História A Proposta do Meu Vizinho - Noite de Pizza e uma Visita Inesperada

POV SASUKE:

Era quinta-feira e segui meu ritual matinal. Na hora de sempre me preparava para bater três vezes na porta ao lado do meu apartamento, mas antes que meu punho fechado encontrasse a madeira em frente, a porta foi aberta e uma figura se mostrou por trás dela.

Sakura.

A mesma usava um vestido verde claro e e seu sorriso parecia mais radiante do que nunca. Era um sorriso aberto, feliz e completamente direcionado a mim. E então eu pensei que nunca me cansaria de vê-la sorrir daquele jeito.

- Bom dia! - A voz doce e animada me tirou de meus devaneios.

- Por que toda essa animação a essa hora da manhã? - Perguntei sonolento, quase não conseguindo manter minha curiosidade. 

- Recebi um email do Professor Kabuto e ele não poderá dar o último tempo hoje. - Ela respondeu e eu entendi o motivo de sua felicidade. Afinal, as aulas de Kabuto costumavam ser bem tediosas.

- E o que pretende fazer em seu tempo livre? - Perguntei sem pensar.

Sakura fechou a porta atrás de si e se virou novamente para mim com o dedo indicador nos lábios, como se pensasse no que faria mais tarde. 

- Vou revisar a matéria do Professor Orochimaru e depois quero comer uma pizza gigante, desse tamanho... - Falou demostrando o tamanho anormal com as mãos e eu dei um sorriso assentindo.

- Me parece bom. Esteja pronta às 20h. - Disse e a olhei de soslaio, que me encarava com uma feição surpresa e confusa.

- Você vai me levar pra comer pizza, Uchiha? - Ela perguntou com a voz divertida e ao mesmo tempo receosa, enquanto uma das sobrancelhas estava arqueada em desconfiança.

- Não me faça me arrepender... E nem pense em pedir pizza doce de sobremesa. - Falei debochado e ela me deu a língua em resposta enquanto murmurava um "só você que não gosta de pizza de chocolate..." e me fazendo soltar uma breve risada.

E assim fomos até a universidade, debatendo sobre os sabores de pizza mais estranhos que já vimos.

[...]

A noite chegou e em poucos minutos de caminhada já estávamos na pizzaria, que ficava há apenas algumas quadras de nosso prédio. Fomos direcionados a uma mesa na janela e fizemos o pedido, que incluia uma garrafa de vinho da casa por sugestão do garçom que nos atendeu e logo pediu licença para se retirar.

- Então, Uchiha, quando começou a tocar guitarra? - Sakura perguntou quando ficamos sozinhos. 

- Em Londres, eu e Naruto tínhamos aula de música juntos no colégio e eu acabei pegando gosto pela guitarra.

- E como surgiu a banda de vocês? – Perguntou enquanto apoiava o queixo na palma da mão e o cotovelo sob a mesa.

- A banda é recente ainda, começamos ano passado no início da faculdade. 

- E sempre foram vocês 5? 

- Não, inicialmente eu fazia o vocal, mas prefiro ficar só na guitarra. E há algumas semanas atrás conhecemos Sasori e ele entrou na banda por indicação do Gaara.

- Sempre gostei de música, fiz algumas aulas de canto no segundo ano, mas acabei parando por conta das aulas especializadas para o vestibular. Acho que foi melhor no final das contas, eu não teria coragem mesmo de cantar em público. 

- Por que não? - Perguntei. 

- Acho que por vergonha mesmo. Imaginar todas aquelas pessoas me olhando. E se... Eu errar a letra? Ou gaguejar, sei lá! - Sua voz mostrava o quanto seu receio era real e eu apenas pude observar que ela mordiscava o lábio inferior enquanto provavelmente imaginava-se na situação em que descreveu.

Queria conforta-la de alguma maneira. Dizer que ela se sairia bem e que sua voz provavelmente seria linda cantando, mas antes que eu pudesse escolher as melhores palavras para responde-la, o garçom chegou com vinho e nos serviu duas taças. 

- Por que seu celular não para de vibrar? - Sakura perguntou encarando meu aparelho em cima da mesa enquanto bebericava a bebida.

Olhei para a tela e pude ver o nome da loira em diversas mensagens que chegavam constantemente. Voltei-me para frente e a encarei com um sorriso sarcástico. 

- Advinha...

- Shion? - Ela perguntou e eu assenti com um pequeno riso. - Sério? Essa garota não cansa de ficar atrás de você ? - Ela perguntou curiosa.

- Todo dia é a mesma coisa. - Falei e bufei em seguida, levemente impaciente pelas inúmeras mensagens que ainda recebia.

- O que ela costuma mandar? - Sakura perguntou e seus olhos mostravam um brilho de curiosidade que poderia ser comparado ao de uma criança.

Dei um meio sorriso vendo que ela aguardava ansiosa uma resposta e peguei meu celular e o desbloqueei em seguida, entregando-lhe para que pudesse ler por si mesma.

Shion: Sasuke, querido, estou sozinha em casa hoje. Não quer vir pra cá? Prometo fazer da sua noite inesquecível.

Sakura leu a mensagem em voz alta com uma sobrancelha arqueada pelas últimas palavras e logo começou a gargalhar.

- Pouco atirada ela! - Constatou e terminou sua primeira taça, já se servindo de mais.

- Você ainda não viu nada. - Falei divertido e ela pediu permissão com o olhar para que pudesse continuar a ler as mensagens e eu assenti. 

Quando ela levou a mão à boca e sua cara de assustada se fez presente, eu soube que ela havia chegado nas mensagens de sexo explícita, em que Shion falava sobre certas intimidades que cogitei se não havia sido um erro deixar que Sakura as lesse. Apesar de imaginar que ela não seria virgem ou puritana, ainda assim ela transbordava inocência e isso era algo que me atraía mais do que eu gostaria, pois só pensava em ensiná-la sobre as coisas boas da vida na minha própria cama.

Sakura virou mais uma taça de vinho e novamente sua risada se fez presente e um meio sorriso se formou inconscientemente em meu rosto. Já havia se tornado um costume do meu corpo essa resposta instantânea a ela.

- Bom, quem mandou ser tão bom na cama assim a ponto de deixar a garota louca desse jeito. - Ela comentou e arqueei uma sobrancelha pelo que dissera.

Dei de ombros com um sorriso debochado como se concordasse com sua afirmação e disse:

- Saber tocar em uma mulher e fazê-la implorar por mais é um dom nato.

Logo pude ver suas bochechas corarem ainda mais do que já estavam pelo álcool e entendi que ela havia percebido o assunto em que entramos. 

Achei graça de sua reação e do fato de que ela já não conseguia mais me olhar nos olhos após sugerir sobre meu desempenho no sexo e ouvir minha constatação.

- Sakura. - A chamei e logo as orbes verdes me fitaram. Nosso olhar era intenso e eu perdi as palavras que me vinham a mente. 

Por sorte, nosso garçom chegou na mesma hora com a pizza e Sakura logo virou mais uma taça de vinho. Ela claramente estava tão nervosa quanto eu, mas ao contrário de mim, ela não era capaz de esconder suas emoções. 

Agradecemos pela pizza e começamos a come-la. Sempre gostei do silêncio, mas naquele momento ele me incomodava profundamente. Mas antes que eu pudesse quebra-lo, ela mesma interveio e mudou o assunto.

- Você sabe como surgiu a pizza marguerita? – Ela perguntou e eu balancei a cabeça negativamente.

- Ela surgiu em 1889, em Nápoles, quando o rei Umberto I e a rainha Margherita quiseram provar a famosa iguaria do local. Mas como a pizza não era um alimento considerado digno da realeza e ir até uma pizzaria era fora de cogitação, eles pediram para que a mesma fosse entregue no local em que estavam hospedados. O pizzaiolo, então, decidiu preparar a pizza com muzzarela, tomate e manjericão, ingredientes que compunham as cores da bandeira italiana a fim homenagear as altezas reais. Por fim, a pizza foi batizada com o nome da rainha.

- Bendito seja esse cara, então. Porque essa é a melhor pizza que existe. – Respondi com um sorriso e Sakura acenou a cabeça em confirmação enquanto levava um pedaço à boca.

- E então, já sabe qual especialização quer fazer? – Perguntou.

- Oncologia. - Respondi fitando a pizza em meu prato que, para a minha felicidade, estava repleta de tomates.

- Uau! Por essa eu não esperava. Algum motivo específico para ter escolhido essa área? - Ela questionou curiosa e eu a fitei pensando na melhor forma de responde-la.

- Minha mãe teve câncer há alguns anos atrás, e por isso fomos para Londres em busca do melhor tratamento. E mesmo quando achávamos que ela não se recuperaria, a medicina a salvou. - Falei calmo e esperava que apenas aquelas palavras fossem o suficiente para encerrar o assunto que me era delicado.

Em seguida, apenas voltei minha atenção ao meu prato e continuei a saborear a pizza.

O silêncio pairou no ar novamente e encarei Sakura curioso, vendo os olhos verdes arregalados demonstrarem alívio e ternura. Logo a pequena mão pousou em cima da minha como uma forma de conforto e eu sorri pelo fato de que aquele pequeno gesto foi capaz de aquecer-me por inteiro.

- Você será o melhor oncologista do Japão, não tenho dúvidas. - Ela disse com certeza na voz enquanto me oferecia um sorriso largo, daqueles que eu jamais me cansaria de admirar, e pra minha infelicidade retirava a mão de cima da minha.

- E como estão os questionários semanais do Hatake? - Perguntei enquanto levava o guardanapo de pano à boca.

- Ah, estão indo... - Ela respondeu e mordeu o lábio inferior. - Ele realmente não pega leve. - Finalizou dando um sorriso nervoso.

- Posso te ajudar, se quiser. - Ofereci sem demonstrar o quanto desejava que ela aceitasse minha proposta. Pois, por mais que eu ainda relutasse para mim mesmo, eu desejava passar mais tempo com minha vizinha e aquele seria um meio justificável. 

- Eu gostaria disso. - Ela disse com um sorriso aberto e penso que meu coração acelerou por um segundo. 

Eu estava em grandes problemas...

O resto do jantar foi tranquilo. Conversamos sobre faculdade, família e outras banalidades como o fato do cabelo dela ser rosa e ela mal se lembrar do motivo.

Paguei a conta e saímos do restaurante, mesmo Sakura reclamando por todo o caminho, pois queria ter pago sua parte, visto que a ideia incial fora dela. Já em frente a porta de seu apartamento eu disse um "você paga na próxima vez"  apenas para que ela parasse de insistir no assunto.

-  Próxima vez? Assim você vai enjoar de mim! - Comentou divertida.

- Bom, você é irritante e isso é bem possível de acontecer... - Provoquei com um sorriso sacana enquanto a via franzir o cenho pela minha constatação. 

- Idiota...- Bufou me dando um pequeno soco em meu ombro, como se a revolta pela minha resposta fosse tão grande que apenas o xingamento não fosse o suficiente. 

Não pude evitar uma risada aberta.  Sakura raivosa era incrivelmente divertida e tentadora. 

Me aproximei sorrateiramente de de seu rosto com um braço escorado na porta atrás de si.

Sakura logo corou e seu olhar rapidamente demonstrou nervosismo.

- Eu nunca enjoaria de você. - Sussurrei próximo de seus lábios, que se entreabriram de surpresa pelas minhas palavras e num gesto inconsciente eu umedeci os meus.

Naquele momento eu dizia a verdade e nada mais. Eu jamais enjoaria de Sakura. De sua voz dizendo meu nome, ou até mesmo me confrontando de alguma maneira. Do cheiro doce e inebriante que me deixava extasiado. Da pele macia ou das mãos delicadas. Da facilidade com a qual ficava sem graça e ruborizada. Da forma que ela mordia o lábio inferior quando estava nervosa... Dela, por inteiro, eu nunca enjoaria. 

Podia sentir sua respiração quente e descompassada bater em minha pele e pela primeira vez na vida percebi que não tinha nenhum controle sob minha vontade de beija-la. E assim me aproximei lentamente, cada vez mais, até que eu pudesse finalmente sentir seus lábios roçando nos meus.

- TEME, O NEJI QUER SABER SE O ENSAIO DE AMANHÃ TÁ DE PÉ! - A voz de Naruto se fez presente na mesma hora em que a porta do nosso apartamento foi escancarada. Minha vizinha pulou  assustada e eu preguejei me afastando dela e aumentando a distância entre nós enquanto fuzilava meu amigo com o olhar.

- Na-Naruto!! - Ela gaguejou corada.

- Oh, Sakura-chan, desculpe, atrapalhei alguma coisa? - O loiro perguntou com a mão por trás da cabeça com um sorriso sem graça no rosto.

- N-não, de jeito nenhum! Vou deixar vocês conversarem. O-obrigada pela companhia, Sasuke... Certo... Boa noite pra vocês. - Sakura respondeu enquanto desviava o olhar para qualquer lugar e rapidamente adentrava seu apartamento e fechava a porta atrás de si como se fugisse desesperadamente da situação em que nos encontrávamos. 

Bufei e franzi o cenho ao passar por Naruto que sorriu nervoso e pediu desculpas em um sussuro enquanto se despedia de Neji no telefone no momento em que adentrávamos nosso próprio apartamento. 

- Eu ouvi sua voz no corredor e não pensei muito, foi mal mesmo! Mas agora me explica o que eu vi. Era impressão minha ou vocês iam se beijar?

- Não é da sua conta. - Rosnei ainda irritado pela interrupção e pelo questionamento. 

- Até quando você vai fingir que não sente nada por ela? - O loiro me perguntou com uma sobrancelha arqueada. 

- Não sei do que você está falando. - Respondi desinteressado, pois a última coisa que desejava era dar motivo para que o loiro insistisse no assunto. 

- Você acha que eu não percebo a forma em que você a olha? Ou as desculpas esfarrapadas para passar qualquer tempo a mais com ela? Sem falar nesse seu ciúme descarado quando a vê com Sasori. - Ele continuou e pelo revirar dos meus olhos, Naruto já sabia exatamente o que se passava em minha cabeça.

Não é à toa que ele é o meu melhor amigo há anos.

- Tá, eu sei que você não é de se expor muito e é orgulhoso demais pra admitir até pra si mesmo que está gostando da Sakura, mas vê se não perde ela pra alguém que não tenha medo de falar o que sente.  – O loiro me aconselhou.

Não respondi, mas assenti com a cabeça apenas para que ele tivesse a certeza de que eu o ouvi, mesmo a contragosto. 

Em seguida, Naruto saiu porta afora com uma piscadela, fazendo-me passar o resto da noite pensando sobre o que ele havia dito.

"Merda, esse idiota tem certa razão...",  pensei, mas nunca admitiria em voz alta, e muito menos para aquele cabeça oca.

[...]

Na sexta-feira eu e Sakura nem tocamos no assunto sobre a noite anterior. Ela parecia constrangida e a última coisa que eu desejava era deixá-la desconfortável.

No sábado, passei o dia jogando video-game com o Naruto até tarde, mas minha mente estava no apartamento ao lado.  À noite, o loiro levou a Hyuuga para jantar e aproveitei as últimas horas do dia para estudar antes de cair no sono pesado.

O problema veio na manhã seguinte, quando um barulho ensurrecedor me tirou da cama.
 

- PORRA, JÁ VAI! – Eu gritava irritado saindo do meu quarto percebendo que a pessoa inconveniente não iria desistir de tocar a campainha até alguém abrir a porta do apartamento.

Olhei rapidamente e vi que o quarto de Naruto estava vazio e o relógio marcava 8h da manhã. Ele provavelmente não havia dormido em casa, já que nos domingos ele costuma dormir até meio-dia.

- NARUTO, SE VOCÊ ESQUECEU A CHAVE DE NOVO, EU VOU... – Falei quase cuspindo as palavras com minha raiva por ter sido acordado com o som alto da campainha sem cessar.

Meu erro foi não ter visto no olho mágico de quem se tratava. E pra minha infelicidade era um ser loiro insuportável, só que dessa vez não era o Naruto, e sim Shion.

- O que faz aqui? – Perguntei ríspido sentindo todo o meu mal humor me consumir por sua presença.

- Meu amor, essa semana mal conseguimos nos ver. Aquela vadia não te soltava e eu pude perceber o quão de saco cheio você estava dela. – Shion começou a falar e logo me empurrou com toda a sua força para adentar meu apartamento mesmo sem ter sido convidada.

- Shion, presta atenção. Essa é a última vez que vou falar. Eu não quero nada de você além de distância. Eu e Sakura estamos juntos. Preciso que você me esqueça e me deixe em paz de uma vez por todas. – Eu disse com cenho franzido e com toda impaciência que eu não conseguia esconder.

Mas os olhos arredondados me fitavam com uma mistura de fúria e decepção pelas minhas palavras, e eu sabia que aquela conversa não acabaria ali.

- Você e aquela ridícula cabeça de chiclete estão juntos? Sasuke, faça-me rir! Ela não é mulher suficiente pra você. – Sua voz mostrava desdém e angústia, foi quando percebi que aquilo realmente a afetava e eu precisaria usar o plano ao meu favor.

- Ela é muito mais mulher que você e estamos juntos, apenas aceite. Agora você precisa me deixar em paz e arranjar outro alguém pra encher o saco.

- Você realmente vai me deixar pra ficar só com ela, Sasuke? Como você espera que eu encontre outro alguém? Eu só amo você...

- Eu e você nunca tivemos nada. E é claro que você não me ama. Você só colocou isso na sua cabeça por alguma ilusão maluca... mas agora já chega. Eu e Sakura estamos namorando e eu não quero mais que você me procure. – Disse seco e pude ver seus olhos arregalados e a cabeça frenética se mexendo como se tentasse espantar as palavras que eu disse.

- NÃO, ISSO É MENTIRA! VOCÊ ESTÁ BRINCANDO COMIGO, SÓ PODE. ISSO NÃO TEM GRAÇA, SASUKE! VOCÊ NÃO PODE ESTAR NAMORANDO AQUELA GAROTA, DE JEITO NENHUM! - Shion gritava desesperada. Pelo tom alto que sua voz alcançava e as paredes finas entre os apartamentos, eu sabia todos os vizinhos poderiam ouvir aquele escândalo.

Senti meu sangue ferver e massageei minhas têmporas, pois não poderia mais aguentar esses shows dessa doida. Pude sentir que não conseguiria mais me controlar e acabaria perdendo toda a educação que minha mãe me deu sobre não machucar uma garota.

Até que uma voz conhecida se fez presente e adentrou meu apartamento que ainda tinha a porta aberta.

- Sasuke, que barulho é esse? São 8h da manhã... – A voz de Sakura era sonolenta e ela ainda esfregava os olhos enquanto bocejava e adentrava meu apartamento sem pudor algum. Não pude evitar de observar que ela usava um pijama de gatinhos curto demais e o quão atraente eram suas pernas.

Mas logo acordei de meus pensamentos quando vi a loira bater o pé a minha frente.

- Shion, vai embora. Apenas aceite, eu e Sakura estamos namorando e você precisa me deixar em paz. – Falei enquanto sentia minhas pálpebras pesarem. Se eu estava cansado antes, agora me sentia completamente esgotado.

- Ele vai se cansar de você em alguns dias, cabeça de chiclete... eu tenho certeza. E quando isso acontecer, ele vai voltar correndo pra mim. – Shion disse e seu olhar para Sakura era de completo desprezo e eu ainda tentava entender de onde ela tirava toda aquela certeza que demonstrava em sua fala.

- Vamos ver, loira de farmácia. Agora, se me dá licença, eu e o meu querido namorado vamos aproveitar que estamos acordados e.. bem.. você sabe, né... fazer algo melhor do que olhar pra essa sua cara feia. – Sakura respondeu com tom de provocação, fazendo Shion sair em disparado pelos corredores a passos duros e bufando enquanto eu fechava a porta do meu apartamento.

Em seguida, tive forças apenas para me jogar no sofá com o antebraço cobrindo meus olhos. Eu estava exausto, mas aqueles gritos me tiraram o sono e a paciência por completo.

- Será que ela vai realmente desistir de você algum dia? – A voz de Sakura se fez presente e eu suspirei fundo tentando acalmar um pouco os nervos.

- Acho que é uma questão de tempo. – Falei cansado e me levantei. Eu sabia que não conseguiria dormir, então pelo menos poderia usar a manhã para fazer algo útil e revisar algumas anotações. Mas a frase de Sakura sobre “fazer algo melhor” com aquele tom malicioso não deixou minha mente tão facilmente.

- É... espero que sim. – Disse Sakura se encaminhando para a porta.

- Sakura. – A chamei sério enquanto me levantava do sofá.

- Ahn... que foi? – Ela murmurou e se virou para mim.

Mas logo que me encarou, seu olhar correu diretamente para o chão. Achei sua reação estranha e me aproximei mais dela, e assim que cheguei mais perto pude ver que ela tentava esconder o rosto corado. Ela mordia o lábio inferior demonstrando certo nervosismo, e eu não entendia o motivo daquilo.

Foi quando percebi que eu usava apenas uma calça de moletom escura e ela parecia estar sem graça quanto a isso. Achei divertida sua reação, que olhava para qualquer ponto da casa, menos para mim.

- Vou fazer panquecas pra você. – Afirmei despertando sua atenção.  

E assim que as orbes verdes indicando surpresa me encararam, eu senti um meio sorriso surgindo em meus lábios.

- Não precisa. Você deve estar cansado. – Ela me deu um sorriso tímido e eu me diverti com sua falta de jeito.

Era estranho, mas eu a achava ainda mais bonita quando ficava envergonhada. Sakura era simples, bonita de um jeito peculiar. A cintura fina me agradava e os lábios rosados me pareciam convidativos.

Mas o que mais me intrigava eram seus olhos verdes. Uma imensidão que misturava inocência, força e determinação como eu jamais havia visto. E esse era mais um dos motivos que me faziam ter vontade de conhecê-la melhor no final das contas.

- Não seja irritante e mal-agradecida. – Falei mais sério do que esperava, mas apenas me virei e me dirigi até a cozinha.

Sakura apenas estalou a língua e sentou no balcão após resmungar um “olha quem fala”.

Aproveitei que estava de costas para ela e permiti que meu sorriso se abrisse achando graça de sua atitude e me sentindo ainda mais estimulado a agradá-la de alguma forma, porque ela trazia um certo tipo de luz e diversão que há muito tempo não apareciam em minha vida.

E então eu tentei me lembrar qual foi a última vez em que fiz algo para agradar uma garota. Mas acho que minha mãe não conta...