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História A proposta - Picnic X Contrato X Discussão


Escrita por: Pretty_Poison

Notas do Autor


Yoo, minna??
Saudades? Espero que sim!! Estou radiante com o novo capítulo, tão logo terminei de escrever já fui postando. Então, qualquer erro, avisem!
Como passaram o Natal? Se divertiram? Muitos presentes?
ME CONTEM!
Boa leitura!

Capítulo 6 - Picnic X Contrato X Discussão


Fanfic / Fanfiction A proposta - Picnic X Contrato X Discussão

O remédio que Kaoru preparara tinha gosto de cinzas, o primeiro era uma infusão de ervas picantes e flores secas maceradas, uma receita de seu país. Rei engoliu tudo de uma vez, fazendo uma careta, em seguida. Ainda estava deitada, com sua fina camisola de seda bordada, o rubor da face já havia passado, também não tinha resquícios de tosse ou coriza.

Kaoru agora triturava uma mistura de pós em uma tigela, o cheiro era forte. Rei fez aquilo descer goela abaixo e dormiu pelo resto da noite.

–– Que horas são? –– Indagou a Asano assim que acordou, sobressaltada.

–– Quase nove horas da manhã, dormiu bem?

Aquele fora um sono tranquilo, quase suave. Por um momento, chegou a pensar se o ingrediente dos remédios não era algum tipo de sonífero.

–– O sabor da infusão de ontem eu conheço bem, –– Ela começou, com olhar ainda sonolento. –– Mas aquela mistura tinha um gosto estranho. Onde a conseguiu?

–– O pó, você quer dizer! –– Kaoru sorriu, voltando-se para a morena. –– Foram dados pela senhora Zoldyck assim que você chegou. Ela queria se desculpar por você ter passado a noite aqui e disse que isso a ajudaria.

Rei levantou, sentindo uma leve tontura. Passou a mão pelo pescoço delicado, algo a incomodava.

–– Como está meu pai? –– Perguntou à Kaoru.

–– Não o vejo há alguns dias, senhorita,

–– Quer dizer que ele não sabe que estou aqui? Ele saiu? Disse onde ia? –– Ela cuspia todas as perguntas de uma vez só.

–– Uma pergunta de cada vez, por favor! –– Kaoru a ajudou a sentar-se de frente ao toucador. –– Ele está fora há algum tempo, acho que está resolvendo algumas coisas com o Silva-sama...

Rei sentia falta do pai, estava claramente preocupada. Ele não era o tipo que gostava de sair, limitava-se a passar seus dias afiando Katanas e copiando pergaminhos antigos, pelo menos, era assim quando estavam em casa. A lembrança do lar a fez estremecer, já estava de certa maneira tão apegada à mansão Zoldyck que a lembrança de sua antiga vida a encheu de tristeza. Poucos amigos os visitavam e, depois do incidente que envolvia parte de sua infância, cessaram por completo. Até os dez anos de idade, acreditava que o pai se casaria novamente, ela amava muito sua jovem esposa. Depois da morte prematura dela, a casa se tornara uma espécie de santuário, Rei nunca saíra de lá, desde então.

–– O que deveríamos colocar em você, senhorita? –– Kaoru a acordou de seus pensamentos. –– Pelo o que eu a conheço, não vai aguentar ficar por mais nem um minuto deitada aqui.

Rei assentiu, lembrando-se das palavras de Killua na noite anterior.

–– Pensei que não fosse acordar tão cedo, você é mais forte do que eu pensava.

Aquela lembrança foi o suficiente para apagar, momentaneamente, a tristeza de seu coração, uma nova energia tomou-lhe a face, ela parecia feliz. Não tinha certeza, mas achava que aquilo tinha a ver com seu novo amigo. Aliás, seu primeiro amigo.

–– Alguma coisa confortável! –– Rei exclamou, já pensando em um novo passeio pela floresta. Subir em galhos de árvores, brincar no rio ou pular sobre pedras.

–– Ojou-sama! –– Kaoru ralhou, dificilmente ela se irritava. –– Não acha que deve desculpas aos seus anfitriões? Você passou o resto da tarde na floresta, sozinha. Depois, voltou debaixo de uma bruta chuva junto com o mestre Killua, além de ter corrido o risco de ficar doente e tudo!

 A Asano bufou, Kaoru estava certa. Ela se sentiu culpada por ter se demorado tanto, mas por outro lado, não via nada de errado naquilo tudo. De toda forma, não sabia qual seria a reação dos demais Zoldycks quando ela chegasse, torceu os lábios e fez uma careta.

Um cheiro delicioso de ovos mexidos com bacon e torradas inundou o ambiente, seu estomago roncou, a carranca se desfez em uma expressão de fome, Kaoru riu.

–– Vamos, vamos! –– Ela exclamou, dando-lhe tapinhas nas costas. –– Vou vestir você e logo terá o café da manhã servido, grandes ações requerem grandes estômagos preenchidos, como eu sempre digo!

 

Rei usava um vestido verde claro com bordados de flores e luvas rendadas, seus cabelos morenos presos em uma trança lateral, com a franja caindo-lhe do lado esquerdo. Mirou-se no espelho ovalado, parecia tão ocidental! Kaoru já se dirigia até a porta quando ouviu uma batida.

Um jovem albino de grandes olhos azuis estava diante da porta, carregando uma cesta nas mãos.

–– Killua, bom dia! –– Exclamou Rei, aproximando-se dele com os olhinhos verdes brilhando,

–– Bom dia, senhorita dorminhoca! –– Ele riu, pousando a mão na cabeça dela. –– Como você dorme! Já estava ficando entediado com os truques baratos do Gotoh.

Ela não pôde deixar de achar graça no comentário, os truques do mordomo tendiam a ser bastante interessantes, o rapaz já deveria conhecer todos os segredos dele. Estivera ali desde de manhã cedo, no intuito de fazer uma surpresa.

Gotoh e Kaoru ajudaram a forrar uma toalha xadrez no capim macio enquanto distribuíam pratos diversos. Os olhos de Rei e Killua brilhavam.

–– Incrível! –– Rei exclamou, radiante. –– Vocês não precisavam fazer tudo isso!

–– A senhorita precisa se alimentar bem, não podemos admitir que adoeça. –– Gotoh respondeu despejando chocolate quente em duas xícaras de porcelana rosa.

Embora não demonstrasse, o Zoldyck de cabelos prateados estava bastante satisfeito, andara de um lado para o outro, escolhendo o que deveria ser preparado para o desjejum da garota.

–– Agora que tudo está pronto, vamos deixar que desfrutem do picnic, Killua Boochan. –– O mordomo deu meia volta, ajeitando os óculos por cima do nariz, Kaoru logo atrás, dando uma piscadela travessa para a menina. Velhos hábitos nunca mudavam, pensou.

 

 

*                       *                           *

O escritório de Silva era rústico e luxuoso, ao mesmo tempo. Armas diversas eram encaixadas em suportes de madeiras fixados na rocha, uma lareira decorada por dragões Chineses aquecia o lugar, labaredas de fogo formavam sombras que tremeluziam no ambiente, como se dançassem. Faixas com caracteres Orientais pendiam do teto, adornando o recinto. O chefe da família Zoldyck, apesar da aparência robusta e firme, tinha uma voz calorosa e segura.

–– Soube que minha filha está adoentada, Silva-sama... –– Kai hesitou, dando uma olhada para o homem sentado a sua frente, preocupado. –– Apanhou uma chuva, peço perdão pela desatenção dela.

Silva deu uma gargalhada, aquilo não era algo muito raro de se ver.

–– Não, sem nenhum problema! –– Ele exclamou, largando os braços na mesa de madeira. –– Pelo que soube, meu filho do meio, Killua, acabara de chegar e, por sorte, a trouxe de volta. Ela está sendo bem cuidada agora, não se preocupe.

Kai arregalou os olhos, então Rei havia sido salva pelo grande mestre Killua, o herdeiro da família Zoldyck. Um pavor tomou conta dele ao lembrar-se dos reais motivos de estarem ali. Sentiu-se culpado pela inocência da filha e, mais ainda, pela falta de sorte dela, mas logo não haveria mais nada a ser feito. A família, ou que restara dela, estava afundada em dívidas, juros por cima de juros, em breve não teriam nem como se alimentar. Agora, tudo era uma questão de aumentar a estada da moça em Padokia, assim, a forçaria a obter, ao menos, a atenção do filho mais velho e tudo estaria resolvido.

Veio-lhe a memória a imagem de sua jovem esposa e de como foram felizes durante sua curta jornada pelo mundo, sempre tentara proteger a filha, ensinar-lhe a se defender e nunca depender de qualquer tipo de sentimentos. Eles a enfraqueceriam, desviar-lhe-iam de sua jornada. Nunca fora um bom pai, admitiu, nunca a ofereceu qualquer tipo de atenção a mais ou esclareceu os perigos do mundo. Aceitar aquela proposta era, enfim, a única maneira de salvar-lhe de um futuro de miséria completo.

–– Assine aqui. –– Encarou Silva, estendendo um papel para ele, apontando uma linha tracejada com o indicador.

Perdão, Rei! Sei que gostaria de conhecer melhor a pessoa com que vai se casar, há uma chama em seu olhar que diz isso, tal qual sua mãe. Mas é tudo que posso oferecer, Illumi Zoldyck será seu salvador.

–– Ótimo, agora só precisaremos do consentimento e assinatura de Rei e estará tudo certo! –– Exclamou o Zoldyck, enrolando o papel e amarrando uma fita vermelha ao redor dele, formando um canudo. –– Rei será aceita como uma Zoldyck, terá suas dívidas pagas e desfrutará de uma vida confortável, tudo isso como esposa de meu filho mais velho, Illumi. –– Fez uma pausa. –– Além disso, todo tipo de proteção será oferecido a vocês dois, é o suficiente? –– Indagou, olhando para o homem enrugado de kimono que parecia hipnotizado.

–– Não poderia ser mais generoso de sua parte, senhor! –– Kai abaixou-se, fazendo uma mesura.

––– A propósito, qual é mesmo o valor do empréstimo?

O homem mordeu o lábio inferior, aquela quantia o privara de um sono tranquilo há anos, mas sabia que ela não significava nada para o Zoldyck.

–– 60.000 Zenis, Silva-sama.

–– Entendo... –– Silva refletiu, coçando o queixo. –– Bem, assim que tivermos a assinatura de sua filha estará tudo resolvido. Então, soube que é um costume Asano esconder o nome verdadeiro de seus guerreiros Blacklists para que a identidade verdadeira não chegue ao conhecimento de assassinos como nós. –– Silva adquirira uma aura estranha. –– Já que somos sócios agora, queria me dizer o verdadeiro nome da senhorita Asano.

Kai empalideceu, enfim, chegara a hora de quebrar uma de suas tradições. Aquele era um nome que ouvira há um bom tempo...

 

   *                  *                       *

Killua segurava a barriga, já não aguentava de tanto rir. Em uma das mãos, uma torrada com geleia balançava, de um lado para o outro. Rei o olhava sem entender.

–– O que foi? –– Perguntou, levando um morango aos lábios rosados. –– Disse algo engraçado?

–– Está brincando? –– Ele soltou o ar, aliviado. –– Quem leva puxões de orelha por pegar alguns biscoitos escondido? Você deve ter uma família bem rígida. –– Ele constatou, com os olhos bem abertos.

–– Ah, fico extremamente lisonjeada por sua observação, Killua-sama! –– Ela respondeu, zombeteira, fazendo um leve aceno com a mão enluvada.

Sem disposição para qualquer tipo de contestação, o albino limitou-se a dividir os morangos restantes, ele odiava ser tratado por honoríficos como “sama”, até mesmo pelos criados, não entendia o porquê de tanta formalidade, afinal, era apenas ele. Virou-se para o lado, observando a morena de olhos esverdeados levar os frutos aos lábios, de forma delicada.

Rei não queria revelar a ele a situação de miséria e falência em que crescera. Certa vez, aos dez anos, a avó a repreendera duramente por pegar um pote de biscoitos do armário. Junto algumas poucas e escassas frutas, aquele era o único açúcar disponível. Passara o dia seguinte sem comer absolutamente nada, aquelas eram as regras da casa, tinha de as obedecer se quisesse sobreviver em um mundo hostil.

–– Aqui não é bem assim, sabe? –– O garoto disse, girando o fruto entre os dedos, encarando-a. –– Geralmente, eu sempre fui bem livre para fazer qualquer coisa, desde que isso não atrapalhasse meu treinamento.

–– Treinamento? Eu sabia! Vocês são todos Hunters, não são? –– Ela pulsava de alegria, aproximou o rosto do dele, curiosa.

Killua sentiu as bochechas queimarem, a língua o traíra, falara de mais. Não poderia deixar que ela soubesse sobre os negócios da família, não sabia que tipo de reação ela teria ao saber que estava sentada ao lado de um assassino. Bem, um ex-assasssino, embora aquilo não fizesse muita diferença no momento.

–– Sim, somos! – Ele exclamou, coçando a cabeleira prateada e gargalhando, sem jeito. Numa tentativa de ocultar a mentira.

Então ela se levantou, passando a mão pela saia do vestido, como se retirasse migalhas invisíveis dele. Estava estática, diante dele, com um grande sorriso nos lábios.

–– Sendo assim, por favor, mostre-me o resultado de seu treinamento! –– Ela pediu, observando um Killua boquiaberto, sem ação. Desde o encontro na floresta, imaginara por que tipo de treinamento ele passara, ele era extremamente forte, podia constatar em apenas um olhar.

–– Sem chances, Rei! –– Ele bufou, desviando o olhar. –– Eu não tenho a menor intenção de machucar você, sem falar que acabamos de comer e você ainda corre risco de ficar doente. Se não desejar minha companhia, volte para sua mordoma e brinque de bonecas! –– Respondeu ainda de cabeça baixa, as pernas dobradas em posição lótus.

 

Rei deu um muxoxo, como alguém poderia ser tão teimoso? Será que todos os garotos eram assim? Não iria desistir, estava determinada. Não sairia dali sem que ele levantasse também.

–– Então, o que acha de fazermos um trato? –– Ela propôs, agora recebendo um olhar curioso dele. –– Se você ganhar, eu admito que sou apenas uma garota... –– Ela falou, revirando os olhos, azeda. –– ...E que você está certo. Mas, seu eu vencer, ganho seu respeito e ficaremos de igual para igual, certo? –– Ela estendeu a mão enluvada para que ele levantasse. O rapaz suspirou, apoiando-se no joelho, enquanto segurava a mão dela com o outro braço.

–– Você está muito chato! –– Ela exclamou dando uma tapinha nas costas dele. Killua estremeceu, não esperava aquilo. Ele a puxou para mais perto, esperando por alguma reação dela.

Tudo estava quieto ao redor, o vento agitava as copas das árvores. Ele continuava a apertar a mão dela, adentrando a floresta, sem convite. Até que parou em uma clareira não muito distante. A grama era rala e o chão não muito úmido, estava perfeito. Ele virou-se, encarando-a.

–– Mostre-me sua aura... –– Ele disse, estendendo a palma da mão e fechando o outro punho, socando com um barulho seco. –– Quero avaliar sua força.

A Asano assentiu com a cabeça, respirou fundo. Uma energia flutuante a envolveu. Ela tinha uma grande força de vontade, tal qual sua personalidade indicara, isso era visível até mesmo em seu fluxo “Ten”. Ela era uma usuária do tipo reforço, como imaginara. Ao ver um olhar de aprovação dele, a garota tratou de ocultar os nós de energia, diminuindo seu fluxo até que ele desaparecesse por completo.

–– Vamos, –– Ele disse, sério. –– Ataque da forma que preferir.

Killua parecia confortável, uma das mãos nos bolsos dos jeans, nenhum sinal de inquietação. Olhava-a como um mestre que avalia o seu discípulo. Rei fechou o punho, concentrando uma pequena parte de sua energia vital e socou a palma estendida do rapaz que se deslocou alguns centímetros com o golpe. Um sorriso de canto apareceu nos lábios dele, ele nem sequer se defendera com a aura, como só se distanciara um pouco? Aquele golpe era suficiente para lançar pessoas a distância. Era incrível!

–– Vamos lá, Rei! – Ele respondeu, balançando a mão no ar, como se não tivesse sentido nada. –– Isso não dá nem para um teste. Exijo mais potência!

Ela engoliu em seco, o que faria? Curvou-se para frente, as pernas flexionadas. Ela estava séria. E então aconteceu, em um instante, tão rápido que Killua nem se movera, a garota acertou outro soco em sua mão. Ele revidou, agarrando-lhe o pulso e jogando-a para cima, como se o peso dela fosse insignificante. A Asano deu uma pirueta no ar, girando as pernas para o alto e posicionou-se de volta ao chão, caindo de cócoras e pondo-se de pé, logo em seguida.

O Zoldyck se aproximava, ele era rápido, mais do que ela imaginara. Rei colocou os punhos em guarda, protegendo o rosto. O rapaz pulou para as costas dela, tentando acerta-lhe nos ombros, mas ela girou o corpo, direcionando um chute que passou bem próximo a barriga dele. Killua saltou para trás, estabelecendo alguns metros de distância. Estavam se encarando, medindo forças. Ele conseguia ver a própria imagem refletida nos olhos de esmeralda dela. Sua pele alva brilhava, iluminada pelo sol, alguns fios morenos desprenderam-se da trança, emoldurando o rosto delicado. Estava encantadora, mas ele não poderia baixar a guarda, embora estivesse apenas brincando. Ela se aproximava, na tentativa de acertar o chute em forma de meia lua, quando a defesa em forma de projeção de aura do rapaz levantou a barra de seu vestido até a coxa, revelando uma cicatriz em forma de garra.

Killua franziu o cenho, aquilo não passara despercebido. Era grande e profunda, deveria ser resultado de um belo corte, poucas lâminas fariam aquilo.

–– Estou surpreso, Rei! Gostaria de parabenizar seu mestre, você se saiu bem. –– Ele declarou, notando a expressão de medo dela. –– Mas vai ter de aguentar mais do que isso se quiser sobreviver como Hunter. –– Exclamou apertando o ombro dela. Rei ergueu a cabeça, o rosto avermelhado, vergonha e dor se misturavam. Deveria ter pensado melhor sobe aquilo, respirou fundo e encarou o rapaz novamente.

–– Eu sei disso, estou acostumada com dor, isso não foi nada. –– Ela disse ofegante, massageando a perna onde recebera a lufada de energia.

–– Você está acostumada com dor? –– Ele indagou, curioso. A aparência dela era de apenas uma garota inocente e delicada, um tanto teimosa, também. Deveria ter algum controle sobre o nen, o básico, pensou. Apenas isso, sem chances de ela ter passado por coisas como ele...

Lembrou-se das inúmeras cicatrizes e marcas pelo corpo, resultado de torturas diversas.

–– Você não sabe o que é dor ou sofrimento, Rei. – A expressão dele mudara, seus olhos estavam distantes, quase sombrios.

–– Como ousa dizer isso? –– Ela indagou, alterada. –– O que sabe sobre mim? Hã? –– Já sentia lágrimas descerem sobre o rosto, memórias de um massacre voltaram a sua mente.

–– Então apanhou em seu treinamento? –– Ele perguntou, apontando para a coxa dela. –– Ou ficou em uma sala cheia de aranhas? –– Continuou, lembrando-se do incidente que a fizera desmaiar, olhando-a sério. –– Você é uma garota, Rei. Garotas se assustam muito facilmente. –– Ele dizia como se fosse uma verdade absoluta. –– Se realmente passou por maus bocados, conte-me, caso contrário, continuarei a duvidar. –– Ele balançava a cabeça, em desaprovação.

–– Você é um grande insensível! –– Ela gritou, lágrimas rolando pela face.

–– Então, conte-me.

–– Não mesmo.

A morena girou sobre os calcanhares, correndo de volta para onde viera, derrotada. Pensou ter ouvido o rapaz correndo logo atrás, mas não passara de sua imaginação. Aquele momento, a expressão de sua face e insistência dele foram suficientes para apagar todos os poucos momentos que tiveram juntos. O que ele sabia sobre ela? Como podia julgá-la de tal forma? Ele não tinha o direito!

Seguiu de volta a mansão dos empregados, apertando as saias repetidas vezes com seus dedos delgados. Só queria desabar em ombros amigos e esquecer todo o resto.

 

        *                        *                       *

 

Recostado a uma árvore, o albino organizava folhas em montes de acordo com cor, umidade e textura. Seu semblante era triste e vazio. Sentia-se um completo idiota, pegara-se pensando como Gon se sairia daquela situação, o amigo era famoso por entender o sexo oposto, ele não. Pegou uma pedra e a arremessou no rio, fazendo-a quicar.

Entre os arbustos, uma criatura vestida elegantemente por babados e tecidos luxuosos deliciava-se com aquela cena, vinha observando o comportamento do filho para com aquela garotinha e não estava nem um pouco contente. Chegou até a confiar nas suspeitas de Kalluto, mas agora, vendo-o sozinho, não tinha o que temer. Logo aquela amizade estaria desfeita, ela sorriu, triunfante. Agora que Killua estava de volta, faria tudo a seu alcance para que ele jamais partisse novamente.

Só precisava contar com o plano de Illumi e, em breve, teria os Zoldycks reunidos como uma família de assassinos, como tudo deveria ser, não poderiam falhar. Ela lambeu os lábios vermelhos, estava cansada de bancar a boazinha com aquela menina, números seguidos por infinitos zeros apareceram na tela de seu visor. Aquela pirralha era muito valiosa.

 

          *                               *                         *

Se alguém pudesse se transformar em um pequeno inseto voador e entrar naquele quarto, encontraria uma cena tocante. A morena de olhos verdes abanava as mãos de frente ao rosto vermelho, tentando segurar as lágrimas.

O mordomo chefe acabara de sair, deixando uma chávena fumegante para acalmá-la. Seu rosto habitualmente sério adquirira uma expressão preocupada ao ver a dama voltar desacompanhada e tristonha. O que teria acontecido com o jovem mestre? Ele fechara a porta atrás de si, deixando-a aos cuidados de uma Meido de kimono vermelho.

–– Ele fez alguma coisa com você, senhorita? –– Seu olhar era de pura preocupação. A morena a olhou, duvidosa, como quem não entendera o significado da pergunta. Limitou-se a levantar a saia do vestido até a coxa, revelando a cicatriz, Kaoru arregalou os olhos puxados, atônita.

A Asano não parava de se recordar de castigos físicos, da privação alimentar, dias inteiros trancafiada em uma cela fria e escura.... Colocou as mãos em volta da cabeça, balançando o tronco como uma criança. Tentara esquecer aquelas lembranças, elas até se dissolveram durante o curto período que passara com o amigo, mas logo a pergunta trouxe à tona todos os seus traumas.

–– Killua-sama parece se importar muito com você, senhorita... –– Kaoru mordeu os lábios, não sabia se aquilo animaria ou não sua senhora. –– Ele deve ter perguntado por curiosidade, não por malícia.

Os olhos e o nariz da morena estavam igualmente avermelhados, ela fungou, baixinho.

–– Será que algum dia eu vou superar isso, Kaoru? –– A voz dela era como a de um passarinho assustado. –– Sinto-me tão fraca e derrotada!

–– Você é a pessoa mais forte que conheço, senhorita! – Kaoru pousou a mão em seus ombros, apertando gentilmente. –– Você me salvou da morte inúmeras vezes, devo tudo a você. –– Ela sorriu, continuando. –– Poucas pessoas passariam por tudo isso e continuariam a esboçar sorrisos tão puros quanto o seus... –– Ela fez uma pausa, reunindo coragem para anunciar há algo preso na garganta. –– ... Milla-sama.

Ao ouvir aquelas palavras, a Asano desabou, abraçando os ombros da amiga. Ela soluçava e arfava. A gratidão que sentia era enorme.

–– Obrigada, –– Um sorriso surgiu em meio aos soluços, por fim. –– Há muito tempo não sou chamada assim...

 

*                   *                              *

 

Parado em frente a porta do quarto, Killua secava os cabelos macios com uma toalha. Esperava que o frescor de um banho pudesse aliviar o peso em sua consciência, mas agora não parecia ter tanta certeza. No corredor, uma silhueta de longos cabelos negros e corpo esguio se aproximava, agora que o irmãozinho chegara, ele não perderia a chance de colocar a conversa em dia, tinha algumas coisas em pendência com ele.

Killua estremeceu ao ver o imão ali, parado de frente a si. Achava que o tempo fora de casa seria o suficiente para fortalece-lo de suas manipulações e truques mentais, mas ainda guardava um certo receio pela presença do Zoldyck mais velho, o que ele queria? Com certeza não viera lhe dar as boas-vindas.

–– O que deseja, Aniki? –– Killua suava frio, os olhos de Illumi permaneciam fixos nele, encarando-o de forma vazia. Sentiu os músculos enrijecerem. Tentou piscar.

–– Ora, isso lá são modos de falar com seu irmão mais velho? –– Illumi riu, divertido. Uma expressão sádica estampada no rosto. –– Só vim averiguar como você estava. Sabe, andei meio preocupado com você durante todo esse tempo. Não acredito que finalmente você decidiu voltar. –– Ele pousou uma mão no ombro do rapaz, notando com ele prendera a respiração, seria tão fácil manipulá-lo, logo os Zoldyck estariam juntos de volta.

–– Parece que você repõe suas amizades logo, Kil. –– Ele disse, passando os dedos pelos cabelos molhados do mais novo, analisando-os. Killua tremeu, sabia de quem ele estava falando.

–– Eu não reponho amizades. –– Respondeu seco, desvencilhando-se do contato de Illumi. –– Nunca abandonei ninguém, para começo de conversa. –– Seu tom de voz estava diferente, deveria ter todo cuidado com o irmão e seus joguinhos, uma palavra em falso e estaria perdido. –– Eu só quis dar um tempo. –– Murmurou. Viu o moreno dar um suspiro.

–– Deixe-me apenas contar um segredo, Kil. –– Ele cravou um olhar gélido no rapaz. –– Se você realmente quer ser forte, aqui está um conselho: Esqueça amizades e esses sentimentos bobocas, eles enfraquecerão você. Busque apenas o ódio, dia após dia. Você é um Zoldyck e foi feito, exclusivamente, para matar. Caso continue a se aventurar por aí com seus amiguinhos, só irá se machucar e machucar a eles também. Você não concorda? –– Killua estava pálido, gelado. Seus joelhos tremiam involuntariamente.

Droga, talvez ele esteja certo. Foi justamente o que aconteceu com o Gon, não posso deixar que isso se repita. A amizade entre nós era tão grande que eu fraquejei quando ele mais precisava de mim.

–– Aquela garota, ela mente para você, Kil. –– Illumi continuou, aproximando os dedos para a testa do albino, Killua arregalou os olhos, incapaz de se mover. –– Ela não confia em você, há coisas que ela prefere não te contar, não acha estranho a maneira como ela se comporta? Pense nisso. É um conselho do seu irmão. –– Ele sorriu, era uma imagem diabólica.

Concluíra o primeiro passo, agora o plano poderia continuar. Estava satisfeito com seu trabalho, só teria de ficar de olho nos resultados e não permitir o andamento daquela “amizade”. Ele se virou, os cabelos esvoaçantes iam de um lado para o outro, elegantemente. Logo ele estaria afastado de tudo que oferecesse resistência a sua vida de assassino, a família Zoldyck voltaria a ser una e a mãe deles ficaria satisfeita.

Arrancou uma ficha do bolso, seus olhos negros e inexpressivos dançavam pelo conteúdo.

–– Milla Ray Asano... –– Murmurou, aquele estava se tornando um jogo interessante.

 

 

 

 


Notas Finais


Ufa, achei que não mais teria mais fim! Então, mereço comentários?? Gostaram? Odiaram?
Aqui nosso habitual dicionário:

Aniki: Irmão mais velho, mano.
Boochan: Jovem mestre.
Meido: Mordoma, empregada.
Ojou-sama: Senhorita, jovem dama.

Faltou alguma coisa? Acredito que não...
É impressão minha, ou esse capítulo bugou geral? Eu quero ir a um picnic, alguém me convida? Ainda mais na mansão Zoldyck... Acabei de passar o natal lá, tinham que ver a cara da Kikyo...
Silva apareceu, pra quem achou que ele tava de bobeira...
Só tenho uma coisa pra dizer, Kil vacilou e muito. Agora pra consertar a burrada só com reza braba ( Uns chocolatinhos, umas joias, essas coisas também...) O que sugerem?
Quem achou a chegada do Illumi divosa levanta a mão!!
No mais, um grande prazer proporcionar um novo capítulo,
Bye,
Cherry


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