a Hermione, cara… - Rony disse com leve receio, Harry estava ficando cada vez mais nervoso e o ruivo sabia que aquilo não acabaria bem — Sarah lutou mais do que qualquer membro da Armada hoje…

— Remorso por toda a mentira dela… Deve ter percebido toda a merda que podia ter evitado se tivesse contado tudo o que sabia.

— Mas se ela realmente falou com Dumbledore…

— ELA NÃO FALOU COM DUMBLEDORE! - Harry exclamou com raiva.

— Harry, você não está pensando de forma lógica… - Hermione disse com os braços cruzados — Sarah poderia ter morrido depois de tudo que passou… Ela se arriscou indo até a torre pra impedir os planos de Draco.

— E não seria a primeira vez que Dumbledore não te informa das coisas. - Rony comentou simplesmente — É só lembrar do ano passado, você mesmo se irritava quando ele fugia de você. 

— Ela mentiu pra mim… - Harry disse entredentes — Mentiu para protegê-lo… E agora Dumbledore se foi… A mentira dela causou tudo isso!

— Você não está sabendo separar as coisas, Harry. - A morena comentou e recebeu um olhar ferino em seguida — Sarah pode ter errado, mas isso não faz dela uma cúmplice como você disse pra ela.

— Ela sabia que Malfoy era responsável pelo ataque de Katie… E pelo seu também! - O moreno exclamou apontando para Rony — Você podia ter morrido!

— Cara, eu também não gosto do Malfoy… Nada me daria mais prazer do que socar a cara dele agora, mas nada disso é culpa da Sarah. - Rony disse sério.

— Nós entendemos que você está irritado e concordamos que Sarah poderia ter conversado conosco, mas você já parou pra pensar em como ela está se sentindo com tudo isso? - Hermione perguntou encarando o amigo.

Harry bufou ao ouvir o que os amigos lhe diziam. Não tinha mais cabeça para conversar sobre aquele assunto, queria ficar sozinho, precisava tentar se recompor de toda a avalanche de sentimentos que o acometia depois dos eventos daquela noite. Resmungando que não queria mais falar sobre aquilo, o moreno se levantou do sofá e subiu rapidamente para o dormitório.

Rony olhou para Hermione assim que se viram sozinhos na sala comunal. Queria conversar com ela sobre o que havia acontecido entre eles durante a batalha, mas ao mesmo tempo sabia que aquele não era o melhor momento para aquilo.

Hermione por sua vez tentava se manter focada em toda a crise que acontecia. Sabia que Sarah tinha seus motivos para ficar calada com relação ao que sabia sobre Draco e tinha ciência de que, apenas conversando com a melhor amiga descobriria tudo.

— Acho que precisamos conversar com ela… - A morena disse depois de alguns segundos em silêncio.

— Concordo com você. - Rony assentiu imediatamente — Eu realmente acredito que ela tenha conversado com Dumbledore.

— No fundo Harry também acredita. - Hermione disse simplesmente — Ele só está machucado e irritado demais para admitir para si mesmo.

— Bom, se ele não quer ouvir… Só nos resta ajudar os dois com toda essa situação, não é?

— Assim como eles já fizeram por nós dois antes. - A morena disse com um sorriso fraco.

— Hermione…

— Se vai me perguntar se me arrependo de algo…A resposta é não. - Disse de forma direta encarando o ruivo.

Rony sentiu as orelhas esquentarem assim que seu olhar encontrou o de Hermione. Ainda não conseguia acreditar que ela realmente gostava dele e que haviam se beijado em meio a uma batalha com Comensais da morte. Sustentou o olhar que ela destinava a ele e sorriu timidamente. Quando viu o rosto de Hermione corar, seu coração bateu um pouco mais forte dentro do peito.

O ruivo estendeu a mão para Hermione que a segurou no mesmo instante. Sem que precisassem falar um com outro já sabiam que ficariam bem, mas, antes que pudessem correr atrás de todo o tempo perdido, precisavam ajudar Sarah e Harry.